Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 21
O Posto


Notas iniciais do capítulo

Começou a road trip yayyyyy (-inserir carinha feliz girando-)
Espero gostem, tentei abraçar um pouco mais a vibe de "antes do PJ", então decidi fazer anos 80, cause why not
Agradeço a todo mundo que leu até aqui e deixou comentários, além de eu me divertir muito escrevendo essa fic, sempre tento melhorar minha escrita no processo, e os comentários de vcs ajudam muito ♥
Amo vcs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793346/chapter/21

P.O.V Nick



O vento batia em meu rosto à medida que as árvores passavam nas minhas laterais. Pequenas pedrinhas voavam para longe do asfalto cinza enquanto o quadriciclo passava por cima delas. Estávamos em um ritmo relativamente lento, de uns 60 Km/h, em grande parte pelo fato de nenhum de nós ter andado em um quadriciclo antes. Os poucos carros passando provavelmente deviam estar se perguntando por que havia 6 jovens em 4 quadriciclos, mas mal sabiam eles que estávamos literalmente indo salvar o mundo.

Eu estava dividindo meu quadriciclo com Aylee, que apreciava a paisagem, enquanto Eve ficava na nossa frente, com um olhar sério ao horizonte. Mevans estava atrás de nós, com uma cara taciturna e uma completa falta de expressão no rosto, quase olhando o chão. Ao meu lado estavam Maggie e Aurora, com os braços de Aurora envoltos na cintura de Maggie, em uma mistura de afeto e medo. Aparentemente, Aurora tinha pavor de cair de veículos, o que era até um pouco cômico, ao mesmo tempo que um pouco preocupante.

Embora Aurora encarasse o quadriciclo como se fosse uma mola prestes a jogá-la a 15 metros do chão, e Maggie ás vezes fazia uns drifts para assustá-la, elas pareciam estar aproveitando a companhia uma da outra. Sorri internamente, eu conhecia Maggie desde que éramos crianças, e só o fato de vê-la sorrir e se divertir já me deixava feliz. Maggie deu outro drift, e Aurora fez uma cara de pavor tão engraçada que tive que me controlar para não rir. Maggie pareceu consolá-la, mas não ouvi o que foi dito por causa do vento forte e da música nos meus ouvidos.

Mesmo passando rapidamente, a paisagem era muito bonita: carvalhos e eucaliptos se estendiam em minhas laterais, enquanto o sol da tarde refletia em suas folhas, causando uma aura dourada muito bonita. Olhei para trás rapidamente e vi enormes nuvens escuras no lugar onde fica o Acampamento. Alguns minutos depois, eu estava ouvindo música em meus fones de ouvido no volume máximo, e só percebi que Aylee me chamava quando ela me cutucou no ombro. Tirei um dos fones do ouvido, me virando o suficiente para vê-la e ainda conseguir controlar o veículo. 

“O que você tá ouvindo?”, ela perguntou, tento que gritar um pouco por causa do vento. “Dogs, do Pink Floyd”, respondi, estendendo o fone na direção dela. “Quer ouvir?”, indaguei, e ela colocou o fone no ouvido. Ela levou um susto por causa do volume do áudio, mas depois pareceu gostar da música. Voltei minha atenção para a pista, vendo uma encruzilhada de duas rodovias.

Meu senso de direção era péssimo, então apenas segui Eve quando ele fez uma curva para a esquerda, e eu podia jurar que vi um rabo de cobra em uma das árvores. Afastei o pensamento, eu só devia estar preocupado com a viagem, era isso. Depois de uns 5 minutos, Aylee parecia surpresa com a duração, tanto que me perguntou “essa música não acaba nunca não?”, em um tom brincalhão. Ri, e respondi “esses são os melhores 17 minutos da sua vida, aproveita”, no que ela respondeu me devolvendo o fone. “Tô mais feliz ouvindo Queen, muito obrigada”, ela disse, em parte esnobe e em parte sarcasticamente. “A perda é sua”, foi minha única resposta, e depois voltamos a cair no silêncio.

Mesmo que eu adorava conversar, ouvir música me dava uma felicidade enorme, uma “euforia” que não sei explicar, então quando vi um tocador de fitas e fones de ouvido nas mochilas que Quíron nos deu, entrei em êxtase. O melhor foi que Maggie deu uma mudada nas fiações e nas baterias, usando bronze celestial, que aparentemente fazia uma bateria praticamente infinita.

As árvores foram ficando cada vez mais escassas, dando lugar a uma planície semelhante à um deserto: areia vermelha e fina, alguns cactos aqui e acolá, o céu parecendo tocar o chão e a leve mudança no ar. Cada vez mais eu tinha a impressão que estávamos sendo seguidos, já que eu consegui ver alguns brilhos dourados curtos e poeira sendo levantada no deserto à minha esquerda. 

Em algum momento, parei de dar atenção à minha paranóia, e foquei em continuar em frente, sem ficar olhando para as laterais, e até tirando meus fones. Continuamos por várias horas, e pela posição do sol, tínhamos no máximo duas horas até que a noite caísse. Um posto de gasolina começou a se aproximar no horizonte, e por uma placa, vi que lá também era um mini-restaurante.

Nem percebi que eu estava com fome até esse momento, mas com a promessa de comida, meu estômago começou a roncar. Tínhamos comida nas mochilas, é claro, mas em sua maioria eram rações secas e sem gosto, para quando estivéssemos em locais mais isolados. Peguei um dos walkie-talkies que Maggie nos deu na hora da partida, e apertei o botão de fala, “Eve, você tá aí?”, perguntei retoricamente. Um pequeno chiado saiu do aparelho, e logo depois ele respondeu que sim. “A gente já tá andando à um tempão e o sol vai se pôr em breve, vamo dar uma paradinha naquele posto?”, perguntei, com medo da resposta.

Ele ficou quieto por alguns segundos, provavelmente pensando na resposta, mas logo depois disse “Tá bom, mas vamos rápido porque a gente ainda tem que achar um lugar pra acampar”.

O aviso logo foi dado para todos os outros, e paramos alguns minutos depois em frente ao posto. Era um local pequeno, com umas 3 ou 4 bombas de gasolina, e um letreiro de luzes falhando. Na direita, estava uma pequena estrutura branca, provavelmente o restaurante. Descemos dos quadriciclos, e fiquei um pouco tonto com a falta de movimento, mas me acostumei rápido. Aurora estava praticamente verde, mas não aparentava precisar vomitar. Ainda. 

 Ao entrarmos, vimos que o lugar era mais uma cantina do que qualquer outra coisa. 5 mesas pequenas, para umas quatro pessoas, estavam espalhadas no chão quadriculado em forma de xadrez, e uma forte luz amarela contrastava as paredes brancas do lugar. 

No fundo, um senhor de idade avançada se apoiava em um balcão de atendimento, quase dormindo de tédio devido à falta de clientela. Ele levantou a cabeça quando nos viu entrar, mas não demonstrou muito interesse. Ou ele até poderia ter demonstrado, mas era difícil ver algo além de um rosto cansado em meio ao número bizarramente alto de rugas em seu rosto. Solitários fios de cabelo grisalho podiam ser vistos em meio a sua careca, e seus olhos marrons estavam quase sem vida. O homem parecia quase definhar em seu próprio corpo.

Juntamos duas mesas e nos sentamos, dando uma olhada no minúsculo cardápio do local, e o velho nos apontou um dedo ossudo, dizendo que os ovos com bacon e presunto estava pela metade do preço. Pedimos os pratos, dando algumas notas de pagamento, e vimos o homem sumir em uma porta atrás dele, gritando ordens para algum funcionário do local. Aurora aproveitou a oportunidade para ir em um banheiro, e Mevans fez o mesmo, indo em outro banheiro.

Eu ainda estava receoso com a visões que eu tive no início da viagem, mas tentei desviar o pensamentos o máximo possível, dizendo que era tudo coisa da minha cabeça. Isso é, até que o rabo de cobra apareceu na porta da cantina. Mas não era uma cobra enorme, pelo menos não da cintura pra cima. Acima da longa cauda dourada, via-se o porte de um menino quase normal. Parecida com a minha, a pele dele era escura, mas em um tom de caramelo, ao invés de chocolate. Tinha um corpo bem definido, coberto por uma camisa vermelha, e escamas douradas podiam ser vistas em seus braços e bochechas, da mesma cor de seus olhos. Com um cabelo curto, batendo na altura do queixo e um sorriso fino, onde se podiam ser vistos caninos levemente mais desenvolvidos, ele limitou-se a dizer “Oi gente”.

“Vi?! O que CARALHOS você tá fazendo aqui?”, perguntei, em uma mistura de raiva, preocupação e confusão. Parecendo ignorar a pergunta, ele se sentou na cadeira mais afastada da mesa e colocou um cobertor na cintura, escondendo sua cauda. “Eu sabia que o Quíron não ia me deixar ir na missão porque ele tem medo que eu me machuque, então decidi vir escondido, pra ajudar vocês”, ele disse, com uma voz que conseguia ser grave e profunda, ao mesmo tempo que doce.

“Olha Viren, eu não sou burra de recusar uma cabeça a mais na missão, mas é meio difícil esconder um naga durante uma viagem”, interviu Maggie, com um olhar frio. “Eu sei, eu sei, mas vocês viram como que eu consegui seguir vocês sem ser visto durante esse tempo”, ele respondeu, com os “s” da fala levemente prolongados. “Porque a gente não passou por nenhuma cidade grande ainda”, falou Eve, que estava silencioso até o momento.

Aurora voltou do banheiro e levou um susto ao ver Viren na mesa. Antes que ela abrisse a boca para perguntar, já a cortei dizendo “longa história, conto depois”, visto que ela ainda não tinha conhecido Vi no acampamento ainda. Ela foi um pouco relutante na hora de sentar, mas eventualmente o fez. Um menino jovem, de uns 19 anos, provavelmente o neto do dono do local, trouxe os seis pratos em uma bandeja e os colocou na mesa.

Viren afastou o prato para o lugar onde Mevans estava sentado, e só depois desse gesto que percebi que Mevans estava no banheiro há muito mais tempo do que deveria. Me preparei para levantar, mas Vi viu o gesto e simplesmente disse “relaxa, eu vou lá”. Continuei comendo os ovos, surpreso com o quão bons eles estavam, até que no meu prato não sobrasse nada. Vi que o menino que nos serviu estava no balcão, provavelmente substituindo o turno do avô e fui em direção à ele.

Dei a ele uma gorjeta de cinco dólares, e ele agradeceu com um sorriso, guardando o dinheiro em um dos bolsos de seu avental, e voltando para a cozinha. Ao voltar para a mesa, vi Viren abraçando lateralmente um Mevans corcunda, sussurrando palavras de consolo. Pela vermelhidão nos olhos de Mevans, deduzi que ele deveria estar chorando.

Não era algo incomum, percebi isso quando passei a ficar mais tempo junto com ele. Ninguém comentou nada, e ele comeu os ovos, agora frios, em silẽncio. Depois que ele terminou, Eve olhou para o sol atrás de nós, e me virei para ver também. O céu estava alaranjado, e a claridade começava a diminuir. A noite estava perto. 

Saímos do lugar, e vimos o sol quase tocando o chão. Era uma visão linda, mas não tínhamos tempo para vê-la, precisávamos achar um lugar para acampar, e rápido. “Tem certeza que tu consegue acompanhar a gente?”, perguntei a Vi, com genuína preocupação. “Relaxa”, ele respondeu, logo depois se espreitando no deserto para se camuflar. Ele poderia usar sua aerocinese para voar, mas acho que era um pouco difícil não ver um menino serpente voador se eu fosse um mortal. Subimos nos quadriciclos, embora Aurora hesitasse um pouco, e continuamos andando, procurando um bom lugar para acampar. 

Vi um lugar na distância quase perfeito: um semicírculo de arbustos, bom para esconder os quadriciclos e para fornecer lenha, e também algumas pedras que poderiam ser usadas como defesa caso algum monstro tentasse nos atacar durante a noite. Viren pareceu surgir da areia, mas por algum motivo, parecia até mais bonito (de seu próprio jeito, é claro). Começamos a preparar a fogueira e as barracas, terminando a tempo de ver o último raio de sol descer no horizonte.

Usamos algumas das das pedras maiores para nos sentarmos em volta da fogueira, vendo as pequenas faíscas subirem no céu estrelado. As coisas pareciam estar indo relativamente bem na missão, mesmo com a presença inesperada de Vi. Embora no começo eu estivesse preocupado com ele estar conosco, a presença dele era muito agradável. Enquanto fazíamos piadas ao redor da fogueira, as melhores sempre vinham dele. Até Mevans, que tentava manter a expressão séria e taciturna acabou dando um de seus raros sorrisos. Claro que sabíamos que as coisas deixariam de ser divertidas e engraçadas rapidamente à medida que fôssemos avançando na missão, mas pelo menos tentaríamos aproveitar o máximo enquanto podíamos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, quem só mandou um personagem lembre-se que ainda pode mandar outro (mas pelo amor de deus, não coloca mais um entrando na missão, senão meus neurônios explodem)
Deixem seus comentários, quero saber o que vocês acharam do primeiro dia da missão ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.