Mini World escrita por Spiral Universe


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Personagens de Stephenie Meyer, só estou brincando com eles...

P.S.: Obrigada pelos reviews, favs e etc :)

Atualizações e respostas para os comentários todas às quartas! Juro que respondo tudo mundo, não desistam de mim.



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Capítulo 11

Já era bem tarde quando chegou em casa. Bella fez um rápido aceno para o pai, que estava assistindo um jogo qualquer na televisão, e subiu. Encontrou Edward debruçado sobre um livro que ela deixara aberto no chão na noite anterior.

— Hey – Ele a cumprimentou – Poderia virar a página pra mim? Já li essa aqui tantas vezes que a memorizei.

— É um livro bobo – Disse-lhe – Tenho algo pra te contar.

Ela sentou na cama e falou. Falou e falou pelo que lhe pareceu horas. As sobrancelhas dele se juntaram e subiram, e ela viu vários sentimentos diferentes passando por seu rosto, mas ele ouviu tudo sem interromper. Tinha se dado conta de algo enquanto dirigia de volta para casa; não havia contado sobre Alice para ele, nem mencionara ele para ela. Parecia uma coisa sem importância, mas ela os achava parecidos de várias formas. E também não tinha contado para ele sobre a proposta de Renée. Quando chegou em casa naquele dia, confusa depois do encontro, pediu apenas que ele não fizesse perguntas, e Edward respondeu que esperaria o tempo dela para contar o que quer que fosse.

— O que acha? – Perguntou para ele depois de falar tudo o que queria.

— Sobre ir em outro encontro? Bella, isso é decisão sua.

— Tenho minha decisão – Ela replicou – Quero uma opinião sua.

— O que posso dizer que já não tenha dito? – Indagou – Bella, querida, você sabe o que penso. E sabe que o que eu penso não deve fazer realmente diferença... Estou morto, lembra?

— É algo que não posso esquecer – Bella respondeu em tom azedo – Diga-me o que pensa disso tudo, por favor.

— Não estou surpreso. Sempre me perguntei porque ela tinha tido você quando claramente não gostava de crianças. Bem, eis a resposta. Não é uma grande novidade.

— Você também acha que ainda amo ela de alguma maneira?

Ele assentiu.

— Alice é como se chama ela, certo? Se observar bem, pode encontrar alguma verdade no que ela disse. Você chorava e chamava muito sua mãe, eu lembro. Charlie vai colocar Renée na cadeia quando descobrir. Ela não vai sair de lá tão cedo.

— Você não parece lamentar isso – Bella comentou.

— Não lamento mesmo. Não depois de ver você chorando de fome várias vezes – Foi sua reposta, mas o tom de voz era gentil – Sua mãe é uma ótima atriz, não nego. Ninguém de fora pode imaginar que ela maltratava uma criança, ainda mais a própria filha. Tenho pena de Phil. Ela parece gostar realmente dele e isso só me faz lamentar mais pelo pobre homem. Ele nem tem ideia da real mulher que tem ao lado.

Nem podia negar aquilo. Ela foi tomar banho e depois voltou, olhando para fechadura da porta antes de virá-la. Posso abrir quando quiser, disse a si mesma. Não foi assim que conseguiu superar o medo, afinal? Um passo de cada vez. Abrindo e fechando o trinco várias vezes, deixando-o fechado por uns minutos, depois por uma hora, até conseguir uma noite inteira com a porta trancada sem que ficasse agoniada.

Edward a observava. Tinha se habituado a deitar com ela agora, coisa que Bella não se importava; gostava, na verdade. Aqueles sentimentos subiram por seu coração, mas ela os reprimiu. Era tão impossível quanto tocar o Sol, e ela sabia disso. A última coisa que precisava era mais um motivo para sofrer.

— Apreciando algo? – Ele brincou.

— Convencido – Ela murmurou enquanto se deitava na cama após apagar a luz.

— Era só isso que estava te incomodando? – Perguntou na penumbra – Sua mãe e o teatro dela?

— É sério, me diga: ir é mesmo a melhor opção? – Pediu.

— Sim. Não tem realmente uma opção, já que ela avisou que vai voltar. E eu não duvido, já que gosta dele tanto quanto Renée é capaz de gostar de alguma coisa. Sua amiga disse uma verdade. Vá e terá sossego depois disse.

— Com ciúme? – Bella o provocou sem conseguir se controlar.

— Então você arrumou outro fantasminha para papear, puxa, fui desprezado!

Bella afundou o rosto no travesseiro para Charlie não ouvir sua risada. Dormiu se sentindo muito melhor do que nas noites anteriores, mas sonhou, e não foi um sonho bom. Era outra vez uma menina, presa em um lugar apertado e escuro. E sozinha. Chamava por Edward, pelo pai, até mesmo pela mãe, porém não vinha ninguém. Não conseguia sair e estava ficando cada vez mais angustiada, cada vez mais sufocada, até conseguir acordar com um sobressalto.

Estava só e a chuva caia pesada lá fora, fazendo um barulho alto. Se obrigou a não ir até a porta e destravar o trinco. Um pesadelo, lembrou-se, só isso.

— Edward? – Chamou no escuro ainda respirando forte – Edward?

O chamou mais três vezes antes que ele aparecesse, atravessando a parede e surgindo de repente ao seu lado. Ela não se assustou com aquilo, grata por ele ter voltando.

— Está se sentindo bem? – Ele perguntou preocupado.

— Um pesadelo ruim – Ela sussurrou – Estava presa em um quarto escuro. Trancada.

Não precisou dizer mais nada; os olhos verdes que ela amava se encheram de compreensão.

— Olhe bem para mim – Edward pediu – Isso é passado, ok? Você nunca mais ficará presa de novo. Está livre agora, Bella, livre. Ninguém pode tirar isso de você mais.

As palavras dele ajudaram, mas ela queria mais. E se aborreceu por isso. Impossível, lembrou-se enquanto ele se colocava novamente deitado ao seu lado. O sono não voltou com facilidade, e pela manhã Bella estava cansada. Acabou por cochilar durante a aula de Biologia, depois se mexeu apaticamente na Educação Física, desejando mais do que nunca o sinal tocar para que ela pudesse ir embora.

Jessica e Mike, junto com um grupo numeroso, acenaram no estacionamento, mas ela se limitou a acenar de volta e entrar na picape. Andava mais distante deles desde o desastroso passeio a Portland, e não tinha interesse em voltar a se aproximar. Tinha refletido durante um bom tempo antes de chegar a conclusão de que Alice estava certa até o último fio de cabelo. Eles tinham suas faculdades escolhidas, iriam embora depois do verão, alguns dos quais para nunca mais voltar, então não fazia sentido aborrecer-se com o que pensavam. Tampouco podia dizer que sentiria falta de qualquer um deles. Mesmo Lauren já não a incomodava como antes. Bella refletiu sobre ela também, e sua conclusão fora de que Lauren era menos relevante do que uma mosca zumbindo em seu ouvido. De todos era a mais cruel e com quem menos valia a pena desperdiçar tempo ou atenção.

Estava dirigindo para o trabalho quando viu uma figura encurvada à beira da estrada. Ela estreitou os olhos, querendo ver melhor, e constou que a figura era a mesma alma que a havia assustado no vestiário da escola semanas antes. Sem saber o porquê, Bella se viu encostando a picape e indo falar com ela.

— Boa tarde, senhora – Cumprimentou ao parar em sua frente.

O mesmo ruído saiu de sua boca, um grasnar desagradável que ameaçou arrepiá-la, mas Bella persistiu. Aproximou-se mais, conseguindo ver mais claramente todos os detalhes e as rugas da idosa. Os olhos leitosos e a baba constante a fizeram querer recuar, o que não fez. Finalmente, após se aproximar tanta que estava quase atravessando a mulher, Bella conseguiu distinguir o som. As palavras lentas e muito baixas, soltas entre um grasnado e outro, quase inaudíveis:

— Meu... Filho... Meu... Menino... Eu... Perdoo... Perdoo... Meu... Filho... Meu... – Disse a mulher com grande dificuldade.

— A senhora perdoa o seu filho, entendi – Bella falou – Por isso não conseguiu atravessar?

— Meu... Menino... Perdoo... Perdoo... Perdoo...

Ela não perdeu tempo tentando fazer mais perguntas. A bem verdade, não tinha certeza de que a idosa a via com clareza, mesmo na morte. Talvez a cegueira a tivesse seguido através da cortina. E também não parecia compreender suas palavras. Ficava repetindo e repetido as mesmas palavras, sobre perdoar o filho.

Aquilo a entristeceu. Era tarde para perdoar o filho. Bella se perguntou se ele também estava cheio de arrependimento naquele exato momento, lamentando não ter se acertado com a mãe. Por um momento, se perguntou se deveria tentar arrancar mais alguma informação da idosa, ajudá-la de alguma forma... E então se lembrou o motivo de nunca ter ajudado, nunca ter aceitado nenhum pedido. Mesmo que o fizesse, ninguém receberia bem uma menina que falava em nome de um ente querido morto, disso ela tinha certeza. E depois, honestamente, como conseguiria da mulher informação suficiente para ir atrás do filho dela?

Ela disse tchau à mulher, que não a ouviu, e voltou para o carro. O Sr. Newton não achou ruim seu atraso, já que era bem raro ela se atrasar e não havia cliente para atender; disse que tinha decidido iniciar as férias da loja. Eles passaram o resto da tarde guardando e limpando tudo, e então fecharam. Ele lhe desejou boas festas e se foi, e ela foi para casa.

Charlie estava na cozinha com uma grande pizza e um olhar de quem queria fazer as pazes. Depois de ver a idosa, ela estava mais do que disposta. Os dois comeram e riram, e depois encontrou Edward em seu quarto. Já bem mais tarde, depois do banho e deitada com ele ao seu lado, ela pensou em algo que ele tinha dito na noite do passeio fracassado. Mini mundo, Bella pensou, é pequeno, de fato, mas não era nem de longe ruim. Edward não entendia, talvez jamais entendesse, contudo não havia nada no mundo que poderia ser melhor do que aquilo. O carinho do pai, a tranquilidade chuvosa de Forks, e ele, Edward, sempre ali do lado dela. Por que ela precisava de mais? A sombra de Renée estava ali, contra a sua vontade, sim, mas estava, e ela voltou seus pensamentos para a idosa. Pensou sobre ela um bom tempo e depois pensou em Alice, cuja morte tinha sido culpa do pai e ainda sim ela o havia perdoado. Se ela tinha conseguido perdoar o homem responsável por ceifar sua vida, Bella também conseguiria, a seu tempo, perdoar a mulher que não a amava e que lhe tinha feito coisas ruins? Alice tinha lhe dito sobre um amor infantil e uma vontade proteger a mãe que ela tinha de forma inconsciente. Bella não queria Renée por perto, isso era uma grande certeza, mas a queria presa? Não teve resposta para aquilo. Queria ser deixada em paz, certamente, entretanto não queria acabar como aquela pobre idosa, presa no limbo por um perdão não dito. Renée precisaria pagar pelo que tinha feito, ela sabia, e sabia que não poderia esconder aquilo de Charlie para sempre; tanto Edward quanto Alice tinham falado isso para ela, e não havia escapatória a não ser concordar com eles. E então, o que vai ser? Indagou uma voz em sua cabeça, você fala e ela paga, e ainda sim terá que perdoá-la se quiser ir direto. Era outro fato de que não podia fugir. Um dia, prometeu no escuro do quarto.


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Notas finais do capítulo

Discussões sobre perdão me deixam bem dividida, apesar da minha religião. Eu perdoei alguém que me fez muito mal, mas não julgo que não consegue perdoar, nem ouso dizer quando ou se alguém deve perdoar. É difícil. E leva tempo. Levei sete anos para isso, e não vou tão longe a ponto de dizer que é libertador, já que a mancha ficará comigo até o fim da vida, mas sem dúvida tirou algo que não me fazia bem. E acho válido acrescentar que perdoar é diferente de esquecer ou deixar a pessoa sair impune. Já ouvi várias vezes que o perdão liberta mais a vítima do que o algoz... É claro que é preciso mais do que uma palavra para fazer o perdão em si. Rancor e ódio são coisas complicadas de se desfazer. E, no entanto, quem fica remoendo isso é a vítima... e sofrendo por causa disso. Eu não estou escrevendo essa notinha para defender a Renée nem nada disso, só quero embaralhar a cabeça de vocês com a discussão sobre perdão. É um assunto bem profundo e quanto mais você pensa mais confuso você fica.



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