Never Tell Me The Odds escrita por Lady Liv


Capítulo 3
I, parte 2.




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Então o homem misterioso, o provável Sith, a sua única responsabilidade por semanas, resolve ter um ataque de pânico bem na sua frente.

“Ben, fique comigo! Está me ouvindo? Respire!” ele tenta o ajudar, o impedir, fazer algo, mas o inevitável acaba por acontecer-

Ben desmaia em seu próprio desespero.

Não era à toa que Anakin Skywalker fosse o primeiro a perceber o que estava acontecendo, em seus primeiros meses vivendo no Templo Jedi a sensação de pânico era bastante comum, – a falta que sua mãe fazia quase sufocante, – mas naquele momento, vendo Ben em seu estado mais vulnerável, a ameaça que sentia contra o estranho se desmanchou e a compaixão impulsionou seus atos até que Mestre Allie chegasse com os dróids médicos.

“Vamos reportar tudo ao Conselho,” Obi-Wan disse assim que entraram no elevador, ele estava agindo diferente desde que deixaram o quarto. “Eles precisam saber o que aconteceu.”

“E o que aconteceu exatamente? Porque eu ainda não entendi,” Anakin respondeu, frustrado. “E o que há com você?”

“Como assim?”

“‘Tá com uma cara esquisita.”

“Só pensando.”

“Oh? Por favor, compartilhe! Quero ter algo para dizer ao conselho além de ‘é, eu fiz o nosso convidado desmaiar, não tem de quê.’

“Isso não é culpa sua, Anakin.” Obi-Wan diz, finalmente o dando atenção. “Você não sentiu a forma que ele se projetou na Força? Totalmente descontrolado, nenhum Sith pode atuar assim.”

Anakin piscou. “Espera, o que? Ele se projetou?”

“Sim, e você teria notado se não estivesse ocupado tentando fazê-lo respirar.”

“Ora, me desculpe! Achei que o trabalho de um Jedi incluía salvar pessoas de vez em quando.”

O elevador abriu e eles caminharam em direção a sala de reuniões, a noite caía em Coruscant e a maioria já se encontrava em seus quartos. Só havia um quarto que Anakin desejava estar.

Certo, ainda não era um bom momento para tais pensamentos.

“Mas então?”

“Então.” Obi-Wan repetiu, automaticamente.

“Vai mesmo me fazer falar é? Tudo bem Mestre, mas tem sorte de eu ser um poço de humildade! O que o senhor sentiu no Ben? Não pode ser tão sério assim.”

Obi-Wan parou, e o olhar distante que ele carregava o fez perceber que era sério sim.

“Foi... algo... horrível,” ele murmurou. “Parecia que eu tinha vinte e cinco anos de novo, vendo Qui-Gon morrer na minha frente... e ouvi esse nome na minha cabeça,”

“Que nome?”

“É estranho, acho que já o ouvi em um sonho...”

“Você sonha?” Anakin engasga.

Obi-Wan focou os olhos, despertando de suas dúvidas. “Eu também sonho, meu amigo.”

“Essa é a coisa mais assustadora que já ouvi.”

Surpreendendo-o, ele riu. Anakin sorriu satisfeito, Qui-Gon Jinn tinha sido especial para ele também e não queria que ambos se afogassem em memórias ruins... infelizmente, seu esforço não durou muito. Pela primeira vez em muito tempo estava mais concentrado que seu antigo Mestre e liderou contando o que tinham descoberto para o Conselho Jedi.

“Então ele não o conhece?” no meio de sua explicação, Mace Windu o interrompeu.

“Não, e nem eu a ele.”

“Hum.”

“Acho que não podemos esquecer que ele estava delirando quando o chamou, então era uma possibilidade. Pessoas dizem bobagens quando estão com febre,” Luminara apontou, teorizando: “Também seria ignorância esquecer o quão famoso você se tornou graças a guerra, Skywalker.” Por causa da guerra, Anakin resistiu a vontade de corrigi-la, esperando que ela concluísse seu pensamento. “E este... desculpe, como é mesmo o nome dele?”

Ben.

“Sim, e se Ben diz ser um rebelde... é provável que tenha ouvido falar de você.”

“Qual o sobrenome desse homem?” Mestre Plo Koon perguntou, fazendo Anakin e Obi-Wan trocarem um olhar. Oh, céus.

“É uma boa pergunta.”

“O número de midichlorians é altíssimo!” Ki-Adi-Mundi exclamou, analisando os exames em seu holograma. “Muito maiores que o de Mestre Yoda! O que ele poderia se tornar com treinamento? Se é que já não o tem.”

“Ben não é um Sith, não precisamos teme-lo.”

“Bom, ele também não é nenhum Jedi.” Mestre Windu disse.

“Um rebelde,” Mundi repetiu, ainda desconfiado. “De que atos rebeldes estamos falando? Ele pode ser um criminoso, um simpatizante dos Separatistas!”

“De acordo com a pesquisa de Mestre Kolar, não há nenhum registro do rosto dele como procurado, nem mesmo na Guilda,” Luminara disse, mais uma vez acalmando seus companheiros. “Talvez seja mais simples do que pensávamos. Talvez seja, como Ben mesmo disse, apenas um ato da Força que o trouxe até nós, sei em meu coração que deve ser possível!”

“Mas isso nunca aconteceu antes,” Mundi voltou a desconfiar. “E quanto aquele sabre de luz?”

“Talvez ele seja um historiador.” ela sugeriu.

“Acho que ele sofreu um acidente feio na cabeça,” Anakin contornou, temendo não ter respostas o suficiente. “Ele demorou para responder minhas perguntas.”

“Demência?”

“Não, memória, chegou até a perguntar em que ano estávamos!”

“É verdade,” Obi-Wan assentiu. “Foi aí que ele entrou em pânico e desmaiou.”

“Traumas, durante guerras, muitos carregam,” Mestre Yoda disse após um momento. “Localizar de que guerra esse Ben veio, nós iremos. Só assim poderemos entende-lo e ajuda-lo. A Força nos guiará, se for ela a origem dele estar aqui.”

Todos assentiram, e Mestre Plo Koon voltou-se para Anakin.

“Apreciamos o seu empenho em vir até aqui, Cavaleiro Skywalker, mas temo que você deva retornar para suas tropas na Orla Exterior.”

Anakin piscou, confuso. “Voltar?”

“A guerra não espera, meu jovem. Há muito o que se fazer.”

“Mas... mas e o Ben?”

“Ele não o conhece como achávamos, não é? Não há mais motivo para ficar aqui,” Mestre Windu concluiu, logicamente. “Nós vamos continuar as investigações em segredo, contamos com a sua discrição.”

“Mas eu falei com ele,” Anakin insistiu, sem conseguir controlar a indignação. “Atravessei a galáxia para chegar aqui, fui a primeira pessoa que ele viu, isso não é justo-”

“Sua compaixão pelo rapaz é forte. Admirável, isto é,” Yoda interviu, suavemente. “Porém se preocupar com ele, não mais precisa. Amanhã, voltará para onde sua presença é mais valorizada. O Alto Conselho Jedi decidiu.”

Com isso, não havia mais nada a ser dito, mesmo assim, Anakin ainda buscou pelo apoio de Obi-Wan, que parecia subitamente interessado no chão.

As palavras de Mestre Yoda sempre eram finais.

“É assim que você se sente, Erredois?” Anakin perguntou, andando pelos corredores do Templo junto de seu dróid. “Sendo jogado de um lado pro outro que nem uma bola? Sem livre arbítrio?”

R2 ofereceu alguns beeps em consolo.

“É, obrigado amigo.”

Se guiou pelos corredores e pegou o elevador de volta ao quarto de Ben. Os guardas ainda não foram avisados sobre a mudança e com sorte, teria tempo para se despedir. Despedir. Ele mal o conhecia, o que estava fazendo? Talvez os Jedi estivessem certos em se desapontarem com ele. Só talvez.

Mas também havia a curiosidade, ele não podia negar. O que deixaria alguém como Obi-Wan Kenobi tão chocado? Pior, sensível. Anakin iria descobrir.

“Cavaleiro Skywalker?” Stass Allie se levantou ao vê-lo se aproximar, seus grandes olhos violeta surpresos. “Achei que a reunião fosse demorar mais.”

“Sim, sim, mas vim saber como ele está.” Anakin enrolou, sorrindo. Ela não desconfiou.

“Melhor, vou tirá-lo da observação amanhã, apesar do desmaio ele não tem mais febre... por acaso sabe o que o deixou tão nervoso?”

“Estava esperando poder perguntar a ele.”

“Bom, ele está dormindo agora.”

“Eu posso vê-lo?”

“Não sei como isso vai ajudar, mas...”

“Obrigado.”

Sem esperar que ela o respondesse, ele adentrou o quarto. Podia sentir a Força concentrada em Ben, o direcionando até ele como um imã. Fechando os olhos, abriu-se para a energia que os rodeava.

Desespero.

Cansaço.

Tristeza.

As emoções o fizeram tensionar, e talvez se ele fosse mais cauteloso como Obi-Wan, ou mais astuto como Quinlan Vos, que pensava duas vezes antes de tocar algo ou alguém, ele perceberia o quão terrível seria o erro de-

Sua mão esquerda encontrou a testa do homem.

E no momento que suas peles se encostaram-

A enxurrada o empurrou para trás, como um lençol pesado sendo jogado em seus ombros, difícil de respirar. Uma grande aflição percorrendo seu corpo como um machucado aberto e pulsante, e em sua mente, um grande vazio; uma conexão rompida. Um choque.

Parecia que eu tinha vinte e cinco anos de novo, vendo Qui-Gon morrer na minha frente...

O lençol imaginário desceu de seus ombros e voou pelo Templo, atravessando a fortaleza e passando pelos prédios, buscando no planeta, entre as estrelas, por toda a galáxia em um só propósito, um sentimento localizado entre o nada e o tudo: uma pergunta.

...e ouvi esse nome na minha cabeça.

“Rey?” Ben desperta, e ao vê-lo sua expressão escurece. “Você!

Anakin o encara, chocado.

Ele continua: “Eu não já sofri demais? Tenho que lidar com você também? O que faz aqui, o que- o que você fez?”

“Nada,”

“Nada?!”

“Só estava... tentando te entender...”

“Tentando me entender?! Ah claro, agora você aparece não é?!”

“Como- como você-”

“Como eu o que?”

O Cavaleiro Jedi luta contra a paralisia que envolve tanto seu corpo como seus pensamentos, e tenta soar coerente ao enfrentar: “Você estava dormindo e meditando ao mesmo tempo! Como isso é possível? A Força estava intensificando sua emoção, mas você não estava consciente, então como-”

“Sai. daqui.”

Anakin pisca mais uma vez, e surpreso, sente uma lágrima descer. Limpou o próprio rosto, assustado. Não tinha percebido quando a vista começou a embaçar... seria isso que Obi-Wan tinha sentido também? Não, não podia ser! Ele não ia conseguir ficar tão calmo tamanha dor.

“Mas... você me chamou,”

“O que?”

“Você repetiu meu nome quando chegou aqui, Skywalker, várias vezes... por que? Por favor, me ajude a entender.”

Nisso, a expressão dele pareceu suavizar um pouco. “Eu não- eu.... eu não estava chamando você, ‘tá? Estava me referindo a...” Ben parou, relutante.

“A quem?” Anakin insistiu. “A quem?! Diga!”

“A... mim.”

“O que?”

“Olha, eu estou muito, muito cansado! Já perdi até o senso dos dias então será que você pode, por favor, ir embora?”

Pensou em discutir, em manifestar suas dúvidas, em força-lo a explicar... e pela cara que Ben fazia, tinha a impressão que ele iria quebrar a qualquer momento.

Mas havia sido um longo dia. Ben não era o único cansado.

Se virou, e o deixou.

Anakin Skywalker sempre foi hábil em entrar e sair escondido para se encontrar com sua esposa, as velhas passagens nos níveis inferiores eram relíquias esquecidas pelos Jedi, e com o ânimo do Templo mais calmo, ele aproveitou a oportunidade para sumir. Andou pela escuridão dos corredores com confiança, mas não demorou muito para que seu coração voltasse a disparar, e pela primeira vez, a expectativa em vê-la não tinha nada a ver com isso.

Não conseguia parar de pensar no que Ben estava projetando de modo inconsciente, céus, como Anakin se odiava por ser impulsivo! E a conversa que eles tiveram! Skywalker, como assim ele estava se referindo a si mesmo? Skywalker era o seu sobrenome? Teria alguma chance dele ser um parente distante? Não, claro que não! O que estava pensando?! Pela Força, quantos mistérios envolviam esse rapaz! Anakin estava começando a ficar louco!

A única certeza que ele tinha eram as coisas que Ben havia dito em seus dias enfermo, pois seus delírios de febre alta não eram simples delírios como os outros acreditavam. As frases tinham um sentido, Anakin sabia muito bem disso agora; o nome – Rey—, foi marcado em sua mente com solidão e apego, sentimentos que o lembraram de Padmé. Shmi. Até mesmo Obi-Wan de certo modo. Sentimentos que o fizeram... chorar. Imaginou se Rey fosse na verdade o pai ou a mãe do rapaz, naquele exato momento, em algum lugar na galáxia, chorando por ele. Sem notícias. Esperando. É, não seria a primeira vez que os Jedi separavam famílias.

Sua mente só se aquietou quando ele finalmente chegou ao apartamento, sabia que ali encontraria descanso, que poderia respirar, nos braços da pessoa que ele mais amava na galáxia.

“Oh, Mestre Ani! Você está em casa!” C-3PO exclamou, trazendo conforto para o coração de Anakin. Sim, agora ele estava em casa. “É tão bom revê-lo! Sua presença é muito sentida! O que eu posso fazer pelo senhor?”

“No momento nada, mas obrigado, onde está Padmé?”

“Oh, ela está dormindo! Foi um longo dia no Senado hoje!”

“É, foi um longo dia pra mim também,” disse, terminando de tirar o manto e as botas. “Guarde isso pra mim, sim? Amanhã conversamos mais, Trêspeó.”

“Oh, é claro. Boa noite, Mestre Ani!”

Anakin não respondeu, já a caminho do quarto. Não sabia se era a ansiedade em geral, ou se o que havia sentido em Ben estava o afetando, mas quando encontrou Padmé dormindo profundamente, ele tirou um tempo apenas para observá-la. Ela estava aqui, há quanto tempo não a via? A guerra estava tomando cada vez mais o tempo de ambos.

“Padmé,” chamou, mexendo seus ombros suavemente. “Padmé?”

Ela se virou murmurando sonolenta e mais uma vez, por alguma razão, ele se lembrou instantaneamente de Ben. Suas reações ao vê-lo, no entanto, foram totalmente diferentes.

“Ani? Estou sonhando?”

Ele sorriu abertamente. “Não.”

Ela se ergueu o suficiente para passar os braços ao redor de seu pescoço, o abraçando. Ele se deitou ao seu lado e os dois suspiraram, finalmente juntos.

“Ah, Anakin!”

“Senti saudade, Padmé,”

“Eu também, por que demorou tanto dessa vez? Eu vi os Jedi voltando, você estava entre eles, não?”

“Sim.”

“Não atendeu o seu comunicador...” apesar do presente sono, o tom de voz dela mostrava querer uma explicação. Ele suspirou novamente.

“Eu sei, sinto muito, as coisas não tem sido fáceis no Templo.”

“O que está acontecendo?”

“Shhh, amanhã. Eu prometo.”

“Ani.”

“Eu prometo,” ele insistiu, beijando o topo de sua cabeça. “Eu só quero dormir agora.”

Eu só quero ficar com você.

“Tudo bem, Ani. Tudo bem.”

Amanhã, ele lhe contaria tudo... e decidiria o que fazer.

 

 

Ao que parecia, o universo não queria que Ben Solo descansasse tranquilo nunca mais! O que aquela família tinha contra deixa-lo dormir? Primeiro Luke, agora Anakin?! Estar na presença dele já era desconcertante o suficiente, principalmente com o conhecimento de sua queda, pois ele ainda não era seu avô, mas não estava muito longe de se tornar Darth Vader! Ben sentia como se estivesse vendo tudo aquilo com um estranho senso de anestesia, como um sonho lúcido e maluco. Ele não via a hora desse pesadelo acabar... o que não aconteceu.

A madrugada foi um inferno.

Estava no passado. 19 BBY. No Templo Jedi, pela Força! O que raios ele ia fazer?! Ele precisava sair dali, se alguém descobrisse que ele é do futuro... as consequências... como poderia-

Rey.

Ele queria Rey.

Ele não queria ser cuidadoso. Ele não queria ver a esperança nos olhos de Anakin Skywalker sabendo o que ele iria se tornar em alguns meses. Ele não queria nada disso.

Ele queria Rey, ela iria saber o que fazer.

Nenhuma dor poderia ser comparada ao vazio excruciante em sua mente. Ela ainda nem existia! O silêncio da madrugada só contribuiu para seu choro. Pela segunda vez – e ele temia que permanentemente–, Ben Solo estava realmente sozinho. Cyari’ka, ni su'cuyi.

Gaa'tayl.” Implorou, entregando-se ao lamento.

Horas depois, quando as lágrimas já tinham secado e tudo que restava era um grande e profundo nada, uma Jedi tholothiana entrou no quarto.

Ela o ignorou completamente e abriu as persianas da janela sem aviso.

“Ow!” ele reclamou, erguendo a mão sobre os olhos.

“Ah, esse lugar estava mesmo precisando um pouco de luz! Bom dia Ben, está se sentindo melhor?”

“Não com essa luz.”

“Vai se acostumar,” ela disse, sorrindo de modo um tanto ensaiado. Perguntou-se o que os Jedi achavam dele, certamente havia causado uma impressão ruim com seu antigo sabre. “Eu sou a Mestre Stass Allie, estive com você desde que chegou aqui. Qual o seu nome?”

“Err... você não acabou de dizer?”

“Gostaria de saber seu sobrenome se não tiver problema.”

Tem todo problema, ele refreou a própria boca. Por que apenas Ben não podia ser o suficiente?

“Quer dizer, se você tiver um, é clar-”

“É, é, eu tenho,” Ben rolou os olhos. “Solo. Ben Solo.”

“Ah, é um prazer Ben Solo, passou por muita coisa, não? Achei que não fosse sobreviver...”

“Aham, obrigado por, sabe, me curar.”

“O tratamento de bacta curou você, mas eu estava me referindo ao ataque de pânico que sofreu ontem... consegue se lembrar? Eu queria fazer algumas perguntas se-”

Ben a interrompeu, desconfortável. “Onde está o Cavaleiro Skywalker?”

“Oh, ele veio ontem.”

“Eu sei, ele ainda está aqui?”

“Eu não o vi, soube que ele vai embora hoje de manhã, mas... não se preocupe, talvez consiga falar com ele depois de-”

“Acredite, não me preocupo.”

Ela franziu o cenho, mas não disse nada.

“Escuta, tem algo que eu possa vestir?”

“Claro, eu vou arranjar. Você vai precisar.”

“Vou?”

“Mestre Yoda gostaria de vê-lo.”

Ben ergueu os olhos. Ah, que ótimo.

Mestre Allie o acompanhou até o elevador, o levando para algum andar abaixo. Ben ignorou os olhares que recebia dos padawans no caminho – uma sensação terrivelmente familiar –, e deixou-se admirar pela estrutura do local. Não haviam muitos livros dessa época e as imagens que Kylo Ren havia encontrado em suas pesquisas com certeza não faziam justiça ao lugar; tecnologia rústica, mas com finesse.

Ao passarem em um corredor aberto, lhe foi indicada uma sala com pouca iluminação onde Mestre Yoda o esperava. A Força emanava dele de modo tão natural e sutil que Ben finalmente entendeu o porquê de Luke sempre citá-lo com reverência.

Sozinhos, Yoda indicou que ele se sentasse à sua frente em um assento pequeno e quase ridículo para alguém de seu tamanho.

“Então... queria falar comigo.”

“Queria falar comigo.” Yoda repetiu, o deixando confuso.

“Não,” Ben balançou a cabeça. “Você me chamou.”

“Você me chamou.”

Oh, então era assim.

Infelizmente para Yoda, Ben havia ouvido histórias até demais sobre ele.

“’Tá, isso que está fazendo... não vai funcionar,” seus lábios se puxaram de canto quase em ironia. “Tenho preocupações maiores, não vou me deixar levar pela impaciência ou a raiva.” Me levei pelo desespero e veja o que aconteceu. “Bom... não de novo.”

Yoda o observou por um momento, em silêncio.

“Mas foi bom sair daquele quarto, obrigado. Estava começando a me sentir doente de verdade.”

“Doente, você não está.”

“Não,” Ben concordou, dando de ombros. “Não mais.”

Sentimentos negativos haviam tomando conta dele por tanto tempo, era estranho estar saudável deles. Livre, finalmente. Agora ele era apenas Ben Solo.

E sozinho mais do que nunca.

“Então, quando posso ir embora?”

“Ficar, você não quer?”

“Naah, tenho que achar um jeito de ir pra casa.” Se é que há um jeito, ele pensou, erguendo as sobrancelhas. “Há alguma razão para me manterem aqui?”

“A Força, aqui trouxe você, não foi?”

Mais pra me condenou. “Eeee...?”

“Aqui, deve ficar.” Yoda declarou, e Ben sentiu seus ombros pesarem. “Cheio de angústia, você ainda está, humm.” Yoda fechou os olhos, murmurando. “Agarrado ao passado, oh, isso não é bom. Se libertar, você precisa. O Alto Conselho Jedi decidiu.”

“Decidiu o que?

“Treinar, você precisa. Doente, você não está mais. Mas se proteger do lado sombrio, você deve.”

Houveram poucos momentos em sua vida que Ben riu, de fato, quando pensava no assunto, o único momento que continuava fresco e persistente em sua memória era... Rey. Tudo que ela fazia lhe dava vontade de sorrir, na verdade – bom, nem tudo, definitivamente não quando ela tentou acertá-lo com um blaster. Duas vezes! —, o jeito que ela franzia o nariz, sim, tão adorável, o jeito que suas bochechas se enchiam ao comer, o jeito que os olhos dela se arregalavam quando ele se aproximava, afetada pela sua presença; pequenos momentos que ele havia roubado durante o ano em que os dois ascendiam no lado que haviam escolhido. Pela Força! E ele achava que aqueles eram tempos difíceis.

Nunca imaginaria ter uma conversa com Mestre Yoda, não através da Força, e com certeza não pessoalmente. Quais eram as chances?

E agora queriam protege-lo do lado sombrio. Ele, que já foi Kylo Ren.

Agora, Ben Solo, livre Ben Solo, equilibrado- – certo, talvez não tão equilibrado –, sendo obrigado a treinar com um Jedi em 19 BBY, o ano em que os Jedi seriam exterminados da face da galáxia.

“Isso...” ele bufou uma risada, chocado. “É a coisa mais ridícula que eu já ouvi.”

Não, obrigado.

“Quer dizer, você nem me conhece!”

“Conheço o suficiente.”

“É? E deixa eu perguntar, não viu o sabre que veio comigo? Vai ser melhor pra todo mundo se me colocarem numa nave e me deixarem ir embora!”

“Hummm, o sabre veio com você. Ele não lhe pertence.”

“Não, e não sei porque a Força o trouxe de volta, talvez seja castigo.”

“Castigo não é o princípio da Força. Ela presenteia, sim, com a habilidade de sentir tudo que ao nosso redor está. Equilíbrio. Algo que os Sith não conseguem entender, e por isso, grande perigo você corre. Muito poderoso você já é... por que?”

Ben fechou os olhos, frustrado. Não podia acreditar no que estava acontecendo. “Eu já treinei com um Jedi antes, não deu muito certo.” Não podia acreditar no que estava dizendo.

“Jedi? Que Jedi?”

“Foi há muito tempo, eu... tomei decisões ruins... fugi... fiquei com medo.”

“E ainda está?”

Ben bufou outra risada, ignorando a sensação fria em seus ossos. “Medo é irrelevante, o fato é que eu estou sozinho como sempre estive, e agora... preciso encontrar um modo de voltar.”

“Voltar?” Yoda repetiu, balançando a cabeça e apontando para ele. “Eu já disse, ficar você deve. Essa a vontade da Força é. O problema, já identifiquei. A Força me guia, ajudá-lo irei.”

“Me ajudar? Como- desculpe, o que espera me ensinar exatamente?”

“Se libertar de tudo aquilo que ainda deseja.”

Ben tremeu, sentindo um calafrio subir-lhe a espinha mais uma vez. Dessa vez, levou as mãos aos braços, se esfregando, mas o que raios- “Tá, que frio todo é esse?”

Uma ruga confusa surgiu entre as sobrancelhas do Mestre.

A conversa foi curta, mas o alívio que Ben sentiu quando ela acabou foi grande. Entretanto, sua breve vitória foi jogada no lixo assim que colocou os pés para fora da sala, dando de cara com outro Jedi o esperando.

“Fala sério, eu acabei de-”

“Mestre Windu,” Yoda cumprimentou, flutuando em um tecnológico planador. “Esperando, você estava?”

“Estava curioso para conhecer nosso hóspede,” ele respondeu, ainda olhando fixamente para Ben. “Você esteve desacordado por um bom tempo, como se sente?”

“Vivo.”

“Geralmente é o que importa.”

Ben assentiu, permitindo um leve sorriso em seu rosto.

Antes, apenas a cor distinta do sabre de luz de Mace Windu chamava sua atenção; roxo, diferente, não muito o estilo dos Jedi. Agora, depois de Exegol, aproveitou a chance que tinha para observá-lo mais atentamente. Aquele era o Jedi que quase conseguiu pôr um fim à vida do Imperador. Um fim a todo sofrimento que viria. Realmente uma pena ele não ter conseguido.

E de quem é a culpa disso? Sua consciência o lembrou, transformando seu sorriso em uma linha triste.

“Ao refeitório, estava a acompanhar Ben. Se juntar a nós, você pode.”

“Obrigado, e então Ben, há teorias sobre como chegou aqui, qual a sua explicação?”

“Eu não lembro,” automaticamente, ele respondeu. Não era tecnicamente mentira, e quanto menos se lembrasse de como havia chegado ali, menos chances haveriam de colapsar em choro de novo.

“É mesmo? Há alguma chance de ter sofrido um acidente? Você disse que era um rebelde, não é?”

“Sim, acidente. Com certeza não estaria aqui por vontade própria.”

Houve um momento de silêncio, Ben não deixou de notar o olhar que Windu e Yoda trocaram.

“Espero que saiba que não está sendo fácil mantê-lo aqui. Não é assim que a Ordem Jedi funciona, mas a Força o usou por alguma razão e estamos tentando descobrir qual. Não podemos treiná-lo como os outros padawans, você nunca será um Jedi, mas aprenderá boas técnicas do lado da luz enquanto estiver aqui.”

“Treinar com um Jedi, Ben já treinou.”

A expressão séria de Windu quase quebrou. “O que? Quem?”

“Me contar, ele não quer.”

Os dois o encararam, Ben deu ombros. “Me deem um tempo, ‘tá? Está tudo acontecendo rápido demais pro meu gosto.”

“Calma, meu rapaz, não o faremos mal algum. Você não é um prisioneiro aqui.”

“Não é exatamente o que parece.”

“Prisioneiro, você não é, prisioneiro, não precisa se sentir, hummm, o Alto Conselho decidiu.”

Ben resistiu a vontade de rolar os olhos. Alto Conselho. Sábio como fosse, até mesmo Yoda estava cego pela arrogância dos Jedi.

“Andar pelo Templo, você pode. Observar nossas aulas, sim, bibliotecas para pesquisa também. Logo, poderá ir embora. É pela sua segurança que fazemos isso.”

“Biblioteca.” Ben repetiu, uma luz se acedendo em sua cabeça. “Eu posso usar a biblioteca?”

“É claro.”

Uma biblioteca com arquivos Jedi! Uma biblioteca que o Império ainda não destruiu. Pelas estrelas! Ele tinha uma oportunidade ali! Podia encontrar algo sobre viagem no tempo.

“Algum assunto o interessa?”

“É, um assunto ou outro...”

E então o que? Ele não pretendia ficar, é claro. Podia facilmente entrar em uma nave e se misturar com a tripulação, chegar até um lugar bem longe da República e-

Oh caramba, ele era mesmo o filho de seu pai, não era?

“Ben?” ele ouviu Windu dizer, seu tom insistente como se estivesse o chamando há algum tempo.

“Oh, sim? Desculpe.”

“Estava perguntando sobre o sabre de luz que foi encontrado com você, o que pode nos dizer sobre ele?”

“Aahmm....” Nada!

Um garoto humano de cabelos ruivos e trança de padawan se aproximou, o salvando de uma resposta desastrosa.

“Mestre Yoda, Mestre Windu.”

“Jovem Kestis, o que há?”

“O Chanceler está aqui solicitando uma reunião.”

Houve um momento.

E Ben sentiu tudo parar.

“O que?”

“O Chanceler está no pátio-”

“Não, eu ouvi,” Windu ergueu a mão, confuso. “O que ele quer?”

A conversa dos três se afastou e se afastou até Ben não conseguir ouvir mais nada. Havia gelo correndo em suas veias, e também o mesmo frio que havia sentido minutos atrás enquanto conversava com Mestre Yoda, o paralisando completamente. Palpatine, ele repetiu em sua cabeça, Chanceler Palpatine... como não havia pensado naquilo antes?! Estava ocupado demais lidando com Anakin Skywalker, e depois chorando por uma conexão que não mais existia, e depois ironizando a Ordem Jedi, e depois- Caramba, ele era um... idiota!

A sensação dormente se foi, como se ele estivesse acordando de um pesadelo, no caso, de seus pensamentos mais conturbados e por demasiado emocionais; um choque de realidade.

Encontrou-se sozinho com o padawan, ele o fitava com expectativa. Oh, ele não era bom com expectativas.

Ben lhe deu as costas, apoiando-se no parapeito do corredor com pesar. A distância de quatro andares não tinha nada a ver com a ânsia que sentia. Palpatine podia esconder sua intenção maliciosa dos Jedi por anos e anos a fim, mas não de Ben, não depois de Exegol.

“Então, sou seu novo guia,” ele ouviu o padawan dizer. “O que quer fazer primeiro?”

Ele nem pensou duas vezes, apoiou as mãos no parapeito e-

Pulou.


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Notas finais do capítulo

As decisões do Ben não negam o sangue que ele tem, hm? Eu não faço as regras, pessoal.

Cyari'ka, ni su'cuyi::: Querida, eu ainda estou vivo.
Gaa'tayl::: Me ajude.
Essas palavras que o Ben diz enquanto chora eu tirei do dicionário da língua Mando no Wookieepedia, aqui está o link para quem se interessar: https://starwars.fandom.com/wiki/Mando%27a/Legends



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