As Quatro Fases da Lua escrita por Siaht


Capítulo 2
II. lua crescente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793950/chapter/2

II

{lua crescente}

— wicked game (chris isaak) —

BLACK

A vida começara em Hogwarts. Pela primeira vez, Sirius conseguia respirar. Conseguia sorrir de verdade. Conseguia existir. Havia finalmente luz. Havia James. Havia Peter. E havia Remus. E havia algo sobre Remus. Sempre havia existido algo sobre Remus. Algo que o garoto ainda não conseguia traduzir. Era provável jamais fosse conseguir colocar em palavras o estranho magnetismo que Remus Lupin exercera sobre ele desde o princípio.

No começo achara que era apenas curiosidade. Nunca havia conhecido alguém como o menino. As vestes de segunda mão, a aparência adoentada, o jeito introspectivo, inseguro, fechado. Sim, ele ficara curioso. Como não ficaria, quando aquele garoto parecia a antítese de tudo o que os Black eram e representavam? De tudo o que ele era? E depois vieram os mistérios, os segredos, as mentiras. Lupin escondia algo e Sirius queria saber o que era.

A revelação apenas tornou tudo mais atraente. Havia um fascínio estranho na sinceridade. Em estar despido de embustes e completamente vulnerável. Nu. Sirius crescera entre mentirosos vis. Soldados supremacistas. Serpentes que se escondiam nas sombras, atuando em um teatro lôbrego. Não havia espaço para a verdade ou fraqueza na mui nobre e antiga casa dos Black. Mas ali estava aquele garoto – tão pequeno, tão magro, tão frágil que parecia prestes a quebrar – deixando que os amigos soubessem do monstro que se escondia por debaixo de sua pele.

Sirius nunca havia visto algo mais corajoso. Nunca havia visto algo menos monstruoso. Nunca havia visto algo tão belo. Aquela imagem ficaria tatuada em sua mente por anos. Ali estava aquele encanto novamente. O encanto que estivera ali desde o início. O encanto de pele pálida e lábios rachados e olhos castanhos e casacos puídos e mente brilhante e vulnerabilidade e bravura. O encanto de Lupin.

Alia estava aquele fascínio que o fazia sussurrar o nome do amigo no escuro – Remus, Remus, Remus — e tornava aquele o som mais lindo que já ouvira saindo dos próprios lábios. Aquele fascínio que o fazia sentir que iria entrar em combustão a cada sorriso lupino. Aquele fascínio que fazia sua mente ecoar “quero, quero, quero” toda vez que Remus estava perto. Sirius ansiava por ele como um condenado anseia por sua liberdade, como um pecador anseia por absolvição, como uma criatura da noite anseia pela luz. 

LUPIN

Ele era uma criatura da noite. Não havia forma melhor de descrever Remus Lupin. Uma alma amaldiçoada, condenada a habitar as sombras do monstro que vivia dentro dele. E era muito escuro dentro da mente daquele monstro. Escuro e solitário e imundo. Nada além de sombras e podridão. Hogwarts, no entanto, lhe trouxera alguma claridade.

Sempre seria um ser animalesco e desprezível. Sempre se sentiria distorcido e depravado. Sempre odiaria a si mesmo. Mas ao menos já não estava sozinho. O conforto dessa certeza não podia ser descrito. Havia James. Havia Peter. Havia Sirius. Embora Sirius fosse complicado.

Sirius: a estrela mais brilhante da constelação de Órion. Era isso o que o Black era. Brilhante. Aquele tipo de pessoa que emite luz própria e conquista todos ao seu redor. Aquele tipo de pessoa que nunca será invisível ou esquecida. Que, para o bem ou para o mal, jamais será ignorada. Havia fogo correndo pelas veias de Sirius. Um fogo que aquecia, mas que também podia queimar. Remus sabia disso e era por esse motivo que, por mais arrebatado que ficasse pelo rapaz, mantinha sua distância.

Era inteligente o suficiente para entender quando estava em perigo e evita-lo. E Sirius Black praticamente vinha com um aviso de “perigo”, brilhando em letras garrafais sobre sua cabeça. Não! Lupin era esperto o bastante para perceber quão desastrosa seria a combinação de um garoto rebelde, impetuoso, rico, de sangue-puro e com tendências autodestrutivas e um lobisomem mestiço, que não tinha onde cair morto, e carregava em si um grande potencial de devastação. Eles podiam ser amigos – especialmente tendo James e Peter entre os dois, funcionando como uma espécie de amortecedor e tornando tudo mais fácil –, mas isso era tudo. Era ali que a linha deveria ser traçada. Uma linha que Remus jurou para si mesmo jamais ultrapassar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Quatro Fases da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.