Varsenia escrita por Overture


Capítulo 4
Capítulo 3




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“Realmente, muito fácil.” Pensou ironicamente enquanto terminava de ler todas as questões da prova. Apesar de detestar realizar avaliações, no geral recebia boas notas. Adam era um garoto curioso, gostava de ler e gostava de estudar, sabia que a fama de nerd não lhe viera a toa pois sempre acreditara que o conhecimento era uma forma de poder.

Mas em muitas situações, sabia que o conhecimento de nada o ajudaria se não pudesse se defender com a própria força. A recente discussão com Gregório o desconcentrou totalmente da prova e o colocou em uma profunda reflexão sobre seu próprio fracasso. Sentia vergonha, raiva e uma pesada angustia de que tal situação não haveria de mudar.

Ao olhar para baixo notou que havia gotas de lágrimas manchando sua prova. Espantado por não ter percebido que estivera chorando, Adam levou as mãos ao rosto para enxugar os olhos e sentiu um leve arrepio ao perceber que estes estavam secos.

Ele olhou em volta para descobrir quem molhara seu teste, porém os demais alunos pareciam concentrados demais para nota-lo ali. Outra gota caiu na folha e Adam, ao olhar para cima, pode ver o que o estivera incomodando.

A cima de sua cabeça estava uma pequena nuvem escura na qual saiam algumas luzes roxas. Ficou hipnotizado. A forma cinzenta foi então gradualmente aumentando de tamanho. Um pequeno redemoinho começava a se formar em seu interior E aos poucos Adam fora sugado para dentro da nuvem.

Tudo que podia ver agora eram grandes anéis roxos e luminosos passando por si rapidamente sob um fundo preto. O som era próximo ao de uma descarga elétrica, ficando cada vez mais alto a medida que avançava. O vento era forte e o fez tremer de frio. Ele gritou e colocou os braços sobre o rosto, tentando se proteger do impacto de uma queda incerta.

O vento parou e tudo aquietou-se. Adam abriu os olhos e viu a imensidão do céu. Estava escuro, porém seu corpo se iluminava com o brilho do luar. A lua estava a sua frente, enorme e cintilante, tão bela de uma forma que Adam achou jamais ser capaz de imaginar. Uma enorme nuvem avançou sobre a lua e ocultou seu esplendor. Sem o luar, Adam pode olhar ao redor e se vislumbrar com o brilho de milhares de estrelas.

Ao olhar para baixo, percebeu que nada o mantinha em terra firme. Estava flutuando no ar, a milhares de metros a cima do solo. A sensação estranhamente causou-lhe certo conforto. Foi então tomado por uma felicidade extrema, que o fez sorrir como nunca tinha o feito.

Adam dobrou as pernas e, com muita facilidade, lançou-se a frente, voando de forma quase natural. Ele descia, subia e rodopiava no ar. Dominando tais técnicas com maestria. Ao longe, porém, um brilho roxo chamou sua atenção. Ele mergulhou no ar e voou em direção ao objeto. Um pequeno espaço de terra flutuava a sua frente, imóvel. Uma pedra roxa e cintilante brilhava em seu interior. Adam, com enorme curiosidade, tocou a pedra preciosa.

Um grito agudo ecoou em seus ouvidos. A pedra passou a emanar uma luz vermelha, pouco antes de se partir em três pedaços. Adam tornou a sentir o peso do próprio corpo e caiu, instantaneamente.

Ao abrir os olhos estava deitado no chão da sala de aula. Todos os alunos o olhavam espantados. Bernardo estava ao seu lado, com as duas mãos comprimindo seu peito, antes de tudo ficar escuro novamente.

...

— Que que você aprontou dessa vez? – Disse a garota de cabelos rosa. Sua franja era cortada no meio da testa o que combinava em seu estilo de roupas escuras, saia curta e unhas pretas.

— Não acredito que já chegou até você. -Disse Adam.

— Pois é. Não existem segredos no Amélia. – Disse Maria dando uma mordida em uma maçã.

— Então, eu meio que passei mal durante um teste de história. Não sei te dizer. Acho que desmaiei porque cheguei a sonhar e tudo. Mais um daqueles sonhos malucos de sempre.

 A garota soltou uma gargalhada que a fez se desequilibrar do muro onde estava sentada. Adam estendeu o braço e a segurou rapidamente. O leve susto a fez rir ainda mais.

— Cara, tu foi longe pra não ir mal em uma prova. História é tão ruim assim? – Disse arremessando o resto da maçã o mais longe que conseguia. – Mas sério, eu fiquei preocupada quando a tia Lú me contou que você foi parar na enfermaria. Ta tudo bem agora? Precisa que eu te carregue até em casa, majestade?

Adam sorriu e deu um leve empurrão no ombro da amiga. Depois de alguns instantes disse de forma séria: – Eu fiquei estressado com o Gregório e sua corte hoje. E acho que a prova me deixou ainda mais nervoso. Eu não sei o que esses caras tem comigo Ma. É todo dia algum comentário ou alguma piadinha. Já to de saco cheio deles.

— Putz, esse cara é escroto demais. Eu queria te dar um conselho bonito e dizer pra se afastar e não dar muita bola pra tudo isso, mas essa lua em escorpião não perdoa, esse cara precisa é de um soco na fuça. – Disse Maria se apoiando no muro e saltando para chão. - Ou uma vingança muito bem executada.

Adam olhou para baixo e concluiu que podia se machucar se não pulasse da forma correta. Todos os dias Maria parecia querer testar uma aventura diferente na volta para casa. Subir e caminhar sobre o muro do parque foi fácil, mas agora descer... O medo da queda era tão forte que o impediu de se mover. Maria em poucos anos amizade, já conhecia muito bem o melhor amigo para saber que este não possuía grandes habilidades atléticas. De forma natural ela juntou as mãos próximas ao pé do amigo, formando um apoio para ajudá-lo a descer.

No chão, Adam agradeceu a amiga em um tom tão baixo que ela mal o escutou. Ao olhar para traz concluiu que o muro não era tão alto como havia imaginado e não conseguiu evitar de sentir um pouco de vergonha de sí mesmo. O pequeno muro de tijolos já velho e desgastado ainda servia para demarcar os limites de um pequeno parque no bairro. Adam e Maria sempre o usavam para chegarem mais rápido em casa. Atravessando-o até o meio e se despedindo diante de uma árvore que ficava no encontro dos dois caminhos opostos. Todos os dias cada um seguia por um dos lados com a promessa de se encontrarem novamente no dia seguinte na entrada do parque no final da aula. Mas hoje era uma exceção pois a amiga manteve sua palavra de deixar a sua majestade são e salvo em casa.

Maria era 2 anos mais velha e estava no último ano do ensino médio. Apesar da comoção e nostalgia que afeta as pessoas em situações de despedidas, Maria mal podia se conter de alívio ao pensar que não haveria de voltar a escola no próximo ano. O fato de ter poucos amigos contribuía para tal pensamento. No fundo, ela sabia que não perderia aquele por quem ela realmente se importava.

Por mil vezes ela negara tal sentimento, mas depois de uma conversa sincera com o psicólogo não conseguiu mais esconder de sí mesma o quanto ela o achava atraente. Claro que muitas discordavam, afinal Maria nunca seguira moldes convencionais de beleza. Mas ela sabia que o que lhe era bonito ou feio dizia respeito apenas a ela mesma.

Adam era pálido o bastante para se suspeitar que sempre estava doente. O branco de sua pele contrastava em demasiado com seu cabelo comprido até o pescoço e negro como a noite. também chamavam a atenção seu nariz e suas orelhas, que eram levemente mais acentuados que dos outros meninos da escola. Tais característica sempre chamaram a atenção de Maria, que via nisso tudo um grande charme no amigo. Porém o que realmente a intrigava eram seus olhos. Olhos claros de um azul penetrante, com uma pequena variação de cor na íris do olho esquerdo. De início não acreditou muito, demorou para se convencer de que o que via era natural e não um truque de luz forjado pelo garoto. Com o tempo percebeu que essa mancha no olho mudava de cor e que isso sempre acontecia quando o jovem tinha alguma mudança brusca de humor.  A pequena mancha geométrica em seu olho, na maior parte do tempo, estava oculta, pois mantinha o mesmo tom de azul do olho direito. Mas bastava Adam ficar bravo ou irritado, que esta se mostrava em um castanho avermelhado. Em seus momentos alegres ou despreocupados o verde claro se destacava, tornando-se a combinação favorita de Maria. Situação que por sorte, era a que se encontrava no exato momento.

— Sua mãe ta em casa já né? Melhor eu ficar por aqui. – Disse a garota se recusando a seguir Adam nos três degraus da soleira do pequeno prédio.

— Não, ela ainda está no trabalho. Vai, fica um pouquinho? Eu vejo algo pra gente comer. – Disse Adam. Maria sorriu e acompanhou o amigo porta a dentro.


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