Evanescência escrita por Little Alice


Capítulo 1
Going Under


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente.

Então, num surto meio doido, resolvi postar o primeiro capítulo dessa fanfic antes de passar pelas minhas trocentas revisões. Essa história nasceu de uma zoeira com a Lu, que ama Drastoria, mas odeia Evanescence, e como eu sou maldosa e já fui emo gótica suave na minha adolescência, resolvi criar isso daqui. Não esperem muita coisa porque, como eu disse, nasceu do surto e da zoeira.

A música que inspira o capítulo é Going Under do Evanescence e sugiro a leitura ouvindo:
https://www.youtube.com/watch?v=xCgZdL14ON8



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Cinquenta mil lágrimas eu chorei
Gritando, iludindo e sangrando por você
E você ainda não me ouve
(Eu estou afundando)
 

Em uma noite consideravelmente célebre para a alta sociedade bruxa, três figuras trajadas em negro aparataram em frente à mansão Greengrass. Dos três, apenas o garoto era digno de alguma nota. Não por qualquer feito honroso que tivesse cometido ao longo da vida, longe disso; mas por ser o único, entre tantos bruxos convidados, que sustentava aquela engraçada expressão de quem estava sendo arrastado para a morte. No mais, Draco Malfoy era apenas um rapaz impossivelmente elegante e de aspecto doentio. Nada muito excepcional.

Atravessando os portões de ferro fundido, eles seguiram por aquele caminho de pedras, margeado por exuberantes árvores tropicais — e de fato bastante incomuns para aquela região, localizada ao noroeste da Inglaterra. No entanto, aquilo não deveria ser uma surpresa, a família Greengrass era mesmo conhecida por ostentar um gosto incomum, mas refinado; o próprio recital de música clássica que as irmãs Greengrass ofereceriam naquele solstício de inverno era uma prova circunstancial daquele preceito.

E por mais que a noite estivesse escura e uma névoa espessa cobrisse a entrada da casa, Draco podia ver que o lugar era imponente. Seu próprio lar costumava ser assim: grandioso, magnífico e invejável. Incontáveis vezes, quando ainda era aquele garotinho prepotente e cheio de ideias de superioridade, estufou o peito por viver cercado em luxo. Por possuir tudo o que sempre desejou e o dinheiro pôde comprar. Mas, agora, anos após o declínio moral de sua família, a Mansão Malfoy se via reduzida a ruínas, fantasmas e gritos de desespero. Os seus gritos — e ninguém parecia ouvi-lo. 

Lucius e Narcisa continuavam agindo como se o sobrenome deles não estivesse amaldiçoado e em plena decadência. Como se não fossem a escória do mundo bruxo. Como se não tivessem participado diretamente de todos aqueles horrores da guerra. Draco, porém, não podia esquecer. Não, não podia. Todos os dias e todas as noites, a sua mente o lembrava daquilo. Ele revivia, acordado ou em sonhos, as coisas que fora obrigado a fazer e a ver. Primeiro, por um falso sentimento de glória e honra. Depois, apenas por medo.

Os seus pais até poderiam continuar aceitando com certa tranquilidade aqueles convites idiotas, que eram enviados pelos antigos amigos apenas por pena, mas Draco não iria fingir que não sabia a verdade. Porque ele sabia. Sabia muito bem. Via os olhares de desprezo. Aqueles insuportáveis olhares repulsivos. Via que ninguém os queria ali.

— Draco — sussurrou Lucius em um tom frio, levantando o queixo do filho com o dedo indicador. — Lembre-se de que os Parkinson vão estar aqui esta noite.

Os Parkinson, zombou Draco mentalmente. Os únicos que ainda se relacionavam com a sua família sem qualquer restrição. Com um pouco de sorte, talvez pudesse se casar com Pansy. Não era o que Draco queria, mas alguma vez na sua vida ele teve escolha? O rapaz não podia lutar contra um destino já traçado, um destino incompleto e arruinado. Certamente o seu futuro não seria menos sombrio do que o seu passado errante ou o seu presente tortuoso. Como agora, ele estava destinado a continuar afundando e sangrando.

Não havia um único dia em que pudesse suportar o mundo estando completamente sóbrio, em que não mergulhasse naquela espiral de autocomiseração e aversão ao que se tornou. Às vezes, gostaria apenas de se deixar afundar de uma vez. Mas era um covarde. Sempre seria um covarde. Outras, gostaria apenas de encontrar um motivo. Uma razão que fizesse os seus dias mais toleráveis. Que tornasse sua própria existência menos inútil e, de algum modo, mais significativa.  

Que o recordasse de que ele não era somente uma marca negra. Aquela maldita marca enterrada em sua pele, a qual tentou se livrar inutilmente uma vez, mas o máximo que conseguira foi uma estadia prolongada no St. Mungus e algumas cicatrizes.

 

Eu não quero a sua mão
Dessa vez eu me salvo sozinho
Talvez eu acorde uma vez
Sem estar atormentado diariamente
Derrotado por você

Por um instante, Draco se atreveu a olhar para Narcisa. Ela segurava o braço esquerdo do filho com uma das mãos, as unhas longas e pintadas de negro pressionando-o, e sorria docemente. Um sorriso cheio de expectativas. Draco quis rir, amargo, mas se conteve a tempo. Para os pais, Pansy Parkinson era a pessoa que o salvaria de si mesmo. Exceto que o rapaz não acreditava que poderia ser salvo por ela. Não achava que poderia ser salvo por ninguém, para ser honesto, somente por ele próprio, naquela constante batalha travada por sua consciência atormentada. Talvez algum dia Draco acordasse daquele pesadelo, mas não seria agora. E, definitivamente, não seria com Pansy.

Ele poderia não ter em vista qualquer futuro considerado satisfatório, porém não continuaria deixando que os pais o guiassem. Afastando-se bruscamente dos dois, ele subiu as escadarias que levavam à mansão. O lugar estava abarrotado de bruxos da alta sociedade, com suas roupas extravagantes, joias caras e olhares julgadores. O interior da casa era ainda mais majestoso, com um toque pitoresco aqui e ali. Aquele era um daqueles eventos estúpidos onde o Sr. e a Sra. Greengrass poderiam exibir suas filhas prodígios. Embora não as conhecesse bem, sabia que o dueto que formavam, o The Greengrass Sisters, havia despontado no cenário musical bruxo logo após a Grande Batalha, quando a mais nova ainda estudava em Hogwarts, e foi como um sopro de alívio em meio a um mundo praticamente devastado.


Manchadas e confusas a verdade e as mentiras
Eu não sei o que é verdade e o que não é
Sempre confundindo os pensamentos em minha cabeça
Eu não posso mais confiar em mim
Estou morrendo novamente

Draco observou quando os pais entraram no grande salão e se sentaram ao lado dele. Pareciam descontentes, mas nenhum dos dois disse nada. No início, até tentavam, mas logo descobriram que não adiantava insistir quando o filho estava daquela maneira, com o olhar distante e a expressão nauseada. Cerca de meia hora depois, a apresentação começou. As duas irmãs se posicionaram diante do público, uma no piano e a outra no violino. Draco não prestou muito atenção. Estava mais preocupado em remoer o próprio passado, em renegar todas aquelas mentiras cruéis e travestidas de verdade que moldaram o seu caráter, em se sentir um miserável sem esperança de vida ou de morte. Ele poderia passar o resto da noite assim, quebrado e sozinho, se aquela melodia não tivesse começado. Uma melodia triste, profundamente triste, mas de algum modo auspiciosa. Era uma contradição em si mesma e o havia tocado de uma maneira ímpar, que não poderia explicar.

Draco ergueu os olhos, se perguntando qual das duas Greengrass havia composto aquela canção. Por alguma razão, voltou-se para a morena, de cabelos longos, o rosto pálido e o vestido de um vinho acentuado. Os seus dedos percorriam as teclas do piano com tanta impetuosidade e atenção que nada parecia existir ao redor dela. Só a música. Era uma visão gloriosa e Draco se deixou absorver por aquele instante fugaz, de evanescência. Ele cerrou as pálpebras e, quando tornou a abri-las, foi surpreendido por ela.

Astoria Greengrass o encarava diretamente. Seus grandes olhos castanhos estavam cravados nele de um jeito quase desafiador. Draco hesitou, de repente se sentindo exposto demais, mas não desviou o olhar. Ele o sustentou e ergueu uma sobrancelha, também desafiando a garota.


Estou afundando
Me afogando em você
Estou caindo para sempre
Tenho que me libertar


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?

Algumas considerações: 1) A música fala sobre um relacionamento tóxico, mas a gente sempre pode reinterpretar algo ao nosso favor. Aqui, é o Draco se afogando no sentimento de culpa e no próprio sofrimento. 2) A garota da capa muitas vezes é usada para o fancast da Pansy, porém ela é muito linda para ser a Pansy e quando vi, pensei: "vai ser a Astoria de cabelo curto". E mais para frente a Astoria terá cabelo curto e tudo fará sentido. É isso.

Beijos e até a próxima :*



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