P.O.V Nard

Mesmo com as enormes nuvens cobrindo o Acampamento, e com a saída para a missão, o lugar não parecia estar muito diferente. Mesmo com alguns Campistas excitados com a saída, o local parecia estar em um dia normal. Eu queria pensar em Eve, ficar me imaginando com ele, mas eu tinha coisas mais importantes para me preocupar. Lana me chamou pouco depois de eu ter beijado Eve, dizendo que era importante e que não podia esperar. Embora eu pensei que ela fosse só dar uma desculpa de porque ela não foi no encontro de Hanna, o que ela falou me surpreendeu.

Ela estava tão nervosa que ela parecia que ia arrancar os cabelos loiros da cabeça com um puxão, e havia uma preocupação enorme nos olhos cinza dela. “Isso vai parecer muito uma desculpa ruim pra eu não ter ido no encontro com a sua irmã, mas por favor, ouve com atenção. Eu queria fazer uma surpresa pra ela e chegar cedo, então uns 20 minutos antes da hora marcada eu tava lá. O problema foi quando passaram uns quatro campistas de um jeito muito suspeito. E confia em mim quando eu digo, nós de Hermes sabemos muito bem quando alguém tá aprontando alguma coisa. Mas não era o ‘suspeito’ de quando alguém vai, sei lá, jogar um balde de lama em cima de você. Não, não, era algo do tipo ‘vou te esfaquear na floresta e ninguém vai achar seu corpo’, sabe? Enfim, eu tô fugindo muito do principal, vou pular logo pra parte que eu decidi seguir eles. Eu não consegui ver a cabeça deles, eles tavam todos de capuz, mas vi eles entrando em uma das barracas de storage perto do Campo de Treino. Colei na parede e consegui algumas palavras, e nenhuma era boa. Pelo que eu entendi, eles tão arranjando algum jeito de ajudar a Empusa de longe. Eu sei o quão exagerado isso parece, mas eu juro que é verdade. O mais estranho foi que quando eu entrei na barraca depois deles, não tinha nada diferente lá dentro, só um monte de espadas de treino. Tentei falar isso pra Hanna, mas ela não queria falar comigo por nada, então decidi falar pra vocẽ”

Fiquei pensativo por longos segundos, encarando o chão. Eu já suspeitava disso, mas não esperei que realmente haviam Campistas trabalhando para a Empusa. “Tem certeza que você não reconheceu uma voz, não viu eles, nada?”, perguntei. Ela cerrou os dentes e disse que não, e fiquei ainda mais preocupado. “Você falou isso pra mais alguém?”, perguntei com receio. Por sorte ela disse que não, e falei para ela para continuar assim.

E foi depois disso que eu fui parar no topo de um dos morros do Acampamento, observando tudo de longe. Eu sabia que eu deveria ter dito isso à Hanna, mas do jeito que ela estava evitando Lara, eu não acho que ela acreditaria. Por mais que eu pudesse ver o Acampamento inteiro de onde eu estava, eu rapidamente fiquei entediado. Desci o morro, e enquanto descia, quase caí de cara no chão, e fui em direção ao Campo de Treino. Era praticamente a única coisa que eu conseguia pensar para matar o tempo, e não acho que os “infiltrados” iam aparecer com uma placa de neon apontando “aqui estamos nós”. 

Tirei minhas espadas das minhas costas, e descontei toda a minha raiva e preocupação no boneco de palha na minha frente. Pedaços de palha voavam pelo ar, e suor descia da minha testa, mas eu continuava golpeando o boneco, só parando quando a única coisa restante era a estaca de madeira que o segurava. Me sentei, e enquanto recuperava o fôlego, vi Gray se aproximar do Campo, com duas novas espadas em mãos.

“Nard!”, elu me chamou, bem alegre. Me levantei, devolvendo minhas espadas às minhas costas, e me aproximei delu. Assim como no dia que u conheci, elu estava com a camisa do Acampamento caída nos ombros por ser muito maior, além de usar um short curto. “Acabei de sair da ferraria, eu fiz minhas próprias espadas!”, elu disse, com uma enorme excitação na voz. “Adorei sua dedicação, mas se lembre que o que faz um guerreiro bom não é a espada, e sim a combinação de mente e técnica”, respondi, logo depois pedindo para ver a suas espadas. Elas eram simétricas, com o cabo de madeira com algumas linhas de bronze, e lâminas levemente curvadas de prata. 

“Nada mau...”, eu disse, apreciando a qualidade das armas. “O equíbrio tá perfeito, os materiais parecem resistentes… Nada mau mesmo” eu disse, e vi seus olhos brilharem de felicidade. “Fez isso sozinhu?”, questionei depois. “Entãããão… O molde e os toques finais eu fiz. As lâminas e cabos foi um menino de Hefesto que me ajudou”, respondeu, com um pouco de vergonha.

“Hora do treino então!”, eu disse, desembainhando minhas espadas. Mostrei para elu alguns movimentos defensivos simples, como o clássico cruzamento de espadas(que eu usava menos por usar a espada direita com a pegada invertida), e dei alguns golpes inesperados em direção a elu para treinar seus reflexos. Embora elu conseguisse perceber os “ataques surpresa”, seu tempo de reação não estava rápido o suficiente, e elu parecia pensar muito antes de dar um golpe.

“Ok, já vi qual tá sendo o problema, Gray”, eu disse, baixando minhas espadas. “Você tá tentando fazer movimentos muito ‘mecânicos”, tu tá pensando muito antes de atacar”, continuei, elevando as espadas e fazendo alguns movimentos suaves correspondentes ao meu corpo. “Já falei isso e vou repetir até você ter isso preso no fundo o teu cérebro: a espada é uma extensão do seu corpo. Você não tem que ‘pensar’, você tem que ‘sentir’! Você tem que treinar os movimentos, claro, mas na hora de aplicá-los, você tem que ser instintivu”, completei, vendo seus olhos curiosos sambarem sobre os movimentos que eu fazia.

“Vamos, me dá seu melhor golpe!”, eu disse, preparando minha posição defensiva. Elu usou as duas espadas para tentar dar um golpe na meu ombro esquerdo, mas acabou dando o golpe muito baixo e eu defendi facilmente. “Vamos, você consegue fazer melhor!”, u incentivei. Elu deu um golpe perfurante com a espada direita, e logo depois tentou dar um golpe descendente com a espada esquerda, mas acabou perdendo o foco e errando os dois golpes. Eu estava prestes a corrigir elu de novo, quando ouvi um grito perto da ferraria, que logo depois foi subitamente cortado.

Não parecia um grito de dor, e sim um grito de desespero, de pedido por ajuda. Saí correndo em direção à ferraria o mais rápido possível, e nos poucos segundos depois, cheguei lá. Chegando lá, vi Hernold, conselheiran de Apolo, apoiadan na parede, quase chorando. “Calma, calma…”, eu disse, tentando lhe consolar. “O que aconteceu?”, perguntei, vendo que sua camisa do Acampamento estava encharcada de suor.

“Eu tava andando aqui de boa…”, disse, com a voz ofegande, “quando alguém me puxa por trás e coloca uma faca no meu pescoço. Tentei gritar, acho que foi até por isso que você veio, e colocaram a mão na minha boca. Mesmo morrendo de medo, dei uma cotovelada na pessoa e ela se encolheu, soltando a faca. Mas aí quando eu me virei, a pessoa tinha sumido”

“Tem certeza que você não conseguiu ver quem te atacou?”, perguntei, roendo as unhas de nervosismo. Elan chacoalhou a cabeça, e a única coisa que consegui dizer foi “puta merda”, raivosamente.

Vi Hanna se aproximar e contei à ela o que ocorreu. Pelo menos agora eu sabia que ela acreditaria, já que Lara não estava dentro dos assuntos da conversa. Eu ia falar pra ela claro, mas não agora. Eventualmente. Ela ficou pensativa por longos segundos, enquanto eu explicava a “teoria”, dos Campistas infiltrados. Para minha surpresa, ela disse que algo parecido aconteceu algumas horas antes, e que por sorte também não houve sucesso. A única coisa que nós dois conseguíamos pensar era;

“Isso está ficando fora de controle”