Permaneci calada durante nosso retorno a Forks, sentia um misto de vergonha e reprovação, eu reprovava a mim mesma pela atitude das últimas horas, eu que havia julgado Bela por magoar Charlie e Jacob, acabará de fazer o mesmo.

A vida realmente era irônica.

Eu sabia que Edward estava lendo meus pensamentos, mas honestamente naquele momento aquilo não importava, estava doendo, a dor agora era dupla, eu estava sentada no banco detrás do volvo nos braços de Bela que afagava meus cabelos em um gesto de carinho.

Por fim, não havia salvado Bela, havia magoado Charlie e perdido o garoto que eu descobri amar mais do que imaginava.

Fechei os olhos e me perdi em meus pensamentos, havia passado a maior parte da vida cuidando de Renée, orientando-a pacientemente a abandonar os planos mais loucos, suportando de boa vontade aqueles dos quais eu não conseguia demovê-la. Sempre fui indulgente com minha mãe, divertindo-me com ela, até um pouco condescendente. Via sua coleção de equívocos e ria comigo mesma em segredo. A maluca da Renée. Eu era uma pessoa muito diferente de minha mãe. Era precavida e cautelosa. A responsável, a adulta. Era assim que eu me via. Esta era a pessoa que eu conhecia, que se preocupava com o pai, com a irmã, como se pudesse resolver os problemas de todos quando não sabia como solucionar seus próprios problemas.

— Não se culpe tanto! — Murmurou Edward me fazendo abrir meus olhos — Você só tem dezesseis anos, pessoas cometem erros.

Suspirei olhando os seus olhos que mudara de cor novamente através do espelho retrovisor, eu estava envergonhada, eu havia planejado separá-lo de Bela e mesmo assim ele estava tentando me ajudar, Edward sorriu.

— Então como vocês me encontraram? Eu perguntei quebrando o silêncio entre nós.

— Você pensou hoje quando saiu de casa em terminar com Jacob, o resto deduzimos! Edward respondeu.

— Quando Edward me deixou em casa você tinha acabado de sair, Charlie estava desesperado, voltamos ao carro e corremos, sua picape é lenta! — Respondeu Bela virando seu corpo no banco do carro de frente para mim — O que achou que fosse acontecer? Que eu ia cair nos braços do Jacob?

Fechei os olhos e suspirei.

— Como se sentiria se Bela tentasse tomar decisões por você? — Perguntou Edward.

— Me desculpem, os dois! Murmurei.

— Eu compreendo seu desespero, mas conhece a sua irmã! — Edward deu um sorriso.

— Eu sinto muito de verdade, por toda essa confusão que acabei criando.

— Não se preocupe com isso, criar confusões está no sangue das Swan’s — Respondeu Edward.

Bela e eu rimos.

Quando o carro estacionou na frente da casa eu congelei, Bela abriu a porta do carro e saiu primeiro, quando finalmente eu sai Charlie estava a frente da casa e Jacob ao lado dele.

Charlie correu ao meu encontro e me puxou para os seus braços me apertando forte contra seu peito — Garota — Murmurou ele — Não faça nunca mais isso comigo.

— Me desculpe! Falei enquanto ele me afastava, suas mãos seguraram meus ombros, eu não conseguia encará-lo depois do que eu havia dito antes de sair em fulga.

A expressão de Jacob era calma, não havia fúria em seu semblante, era muito diferente de quando eu havia saído correndo da sua casa, Charlie me puxou novamente para seus braços e caminhou comigo na direção da porta, olhei para Jacob ao passar por ele, mas ele não disse nada apenas nos seguiu.

Charlie me sentou no sofá e se sentou ao meu lado, eu estava pronta para o sermão do dia, para o castigo, eu estava ciente de que merecia aquilo, olhei para a porta e Jacob estava encostado na parede com os braços cruzados, Bela e Edward não haviam entrado, com certeza para editar um confronto entre Jacob e Edward.

— Muito bem! — Murmurou Charlie — Eu estou pensando no castigo que darei a você.

Balancei a cabeça — Eu compreendo.

— Mas amanhã conversamos sobre isso, creio que você e Jacob precisam conversar — Disse ele dando um leve sorriso — Daqui a trinta minutos quero você na cama, sei que uma noite de sono fará você refletir um pouco.

Eu concordei, embora não desejasse que Charlie me deixasse a sós com Jacob, eu mal conseguia olhar para ele.

Charlie se levantou e passou a mão em meus cabelos, olhou para Jacob e subiu as escadas, eu fiquei imóvel naquele sofá, não sabia o que falar e nem o que Jacob me falaria, eu ouvi seus passos e em seguida ele se abaixou a minha frente.

— Você está bem? — Perguntou ele da forma gentil e carinhosa que sempre fora, não parecia que horas antes que havia o tratado mal e falado algo tão horrível para ele.

— Eu estou bem — sussurrei, tentando interpretar aquela reação, mas seu rosto estava enigmático, parecia tão imerso em pensamentos — Jake, eu sinto muito.

— Não se preocupe — Ele murmurou, eu senti a confusão me dominar por alguns segundos, a reação normal de um garoto após um termino horas antes daquele momento seria de raiva, ou ao menos magoa, mas em Jacob não era assim, ele não parecia com raiva ele parecia tranquilo — Eu disse a você que serei aquilo que desejar que eu seja para você. Ele pegou minha mão e a apertou no peito febril. Pela camiseta, pude sentir o batimento constante de seu coração sob minha palma — Está sentindo Ness, é você quem mantem ele batendo.

— Ah, Jake — sussurrei, pegando a mão dele.

— Você precisa descansar, teve um dia agitado — Disse ele se levantando e beijou minha testa.

— Jake...eu

— Nós conversamos amanhã — Ele me interrompeu e me puxou, lentamente me levantei do sofá sentindo seus braços me apertarem naquele abraço de urso que eu amava — Boa noite minha Ness — Murmurou me soltando em seguida.

— Boa noite Jake — Respondi o observando caminhar até a porta e sair.

Jacob se tornara parte de mim, e agora não havia como mudar isso.

Eu acordei melhor na manhã seguinte, quando sai do quarto estava conformada em levar um castigo de Charlie, desci as escadas animada, decidida a resolver a grande bagunça que eu mesma havia feito em menos de vinte e quatro horas em minha vida de adolescente agora problemática — Bom dia! Falei ao entrar na cozinha.

— Bom dia! Charlie respondeu tomando um gole de seu café, olhei para a mesa e a caixa de cereais estava no centro, a minha tigela na frente da cadeira ao lado de Bela — Tudo isso é para me dar um castigo? — Disse puxando a cadeira.

Os olhos de Charlie se estreitaram — Eu deveria punir você por todo o susto que nos causou ontem a noite, mas sua irmã me explicou sobre o ocorrido com seus amigos da escola — Ele deu uma pausa e arrastou sua mão as colocando sobre as minhas — Querida você não precisa ter medo, eu nunca vou deixar que ninguém machuque você.

Olhei para Bela e ela deu um tímido sorriso colocando o “meu” cereal na tigela dela.

— É foi...horrível. Grunhi.

— Sobre o Jacob.

— Pai eu não deveria ter dito aquilo.

— Você está certa — Disse ele olhando em meus olhos — Jacob é seu namorado, fico feliz que ele tenha escolhido você.

— Jacob não é mais meu namorado — Suspirei — Eu terminei ontem com ele.

— Não foi isso que me pareceu quando ele chegou desesperado atrás de você — Charlie falou dando um tapinha sobre minha mão — Seja o que tenha acontecido entre vocês, converse com ele, tenho certeza que ele gosta muito de você.

— Se fosse o Edward ele soltaria fogos, então aproveita — provocou Bela.

Charlie fechou a cara e se levantou— Vou a reserva, buscar Billy, hoje vamos pescar — Disse ele pegando uma bolsa que estava sobre o balcão e saiu da cozinha. Bela e eu rimos juntas.

Eu suspirei, peguei a caixa de cereal colocando em minha tigela em silencio, Bela me lançou um olhar de curiosidade.

— O que foi? — Perguntei.

— Não vai conversar com o Jake?

— Eu não sei— Dei uma pausa — Porque você está tão preocupada comigo e com o Jake? — Meu olhar se fixou sobre ela, lembrei do que ela tivera dito na noite anterior — Ontem você me disse uma coisa estranha...

— Conversa com ele — Ela me interrompeu.

— Eu não sei o que dizer a ele.

— Diga o que sente — Disse ela se levantando — Preciso ir, tenho um compromisso com Edward. Olhei pela janela e percebi vagamente Edward segurando a porta do carro para ela.

— Urght.

Estar ou não me sentindo bem não era a consideração mais importante a fazer. Precisava falar com Jacob naquele momento, eu não podia deixar as coisas daquele jeito, me levantei e caminhei até a pia e após lavar as louças do café peguei a chave da picape de Bela e segui para La push.

Eram só quinze minutos até La Push. Desci sem controle a estrada molhada, com os limpadores de para-brisa ligados no máximo e ignorando o gemido do motor antigo. Noventa por hora era o máximo que eu podia arrancar daquele carro, e rezei para que fosse suficiente. Comecei a me sentir nervosa quando passei pelas primeiras casas nos arredores de La Push. Quando parei diante da familiar casa vermelha e desbotada senti um nó na garganta, não houve encontro, será que Jacob não estava em casa, eu sabia que Billy não estaria pelo comentário feito por Charlie no café.

A porta estava trancada, o que significava que não havia ninguém em casa, Jacob deveria estar com a matilha, pensei em ir a casa de Emily mas não haveria clima algum para uma conversa lá, decidi espera-lo ali mesmo ignorando a chuva.

Caminhei pelas arvores buscando abrigo parando próximo a garagem, sorri ao lembrar que havia sido naquele lugar que tínhamos nos conhecido, haviam alguns pedaços de moto e outros metais encostados na parede próxima a porta da garagem, entediada peguei uma vara de ferro um pouco retorcido, havia uma lata vazia ao lado e coloquei formando uma cabeça, um boneco maluco de lata? Comecei a rir sozinha.

Eu estava nervosa, não sabia o que falar a Jacob, como me desculpar, se ele ainda me aceitaria, eu procurava palavras, olhei para a coisa estranha que eu havia criado e suspirei imaginando ser Jacob.

— Jake eu...sou uma idiota — Dei uma pausa e rolei meus olhos — Isso ele já sabe — murmurei.

— Jake eu sinto muito, aquilo que eu disse ontem, eu estava confusa , urgth, não, é só um pedido de desculpas, ele terá todo direito se não quiser mais reatar comigo.

Eu fechei os olhos — Jacob, eu te amo, tudo que eu disse ontem foi da boca para fora, eu amo você, me desculpa.

Eu abri meus olhos lentamente e Jacob estava parado a minha frente.

— Qual parte você ouviu? — Perguntei totalmente paralisada.

Ele deu alguns passos aproximando-se um pouco mais e prendeu meu rosto entre suas mãos grandes e quentes — O suficiente, mas prefiro que fale agora olhando em meus olhos Ness.

Meu olhos se prenderam nos deles, de repente havia se tornado difícil respirar — Eu te amo Jake, eu amo você.

Ele sorriu, seus lábios selaram os meus e então tirou as mãos do meu rosto, segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos— Vem comigo! Disse ele me puxando na direção da casa — Existe algo que você precisa saber.