Never Tell Me The Odds escrita por Lady Liv


Capítulo 4
I, parte 3




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Quando Anakin Skywalker abriu a janela do quarto aquela manhã, foi surpreendido com o promissor dia que se fazia – até mesmo o trânsito parecia mais lento! –, era realmente inacreditável como as coisas eram diferentes quando estava em casa. Sua esposa terminava de aplicar algum tipo de creme sobre o rosto, C-3PO passava com suas roupas recém lavadas, e a cozinha se enchia com o delicioso cheiro do café da manhã. Era tudo... quase perfeito de fato, um ambiente familiar e doméstico e se ele fechasse os olhos por um momento, poderia fingir que estava longe de toda aquela confusão da qual foi submetido.

“Vai me contar o que aconteceu?”

Mas Padmé, linda Padmé, a responsável por seus sonhos acordados... também era a responsável por seu pé no chão. Ela sempre achava um modo de trazê-lo de volta.

“É uma longa história.”

“Eu tenho tempo.”

“O Senado-”

“Pode esperar.” ela completou, fazendo-o olhá-la com as sobrancelhas erguidas. “Hey, eu não vejo você há mais de dois meses! É claro que vou priorizar o tempo que eu tenho.”

Anakin sorriu, um sentimento caloroso tomando conta de seu peito, e se aproximou segurando seu rosto e grudando seus lábios-

“Ani! Meu creme!”

“Você não precisa disso!”

“Você não sabe disso!” ela riu, tentando em vão desviar de seus beijos.

Meia hora depois, os dois deixaram o quarto e as risadas para trás, sentando-se lado a lado na cozinha. C-3PO continuava a arrumar a casa, permitindo que eles conversassem a sós.

“...eu não entendo, se Ben chamou pelo Chanceler, por que ele não foi informado?”

“Acham que ele estava delirando, mas eu sei que não.”

“Você sente,” ela assentiu. “Você sempre teve bons instintos, Ani.”

Ele suspirou. “Bons instintos não vão ajudar muito agora.”

“Por que?”

“Eles não me querem mais aqui. As investigações vão continuar sem mim.”

Ela arregalou os olhos, uma expressão triste se formando em seu rosto quando entrelaçou seus dedos. Eles tinham acabado de se reencontrar.

“Eu não sei o que fazer, Padmé! Me dê uma luz,” Anakin implorou, sabendo que ela era capaz de ver a situação de um ângulo diferente. “Eu quero ficar e... ficar com você, ajuda-lo também é claro, ele tem o meu sobrenome! Como isso é possível? Eu... me sinto tão perdido.”

Ela ficou em silêncio, fazendo movimentos circulares em sua mão enquanto pensava. Anakin esperou.

“Ele também deve estar se sentindo assim,” após um momento, ela finalmente disse. “Ben, quero dizer... pode usar isso para se aproximar dele, ele pode precisar de alguém pra conversar e, aparentemente, você também. Ben vai ver que está sendo sincero.”

“É?”

“É.”

“Eu não sei, parece simples demais... e eu tenho a impressão que ele não gosta muito de mim.”

Ela balançou a cabeça, sorrindo levemente. “Não, não acho que o problema seja você, meu amor. Pelo que me contou, ele está doente.”

“Há essas horas já deve ter melhorado, o tratamento que-”

“Doente de amor,” Padmé corrigiu, e ele a fitou surpreso. “Você viu a mente dele não foi?”

Anakin assentiu, pois era difícil explicar para alguém que não era sensitivo.

“Imagina acordar em um Templo Jedi no meio de uma guerra? Depois de um acidente, então! Longe de casa, sem ninguém familiar por perto, sendo obrigado a responder perguntas e lidar com um poder igual o seu... não o pressione como fez noite passada, Ani. A razão é simples e você já sabe, talvez ele esteja apenas com saudades da família.”

“Oh.”

Rey... Anakin lembrou-se do nome com pesar, seja lá quem Rey fosse, os Jedi não iam gostar nada de alguém tão poderoso com uma relação tão afetiva. Ele tinha que fazer alguma coisa! Mas o que?

Parecendo sentir seu conflito, Padmé o abraçou, descansando a cabeça em seu peito enquanto declarava seu amor em um sussurro – um segredo de fato –, como sempre foi e como sempre seria até que a guerra chegasse a um fim.

Não demorou muito para que C-3PO os interrompesse.

“Com licença, Mestre Anakin! Seu comunicador não para de piscar!”

“É, estou vendo Trêspeó.”

“É o Obi-Wan?” Padmé ergueu os olhos.

“Posso ter escapado do Templo ontem sem falar com ele.”

“Ani!”

“Relaxa, Erredois está me dando cobertura.”

Com uma desculpa na ponta da língua, ele atendeu o comunicador e-

“Onde é que você se meteu?!” a voz de Obi-Wan questionou, arfante.

“Qual o problema?”

“Ele fugiu!”

Com alarmes soando em sua cabeça, Anakin se levantou. “Ben fugiu?!”

“Na verdade, está fugindo, eu estou em perseguição e- ugh, desculpe!

“Obi-Wan!” Anakin exclamou, ouvindo o baque do outro lado da linha, ele devia ter caído ou batido em alguém. “Obi-Wan! Pra onde ele está indo?!”

“No momento?! Para a garagem, eu acho! Sabe, se não for muito incomodo, você poderia-”

“Já chego aí!” Anakin disse, desligando. “Padmé, eu-” ele chamou, apenas para ser interrompido com um rápido beijo. Ela entendia.

“Vai, ajude ele,” ela assentiu. “E volte pra mim.”

Lhe olhando por uma última vez, Anakin virou e correu.

 

 

Ben Solo correu.

A imagem do lindo e ensolarado dia estava zombando de seu desespero, mas ele conseguiu se segurar para não gritar contra o universo, céus, ser Kylo Ren tinha algumas vantagens... caramba, o que estava pensando?! Ele não sabia, foi apenas depois de ter pulado do quarto andar que percebeu que não tinha realmente um plano. Restava apenas correr.

E correr, e correr, e derrubando um vaso quando dobrou a pilastra só para trombar novamente com duas twi’lek pelo jardim, os três caindo no chão e rolando e-

Ben se levantou, sem olhar pra trás e correndo, conseguindo gritos em seu rastro.

Foram alguns minutos até os guardas começarem a persegui-lo, alguns Cavaleiros Jedi se juntando a eles incluindo... ah, tinha que ser! Reconheceu a voz de Obi-Wan Kenobi entre tantas que o mandavam parar e só por isso correu mais rápido. Tinha consciência de sua grande desvantagem, mas confiava em seu instinto o suficiente para pelo menos-

Desvie.

O tiro não letal foi redirecionado a um padawan que caiu paralisado, os guardas mais próximos cometendo o erro de ajuda-lo. Ben aproveitou a chance para escapar, escorregando pelo corrimão da escada. Não sabia ainda para onde estava indo, porém tinha que ser para longe.

Qualquer coisa era melhor do que estar frente a frente com Palpatine de novo.

 

 

Quando finalmente chegou ao Templo Jedi, se surpreendeu mais uma vez ao ver os clones cercando o local, Obi-Wan o esperando ao topo da escada, fios de cabelo grudados em sua testa suada. Anakin o olhou de cima à baixo, aliviado por não encontrar nenhum ferimento.

“O que aconteceu? Ele atacou alguém?”

“Paralisou alguns no caminho, mas acredito que foi sem querer.”

“Sem querer?”

“Puro reflexo eu diria! Ele não atacou ninguém, só... correu.”

“Correu, como-”

“Depois de pular a janela,” ele apontou, rolando os olhos. “Quinze metros!”

“O que?!”

Quinze metros! Agora me diz, eu estou louco ou eu já passei por essa mesma situação antes?”

Anakin piscou, o ignorando. Agora não era hora para provocações. “O que aconteceu?”

“Ah, se eu soubesse! Ele simplesmente saiu correndo pelo jardim, derrubando tudo que via pela frente! Os guardas tentaram atordoa-lo e aí ele passou a usar a Força para se esconder.”

“E você o perdeu?!”

Obi-Wan ergueu o dedo. “Mas ele ainda está aqui!”

“Sim, e usando a Força,” Anakin disse, ainda incrédulo. “Como alguém usa a Força para se esconder dos Jedi dentro do Templo Jedi?! E consegue! Isso é muito... muito...”

“Arrogante?”

“Eu ia dizer ousado-”

“Há!”

“Mas pelo jeito está dando certo,” dando certo por quanto tempo? Anakin se perguntou, testando algumas teorias em sua cabeça. “Isso não faz sentido.”

“Concordo, mas hey, estamos checando as câmeras de segurança e o padawan que estava com ele está sendo ouvido pelos Mestres agora, vamos!” Obi-Wan informou, os dois então se apressando para se encontrarem com os outros e decidir o que fazer.

No caminho, no entanto-

“Aquele é…”

“Sim.” Obi-Wan suspirou negativamente. “Anakin, é melhor não-”

Mas ele já estava se movendo, aproximando-se da sala que estava guardada por seguranças.

“Chanceler Palpatine!”

“Oh, Anakin! Deixem ele passar, por favor, isso não é necessário.” o político se levanta, seus movimentos pesados, seja de preocupação ou apenas pelo traje extravagante. “Anakin, não sabe como é bom vê-lo! Ouvi tantos boatos enquanto você estava na Orla Exterior,” ele diz, o olhando de cima a baixo. Oh, preocupação então. “Eu devia saber que você seria poderoso o suficiente para se proteger sozinho.”

Anakin permitiu-se sorrir. “Eu sei me virar.”

“Mestre Kenobi, como vai?”

“Chanceler.” Obi-Wan cumprimentou, preferindo ficar do lado de fora.

“Chanceler, se me permite perguntar, o que veio fazer aqui?” Anakin perguntou, ansioso.

“Vim pedir uma escolta especial para minha viagem de volta à Naboo, só que... acredito ter chegado em uma hora inoportuna, o que está acontecendo por aqui, você sabe?”

“Escolta para Naboo? Por que?”

“Oh, algumas naves separatistas foram vistas rondando o planeta.”

“Foram?”

“Sim.”

Ele engoliu em seco, assimilando a informação. Teria de conversar sobre isso com Padmé mais tarde.

“Seja lá o que eles estiverem planejando, não vai funcionar,” Palpatine continuou, otimista. “Naboo não é invadida há anos! Cada dia que se passa, nós ficamos mais fortes, você, Anakin, se tornou um guerreiro habilidoso. Não acho que há o que temer em relação ao meu planeta natal, apenas quis me assegurar.”

“Claro, o senhor fez bem, um pouco de precaução não faz mal.”

“Sim, e por falar em precaução... o que está acontecendo? Estou aqui há quase meia hora esperando, mas todos parecem estar em correria! Principalmente Mestre Windu, ele vinha ao meu encontro e de repente...” Palpatine balançou a mão, sem palavras. Anakin assentiu.

“Err... ahm... é um assunto Jedi.”

“Eu entendo, e não precisa dizer nada que vá colocá-lo em problemas.”

Ele sorriu, tocado pelo cuidado do homem, e olhando para trás, checou se Obi-Wan estava atento a eles. Certo, ele tinha uma oportunidade ali.

“Na verdade... é bom que esteja aqui porque... eu queria lhe perguntar algo.”

“Pois diga, meu garoto.”

“Err, precisa ficar entre nós, se é que me entende.”

“É claro, pode contar com a minha discrição.”

“Certo, uh... por acaso... conhece alguém chamado Ben?”

Algo brilhou em seus olhos fazendo Anakin acreditar ser reconhecimento, no entanto desapareceu tão rápido como surgiu.

Palpatine murmurou, pensativo. “Eu conheço muitas pessoas.”

“Ele é um rebelde, apareceu no Templo há alguns dias.”

“Um rebelde?”

“Sim, ele... esteve doente e-”

“Anakin! Temos que ir.”

Ele virou, suspirando. “Depois de-”

“Agora.” Obi-Wan insistiu, mostrando o comunicador em seu pulso. “Vamos nos atrasar.”

“É melhor você ir Anakin, eles precisam de você. Por favor, considere me visitar em meu escritório, arranjarei tempo para conversarmos sobre... este assunto.”

“Obrigado, Chanceler. Eu irei sim.”

 

 

A verdade é que talvez Ben tivesse subestimado os Jedi um pouquinho. Tantos anos estudando sobre eles os transformaram mais em personagens do que em pessoas reais, e depois de observá-los em ação, Ben não tinha dúvidas de que seria descoberto em breve. Não tinha problema, ele pensou, só precisava ganhar tempo. Era tudo o que importava, não é? Tempo.

Pra fazer o que?

Eu não sei, ainda estou tentando resolver, inconscientemente, ele pensou de volta. Havia um estranho tremor na Força, a energia ao seu redor zumbindo quase irritante, o som do silêncio pressionando em seus ouvidos, e ele se perguntou se tudo aquilo vinha de seu próprio estresse ou se os outros Cavaleiros Jedi podiam sentir... espere, talvez eles fossem a causa! Talvez estivessem o buscando através da Força, o procurando como ondas de rádio! Bom, eles iam ter um grande trabalho pela frente se este fosse o caso. As crianças sensitivas habitavam a sala ao lado de seu esconderijo e elas não sabiam controlar as emoções. Ele sabia que enquanto estivesse perto, ficaria seguro por algum tempo, o suficiente até que Palpatine fosse embora.

Tempo.

Tempo?

Sim, em alguns meses, ele vai se declarar Imperador. Em alguns meses, vai condenar o futuro de uma família. Em alguns meses, vai criar Snoke como uma garantia doente. Em alguns meses, estará mais próximo de ter um filho e até ter uma neta e então vai tentar matar os dois e vai suceder e vai- Ben sente a respiração acelerar, perdendo o foco em sua meditação. Quanto tempo eram alguns meses? Quantos dias? Quantas horas? Quanto tempo até que tudo acontecesse? Estaria ele forçado a viver todos os erros novamente? Poderia... céus, poderia impedi-los? E como ele faria isso exatamente se ESTAVA CAINDO AOS PEDAÇOS?!

Seus olhos queimaram, mas ele não se permitiu chorar. As mãos se apertaram em punho, as unhas perfurando sua carne e a dor... espere, a dor... isso, geralmente a dor ajudava! Ele precisava de foco agora e não poderia contar com ninguém.

Mas não está sozinho.

Mentira, tudo mentira; frutos de sua mente quebrada.

Só restava ele e a maldita Força.

 

 

“Certo, ele com certeza não está tentando fugir, rondamos a garagem toda e nem mesmo um speeder fora do lugar!”

“Ele está se escondendo.”

“Sim... agora se eu estivesse me escondendo, aonde eu me esconderia?” Anakin se perguntou, fazendo Obi-Wan bufar uma risada. A reunião com os Mestres havia sido curta e rápida, todos se unindo em uma busca ridiculamente difícil e concordando que seria melhor se ninguém saísse até que o encontrassem, e isso incluía Anakin. Ótimo, ele ainda tinha tempo!

Pra fazer o que?

Eu não sei, ainda estou tentando resolver.

Ele parou, olhando pra trás.

“O que foi?” Obi-Wan perguntou.

“Você ouviu isso?”

“Ouvir o que?”

Tempo.

Tempo?

“Isso! Como um... chamado na Força.”

Obi-Wan franziu o cenho, abaixando os olhos e apurando os sentidos. Não demorou muito para que balançasse a cabeça. Anakin suspirou. “Ou eu estou apenas pensando demais.”

“É, você tem esse costume, é péssimo.”

“Eu sei... o que acha que vão fazer quando encontrá-lo?”

“Algumas perguntas, talvez reforçar a segurança, eu não sei, sabe, é estranho que Mestre Yoda não parece preocupado.”

“Bom, ele deveria estar.”

“É, e você não deveria.” Obi-Wan retrucou, ainda o olhando atentamente. “O que aconteceu? Você era o mais desconfiado dele quando chegou aqui, achei que fosse ficar aliviado em não ter mais responsabilidade nisso, por que ainda está tentando protege-lo?”

“Não estou.”

Anakin.”

“Não estou, eu apenas... ele...”

“O que houve?”

Anakin descruzou os braços, passando as mãos pelo rosto e suspirando. Talvez fosse melhor dizer. “Ontem, ele se projetou pra mim.”

“É, ele se projetou pra mim também, mas-”

“Não, Obi-Wan, eu... eu toquei nele.”

“O que? Quando?”

“Não começa, ‘tá? Mas ontem depois da reunião, eu fui até a enfermaria e ele... ele estava fazendo alguma coisa! Eu só queria... e aí quando eu toquei nele-”

Mas não está sozinho.

“Você está bem?” seu amigo perguntou, colocando a mão em seu ombro.

“Eu... eu não sei, acho que sim?” Anakin piscou, por um momento parecia até que... Oh, tinha alguma coisa acontecendo! Já fazia quase meia hora desde que Ben foi visto pela última vez e nada. O Cavaleiro Jedi tinha a sensação de que o perderiam se não o encontrassem logo.

Ouviu distante seu antigo Mestre reclamar de sua impulsividade e o ignorou completamente, repassando a situação em sua cabeça. Era quase impossível conseguir se esconder de um Jedi, ainda mais vários! Os pensamentos de Ben já deveriam tê-lo traído, e as câmeras danificadas mostravam o quão instável ele estava na Força, seu emocional frágil como o de uma criança sensitiva, afetando-

“Os younglings!” as palavras lhe escaparam antes que pudesse controlar. “Onde eles estão tendo aula agora?”

 

 

Demorou mais do que ele gostaria, mas logo a dor silenciou tudo. Ben finalmente conseguiu pensar.

O zumbido irritante acabou, sendo substituindo pelo som de sua própria respiração. A energia, antes pesada e de mais, de repente leve e de menos. Vazio, assim como ele se sentia. Ótimo.

Hummm...

Ele arfou, e não perdeu tempo em erguer os escudos mentais, surpreendendo o invasor.

Interessante.

Por mais que tenha se preparado para aquela possibilidade, ainda era assustador como ele havia entrado sem que Ben percebesse, mas também, ele havia criado Snoke. Havia um padrão em ambas sutilidades. Esperou pacientemente pelo ataque que não veio, Palpatine se retirando de modo quase pacífico, o deixando sozinho em sua própria cabeça com novas ansiedades.

Suas mãos em punho se apertaram ainda mais.

Oh, ele sabia, ele sabia sobre Ben, sobre seu poder... o que mais ele sabia?! Deveria estar muito curioso para estender sua energia sombria pelo Templo daquela maneira! Yoda havia mencionado em sua conversa que um grande impacto na Força foi sentido quando ele apareceu. Era certeza que o Lord Sith também havia o sentido e veio até o Templo justamente para sondá-lo. Oh, Ben não ia permitir que ele visse suas memórias, não mesmo! Seu treinamento com Snoke havia o ensinado truques, as torturas intensas o deixando forte para o momento certo, o rosto incrédulo de seu antigo Mestre quando o sabre o atravessou ainda vivo e prazeroso em sua mente. Palpatine não receberia os segredos do futuro assim de modo tão fácil, eles estariam a salvo... Rey estaria a salvo.

Determinado, saiu de dentro do armário de manutenção – sério, por que ninguém nunca checava esses lugares? –, logo atraindo atenção.

“Hey, é você quem estão procurando! Hey!”

“Jukassa, não!”

“Eu vou chamar os guardas!”

“Mas é ele quem estão procurando!”

Os ignorou, usando a Força apenas quando o padawan se pôs à sua frente, tentando detê-lo de modo patético. Os olhares que recebeu depois de arremessa-lo contra a parede o fez balançar a cabeça, essa é a geração de novos Jedi? Ben pensou, a energia ao seu redor esfriando drasticamente. “Não é à toa que foram extintos.” murmurou, dando-lhes as costas.

“BEN!”

Ele parou imediatamente, paralisado no meio do corredor. Pai?

Mas quando ele virou, era Anakin Skywalker que o encarava.

“O que está fazendo?!” e ele parecia ter corrido uma maratona, sem ao menos dar atenção ao padawan caído ou os outros Jedi, seus olhos azuis estavam totalmente focados nele. “Vim assim que soube-”

Ben ergueu a mão, a ameaça em volta do pescoço do Jedi o fazendo se calar.

“Ora, não devia ter vindo!”

“Ben?”

“Acham mesmo que eu vou abaixar a cabeça e ficar aqui?! Não podem me obrigar!”

“Não vamos, eu não vou, eu... não vou te obrigar a nada, ‘tá? Não quando eu sei o que você está passando!”

“Você não sabe de nada.”

“Mas eu sei,” ele repetiu enquanto dava um passo para frente, desafiando a ameaça de Ben. “Olha... ontem, eu senti você... sei que está procurando Rey-”

“Não diga o nome dela!”

O Cavaleiro Jedi esboçou uma careta frustrada, a pressão em seu pescoço voltando. Atrás dele, a figura de Obi-Wan surgiu correndo, parando assim que foi notado pelos dois.

“Obi-Wan, está tudo bem.”

Anakin.”

“Está tudo bem, ele está bem, só está... machucado,” Anakin diz, mantendo os olhos focados no homem. “E nem adianta negar, eu sei que está, vi isso no momento que te conheci... e quis te ajudar mesmo assim, quero te ajudar, então só... só escute, está certo? Não sei porque correu, mas sei que acha que os Jedi não vão entender... pode ter razão, muitos não vão, só que eu entendo! Acredite, eu entendo! Skywalker pode até ser o seu sobrenome, mas você me chamou! A Força nos uniu, Ben... e se você quiser ir contra Ela e ir embora... bom, eu não vou te impedir,”

“Anakin!”

Mas se a Força for a causa disso tudo, não importa o quanto me afaste, vamos nos encontrar de novo... e você sabe disso, não é?” Ben não respondeu, e Anakin tomou a oportunidade para se aproximar. “Por que correu?”

O silêncio pesado e cortante e... familiar demais, Ben se lembrou, respirando trêmulo. Até mesmo as emoções eram as mesmas. “Não acreditaria em mim,”

“Tenta.”

“Eu... só quero que tudo acabe, não importa o preço.”

“Eu sei,”

“Sabe?”

“Ben, suas mãos...”

Ele abaixou o olhar, vendo o sangue pingar contra o chão. Oh, suas unhas... então era por isso que ardia, ele notou atordoado, o que estou fazendo? Ele só queria ficar longe do Imperador!

“Me deixe ajudar você,” seu avô voltou a insistir, o trazendo de volta para a conversa, ele parecia determinado... determinado para o que? “Estudei por anos, o lado sombrio não pode te oferecer nada, me deixei ajudar você,” ele repetiu, esclarecendo mais uma vez seu intuito.

“Me ajudar?”

“Sim, qualquer coisa.”

“Qualquer coisa...” Ben murmurou, abaixando a cabeça. “E-eu quero ficar sozinho.”

“Certo,”

“N-não é seguro, não é seguro!”

“Sim, eu entendo, eu entendo.” ele assentiu, e segurando seu ombro, o direcionou para o outro lado onde Obi-Wan os esperava... e os outros Mestres também.

 

 

“Pra falar a verdade, eu não entendo,” horas depois, Anakin finalmente admitiu. Na sala de reuniões todos os Mestres encontravam-se de pé e pensativos, Ben tendo sido levado de volta ao quarto sob vigilância tanto de clones como de Cavaleiros Jedi. “Ele se esconde, se defende, quase me sufoca, e sim, eu sinto esse... peso invisível...”

“O lado sombrio.” Mestre Yoda murmura, distante.

Anakin observa sua expressão, incomodado. “É, mas não vinha dele.”

“Perto dele, o lado sombrio estava. Tarde, ainda não é... porém falhar com Ben, nós já fizemos.”

O silêncio prevalece mais uma vez, todos ainda muito chocados com os súbitos eventos. Em um só dia, Anakin teve mais reuniões com o Alto Conselho do que ele conseguia se lembrar durante um ano completo. O despertar de Ben trazendo mais perguntas do que respostas, sua estranha tentativa de fugir causando um alvoroço prévio do que seria quando a presença do Sith foi sentida em Coruscant. Buscas estavam sendo feitas naquele exato momento e o Cavaleiro Jedi não sabia quem estava mais impotente: aqueles que iam, ou aqueles que ficavam.

“Qual era o seu plano, exatamente?” Obi-Wan quebrou o silêncio, olhando curioso para o seu antigo padawan. “Se é que você tinha um, é claro.”

“É claro que eu tinha um plano!”

“Oh?”

“Era, uh, ser sincero.”

“Ser sincero?!”

“Ben e eu não mentimos um pro outro nenhuma vez desde que nos conhecemos, se eu tentasse algo naquele momento, ele iria perceber com certeza.”

“Justo.”

Eles trocam um breve sorriso e naquele momento, a porta se abre revelando Mestres Luminara Unduli e Plo Koon.

“Más notícias?” Windu indaga, a mulher assente, dizendo:

“Acabamos de descobrir que uma nave separatista foi avistada rondando o planeta por alguns segundos,”

Plo Koon continua. “Não respondeu aos chamados do piloto, fugiu entrando na velocidade da luz antes que pudesse se aproximar... a hora coincide com o momento em que encontramos o Ben.”

“Espere, foi pra isso que o Chanceler veio aqui hoje!” Anakin exclama, conectando os fatos. “Ele disse que naves separatistas foram vistas rondando Naboo... poderiam estar rondando Coruscant também?”

“Eles estão planejando alguma coisa.” Luminara suspira.

“Isso está me cheirando ao Conde Dookan.” Mestre Jaro Tapal diz.

“Ou ao Mestre dele.” Windu completa, preocupado. “Para piorar a situação, Ben não quer ficar aqui. Temo que a Força nos confiou algo que não está sob o nosso controle.”

“O que quer dizer?”

“Não podemos ajuda-lo.”

O que?!” Anakin exclama incrédulo. “Não pode estar falando sério!”

“Skywalker-”

“Você está!

“Anakin!” Obi-Wan chamou, sendo ignorado.

“Não! Isso é errado, estaremos o entregando nas mãos dos Sith!”

“Não vamos abandoná-lo, Skywalker, isso seria ignorância.” Windu responde, seu tom como o de um pai para uma criança mimada. “Mas não podemos força-lo a nada, o próprio Chanceler viu a confusão que ele causou esta manhã, não duvido que o Senado logo comece a fazer perguntas! Infelizmente, a relutância de Ben em colaborar fará dele um perigo para a República.”

“Porque ele não quer ser um Jedi?!” Anakin desafia, erguendo as sobrancelhas. Windu mantém a expressão vazia.

“Porque ele não pode ser.”

E chu ta!, o mais jovem se segurou para não exclamar. Windu estava certo, não podiam arriscar alguém tão poderoso na Força livre. Os Sith já sabiam de sua existência, céus, haviam tentado influenciar sua mente há poucas horas! Ben precisava ficar... mas ele não queria! O que poderiam fazer? Prendê-lo? Ele já havia provado ser capaz de escapar. Matá-lo? Não, não iria sequer pensar naquela possibilidade! Precisavam convencê-lo de alguma forma!

Perdido em dúvidas, não deu muita atenção a discussão que continuou.

Pouco antes da segunda refeição do dia, ficou resolvido que Mestre Plo Koon e Luminara Unduli iniciariam uma investigação sobre as naves avistadas; Yoda falaria novamente com Ben – assim como Anakin, ele acreditava que podiam contornar aquela situação –, além do que, ainda existiam muitos mistérios o envolvendo, como o sabre de luz que veio com ele, sendo esta, a nova responsabilidade de Skywalker e Kenobi em- Espere! O que?!

“Eu?” Anakin piscou, ao seu lado, Obi-Wan tinha a mesma expressão.

“Escutar você, ele faz. Testemunhar isso, nós fizemos.” Yoda respondeu, admitindo: “Subestimar a dor que ele carrega, eu fiz. Para se libertar, ele deve aprender a confiar na Força. Sim, nossa tarefa essa vai ser, hmmm... difícil, sim... difícil isso será para alguém tão perdido.”

“...nossa tarefa? Eu acho que-”

“Que essa é uma ótima decisão!” Anakin completou, apressando-se para silenciar seu amigo. “Ben conversou conosco primeiro, vai se sentir mais à vontade com um rosto familiar, não é Obi-Wan? Obrigado, Mestre Yoda. Não vamos decepcioná-lo.”

“Não acredito que me fez concordar com isso!”

“Hey, eu não fiz nada! Mestre Yoda que decidiu,”

“E você escuta Mestre Yoda?”

“Só quando me convém.”

Obi-Wan grunhiu em frustração. “Céus, deveríamos estar na Orla Exterior nesse exato momento, não sendo babás!”

“Seríamos babás de qualquer jeito, só contaríamos com a ajuda do Rex.”

“O que ajudaria muito!”

“O que foi, não se acha capaz, Mestre? Ainda chateado porque Ben escapou pelos seus dedos?” Anakin provocou, sorrindo. “Ou será que é porque eu o encontrei primeiro, hm?”

Por favor, se tem uma coisa que eu quero é ficar bem longe desse rapaz.”

“Por que?”

“Porque já me basta você de problema-”

“Hey!”

“...e eu não acho que ele gosta muito de mim.”

O loiro balançou a cabeça, e lembrando-se das palavras de Padmé aquela manhã, as repetiu para o mais velho. “Não acho que o problema é você, ele só está doente de-”

“Puro desgosto? É, só toda vez que vê a minha cara! Ou será que é quando escuta o meu nome?”

Anakin quase riu, de fato, havia uma estranha expressão no rosto do homem sempre que os via. Seja o que fosse, eles descobririam logo.

“E por falar em nomes,” Obi-Wan parou, o encarando. “Que história é essa dele se chamar Skywalker?”

 

 

Enquanto isso, na ala médica, o garoto ruivo tagarela.

“...e sabe, mesmo que eles não admitam, até mesmo alguns Cavaleiros ficaram com medo de você, mas não sei se é por causa do seu treino ou da sua aparência, sabe, você é muito alto, muuuito alto. Enfim. O que eu sei? Só tenho 12 anos. Talvez eu seja muito baixo.”

Deitado na cama, Ben meramente suspirou.

“Só estou tentando te distrair... e me distrair. Ouvi meu Mestre comentar algo sobre o sistema de Bracca. Já esteve lá? Eu não, mas dizem que é horrível. Industrial. Urgh, próxima missão vai ser dureza! Mas confio no meu Mestre... e você? Já teve um Mestre?”

“Sim,”

“É, explicaria o seu conhecimento em se esconder usando a- heeeey! Você falou!”

“É.”

O padawan sorriu abertamente, descendo da bancada onde havia se sentado e se aproximando. “Como está se sentindo? Por um minuto, achei que estivesse catatônico.”

“Eu não estou catatônico.”

“Aham.”

“Só estou pensando.”

“Em que?”

“Em nada.”

“Sério? É isso que os catatônicos fazem.”

Abrindo os olhos pela primeira vez, Ben o encarou. De quem havia sido a ideia de deixa-lo com aquele garoto? “Você é muito irritante.”

“E você é 8 ou 80, hm? Ora está correndo, ora está aí, parado. Sofre de algum tipo de bipolaridade?”

Se arrependendo, Ben suspirou, fechando os olhos novamente. A risada que ele soltou ficou distante quando-

Ben.

“Tem algum remédio pra dor de cabeça?” ele perguntou, interrompendo qualquer sentença que o garoto estivesse dizendo.

“Dor de cabeça?”

“É, do tipo, pra me apagar.”

“Não acho que seja uma boa ideia, os Mestres podem vir falar com você a qualquer instante. Eles estão em reunião agora, sabia? Vão decidir o que fazer com você.”

“Eu não poderia me importar menos.”

“Sério? Por que?”

“Porque!” Ben se ergueu estressado, e inspirou profundamente ao notar os olhos verdes do garoto se arregalarem em surpresa. “Porque... tem sido um longo dia.”

“É meio dia.”

Deu de ombros, caindo de volta na cama e encarando o teto. O padawan suspirou, balançando a cabeça. “Certo, vou chamar Mestre Allie, ela deve ter alguma coisa pra você.”

Ficando sozinho pela primeira vez desde que havia sido encontrado, deixou-se pensar em qual seria o próximo passo. Com Palpatine no poder seria impossível-

Ben?

Grunhiu, colocando as mãos contra os ouvidos e fechando os olhos fortemente.

Estava enlouquecendo.

 

 

Escondido no cofre secreto de seu apartamento, Sheev Palpatine deixou para trás as roupas de Chanceler e pôs sobre si o manto de Lord Sith, esperando pacientemente pela conexão no comunicador. Não demorou muito para surgir a imagem de seu aprendiz, Conde Dookan.

“Darth Tyranus, presumo não ter tido problemas com a segurança.”

“Não, meu Mestre, fiz conforme o combinado e orbitei o planeta chamando a atenção dos Jedi... acredito que conseguiu a informação?”

“Sim... ele é poderoso, assim como a Força previamente mostrou,” Sidious murmurou, o holograma de Dookan refletindo sua expressão pensativa. “Porém sua alto-confiança o cega, uma mera influência e ele cai como animal amedrontado, tão parecido com os Jedi que o protegem... e me faz pensar... em que circunstâncias a explosão que revelou sua existência foi causada, um poder tão arrebatador como aquele seria necessário um extremo nível de concentração.”

“Ele não deve ter sido nada além de um simples condutor para a Força, meu senhor.”

“Sim... um condutor... explicaria porquê o poder permanece adormecido desde então.”

E o que Skywalker havia dito? Oh, um rebelde! Um soldado, talvez, é bem provável que algum acidente ou trauma despertou suas habilidades de modo tardio, sim, Sidious conseguia entender.

“Sabe, a guerra sempre trás o pior de nós, principalmente aqueles que estão lutando. Ele clamou pelo lado sombrio. Fui capaz de rondar sua mente antes que ele me bloqueasse...”

“Isso é uma insolência!”

Ele riu. “Que eu permiti por enquanto, meu aprendiz. Em breve, ele verá a quem deve obedecer.”

“Ele pode ser um perigo para nós.”

“Ou uma ótima ferramenta.”

Hesitante, Dookan abaixou a cabeça. O interesse de seu Mestre no homem o preocupava... poderia até custar sua vida. Teria que ser astuto em como expressar seu sentimento. Apenas dois existiam, não mais, não menos. Precisava dele fora da equação.

Após alguns minutos discutindo assuntos referentes a guerra, Dookan finalmente contornou:

“Meu Lord... tem certeza que foi este Ben quem causou o impacto na Força?”

“Não tenho motivos para acreditar o contrário.”

“Perdoe a minha insistência, Mestre, sei que sentiu grande poder hoje, no entanto... não posso deixar de pensar... na improbabilidade... que seria alguém causar tal ação sem precedentes.”

Ele apertou os olhos, o fazendo engolir em seco por um momento.

“...apenas... acredito que... teríamos o notado antes, não acha? Alguém capaz de causar algo tão arrebatador... como conseguiria sozinho? Imagino se não há outra razão, algo que não o envolva, sabemos que existem fortes holocrons que-”

O Mestre Sith ergueu a mão, o silenciando. O que era aquilo que estava ouvindo? Podia sentir algo diferente na voz de seu aprendiz... poderia ser...? Não, mas também...

“Estou vendo,” quase ronronou, levando o pensamento em consideração. Não importava a origem de tais perguntas, o que Dookan estava dizendo fazia sentido.

Deu as costas ao holograma e se aproximou da parede metálica protetora, com uma simples mexida de dedos, o aparelho se abriu revelando uma janela escondida e com vista direta para o Templo Jedi de Coruscant. Lembrou-se do que havia sentido em sua breve visita, o caos tão claro para o Sith e tão invisível para mente patética Jedi... sim, este Ben estava bastante instável para alguém tão poderoso, muito confiante para um mero condutor da Força, muito protetor com o que havia escondido em sua mente para- Oh! Talvez...

“Hummm,” Darth Sidious murmurou, os olhos pensativos e atentos. “Existe outro.”


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Notas finais do capítulo

"There is Another."
confesso me arrepiei todinha escrevendo isso
mas pra quem tá se perguntando, ele tá falando da díade mesmo

Also, claramente o nosso Benzinho está frágil e precisando de um abraço. E em tempos estressantes, eu também precisei. Desculpem a demora, pessoal. A vida não é fácil, mas é maravilhosa! Obrigada a todos pelo carinho! Espero conseguir postar mais alguma coisa antes do ano acabar, bjsss ♥



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