Eu esperei ansioso pelo dia seguinte, me coloquei a postos na porta de casa aguardando que Bela chegasse, antes que ela desligasse o motor, sai correndo com um enorme guarda-chuva preto e abri a porta do carro entregando a ela.

— Você veio sozinha? Perguntei ao não a ver acompanhada da baixinha.

— Nessie tinha um compromisso, em Port Angeles! Bela respondeu.

— Há claro — Charlie ligou... Disse que você estava a caminho — expliquei com um sorriso e ela sorriu para mim.

Harry apareceu para pegar Billy poucos minutos depois, e eu a levei em um breve tour por meu quarto minúsculo enquanto esperávamos ficar sem supervisão. — Então, para onde, Sr. Super mecânico? Bela perguntou.

— Vamos começar pelo ferro-velho, para ver se temos sorte. Isso pode ficar meio caro.

Foi um dia bem legal, nos divertimos, mesmo no ferro-velho, com a chuva que caía e a lama até os joelhos, Bela percebeu minha animação com as várias peças de metal retorcido, sujas de graxa, que encontrei – nós tivemos sorte! Comentei.

Nós voltávamos para o carro quando ela comentou sobre o problema que tivera na picape.

— O som quebrou?

— É — Ela respondeu enquanto eu cutucava o buraco em seu painel.

 — Quem tirou? Estragou muita coisa...

 — Fui eu — ela admitiu e eu ri.

— Talvez seja melhor você não tocar muito nas motos.

— Tudo bem.

Dali, fomos ao Checker Autopeças, em Hoquiam. Na picape, eram mais de duas horas de viagem, Bela riu enquanto eu contava uma longa história sobre Quil e o problema que ele criou ao convidar para sair a namorada de um garoto do último ano.

— Então me diz o que anda acontecendo em Forks? Deve ser mais animado do que La Push? Perguntei tentando fazê-la falar mais um pouco.

— Errado — Ela respondeu — Não há absolutamente nada. Seus amigos são muito mais interessantes do que os meus. Gosto dos seus amigos. Quil é divertido.

Eu franzi minha testa. — Acho que o Quil gosta da sua irmã.

 Bela riu. — Ela é pouco nova para ele.

Senti que o vinco na minha testa se aprofundou. — Ele não é muito mais velho do que eu, só um ano e alguns meses.

— Claro, mas, considerando a diferença de maturidade entre meninos e meninas! Ela respondeu – Nessie é bem mais madura do que ele! Ela sorriu timidamente – Ela é mais madura do que eu! Em seguida os olhos dela se voltaram para mim e ela ergueu as sobrancelhas – Nunca conte que eu admiti isso a ela.

Eu baixei a cabeça e ri.

— Tudo bem, mas se vamos ser criteriosos em fazê-lo desistir ela, podemos considerar a média da altura também, ela é tão baixinha que podemos dizer a Quil que vão pensar que ele está namorando uma criança do maternal.

— Ela tem um e quarenta e sete, e eu tenho um e sessenta e dois, eu estou perfeitamente na média, não é minha culpa que você seja uma anomalia.

Rimos juntos, só então percebi que o assunto havia mudado para Nessie.

Ficamos brincando com isso até Hoquiam, ainda discutindo sobre a fórmula correta para determinar a idades – Mas porque você está interessado em sabotar o interesse do Quil na minha irmã? Ela perguntou enquanto estávamos no Checker.

— Ela é só uma menina e eu não quero problemas com o Chefe Swan! Respondi.

—Ela faz dezesseis daqui a quatro meses, terá a sua idade.

— Menina!

— Se ela ouvir isso mata você.

— Você por acaso é a branca de neve?

Bela me olhou confusa e demorou cerca de trinta segundos para entender a minha piada – Ela mata você! Riu caminhando ao entender que eu havia chamado a irmã de anã.

Achamos tudo o que restava da lista o que me deixou confiante, faria muito progresso com nossas aquisições e quando chegamos em casa Billy ainda não tinha voltado, então não precisamos descarregar furtivamente, Quil e Embry não apareceram, então talvez a ameaça que eu havia feito na véspera tivesse sido levada a sério. O dia passou rápido demais. Ficou escuro antes do que eu esperava, e depois ouvimos meu pai chamando por nós.

— Bella? Nossas cabeças se ergueram de repente ao ouvir a conhecida voz de Charlie flutuando por entre as árvores, parecendo mais próxima do que a distância da casa.

— Droga — Bela murmurou desesperara.

 — Estamos indo! — gritei na direção da casa.

— Vamos. — Eu sorri  gostando do perigo, apaguei a luz  e segurei a sua mão a conduzindo para fora da garagem e por entre árvores, os pés encontrando facilmente o caminho com que estávamos familiarizados, tropeçamos na escuridão e logo estávamos rindo quando avistamos a casa, Charlie estava de pé na pequena varanda dos fundos e Billy estava sentado atrás, na soleira da porta.

— Oi, pai — dissemos os dois ao mesmo tempo, e isso nos fez rir de novo.

 Charlie me fitou com olhos arregalados, que se desviaram para baixo e notaram que estávamos de mãos dadas. — Nessie não está com vocês? — disse-nos num tom de preocupação.

— Ela não foi para Port angels? Bela perguntou soltando minha mão.

— Vamos para casa, sua irmã desapareceu.

— Me liga amanhã? Bela perguntou enquanto saia as pressas, concordei com a cabeça, como Harry tinha dado uma carona a Charlie, eles entraram juntos na picape e seguiram para casa.

— Espero que a menina esteja bem! Meu pai sussurrou enquanto observávamos o carro se afastar.

— Eu também pai! Murmurei preocupado.

Algumas horas depois Charlie ligou para meu pai e nos avisou que Carlie estava bem, a sua picape havia quebrado na saída da cidade.

Como combinado na manhã seguinte eu liguei para ela, eu havia acordado cedo e terminado os reparos nas motos, não havia sido tão difícil e eu acabara terminando antes do prazo calculado.

— Alô? — Bela atendeu e pelo puxar da respiração parecia sem fôlego.

 — Bella — Falei tentando não parecer tão formal.

— Oi, Jake.

— Acho que... temos um encontro — Falei dando ênfase ao “encontro”.

— Estão prontas? Não acredito!

— É, andam e tudo – Afirmei.

— Jacob, você é absolutamente, sem dúvida alguma, a pessoa mais talentosa e maravilhosa que eu conheço. Ganhou dez anos com essa.

— Que legal! Agora sou um homem de meia-idade.

Rimos juntos e ela encerrou a ligação — Estou indo para aí!

Uma hora depois o carro estacionou ao lado de casa, perto das árvores, compreendi que ela havia feito aquilo para que ficasse mais fácil retirar escondido as motos, percebi que as duas irmãs estavam rindo  quando sai de dentro de casa.

— Pronta? — Perguntei ao ver a animação de Bela, meu olhar se voltou para a baixinha que ao perceber minha breve análise sobre o que havia de diferente nela arregalou seus olhos verdes desconfiados para mim – Que bom ver você Nessie! Murmurei tentando identificar o que estava diferente, foi quando notei que seus cabelos estavam soltos, eram castanhos, ondulados com cachos nas pontas que se estendiam atém um pouco abaixo dos ombros – O seu cabelo, deveria usá-lo solto mais vezes.

Voltei a olhar para Bela.

— Prontas — Bela respondeu.

— E você? Olhei para Nessie.

— Também!

—Legal! Falei animado.

Coloquei as motos para a caçamba da picape, deitando-as de lado com cuidado para que não aparecessem, entramos na picape e fomos para o sul, saindo da cidade, explicava como havia aprontado as motos, mas minhas descrições estavam ficando técnicas e Bela não prestava muita atenção, apenas Nessie parecia interessada. Estávamos acima da costa, no alto do penhasco que cercava a praia quando Bela freou o carro.

—Ai! A baixinha gritou levando a mão a testa.

— Não! — Bela Gritou.

— Que foi?

— Aquele cara... Ele acaba de pular do penhasco! Por que não o impediram? Temos que chamar uma ambulância!

Bela abriu a porta num rompante e saiu desesperada, a única reação que tive foi de rir, ri alto, mas parei ao perceber que Nessie me encarava, ela saia do carro logo em seguida e eu saí atrás delas.

— Eles só estão mergulhando do penhasco, Bella. La Push não tem shopping, sabia?

— Mergulhando? — Bela repetiu.

 —  Caramba. É tão alto. — Nessie gritou com os olhos arregalados e sorria, sorria largamente como se tivesse presa em um parque de diversões. — Deve ter uns trinta metros! Ela estava adorando ver aquilo.

— Bom, é, a maioria de nós pula de lugares mais baixos, daquela pedra que se destaca na metade do penhasco. — Apontei para o lugar que parecia muito mais razoável.

— Esses caras são malucos – Bela murmurou.

— Devem estar se exibindo, mostrando que são durões. Quer dizer, hoje está congelando. A água não deve estar boa.

— Você pula do penhasco? Perguntou a baixinha.

— Claro, claro. É divertido. Meio assustador, um tipo de adrenalina.

— Jake, você precisa me levar para mergulhar do penhasco.

A irmã e eu franzimos a cara para Bela — Bella, você agora mesmo queria chamar uma ambulância para Sam — Falei rindo.

Quero tentar — Ela insistiu.

— Hoje não, está bem? Será que podemos pelo menos esperar por um dia mais quente?

 — Tudo bem, tá legal — Bela concordou. — Mas quero ir logo.

— Logo. — Rolei os olhos. — Às vezes você é meio estranha, Bella. Sabia disso?

— Eu pularia do topo! Nessie murmurou. Aquilo só podia ser sacanagem, Bella era mais fácil de se controlar, ou ao menos com relação a irmã que apesar de ter no máximo um metro e meio era muito segura de si para aquela idade.

— Não vamos pular do topo! A encarei a corrigindo.

— Eu pulo do topo e dou um duplo carpado! Ela me desafiou sorrindo.

Tive vontade de colocá-la dentro de uma caixa e despachá-la no mar, mas apenas suspirei. — Vamos testar as motos ou não?

Bela riu – Exibida! Em seguida voltamos novamente para a picape.

— Então, quem eram aqueles caras... Os malucos? — Nessie perguntou.

— Sam!  A gangue de La Push.

— Vocês têm uma gangue? — Bela perguntou .

Ri da sua reação. — Não desse modo, eles são como inspetores de colégio enlouquecidos, porém não começam as brigas, mantêm a paz, Embry também soube por Leah Clearwater que eles se chamam os “protetores” ou algo assim.

— Você não gosta muito deles – Bela falou.

— Parece mesmo? Ironizei.

 — Bom... Não parece que estejam fazendo algo ruim.

— Só uma espécie de gangue de santinhos irritantes – Bela falou concordando com ele.

— É. Irritante é uma boa palavra. Eles estão sempre se exibindo.

— Sam não é meio velho demais para esse tipo de coisa?

— É. Ele devia ir para universidade, mas ficou. E ninguém deu a mínima para isso. Todo o conselho quase teve uma síncope quando minha irmã recusou uma bolsa parcial e se casou. Mas, ah, não, Sam Uley não faz nada de errado.

Eu queria mudar aquele assunto, ainda me incomodava o fato de Sam parecer esperar por mim, o modo como ele e sua gangue me tratavam me dava arrepios, não conseguia entender por que as pessoas tratavam Sam daquele jeito. Por que a opinião dele era a que mais contava? Sabia que tinha alguma coisa a ver com o pai dele, e o pai do pai dele. Meu bisavô, Ephraim Black, havia sido algo como o último chefe que tivemos, eles ainda ouviam meu pai talvez por causa disso, mas eu era como todo mundo, ninguém me tratava de um jeito especial, não ao menos até aquele momento.

— A sociedade é machista, até nas tribos! Nessie falou me tirando de meu devaneio temporário – Acham que garotas não podem nada, nem mesmo pular de penhascos.

O que será que Charlie Swan faria se eu matasse a caçula dele? Comecei a desejar imensamente isso, talvez eu devesse pendura-la em uma corda de cabeça para baixo no penhasco, daria como desculpa que ela havia insisto em pular e eu tentava impedi-la, eu me casaria com Bela anos e depois e daríamos seu nome a nossa filha como forma de homenageá-la.

Ela riu ao perceber que eu havia compreendido minha provocação, tentei esquecer meu momento de psicopata.

— Tudo isso é bem irritante e... estranho. Mas não entendo por que leva essa história para o lado pessoal. — Bela nos interferiu.

— Você perdeu a entrada — Falei de forma calma.

Após quase bater o carro Bela estacionou, retirei as motos as encostando na caminhonete e caminhamos um pouco enquanto conversávamos.

— Que foi? — Bela perguntou percebendo o meu aborrecimento.

 — É o Embry. Ele anda me evitando nos últimos dias.

— Você anda saindo muito comigo- Ela respondeu

 — Não, não é isso. Não é só comigo... É com o Quil também, e com todo mundo. Embry faltou uma semana à escola, mas nunca estava em casa quando tentamos vê-lo. E quando voltou, parecia... parecia nervoso. Apavorado. Quil e eu tentamos fazer com que ele nos contasse o que havia de errado, mas ele não falou com nenhum de nós, e nesta semana, do nada, Embry está andando com Sam e os outros. Ele estava lá nos penhascos hoje.  Bella, eles incomodavam mais o Embry do que a mim. Embry não queria ter nada a ver com eles. E agora está seguindo Sam como se tivesse entrado para um culto. E foi assim que aconteceu com Paul. Exatamente do mesmo jeito. Ele não tinha nenhuma amizade com Sam. Depois parou de ir à escola por algumas semanas e, quando voltou, de repente Sam era dono dele, não sei o que isso significa. Não consigo imaginar o que é, e sinto que tenho que descobrir, porque Embry é meu amigo e... Sam olha para mim de um jeito estranho.

 — Já conversou com Billy sobre isso?

— Já .

— Foi de muita ajuda. — O que ele disse?

— “Não há nada com que se preocupar agora, Jacob. Daqui a alguns anos, se você não... Bom, vou explicar mais tarde.”

Bela jogou os braços em torno do meu corpo, eu paralisei, talvez ela tenha feito isso por instinto, envolvei os braços em sua cintura e a apertei contra meu peito. — Ah, Jake, vai ficar tudo bem! Ela murmurou.

— Obrigado, Bella. — eu sussurrei, e ficamos parados ali por um momento, e isso não a incomodou, eu tive uma pequena gota de esperança que ela tivesse começando a retribuir aos meus sentimento, não, não era apenas amizade era algo mais — Se é assim que você vai reagir, vou ficar nervoso com mais frequência.

Ela se afastou e deu um sorriso e Nessie passou ao nosso lado.

— Desculpe quase fiquei para trás!

— É difícil acreditar que sou dois anos mais velha do que você! Bela falou mudando o assunto.

— Bom ao menos ele é mais alto! A baixinha se intrometeu, confesso que ri.

— Falou a pessoa mais alta da família! Bela a provocou.

Dei alguns passos me aproximando dela e ela ergueu o olhar direcionando os olhos verdes para meu rosto — Ah, é verdade! Falei levando uma das mãos a sua cabeça e afaguei seus cabelos os bagunçando — Você parece uma bonequinha — Falei com tom de deboche. — Uma boneca de porcelana.

Ela rolou os olhos e empurrou meu braço enquanto Bela e eu rimos- — Vamos começar logo com isso!

Ensinar Bela foi um pouco mais difícil do que eu esperava, primeiro ela queria por a moto em pé sem movimentá-la, eu repassei para ela a função de cada comando da moto duas vezes e quando perguntei na terceira ela já havia esquecido tudo.

— Agora, onde está seu freio? Perguntei a Bela.

Eu sabia que ela havia esquecido, seus olhos desviaram para Nessie que estava calada na outra moto, eu vi o sinal que a baixinha havia feito, mas disfarcei.

— Atrás do meu pé direito – Ela respondeu.

— Errado – Respondi.

Nessie riu, ela havia dado a resposta errada de proposito, isso tinha muito a ver com ela.

Voltei a explicar a Bela os comandos quando o som do motor chamou a nossa atenção, Nessie acelerou a moto e disparou em linha reta – Mas o que? Murmurei enquanto a via se afastar, dar a volta e retornar parando ao nosso lado.

— Muito bom — A elogiei.

— Quando aprendeu a andar de moto? Bela me perguntou descrente.

— Há alguns meses com o Phil!

— A Reneé permitiu isso?

— Vamos lá, Bela você consegue!

Ela realmente conseguiu, também conseguiu cair da moto e ganhar um grande golpe em sua testa, desesperados Nessie e eu a colocamos na picape e disparamos na direção do hospital, e enquanto retornávamos da Emergência tivemos que chegar a um acordo sobre a desculpa que daríamos a Charlie.

Eu passei um dos Braços em volta nos ombros de Bela enquanto Nessie dirigia, percebi seu olhar se dividido entre olhar para mim e olhar para a estrada.

— Que foi?

 — Nada – ela respondeu dando um leve sorriso- Só não tinha percebido antes. Sabia que você é até bonito?

— Eu pensei que Bela é quem tivesse batido forte com a cabeça e não você.

— Eu concordo com ela! Bela falou.

— Bom, então, eu até agradeço.

Bela havia levado sete pontos na cabeça, embora eu tivesse insistido em deixa-las em casa Nessie disse que estava tudo bem e Bela também confirmou, eu as observei desaparecer na estrada após me deixarem em casa e suspirei.

Eu estava pronto para dar o próximo passo, eu pediria a Bela para ser minha namorada.