Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 51
Noite


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ♥



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P.O.V Nard

 

Depois do jantar, fui para o topo de uma das montanhas, onde dava para ver todo o Acampamento. Mesmo na escuridão, era possível ver vagamente pessoas andando e as luzes das cabanas se apagando. Me sentei na relva, que estava um pouco úmida, e vi o movimento cada vez menor de pessoas indo para suas cabanas. Era pacífico aqui em cima: a grama era confortável de se sentar,  a brisa noturna ficava batendo de leve no meu rosto e os barulhos de grilos e corujas eram um tanto hipnotizantes. Folhas de árvores farfalhavam, pequenos vaga-lumes podiam ser vistos na distância.

Ouvi alguns passos distantes, vindos do fundo da montanha, seguidos por uma silhueta. Coloquei a mão na bainha de uma das minhas espadas, preparado para sacá-la a qualquer momento.  A silhueta se aproximou, e soltei um suspiro de alívio ao ver que era Hanna, que estava um pouco ofegante de ter de subir a montanha. “Se importa se eu me sentar junto de tu?”, ela perguntou, sem nem esperar uma resposta, se sentando ao meu lado. “Como que você tá?”, perguntei, enquanto tirava uma formiga que subia minha perna de lá. “Preocupada”, ela respondeu, um tanto sucinta. “Os moleques de Ártemis ainda não voltaram, né?”, perguntei retoricamente, no que ela respondeu acenando com a cabeça. Não consegui pensar em nada para dizer, então acabamos ficando em um silêncio agonizante.

Eu sabia que Hanna estava tendo muitas coisas na cabeça dela ultimamente, e eu sabia que nenhum de nós dois havia esquecido o que tinha acontecido na enfermaria. Na falta de palavras de consolo, simplesmente me aproximei e lhe dei um abraço, no qual ela aceitou sem hesitar. Não precisávamos de palavras para expressar nos consolar, nosso abraço tinha mais palavras que um dicionário inteiro. Senti algumas lágrimas descendo de meus olhos, e notei que o mesmo ocorria com Hanna. Não chorávamos por tristeza, nem por um motivo em particular, mas mais como um desaforo, um momento de “liberdade”, um momento de jogar tudo para fora. Não durou muito tempo, nem foi dramático e extravagante, foi simplesmente revigorante, de uma certa forma.

Nos separamos depois de  bastante tempo, embora continuássemos apoiados um no ombro do outro enquanto encarávamos o Acampamento ao longe. As estrelas combinadas com a lua davam um brilho bioluminescente no Acampamento, de uma forma que parecesse que tivesse uma fonte de luz dentro do lugar. Depois de vários minutos, que talvez tenham sido até horas, Hanna adormeceu no meu ombro, completamente inerte. Era estranho como nós passávamos por tanta coisa durante o dia, e nosso corpo simplesmente ficava pacífico e calmo quando dormíamos, como ocorria com Hanna agora. 

Passaram-se vários minutos, até um momento onde ouvi um grito distante, que parecia vir da Ferraria. Me levantei em um pulo, o que deu um susto enorme em Hanna, e deslizei para baixo da montanha. Corri até a Ferraria, com meu ombro dando algumas pontadas de dor, e abri a porta com um chute. Acendi a luz e suspirei de alívio ao ver que o motivo do grito não era nada mais do que um dos filhos de Hefesto ter caído no chão ao tropeçar em uma caixa de ferramentas no chão. Flower apareceu na porta, com o arco em mãos, com o cabelo todo desarrumado, o que eu assumi que era por causa dela ter acabado de acordar. Ela abaixou o arco ao ver a cena, e se limitou a me dar um “boa noite” sonolento. Hanna chegou na ferraria logo depois de Flower ter saído, e ela claramente ainda estava muito confusa de ter acordado subitamente. 

Ela parecia uma morta-viva, e provavelmente devia estar morrendo de sono, julgando pelo fato que ela quase dormia em pé. Deixei ela se apoiar em meu ombro e a carreguei até a Cabana de Atena, sem saber se ela ouviu ou não quando eu lhe disse “boa noite” pouco antes de ela entrar. Fui em direção à Cabana 5, encarando as estrelas e pensando em Eve, em o quão longe ele devia estar. Eu ainda lembrava de seu cabelo escuro preso em um rabo de cavalo e em sua pele bronzeada, e fiquei me questionando se ele fazia o mesmo. Provavelmente não, eu que estava sendo um apaixonado sem cura. 

Andei pela relva umedecida, sentindo o cheiro de morangos no ar, e a brisa fria e calma da noite no meu rosto. Ouvi pequenos passos leves na grama, e ao olhar para baixo vi que Lilith me acompanhava, me encarando com aqueles olhos felinos como se eu fosse um pedaço de peixe. A levantei do chão e a coloquei nos meus braços, e a acariciei. “Vejo que alguém também não tá dormindo”, eu disse, ao ouvir passos perto de mim, nas minhas costas. Me virei, e como eu imaginava, Rav estava em meio às sombras que as nuvens faziam no chão, e saiu de perto de uns arbustos ao me ouvir. “Eu não consigo dormir depois do que eu fiz… Não ainda”, ela respondeu, com a cabeça baixa. Lilith pulou de meus braços e foi em direção à sua dona, enquanto eu me sentava no chão. Rav se sentou em uma pedra perto dos arbustos, e ficou cabisbaixa enquanto passava as mãos no pelo de Lilith, provavelmente muito envergonhada para dizer algo. 

"Deixa eu adivinhar: os de Afrodite são os que mais tão te sacaneando? Se não for, provavelmente devem ser alguns dos cabeças de vento que eu divido cabana”, eu disse, sem me importar com cordialidades ou saudações. “Na verdade os mais de fuder são os de Ártemis. Eles me culpam pelo que aconteceu com a Sophie, e  eu não posso exatamente julgá-los por isso”, ela respondeu, levantando levemente a cabeça. “E é por isso que você não tá conseguindo dormir?”, repliquei perguntando. Ela fungou rapidamente, colocando Lilith no chão para perseguir uma pequena lagartixa. “Não… É que… Sei lá, eu fiz um monte de merda aqui, um monte de merda lá e… Não sei, eu não consigo dormir em uma Cabana sem me sentir que eu não deveria estar lá…”, ela respondeu, e percebi que sua voz estava rachando um pouco.

Eu estava prestes a responder algo quando ela continuou: “Desde que eu descobri que minha mãe era Hécate, eu só fiz escolhas ruins: fiquei arrogante com meus poderes e acabei perdendo minha namorada, manipulei pessoas, só baguncei o Acampamento, fiz parceria com a Empusa… É como se… É como se eu não merecesse ser uma semideusa”. Ela tentava disfarçar as poucas lágrimas que saíam de seus olhos, e fiquei pensativo tentando responder algo consolador. “Eu sei que você não é exatamente um exemplo de cidadão perfeito, mas pelo menos você decidiu abandonar a Empusa. Eu tô pouco me fudendo pras merdas que você fez antes, pra mim o que realmente importa é que você decidiu atuar no que é certo, ao invés do que é fácil. Eu sei que a Empusa deve ter dadp uma oferta tentadora, eu sei que deve ter sido difícil abrir mão disso. Então simbora, engole o choro e bora achar um lugar melhor pra conversar”, respondi, estendendo minha mão.

 


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Notas finais do capítulo

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