Mini World escrita por Spiral Universe


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Personagens de Stephenie Meyer, só estou brincando com eles...



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Capítulo 6

O ataque gratuito de Lauren não saia de seus ouvidos. Depois de pensar, Bella concluiu que as especulações deles faziam certo sentido, apesar de tudo. Eles optariam por uma teoria racional, uma doença, ao invés de uma coisa que parecia absurda, como ver gente morta.

Ela acabou indo parar em outra lanchonete, quando a chuva aumentou. Afastou o cabelo saturado de gotículas para trás e pediu apenas um suco no balcão. Por sorte, seu celular e algumas das notas se mantiveram bem secos dentro do bolso do casaco.

O lugar estava mais vazio do que a outra lanchonete, e era mais escuro também, do tipo restaurante. Ela pegou seu suco e foi para uma cabine particular, bem afastada, querendo ficar só. Se sentia muito chateada. Edward estava errado; ninguém podia saber a real natureza de seu comportamento. Podia imaginar o estrago que uma informação dessas faria na pequena Forks. A última coisa que queria era ver aquele olhar em todos da cidade. O olhar, ela pensou, que Renée me dava.

— Boa noite.

Bella olhou para a mulher parada na entrada da cabine. Parecia ser jovem e estava vestida como uma dama dos anos 30. Seu sorriso era muito bonito e acolhedor.

— Olá – Bella devolveu o cumprimento, desconfiada.

— Posso me juntar a você?

Bella deu de ombros.

— A noite está escura lá fora – A mulher falou ao sentar-se – Você é muito brilhante. Um alívio no meio de tanta escuridão.

— O que você quer? – Bella disse com rispidez. Estava sendo rude, mas estava tão chateada que não se importava. Não era como se os mortos pudessem se magoar com facilidade. Ou que fizesse diferença.

— Ah, apenas conhecê-la – A mulher não se abalou – É muito raro encontrar alguém como você. Que pode ver. Eu via também.

— O quê?

— Os mortos. Eu via, assim como você! – Seu sorriso cresceu – Ah, a propósito, me chamo Alice.

Bella piscou, surpresa. Aquilo era algo novo.

— Você também via?

— Sim, sim – Alice fez um aceno com a mão – É bem complicado, não é? As pessoas não entendem.

— Não – Bella concordou – Sou Isabella... Só Bella, na verdade.

— Sabe, eu ficava muito zangada quando eles não saíam do meu pé. Mas agora eu entendo. Falar com os vivos é muito bom. E você brilha tanto, dá para ver de longe.

— Brilho?

— Nenhum deles nunca te disse? Você brilha igual uma lâmpada, bem clara e forte. É assim que dá pra saber que você nos vê. Que dá para saber quem consegue nos ver, no geral. É bem difícil de achar.

— Eu brilho? – Bella disse descrente.

— Sim.

— Como uma lâmpada.

— Sim.

— Está falando sério?

— Sim!

Bella examinou o rosto dela, procurando algum sinal de troça, mas Alice não parecia estar brincando. Nunca lhe passara pela cabeça algo nem remotamente parecido. Na verdade, ela refletiu, tampouco já havia levantando tal questão.

— Isso... É estranho – Bella disse por fim.

Alice concordou.

— Bastante – Ela colocou apoio o rosto nas mãos – Porém, nem tudo.

— Bem, está aqui só para conversar ou quer me pedir para falar com alguém?

Já recebera pedidos antes, alguns educados, outros desesperados. Nunca atendeu nenhum; chegar à casa de um desconhecido falando sobre lamentos de um familiar falecido dificilmente resultaria em uma experiência boa.

— Ah, não! – Alice voltou a sorrir – Todos os meus familiares já se foram. Exceto uma sobrinha, mas ela não sabe sobre mim, e vou deixar como está. Como falei, é bom conversar com os vivos. Especialmente por saber como é ver coisas que ninguém mais vê.

— Não é exatamente minha coisa preferida no mundo.

— Não era a minha também. Meu pai me colocou em um manicômio, acredita? Ele mandou matar minha mãe para poder se casar de novo, mas a alma dela ficou.

— O que? – Bella disse horrorizada.

— Ele fez – Alice assentiu. Seus olhos se desfocaram, voltando para aquele passado – Ela queria me proteger, entende, só que estava coberta de sangue e isso me assustava tanto. E ela gritava... Algumas vezes eu não conseguia ignorar. Minha madrasta se assustava e meu pai se cansou e me colocou no manicômio. Eu morri com um choque elétrico no primeiro dia.

Assim como não teve palavras para responder Lauren, não às teve para responder Alice. Era um cenário terrível.

— Foi horrível – Alice continuou com naturalidade – Penso que teria sido pior se eu tivesse vivido mais. Ao menos, foi rápido.

— Ninguém tentou te ajudar?

— Eu não tinha ninguém que se importasse o suficiente. Minha irmã era muito pequena. Naquele tempo, o manicômio era o único lugar possível para pessoas como eu. Como nós. As pessoas não gostavam desse tipo de coisa.

Ainda não gostam, Bella pensou quietamente.

— E sua mãe? – Indagou.

— Sumiu. Quando acordei do outro lado, ela não estava mais. Acho que o que a prendia aqui era eu – Alice considerou – Ela sempre temeu por mim, por causa do que eu via. Uma vez morta, ela não tinha mais que se preocupar.

— Faz sentido.

As duas ficaram em silêncio brevemente.

— Eu achava que era amaldiçoada – Ela disse sorrindo – Alguns tinham uma imagem medonha. Achava que via demônios transfigurados.

— Realmente, às vezes parece mesmo uma maldição – Bella ponderou.

— Não penso assim, não mais. É só o outro lado da cortina. É real. Os vivos tem essa obsessão com a morte, querem saber o que vão encontrar, como vai ser, se existe um outro lado... Nós sabemos.

— E considera isso bom?

— Um pouco, sim. Não é um mar de rosas, claro, nem de perto. Algumas almas estão muito desesperadas e acabam incomodando aqueles que, como nós, podem ver. Eu não os culpo. Sei o quanto gostaria de dar adeus a minha irmã, e nós duas tínhamos um bom relacionamento. Morrer sem ter a chance de pedir perdão por erros terríveis deve ser muito pior.

— E quais são as suas pendências, Alice? – Era uma pergunta muita pessoal, contudo Bella não pode conter sua curiosidade.

— Sonhos interrompidos, creio – Ela deu um sorriso tristonho – Eu queria ser modista. Era apaixonada pelos tecidos e por meus desenhos. Passava muito tempo fazendo croquis e costurando. Foi tudo para o lixo.

— Lamento – Bella disse-lhe com sinceridade – E seu pai?

— Viveu por alguns anos mais. Minha madrasta acabou por abandoná-lo na doença, pouco depois de minha irmã casar e ir morar muito longe. Ficou acorrentado no cemitério após a morte.

— Talvez precise do seu perdão para se soltar.

— Ele já o teve quando ainda era vivo. Outra coisa o prende aqui.

— Talvez perdoar a si mesmo – Bella sugeriu após pensar. Era um tópico já discutido com Edward antes.

— Isso somente ele pode fazer.

Bella acenou, concordando.

— Bem, chega de falar de mim. O passado é passado – Alice aprumou-se no banco – E você? Parecia bem triste quando cheguei.

— Estava tendo uma noite boa, até tudo ir para o ralo.

Bella lhe contou sobre Lauren e seus comentários e sobre as conclusões que seus colegas chegaram sobre seu comportamento. Ficou feliz que nenhum garçom apareceu para tentar servir algo e que o movimento do restaurante continuasse tão baixo. Imaginou que provavelmente seria expulsa se a vissem falando "sozinha".

— As pessoas falavam de mim, e falavam bastante – Alice lhe respondeu quando ela terminou – Alguns eram bem cruéis. Aprendi a ignorar, com o tempo. Algumas pessoas são ruins por natureza, sentem prazer no sofrimento do outro. Não deixe isso te abalar, Bella. É o melhor conselho que posso lhe dar.

— Não é exatamente fácil ignorar algumas coisas.

Alice consentiu.

— Bella, vou lhe dizer algo e não quero que leve de uma forma errada, ok? – Ela pediu – Sei que esse tipo de dom trás problemas melhor do ninguém. Acredite-me, eu sei. E, no entanto, os tempos mudaram. No passado, fui jogada em um lugar para loucos e morta sem a menor cerimonia, porque não fazia a menor diferença, entende? Meu pai, que naquela época era a maior autoridade dentro de casa, decidiu que não me queria mais, e ninguém protestou. Hoje, você é livre para escolher seu próprio caminho. Decidir quem quer ao seu lado. Você parece ter a mesma dificuldade que eu tinha para lidar com esse estranho dom. E tudo bem com isso. Se quer saber como me sinto hoje, olhando para trás, digo-lhe que é mais uma questão de parar de lutar com quem você é. Nós não escolhemos nada disso, Bella, mas podemos escolher a forma como lidamos com tudo isso. E como uma dúzia de idiotas ao nosso redor. Eles vem e vão, não vale a pena se importar com eles.

A conversa com Alice ficou em sua cabeça por muito tempo. Mesmo quando ela ligou para Charlie e pediu que ele viesse buscá-la, dando uma desculpa esfarrapada sobre ter se perdido dos colegas. Mesmo em casa, quando contou o que realmente aconteceu para Edward; ele lhe pediu desculpas várias vezes, puxando para si a culpa do passeio ruim. Bella foi veemente em negar sua culpa. Ele passou o resto da noite fazendo-a rir com piadas bobas sobre gripe.

E mesmo na manhã seguinte, quando Ângela, Mike e Jéssica a encontraram no estacionamento da escola, e somente Ângela, na aula de biologia, lhe fez um pedido de desculpas real. No almoço, Bella olhou para seus colegas, com as palavras de Alice ecoando em seus ouvidos. Alguns mostravam constrangimento, evitando olhá-la; outros a espiavam quando pensavam que ela não podia ver. Ninguém tocou no incidente do restaurante. Lauren não se juntou a eles, preferindo sentar-se em outra mesa, com suas amigas. Bella percebeu, um pouco surpresa, como foi fácil ignorar tudo aquilo.

No sábado, na pequena lanchonete de Forks, com Charlie sentado ao seu lado e Edward em pé atrás dela, Bella reencontrou sua mãe.


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