O que a vida pode tirar de você escrita por Lady Loki


Capítulo 4
Monstros deixam cicatrizes




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Allison

Não. Não. Não. Não. Isto é impossível. Completamente impossível. Não justo agora. Não depois da morte da minha mãe. Não depois de tanto tempo. Ele não pode voltar. Eu não posso voltar para lá... Ok Allison, respira. Você não está pensando direito, ou respirando... Ótimo. Ataque de pânico! Pode só ser uma brincadeira de muito mal gosto... Quem eu estou querendo enganar?! Somente minha mãe e... Saberiam sobre Rose. Por que está tão abafado aqui dentro?!

Eu não quero esse nome na minha vida novamente. Eu não sou mais ela, mudei meu nome exatamente para não haver nenhuma ligação do meu passado com minha nova vida. Meu nome é Allison Hope Prentiss. Filha de Emily Prentiss. Médica. Formada em Harvard. Fluente em 7 línguas. Experiência como médica do exército dos Estados Unidos da América no Afeganistão... Por que não consigo ficar em pé?! Droga. Isso, escora na parede, devagar, escorrega até o chão... Minhas mãos estão tremendo. Respira. Foca na respiração. Por que raios minhas mãos não ficam paradas?!

Já não basta eu ter ficado absolutamente  sem nenhuma família, meus “avós” me odeiam, acham que eu fui adotada por impulso, um ato de rebeldia, de caridade da minha mãe e eu acabei com a vida imaginária idealizada deles para sua filha. Eu sou uma médica que não pôde salvar a melhor amiga, porque não fui boa o suficiente para ver os sinais do que estava acontecendo. Muito menos fui capaz de evitar a morte do meu primeiro amor. E agora eu não estou admitindo a possibilidade de estar... Eu não mereço isso... Nunca fiz nada de errado para merecer isso... Sempre fui uma boa garota... Reclamar da sua vida não vai te levar a lugar nenhum Allison e você sabe disso. Eu preciso parar de chorar e sair desse banheiro.  Por que eu não consigo parar de chorar?! Sua cabeça está brincando com você, ela está te enganando, aquele bilhete não quer dizer nada... Absolutamente nada...



Narradora

1998, Casa de Adam Smith, antes da chegada da polícia e Interpol, Las Vegas, Nevada, EUA. 

A pequena Rose esforçava-se ao máximo para manter as aparências, finalmente teve a coragem de ligar para a polícia e denunciar o seu próprio pai, ou melhor, o homem pelo qual ela nutria um ódio tão intenso que negaria a relação de parentesco até a sua morte. Pobrezinha, quase não conseguiu explicar direito a situação para a policial a qual atendeu a chamada, percebeu que não possuía nada perder ao desobedecer ele. A única coisa que aquele monstro poderia lhe tirar era a sua própria vida, mas morrer era melhor do que presenciar o sofrimento daquelas garotas por mais um único dia.

Como não conhecia os nomes, tais como tortura, violência, jogo psicológico, estupro, assassinato...  Descreveu cada ação de Adam Smith. Sim, o psicopata obrigava a própria filha a ver seus crimes. Sua intenção? Talvez colocar medo e traumatiza-lá, ou era tão doente ao ponto de , no futuro, desejar tornar sua descendente uma de suas vítimas. No mesmo momento, a policial enviou as viaturas para o endereço passado por Rose, mas, infelizmente, não chegaram antes de Adam que certamente notou alguma coisa estranha no comportamento da pequena.

— O que você fez? -ele desliga a TV e fica em frente a sua filha que segurava o seu coelhinho de pelúcia com toda a sua força.

— Nada... -fala quase chorando.

Num movimento rápido, o homem pega o braço da pequenina e a arrasta para fora da casa, á levando ao bosque onde havia uma caverna. A criança gritava, porém era inútil, não havia vizinhos, já que moravam numa fazenda no meio do nada. Lugar perfeito para um serial killer e péssimo para uma garotinha de 5 anos. Era naquela caverna onde tudo acontecia, lá estava a décima, vigésima, Adam não lembrava mais quantas havia matado, mas com certeza o prazer ficava preso na sua memória. Ele joga a criança no chão, em frente a mulher moribunda, pega uma faca e coloca próxima a garganta da quase cadáver.

— Eu vou perguntar só mais uma vez... -fala com raiva- O que você fez?

— Eu-eu... – a menininha não conseguia parar de chorar, as palavras não vinham na sua mente tão jovem.

— Me diga! -solta um grito de fúria.

— Eu liguei para a polícia! -grita no mesmo tom de voz, sem encara-lo.

— Sua vagabunda! -larga a mulher e vai até Rose, pega seu pescoço com uma mão e aperta – Me escute bem, não importa com quantos anos esteja, mas um dia eu vou te encontrar novamente e você irá me pagar pelo que fez hoje – o olhar sádico do psicopata deixava Rose extremamente amedrontada, enquanto se debatia na tentativa de aliviar a pressão sobre o seu pescoço e conseguir um pouco de ar para seus pulmões – Antes de eu ir embora, vou te dar um presente... -o homem encosta a garotinha numa parede, com a outra mão segura firme a faca e faz um X no ombro dela que começa a gritar desesperadamente. Após terminar de fazer a marcação, como se ela fosse um animal que irá deixar para caçar mais tarde, a solta e as lágrimas novamente molham as bochechas dela. Inutilmente, sua mãozinha tenta estancar o sangue da ferida, o líquido vermelho já escorria pelo seu braço – Agora você terá sempre uma lembrança do seu papai, querida Rose -sussurra em seu ouvido de forma assustadora- É melhor você começar a correr, antes que coisas piores te aconteçam... -imediatamente começa a correr de volta para a “sua casa” no intuito de se esconder dele.

Assustada. Atormentada. Traumatizada. Sozinha. Quebrada. Machucada. Abalada. Sem família e amigos. Rose se esconde embaixo da sua cama e a única esperança que possui é ser encontrada pelos policiais. Contudo, se nada disso acontecesse, não teria problemas, pois nada era pior do que mais um dia com Adam Smith.

 

 

Allison

Allison? Fica calma! Preciso que você respire fundo e devagar. Acompanhe a minha respiração – Spence estava sentado na minha frente fazendo o movimento de inspirar e expirar, como num reflexo, repito a sua ação.

— Ele está aqui... – minha voz sai como um sussurro e pausadamente, percebo que minhas mãos estavam no meu pescoço quando ele as tira do local – Spencer eu não posso viver aquilo de novo! – meu desespero estava diminuindo aos poucos, mas ainda conseguia sentir as minhas mãos geladas.

— E você não vai! Eu prometo que ninguém irá chegar perto de você. Ok? -quando ele vê que minha respiração começa a normalizar, me abraça e enterro minha cabeça entre o seu pescoço e ombro chorando desesperadamente.

Ficamos assim por um tempo, quando finalmente paro de chorar, saímos do banheiro, ele pegou as chaves do meu carro e dirigiu até o hotel em que nos hospedávamos. Parecia que ele tinha entendido o que eu queria naquele momento, ir para casa. Então, após cada um fazer as malas, pegamos o carro e fomos embora.

A viagem foi silenciosa, eu não estava a fim de falar sobre o que aconteceu ou qualquer coisa, preciso organizar os meus pensamentos primeiro. Ao contrário de mim, Spencer parecia ter mil perguntas, mas respeitou o meu tempo e não disse nada. Apenas perguntou se eu estava bem algumas vezes, óbvio que menti, mas apreciei a sua preocupação comigo e agradeci a ele. Agora, preciso tomar as decisões certas, não posso mudar minha rotina, fugir ou fazer alguma loucura, necessito manter a calma e tomar alguns cuidados que minha mãe me ensinou. Ainda não está na hora de ir a polícia ou FBI, pois não há provas suficientes para um caso.

Reid me acompanhou até a minha casa, portanto não foi primeiro para o seu apartamento, queria se certificar de que eu chegaria bem. Dr. Spencer Reid, além de gênio, era um perfeito cavalheiro, me pergunto, de que forma  homens como ele se tornaram tão raros atualmente. Definitivamente, eu possuía muita sorte por ter ele como amigo.

— Qualquer coisa me liga, ok? Não importa o horário, nem se preocupe se irei estar trabalhando, só me ligue caso aconteça alguma coisa -ele fala olhando no fundo dos meus olhos e por um momento não consigo pensar em mais nada.

— Ok, “Agente” – falo brincalhona para tentar quebrar aquele clima sério e recebo um olhar reprovador – Eu vou ficar bem... -sorrio minimamente e dou um beijo na bochecha dele – Antes que você vá embora, queria me desculpar por tem acabado com o nosso cinema...

— Ei – ele fala amigavelmente e pega na minha mão – Não precisa se desculpar, passar um tempo com você é melhor do que qualquer filme idiota raro – ri fraco e mudo de assunto.

— Tem certeza que não quer que eu te leve?

— Você está cansada, vou pegar um táxi mesmo -ele vai em direção à porta – E não se esqueça de...

— Eu sei – sorrio para ele.

— Você sabe que um dia teremos que conversa sobre isso... Pelo seu próprio bem e sua segurança, se tivermos mais provas podemos montar um caso oficial e... – diz rápido as palavras e o interrompo.

— Quando eu estiver pronta, você será o primeiro a quem irei ligar -digo serena para tranquiliza-lo.

O observo entrar no táxi e estranhamente começo a sentir a sua falta. Após ele ir embora, tiro a minha jaqueta de couro e a coloco na poltrona da sala e me olho no espelho do mesmo cômodo, estico a gola da minha camiseta para observar a cicatriz do meu ombro e vejo aquele X  que me atormentou durante 5 anos da minha vida, não será tão fácil assim para ele voltar. Então, tranco todas as portas e janelas de casa, coloco um aparador em frente à porta da frente e dos  fundos com um vaso equilibrado bem na ponta de cada mesa, para que qualquer movimento faça ele cair, nas janelas coloco pequenos objetos no vão com o mesmo intuito. Em seguida, abro meu cofre, pego a minha arma e coloco-a em baixo do meu travesseiro, programo o alarme de segurança e entro no meu quarto. Acho que terei de deixar Loki por mais alguns dias no canil. Não tenho dúvidas de que será uma longa noite...



        15 dias depois, Casa de Allison Prentiss Quantico, Virginia, EUA.

Minha mãe sempre me disse: “Allison, depois das 22h, quando alguém bate na sua porta e você não está esperando ninguém, tome cuidado”. Devido aos acontecimentos de 15 dias atrás e outros dessa semana, a primeira ação que tenho é pegar a minha arma e me aproximar da porta lentamente, evito o máximo de barulho possível, apontado-a para seu centro.

— Quem é? -pergunto, me mantenho em alerta para qualquer suspeita de movimento à minha frente ou sons.

— É a Jeniffer! -diz alto o suficiente para eu escutar.

Abaixo a minha guarda e solto um suspiro de alívio, retiro toda a tensão nos meus braços e deixo a arma em cima do aparador que não estava mais em frente à entrada. Abro a porta.

— Não que eu esteja reclamando da visita, mas por que você está aqui à essa hora? E por que não ligou antes? – pergunto da forma mais gentil possível.

— Você é realmente uma Prentiss, não consegue tentar soar educada, mesmo quando quer -fala rindo e a acompanho, dou espaço para ela entrar e fecho a porta depois que ela passa – Desculpe pelo horário, mas é urgente e ninguém pode saber que estou aqui -ela vê a arma em cima do aparador.

— Deveria ter ligado antes... – olho na mesma direção e depois volto os meus olhos à ela – Então... O que é tão urgente assim? Ou tão secreto? -dou incentivo para que ela falasse, aponto para o sofá e me sento na poltrona, ficando de frente com JJ.

— Emily está viva -fala calma e objetiva.

Eu-Eu não ouvi isso certo. Isso está totalmente fora de cogitação. Eu fiquei chorando semanas, por nada? Não tem como ela ter feito isso, não tem como alguém conseguir fingir a própria morte por tanto tempo e sumir do mapa. Ela não teria deixado eu ficar no escuro por tanto tempo assim, não é algo que ela faria. Não seria capaz de fazer eu sofrer por tanto tempo. Não pode ser verdade.

— Isso é mentira! Por que você está mentindo? -solto toda o meu ódio em minha voz e, literalmente, tremia de raiva.

— Eu sei que é difícil de acreditar, mas a sua mãe não morreu, Allison.

 ...MAS QUE MERDA É ESSA?


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