Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 45
Alto Mar - Parte VIII


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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P.O.V Nick

 

“Mamá? O que tá acontecendo?”

“Calma, mi hijo, tudo vai ficar bem…”

“Os homens maus… Eles vieram pegar o meu carrinho?”

“Não, querido. Só fica quietinho e tudo vai dar certo. Daqui a pouco a gente vai voltar pra casa”

“Você promete?”

“Sim”

“Ah! ME LARGA!”

“Mamãe? Mamãe?!”

“Cala a boca moleque e volta pra parede”

“Por favor senhor, não machuca a minha mãe”

“Volta pra parede, pivete!”

“Aqui… Eu te dou meu carrinho… Só não machuca a minha mãe, por favor”

“Calma, mi hijo, volta pro canto por favor. A mamá vai ficar bem”

“Lá pra trás vadia, agora!”

 

Acordei com um pulo, suando frio. Por que essas memórias só estavam voltando agora? Chacoalhei a cabeça, era só uma memória ruim. “Já fazem 10 anos, você já passou da fase de preocupação, seu irmão tá bem, sua mãe tá bem e você acabou de ser resgatado por Hipólita”, meu cérebro pareceu me lembrar. Observei o lugar em que eu estava: no topo de um beliche de três andares, com outro perpendicular ao lado. Em cada colchão havia uma pessoa, como era de se esperar, e o chão do local era de carvalho claro, em contraste com as paredes metálicas levemente enferrujadas.

O local era iluminado por uma lâmpada pendurada no teto, dando uma aura amarelada ao retângulo. Na outra extremidade do lugar estava Hipólita, com as costas apoiadas na parede onde ficava a porta, provavelmente montando guarda. “Dormiu pouco”, ela disse, encarando a parede. Eu estava prestes a responder, quando ela me cortou e disse: “Relaxa, eu sou assim também. Já vi muita coisa maluca nesse mundo, moleque, que você não tem idéia. Eu tô ficando velha”. Pulei da beliche, ao invés de usar a pequena escada, e olhei para uma minúscula janela em uma das paredes. O sol terminava de nascer no horizonte, e o sereno da noite começava a se dissipar.

“Bom dia pra você também”, falei, e ela deu um sorriso. “Jovens…”, murmurou, mais para si própria do que para mim. A porta metálica em forma de escotilha estava aberta, e tive que me agachar um pouco para sair. Ao sair, dei de cara com um corredor, que havia uma porta ao final e outra na parede à direita, e uma saída ao convés na esquerda. O movimento constante das ondas e do barco estavam sempre presentes na minha perna, e virei à esquerda. O convés era bem simplístico: a mesma madeira que revestia o chão do quarto, baldes, cordas e equipamentos empilhados nos cantos e o mar em baixo de tudo.

Com certeza esse barco era maior que um barco de pesca comum, era quase um barco de carga pequeno. Devia ter por volta de uns 20 metros, com uns 7 deles sendo a área coberta com o quarto e a cabine. “Você realmente pesca ou isso é só um disfarce?”, perguntei para Hipólita, que vi estar saindo do corredor. “No geral não, mas vez ou outra eu pesco algo pra comer. Era muito mais divertido nos barcos a vela antigamente, dava pra você se amarrar ao barco, pegar uma lança na mão e empalar o peixe à moda antiga”, respondeu, olhando melancolicamente para o mar.

“Hoje em dia vocês tem varas e motores. Acabou-se a graça de um bom pescado de manhã. Mas fazer o quê, o mundo tá mudando: se uma das minhas amazonas fosse pega com outra, e confie em mim que isso era algo bem comum, outras talvez as olhassem torto. Bom, dependendo da cidade claro, haviam lugares onde ter atração por mais de um sexo, ou gênero, como vocês chamam hoje em dia, era encorajado. Mas se pararmos pra pensar, as coisas não mudaram tanto assim, já que tem um monte de lugares em que se olha torto da mesma forma”

“Bom, de uma forma ou de outra, as coisas mudam, por bem ou por mal. Se essa ‘missão’ de vocês fosse na minha época, vocês estariam lidando com monstros do mar em um barco a vela. E julgando pelo estado de vocês, se um grupo de ciclopes consegue ganhar de vocês, ia ser muito catastrófico se um leviatã aparecesse no barco de vocês. Mas isso é muito remeximento no passado, se você vai ser imortal, é melhor abraçar a mudança e continuar em frente.”

“E sim, antes que você pergunte, eu consegui a imortalidade depois de fazer várias coisas por vários Deuses, incluindo Thanatos e Hades. Mas claro, isso veio com um preço: eu não posso matar nenhuma entidade que não seja para alimento, como peixes e vacas, e não posso influenciar diretamente na morte de outras entidades. Claro, eu posso levar vocês até a Empusa, mas eu não posso fazer vocês matarem ela, ou eu mesma matá-la. Eu também não posso aproveitar do prazer de ter relações com alguém, mas isso já é um problema que todos os velhos têm”

“Ah, eu ainda lembro de quando eu era jovem e agitada, indo de uma missão à outra, de uma cama á outra, se é que você me entende, e tendo várias batalhas no caminho. Bons tempos, bons tempos… Enfim, eu lembro que uns, o que eram, uns 5 anos? Por volta de uns 5 anos atrás que eu conheci o mentor de vocês, o Quíron. Era uma tarde de inverno… Ou será que era a primavera? Sim, sim, a neve já tinha derretido. Enfim, eu estava vagando pelas cidades modernas e dei de cara com ele, com suas fantasias de Acampamento e sei lá mais o quê. E cá estamos, com ele me tirando do tédio pra me fazer ficar de olho em um grupo de pivetes. Você me lembra muito de mim mesma sabe? Jovem, ágil, energético… Enfim, chega de falar de mim mesma, vou acordar todo mundo para um proino gevma

Eu ainda estava absorvendo as palavras do enorme monóloga que Hipólita fez, quando ela bateu repetidamente na porta do quarto, berrando para todos acordarem em um tom animado. Confesso que era muito estranho conhecer um de meus ídolos: eu tinha um “santuário” de semideuses famosos de Ares no Acampamento, que não eram nada mais do que nomes rabiscados na parede. As minhas memórias de infância ameaçaram voltar, mas chacoalhei a cabeça e fui na direção de Hipólita, pronto para o café da manhã. 


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Notas finais do capítulo

Bom, eu sei que o capítulo inteiro foi o monólogo da Hipólita, mas é porque ela foi uma personagem muito interessante de escrever. Ela filosofando foi muita massa de escrever, e no geral eu gostei muito do resultado. A parada da "imortalidade" deve ter tirado muito da história "original" dela, mas foi o jeito que eu consegui fazer pra não deixar a luta com a Empusa muito fácil.
(não me processem pf, considera isso um universo paralelo, ou algo assim)
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