Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 60
A Empusa


Notas iniciais do capítulo

Peço mil perdões pelo gigantesco hiato entre capítulos, mas ultimamente ando tendo mais e mais dificuldades de escrever consistentemente: um misto de falta de motivação, procrastinação e foco nos estudos acaba me drenando muito.
Mesmo assim, cá está um capítulo novinho, e se possível, outros vindo logo logo. Espero que os -2% ainda acompanhando gostem, boa leitura :3



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P.O.V Nick

 

A loja de equipamentos de neve era bem acolhedora: uma lareira quente ficava na extremidade direita do lugar e a vasta seleção de casacos, gorros e luvas confortáveis eram o suficiente para me entreter na nossa breve visita. Aurora e Avery carregavam pilhas de roupas para os provadores, Viren parecia extremamente entretido na ala de gorros e Maggie na de casacos. Enquanto eu revirava a sessão de luvas, percebi que Aylee não parecia muito à vontade no chalé. Ela andava mais encolhida que o normal, e parecia hesitar antes de olhar alguma das roupas. Deixei o par de luvas de lã na caixa onde ficavam e me aproximei dela, ficando em um cabideiro ao lado do que ela circulava.

“Tudo bem por aí?”, perguntei, fingindo estar procurando algo nos cabides

“Tudo. É só… Ah, deixa pra lá, não é grande coisa”, ela respondeu, pegando um dos casacos. “Esse parece bom, vou experimentar”, disse antes de sair apressada em direção aos provadores. Eu sabia que ela estava desviando da conversa, mas decidi não pressioná-la.

“Ela vai ficar bem, só seus amigos de Afrodite ali apressarem o passo e a gente consegue sair rápido. Não precisa ser um gênio pra perceber que ela não gosta de lojas de roupa”, Hipólita disse, parecendo se materializar do além

“É o que parece. O problema é que ela recusa a dizer pra qualquer um de nós o que tá afligindo ela e eu não sei como ajudar. Eu também não quero forçar ela a falar nada que ela não queira, mas, sei lá, fica difícil tentar ajudar alguém na base do ‘você tá bem?’ e ‘sempre estou aqui pra você’ quando não parece adiantar de nada”

“Calma garoto, tá adiantando sim. Ela aprecia o que você faz, só não gosta de trazer memórias. E julgando pelo jeito um pouco torto que ela anda e o jeito que ela evita encostar nos lugares em algumas partes das costelas e tronco, eu imagino que deve ter alguém abusivo do passado na história”

“Você é muito boa em ler pessoas”

“O que posso dizer? Vem com a idade”

Ela se virou e foi ver alguma coisa em outro lugar na loja, enquanto Aurora saía dos provadores com um casaco estampado. Me aproximei dela e fiz um sinal sutil com os olhos apontando para Aylee, e ela entendeu na hora que era melhor nos apressarmos. Depois de todos escolherem suas roupas, Eve usou seu charmspeak no vendedor para nos permitir sair sem pagar, e saímos para o frio do exterior. Neve fina caía e a sensação era de estar dentro de uma câmara de congelamento, mas eu sabia que só iria piorar.

“Eu vou dar uma olhada na montanha pra ver se eu consigo achar o lugar que a Empusa tá. Vocês conseguem ficar em uma pousada até amanhã sem supervisão? A última coisa que eu quero é ter que ficar sabendo que houve uma explosão ou que um de vocês morreram”

“Por que a gente não pode ir logo com você”, perguntei?

“Porque última vez que eu chequei, nenhum de vocês é imortal. E eu certamente não quero ter que nadar em um avalanche pra salvar a bunda de vocês pra depois descobrir que a base tava na base da montanha e não no cume”

“E você consegue checar a montanha inteira em um dia?”, Viren questionou

“Óbvio que eu consigo”

“Onde nos encontramos amanhã?”

“Eu encontro vocês, não se preocupem. Mas não vão inventar de morrer ou ser capturados, entenderam?”

“Vamos fazer nosso melhor”, Eve respondeu. “Mas não vem jogar a culpa em nós se algum monstro decidir dizer ‘oi’ na pousada”

“Jovens…”, ela murmurou, virando as costas

Ela se afastava nas ruas nevadas, andando em meio a chalés e pessoas. Começamos a andar na direção oposta, passando por residências de madeira, calçadas de pedra e olhares curiosos. Andamos pela neve fofa, sentindo o cheiro de fumaças de chaminé, comidas de restaurantes e perfumes estranhos, tentando não chamar muita atenção. Depois de alguns minutos, encontramos uma pousada no canto da rua: era uma construção de pinheiro escuro, com o teto levemente curvado, uma enorme placa pendurada e um desenho de uma montanha na porta. 

Ao entrarmos, fomos imediatamente tomados pelo cheiro de cozido quente, o calor do fogo e o burburinho de pessoas. O interior do lugar parecia uma pousada medieval, com uma enorme lareira de pedra, diversas mesas espalhadas pelo aposento e um atendente atrás de um balcão no fim da parede. Ao nos ver, ele nos comprimentou em um idioma que eu não conhecia, e, novamente, Eve e Aurora usaram seu charmspeak. Chegava até a ser irritante ter que ver os dois usarem isso pra tudo, mas eu entendia o motivo. Aylee, que devia saber até a lingua dos antigos egípcios, traduziu que havia três quartos livres na pousada, então teríamos que dividir. Obviamente, Aurora e Maggie iriam dividir o delas, mas isso ainda deixava no ar quem iria dividir com quem, e ninguém queria dividir com Avery por ele ter um ronco semelhante a uma motosserra. Eu estava prestes a me oferecer a ficar com o sono madeireiro de Eve quando Vi se ofereceu ao invés. O estalajadeiro nos entregou as chaves com um sorriso e depois partiu para resolver outras coisas.

Subimos aos nossos quartos, 101, 103 e 105, passando por escadas barulhentas, uma dupla de camareiras e um grupo de crianças brincando de pique-pega.  O quarto possuía duas camas bem arrumadas, cada uma com um cartão barato de boas vindas e um pedaço de chocolate que devia estar vencido há duas décadas. O ventilador no teto parecia prestes a cair, as janelas apontavam para a vista branca do exterior, uma porta em cada parede conectava com os quartos de Maggie e Viren e um copo com uma flor murcha repousava no armariozinho ao lado das camas. Era perfeito. Sem pensar duas vezes, me joguei em uma das camas, contente em estar em um colchão macio e que não balançava, diferente da montanha russa que eram as camas do barco de Hipólita. Aylee fez o mesmo em sua cama, soltando um suspiro de alívio.

“Que loucura pensar nisso, né?”, ela disse

“No quê?”

“Estar tão perto do final. Esses últimos dias pareceram meses, e agora estamos aqui, do lado da montanha”

“É… depois de tudo que passamos, não sei mais se eu vou conseguir voltar a ser o mesmo. Todos os encontros, tudo o que passamos, é uma loucura. Tudo o que perdemos também”. Essa última parte eu não cheguei a falar, mas certamente pensei. A imagem do poço ainda me atormentava à noite, o som dos ciclopes se aproximando, as lágrimas em meus olhos.

“Certamente não. Sinceramente, não sei mais o que eu vou fazer quando chegarmos no acampamento. Isso é, se sequer ainda tivermos um acampamento quando voltássemos”

Compartilhamos um momento de silêncio, não sabendo o que falar. Não que houvesse muito a ser dito, mas ainda gostaria de ter alguma coisa pra falar sobre. Eventualmente, decidi afiar minhas espadas enquanto ela escrevia algo em um pedaço de papel. Minhas espadas conseguiam cortar uma árvore se eu quisesse, de tão afiadas, mas era uma forma de matar o tempo. Pensei em bater na porta dos outros, mas o barulho de chuveiro no quarto de Eve me desencorajou, e receei interromper alguma coisa entre Aurora e Maggie.

Mais tarde, quando o sol começou a se pôs, e comecei a sentir uma sensação estranha. Não era nada físico, era algo como um mau pressentimento, mas mesmo assim, parecia como se algo estivesse fora do lugar. Não muito depois, o latido de cães dominou as ruas, uivos e ganidos parecendo ficar cada vez mais próximos. Um silêncio quase fantasmagórico pareceu pesar na pousada inteira, até ser quebrado por um rangido vindo das escadas. Era lento e contínuo, como se a pessoa estivesse sem nenhuma pressa. Ouvimos seus passos se aproximar, e sua passada tinha um som estranho, descompassado, como se seus pés fossem diferentes. Os outros, ouvindo os sons, entraram no quarto pelas portas laterais, e todos nós pegamos nossas armas. Algo nos dizia que seja lá o que fosse lá fora, não era humano. E então a prótese de Maggie começou a fazer barulho.

Era um som estridente, como se um microfone fosse aproximado em sua caixa de som e o volume fosse aumentado. Tapei meus ouvidos com força, enquanto Maggie tentava desligar o mecanismo que fazia o som, eventualmente batendo o braço metálico com força no chão. Se o que estivesse lá fora não sabia onde estávamos até agora, certamente o barulho serviu como um letreiro neon com uma seta em nossa direção.

“Boa noite, crianças”, uma voz soou, como se viesse de todas as direções. A porta do quarto, até pouco trancada, pareceu abrir-se sozinha por mágica, revelando uma silhueta aparentemente normal. Uma mulher de uns 30 anos e cabelos ruivos intensos estava na porta, utilizando uma roupa que parecia propositalmente demonstrar suas curvas. Para um normal, aquela vista devia ser algo lindo, mas por trás desse feitiço de glamour era claro que estávamos frente a frente com a Empusa. “Surpresos em me ver?”

Imediatamente tentei correr em sua direção com minha espada em mãos, pronto para decapitar a responsável pela morte de Mevans. Em um piscar de olhos, um enorme cão veio de trás dela e deu um pulo, me espantando para trás e arranhando uma parte do meu braço.

“Eu não faria isso se fosse você, meu caro. A Sangria não comeu hoje e ela tem um gosto afetivo por carne humana”, a criatura disse, apontando para o enorme cão

“O que você quer?”, Vi cuspiu

“O que eu quero? Hmm, vamos ver… Bom, vocês pararem de enfiar o nariz nos meus negócios já é um começo. É um esforço tremendo montar um exército, sabiam? Muito convencimento é envolvido em convencer ciclopes a fazer qualquer coisa”

“E deixar você matar o resto de nós?”, Aylee rebateu

“Prometo por todos os demônios do Tártaro que, se vocês manterem sua parte na trégua, nenhum mal lhes virá, por intervenção minha ou de meus serviçais”

“E se recusarmos?”, questionou Aurora

“Eu irei torturar aquela semideusa irritante que está acompanhando vocês até ela se arrepender se ser imortal. Depois, vou mandar meus cães despedaçarem vocês membro a membro e matar todo homem, mulher, criatura mágica e criança do acampamento que vocês ratinhos ficam se escondendo. Vocês têm um dia para decidir”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, até a próxima! ♥