Termita escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 2
A Chance


Notas iniciais do capítulo

Baseado no episódio treze, da sexta temporada, intitulado "Beijo, Beijo, tchau, tchau".



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Sara abriu os olhos, ainda sonolenta. Seu quarto estava escuro, graças as cortinas bloqueadoras. Ficou imóvel por alguns minutos, apenas deixando que sua mente funcionasse, sabia que não voltaria a dormir.

Relembrou os últimos momentos no trabalho. Grissom e seu súbito interesse em falar sobre eles. Mesmo ele não tendo dito com todas as palavras, era isso.

Sara se permitiu abrir um pequeno sorriso. Lá estava ela criando expectativas de novo. Mas, dessa vez parecia diferente... Já que ele havia tocado no assunto.

Fechou os olhos por alguns minutos, repassando várias vezes a mesma cena em sua cabeça. Dele tão perto e interessado. Até que seu telefone tocou e a conversa na linha acabou sendo mais longa do que ela gostaria.

Grissom interrompeu a ligação apenas para sussurrar um “Eu te ligo” e então saiu, deixando-a para trás, tentando assimilar tudo.

Depois de um tempo repetindo as memórias, decidiu que já era o bastante e espreguiçou-se por inteira. Levantou a cabeça, em busca do despertador, que ficava no criado mudo, e percebeu que dormiu por quatro horas. Em se tratando dela, já estava bom.

Finalmente levantou-se, arrumando a cama. Caminhou até o banheiro, tomou um banho e colocou uma roupa leve.

Depois do seu ritual diário realizado, foi até a cozinha preparar um chá. Estava colocando a chaleira no fogo, quando seu celular tocou e instantaneamente sentiu frio na barriga.

Parou o que estava fazendo e foi atrás do som.

Um número desconhecido. A frustação era tanta que ela ignorou a ligação voltando para seu chá.

Ela esperou ficar pronto, colocou em uma caneca e voltou para sala. Sentou-se no sofá e tomou seu chá enquanto olhava fixamente para o celular, na mesa de centro.

Sorriu ao perceber o papel que estava fazendo, então largou a caneca e pegou o aparelho, fazendo a ligação quase que imediatamente.

Ele atendeu no terceiro toque.

— Sara... – A voz firme dele preencheu todo ar a sua volta.

— Sim, oi – Ela disse mais nervosa do que gostaria – Eu sei que você disse que me ligaria, mas eu... Eu não quis esperar – Confessou.

Grissom ficou em silêncio, por longos momentos e Sara apenas esperou que ele começasse.

— Desculpe... Ainda não sei lidar com essa situação – Admitiu, mais uma vez. Sara baixou o olhar e fitou o chão, resignada.

— Tudo bem, você tocar no assunto, já é alguma coisa.

— Eu não queria deixar se estender tanto. A verdade é que... Pensei que talvez, um dia, você perceberia que confundiu admiração com... Mais – Ele disse com cautela e Sara suspirou profundamente.

— Não te culpo por pensar assim, é verdade que sempre te admirei muito... E, sim, até pensei que pudesse estar confundindo as coisas, por um tempo – Fez uma pausa – Mas eu só estava mentindo para mim mesma... E eu também senti medo... Sabe?

— Somos amigos há tanto tempo, Sara... E esse é o menor dos problemas. Eu sou mais velho que você e sou seu chefe.

— Eu sei de tudo isso, Grissom... – Ela começou a dizer, mas não quis continuar. Sara sabia que seria um passo importante e arriscado. Ainda mais para ele. Lembrou-se de novo daquela conversa, na sala de interrogatório, que mais pareceu um desabafo do que qualquer outra coisa. Parece ser errado ter essa conversa por telefone – Eu quero te olhar nos olhos enquanto temos essa conversa...

Houve novamente um longo momento de silêncio e Sara ficou preocupada com a chance dele desistir.

— Eu preciso, Grissom. Nós... Merecemos isso – Tentou não parecer desesperada, embora o coração fosse sair pela boca.– Você quer jantar comigo?

Ele havia dito um enfático “não”, quando ela fez esse mesmo pedido há um tempo. Felizmente para ela, por alguma razão ainda desconhecida, ele estava cedendo.

— Sim... Eu quero – Ele finalmente respondeu e Sara não poderia descrever o alivio que sentiu naquele instante.

— Que bom...Bom...

Outro momento de puro silencio se instalou, mas dessa vez, ela não estava desconfortável. Na verdade, quase estava se sentindo satisfeita em apenas ouvi-lo respirar do outro lado da linha.

— Então, nos falamos no trabalho... – Ele finalmente se pronunciou.

— Está bem – Sara limpou a garganta – Então,  até mais tarde...   

— Até...

Ele desligou e Sara deixou o celular ao seu lado no sofá.

Ela sorriu. Que conversa mais estranha... Porém, ela tinha ficado tão animada só com isso.

Era tarde demais para não se permitir criar esperanças. Queria ir trabalhar, queria ir vê-lo, queria aquela conversa, queria poder resolver essa situação de uma vez por todas.

Desta vez, ele estava aberto à possibilidade, ela sentia isso. Pela primeira vez em anos não retribuídos, ela sentia, em cada fibra do seu ser, que era sua chance. Se depois dessa conversa ele ainda resistisse, então nunca aconteceria.

Enfim, o dia passou rapidamente, e logo ela estava em mais uma noite de trabalho, em mais uma cena de crime. E dessa vez, foi em uma luxuosa mansão da influente Louis O’Neill.

Foi direto de casa, pois ainda estava lá quando recebeu o chamado. Toda a equipe trabalharia nesse caso.

A movimentação já era intensa, com muitas viaturas, fotógrafos e curiosos... As coisas são mesmo diferentes quando envolvem pessoas da nata da sociedade.

Quando já estava na entrada da casa, avistou Grissom. Hoje é um daqueles dias em que ela o queria por perto. Respirou fundo e caminhou diretamente até ele.

— Oii... – Ele se virou para ela, impassível, como sempre. Porém, o olhar dele pareceu se demorar um pouco mais nela. Foi bom perceber isso – Eu vim direto, o que eu posso fazer?

— Você fica com o corpo dessa vez. O rapaz morto é um garçom, está no closet. Ultimo quarto do segundo andar. David acabou de subir, Catherine e Greg já estão lá e os cômodos são enormes, então boa sorte – Ele inclinou a cabeça e se voltou as suas anotações.

— Valeu, mas... – Sara sorri, olhando em volta – Acho que você vai precisar mais do que eu.

Era uma festa de aniversário, então testemunhas e suspeitos não faltavam. Grissom levanta uma sobrancelha, sinal de que ele concordava, mas não disse nada, então ela apenas caminhou em direção as escadas.

Encontrou David analisando o corpo.

— Oi David. Já tem alguma coisa? – Colocou sua maleta no chão e pegou sua máquina fotográfica.

— Oi Sara, você vai processar o corpo?

— Isso mesmo – Ela sorri por trás das lentes, tirando as primeiras fotos.

O legista afere a temperatura do fígado e começa a descrever a situação.

— Pela temperatura do fígado, ele esta morto de uma a duas horas. Ao que parece foram dois tiros: um no peito e um deles atravessou a cabeça – David moveu levemente a cabeça, para que a CSI tivesse um ângulo melhor do ferimento, então ela tirou uma foto.

Ela percebeu que, apesar de ter levado dois tiros, o chão estava mais limpo do que deveria.

— Não tem muito sangue... Tiro no coração. Às vezes o sangue fica acumulado na cavidade do peito ao invés de sangrar – Disse mais para si mesma, como uma anotação mental, mas o legista balançou a cabeça, em concordância.

David verificou os bolsos, como parte da rotina, encontrando várias notas de dinheiro.

— Mil. Quando eu era garçom na faculdade, se tivesse três notas de vinte já era uma noite boa – Entregou as notas para a jovem, junto com um frasco pequeno, com vestígio de pó branco, que também estava no bolso. Alias, um frasco conhecido nesse trabalho.

— Frasco de craque – Deduz a morena –Explicaria o dinheiro, talvez estivesse traficando.

— E isso também – David mostrou uma marca de queimadura na ponta do dedo do garçom, característica de usuários, então ela tirou uma foto.

Depois de registrar tudo o que poderia, o corpo estava pronto para ser retirado. Enquanto o legista fazia seu trabalho, Sara foi até Catherine, que estava em outro cômodo anexo, e lhe relatou algumas informações. Lá havia algumas fotos e flores que a anfitriã da festa e aniversariante recebeu.

Assim que o corpo havia sido removido, Cath desceu para ajudar Grissom, visto que não havia nada nos cômodos próximos, e Sara ficou para periciar o closet.

— O que você esta lendo? – Perguntou ao ver Greg entrar no quarto com um livro na mão, distraído.

— Oi Sara! – Ele disse animado, mostrando a capa do livro – É o livro da Louis, toda a vida dela, incluindo os possíveis inimigos estão aqui. É pertinente ao caso.

— Claro que é – Confirmou levemente, transparecendo um leve cinismo, enquanto sorria – Vai me ajudar no closet?

— Certamente, vai na frente, preciso buscar uma coisa.

Então ele sai e a deixa para trás. Sara coça a cabeça, conformada com as peculiaridades do amigo.

Sara começou a andar pelo closet, observando detalhadamente o espaço, na expectativa de encontrar algo fora do lugar. Tinha muitas roupas, joias e acessórios. Uma enorme porta de cofre, com marcas de bala.

Registrou tudo que achou necessário e então se concentrou no chão.

Abaixou-se, analisando metodicamente casa pedaço do espesso carpete branco que revestia o chão. Assim que encontrou o que procurava, Greg retornou.

— Uau! Sabia que Louis teve sua primeira experiência sexual em uma viagem escolar do segundo grau, em direção á capital do estado, com ninguém menos que o governador?

— Achei o buraco da bala – Sara comentou, ignorando propositadamente o comentário feito – Poderia me dar a serra?

— Bom, você sabe, o lugar é um pedaço da história da velha Las Vegas... Você não vai querer chegar e cortar tudo – Greg contestou para surpresa de Sara.

— Bem, é uma cena de crime e há evidencia sob o chão, então... – Completou, fitando-o em seguida.

— Sim, mas não sabemos exatamente onde está, então – Greg usou o mesmo tom de voz usado por ela. Pegou uma maleta e a colocou sobre a mesa – Eu pensei em deixar o nosso amiguinho aqui fazer uma exploração por nós.

Era um equipamento novo, uma câmera portátil, que facilitava a visão em lugares de difícil acesso: como aquele chão sob um carpete enorme.

— Claro. Eu não gostaria de estragar um carpete caro de 40 anos – Ironizou.

— Eu sabia que não – Greg disse ligando o equipamento e entregando para ela, que apenas sorriu.

Sara usava a câmera no buraco sob o chão, buscando a bala perdida e qual não foi a sua surpresa quando encontrou mais do que esperava.

— O que é isso?

— Puxa mais pra cima – Greg pediu e então foi possível identificar notas de dinheiro – Um tijolo de 10 mil.

— Ela tem um cofre bem ali, porque esconder o dinheiro no chão? – Sara perguntou.

— Não tinha mais lugar debaixo do colchão? – Greg brinca e Sara o olha diretamente, sorrindo.

— Então, como chegamos até o dinheiro sem danificar o carpete caro de 40 anos? – Sara pergunta, recolhendo o equipamento.

— Como será que ele chegou lá sem estragar o carpete caro de 40 anos? – Greg rebate com graça e Sara se coloca de pé, de frente para ele, com seu costumeiro sorriso.

— Por baixo – Os dois acabam dizendo juntos e então sorriem.

— Grandes mentes pensam juntas – Greg completa e Sara balança a cabeça.

— Vamos ver se é isso mesmo antes.

Ambos saem do cômodo, descendo as escadas e procuram onde poderiam ter acesso àquele chão. Entraram em um corredor, afastado das escadas e observaram o teto, onde havia uma lâmpada que poderia ser o acesso perfeito, bem debaixo do closet.

Sara olha para Greg que parecia ainda mais animado.

— Vou pegar uma escada.

Em poucos minutos, lá estava ele de novo, porém foi Sara quem subiu. Conseguiu tirar a lâmpada do lugar com facilidade e olhou para Greg, que lhe entregou uma lanterna, dizendo:

— Fácil acesso para quando quiser pegar.

A jovem morena se esticou e conseguiu tirar um bloco de notas maciço de dinheiro. Voltou seu olhar para o companheiro e completou:

— Ou roubar.

Entregou as notas para Greg e passou a retirar os outros blocos de notas restantes. Quando não conseguiu alcançar mais nada, usou a câmera para analisar se havia mais alguma coisa no local, e finalmente, encontrou a bala.

Encontrou digitais da luminária, que ela recolheu, e então voltaram para a cena. Coletaram tudo o que mais consideraram pertinente ao caso para enfim, levarem ao Laboratório, onde tudo seria catalogado, registrado e levado para análise.

Sara estava preenchendo a papelada do caso quando recebeu uma mensagem de Mandy sobre as digitais na luminária. Deixou tudo e foi até lá, recebendo a noticia de que havia uma combinação. E era alguém que não precisaria ter mexido na luminária, em teoria: A assistente pessoal Eve Girard.

Imediatamente, Sara foi atrás de Sofia, que estava ajudando neste caso, e relatou o ocorrido, contando o que sabiam até o momento, para que então a detetive pudesse buscar a suspeita.

Enquanto esperava, ligou para Greg e contou o que tinha até o momento, e o rapaz fez o mesmo, trocando informações que também havia coletado com Nick.

Assim que Eve chegou, foi levada até a sala de interrogatório e Sofia notificou Sara. Rapidamente, ela pegou todas as informações que poderiam ajudar e se encaminhou até a sala, onde Sofia a esperava. Ambas dirigiram o interrogatório.

— Eve Girard, eu sou a CSI Sara Sidle. Agradeço por ter vindo, pois precisamos de sua ajuda para entender novas descobertas.

Eve parecia nervosa e desconfortável.

— Como, por exemplo? – Disse com desdém.

— Lois O’Neill tinha quase um milhão em dinheiro vivo, escondidos sob o chão do seu closet. Havia um acesso pelo corredor de baixo – Sara observava cada reação que ela expressava conforme recebia as informações – Suas digitais estavam na Luminária do corredor. Você sabia sobre o dinheiro.

A jovem assistente suspirou e explicou.

— Quando a luminária queimou, Lois queria que fosse trocada imediatamente. Eu troquei e descobri o dinheiro.

— Quanto você pegou? – Sofia perguntou, firme.

— Um maço, dez mil. Eu ainda tenho a maior parte.

— Você contou a Sra O’Neill?

— Não. E isso foi errado. Mas também foi errado me contratar como editora do livro e me usar como sua escrava pessoal – Disse, honestamente, porém tentando justificar seus atos.

— O quanto você conhecia Vincent Pullone? – Sara perguntou.

— Mais conhecido como “Tim Duke” – Sofia completou.

Eve suspirou, desgostosa

— Não muito bem.

— Mas, bem o suficiente para dar a ele mil dólares – Sara afirmou, enquanto consultava os dados, nas folhas sobre a mesa, colocadas propositalmente para que a suspeita visse.

— Estávamos namorando. Ele precisava do dinheiro – Disse, como se fosse a coisa mais lógica do mundo.

— Se estavam namorando, porque ele estava planejando viajar para outro país, depois da festa, com outra mulher? – Sofia indagou novamente.

Ela parecia mais que desconfortável, parecia irritada.

— Ele não mencionou isso.

— Alguém da casa deu as passagens pra ele.

— E não fui eu – Disse irônica – Mais alguma coisa?

Sofia olha para Sara, que balança a cabeça.

— Obrigada por suas informações – A loira diz, educada – Fique por perto, podemos precisar de você.

A garota apenas se levantou e sai.

— Não acrescentou nada – Sara disse, soltando um longo suspiro – Obrigada Sofia.

— Disponha.

Sara sai e faz as anotações sobre o interrogatório. Nesse ponto, Greg aparece.

— Sara, vamos fazer uma pausa e aproveitar pra repassar informações?  Estou faminto e, a Sra. O’Neill tem razão, eu só penso nela – Greg diz de forma dramática, se encostando no batente na porta.

— Greg, acho que está lendo aquele livro demais – Sara frisa a sobrancelha e organiza os papeis.

— Não é isso! Mais cedo ela veio aqui com um banquete, digno da alta sociedade e disse que era um presente por nossos esforços.

— Não brinca.

— Sério. E o que Grissom fez? Pediu pra ela levar para a casa de caridade no final da rua – Greg diz desgostoso e Sara ri alto, enquanto saia da sala. Juntos, caminharam até sala de pausa – Você ri, mas eu estou destruído por dentro. Ela me disse que me lembraria dela quando sentisse fome, logo...

— Deixa de drama Greg, Grissom fez o certo – Sara afirma, levando em consideração a politica do laboratório, que o jovem também conhecia muito bem. Mas Greg a olha com cinismo – O que?

— Absolutamente nada... – Diz e sorri, levando um empurrão dela.

Warrick já estava na sala de descanso quando eles chegaram. Sara ficou apenas no chá. Greg pegou um sanduiche que ele havia levado, mas que agora não parecia tão atraente.

— Atum – Ele disse, enquanto encarava o lanche – E os sem tetos estão jantando salada de camarão. Clyde sortudo – Disse, mordendo o lanche em seguida.

— “Clyde sortudo”. É alguma língua que existe só no livro? – Sara pergunta levantando o olhar dos papeis que havia pego na mesa.

Greg apenas aponta pra ela, confirmando.

— Não tem nada no livro sobre a grana que achamos sob o chão?

— Não exatamente – Greg começa, deixando o lanche de lado – Mas ela diz que em 1965, Vegas estava ficando quente para Tony C., então ele teve que sumir por um tempo. E olha, enquanto ele estava fora, o famoso assalto a Pan Am aconteceu no leste.

— Assalto à Pan Am? – Pergunta Warrick.

— Sim, meu caro, e no capítulo seguinte, ela diz que Tony construiu a casa para ela. Ligue os pontos, amiguinho.

Greg conclui como se tivesse solucionado o caso e volta a pegar seu lanche. Sara acha graça e sorri, mesmo sem tirar os olhos do papel. Warrick apenas continua.

— O que temos até agora é um garçom, ex pugilista, viciado, provavelmente traficando drogas. E alguém comprou pra ele passagens de avião, para um lugar chamado Sardinha. Por quê?

Sara dessa vez levanta seu olhar para ele e observa enquanto ele conclui o pensamento, dando sua opinião.

— Talvez alguém quisesse Louis morta e sabia que Tim teria acesso. E talvez ele precisasse de dinheiro para as drogas.

— Você está dizendo que ele era o assassino e não um expectador inocente? – Warrick pergunta, a fitando diretamente.

— Isso faria a história da Louis correta... De que ela era o alvo.

— É, mas quem o matou? E por quê? – Indaga novamente.

Antes que ela pudesse analisar, Greg começa a falar.

— Considere essa ideia maluca: Tony não morreu e está por perto, descobre que Louis contou toda a verdade no livro, então contrata alguma proteção, alguém que estivesse na festa.

— Sendo o Tim assassino ou não, ele poderia ter sido o alvo o tempo todo, e não a Louis – Sara começa a mudar a rota da investigação.

— É, verdade. E resolvem matá-lo enquanto está trabalhando, onde estão todos os Vips da cidade – Warrick diz irônico, enquanto se levanta, com seu copo de café – Claro.

Sara não se deixa abalar e completa, fitando Greg.

— Claro. Especialmente se Louis for cumplice. Talvez, assassina – A morena diz firme, levando em conta que ninguém ainda havia citado essa possibilidade.

— Bem, eu não vejo homicídio na agenda dela – Responde Greg com bom humor, o que faz Sara rir. Ele estava olhando a agenda bem detalhada que Louis seguiria, em sua festa de aniversário, e então percebe uma pista – Espera ai... Este é o vestido para o jantar de Louis – Greg mostra uma foto – Mas, essa é a roupa que ela usava quando a encontramos.

A foto seguinte mostrava uma roupa totalmente diferente.

— Vamos testar ambas para sangue e resíduo de pólvora – Sara conclui e Greg concorda, fitando Warrick, que estava de volta à mesa, mas ainda descrente para esse rumo.

—  Bem, o rumo que estávamos seguindo não estava levando a lugar nenhum mesmo – Warrick finalmente se pronuncia.

Catherine surge, entrando na sala.

— E então, encontraram alguma coisa? – Pergunta, se dirigindo ao café.

— Talvez – Greg responde – Achamos que a Louis pode não estar sendo totalmente sincera.

— Bom, não seria a primeira vez. Grissom foi procura-la com o Jim para fazer mais perguntas, mas ainda não voltou. Parece que o que ela viu e o laudo da autopsia não bateram.

— A roupa que ela estava usando antes do crime, não é a mesma que ela usava depois – Diz Sara.

— Ela pode ter trocado para esconder alguma coisa.

— Foi o que pensamos.

— Então temos que ir logo – Catherine diz, largando seu café e caminhando em direção à porta – Você vem Sara?

Sara olha para Greg e sorri, se levantando com duas folhas do caso.

No caminho, Cath liga para Grissom e conta que estão indo até o closet e o motivo.

Rapidamente, as moças estão novamente à cena do crime.

Catherine observa cada roupa posta nos cabides, admirada, enquanto Sara vai até o computador do closet, que cataloga cada item guardado lá.

— Vamos ver... Olhando em roupas formais. É o vestido 161.

— Hmm... 132, 133... Tenho que admitir, isso sim é um closet – Catherine comenta, fitando Sara, mas logo volta a sua procura pelo cabide com a roupa em questão – Bem, o cabide está aqui, mas vazio.

— Ela se livrou do vestido? – Sara indaga.

— Provavelmente, ela mandou lavar, para limpar qualquer resíduo de sangue ou pólvora.

— Bom, ela não deve ter mandado limpar as joias – Sara pensa, logo voltando ao computador e procurando os acessórios que ela usava na festa – Achei, gaveta dezenove – Rapidamente a morena visualiza a gaveta e ambas vão até ela. Todos os anéis estão ali, inclusive o que ela usou na festa.

— Ainda bem que ela deixa tudo nomeado – Cath segura o anel, que será levado como evidência, observando atentamente – É um diamante canário.

— Quer apostar que esse canário canta para resíduo de pólvora? – Sara brinca e Catherine sorri, a fitando em seguida – Acho que você tem andando muito com o Greg.

As duas dão risada e arquivam a evidencia, voltando para o laboratório.

Cath leva o anel para processar e Sara registra mais essa evidencia na papelada do caso.

Depois de anexada mais essa pista, ela já estava saindo da sala quando viu Grissom passar. Ele também a vê e para. Eles haviam se visto apenas no começo do turno.

— Casos sempre são estressantes, mas já percebeu como pode piorar se envolvem gente da mídia? – Ela puxa conversa.

— E como... Vocês conseguiram alguma coisa?

— Bom – Sara começa a andar e Grissom a acompanha – O vestido não estava mais lá, mas o anel que Louis usou, sim. Já deve ter sido analisado, eu vou lá ver o resultado. Vem comigo?

— Claro... – Ele concorda e caminha ao lado dela.

Pode ser só coisa da cabeça dela, mas Sara já sente uma atmosfera diferente entre eles.

Em poucos passos já estavam em frente ao laboratório e flagram Hodges em uma atitude, um tanto, inusitada.

Ele estava inclinado, observando seu reflexo em uma superfície espelhada, enquanto passava uma caneta em alguns fios brancos, na fronte. Estava tão distraído que não os percebeu entrar na sala.

Grissom o observou por um momento, para então pronunciar alto.

— Vaidade, seu nome é Hodges – Então, fitou rapidamente Sara que sorriu.

Hodges ficou claramente surpreso, quase constrangido, e tentou disfarçar.

— Não é o que parece – Guardou rapidamente a caneta e o painel onde se via, finalmente fitando o casal – Na verdade, eu gosto dos meus cabelos brancos... Os poucos que tenho – Parecia quase se desculpar, como se na verdade, precisasse convencer a ele mesmo sobre esse fato.

Sara achou engraçado.

— Hodges você não sabe que cabelos brancos podem ser muito atraentes? – Comentou sendo completamente sincera em suas palavras. Tentou manter o olhar fixo no colega de laboratório, mas percebeu quando Grissom, se virou para ela, então sorriu de leve. Sim, era uma indireta – O anel.

Ela pediu e Hodges, que pareceu muito satisfeito com o comentário dela, permaneceu a encarando.

— O anel – Ele repetiu ainda sem sair do lugar, com o olhar fixo nela. Até que, finalmente, pareceu entender do que se tratava – Ah, o anel...

Ele voltou-se para a mesa, pegando os resultados dos testes.

— O anel deu positivo para resíduos de pólvora.

Grissom pega os resultados, olhando-os cautelosamente, Sara também observa.

— Isso quer dizer que Louis pode ter atirado – A morena conclui.

— Acho que teremos que trazê-la – Grissom diz, se voltando para Hodges, que apenas acena em concordância, depois fita Sara, entregando o papel – Bom trabalho...

Ela sorri e ele sai da sala, apressado.

Sara abaixa o olhar assim que ele some, tentando conter o sorriso que se formava. Quando ela novamente levanta o olhar, Hodges ainda está olhando-a fixamente, com as mãos nos bolsos.

— Então, ahn... – Ele diz, meio sem jeito – Você vai...

— Anexar os resultados aos arquivos do caso? – Ela completa antes dele, e sorri – Sim... Obrigada.

— Claro, tudo bem... – Ela escuta murmurar ao sair da sala, voltando para onde estavam os arquivos.

Sara já estava finalizando a papelada quando Nick aparece.

— Se eu não venho atrás de você, a gente nem se via hoje – Ele diz entrando na sala e indo em direção a Sara, onde a cumprimenta com um beijo.

— Verdade, e isso porque estamos no mesmo caso. Eu acabei de registrar tudo o que conseguimos até agora. Grissom foi atrás da Sra O’Neill, pois, de acordo com as evidencias, ela pode não ser a vítima, e sim, a culpada.

— Bom, se ela não era a vítima antes, agora é – Nick diz com cautela – Você não foi notificada?

— Não olhei, o que aconteceu?

— Ela está morta, tiro no peito. Grissom e Brass a encontraram, esbarrei no Greg indo pra lá.

— Não acredito – Sara parecia em choque – Ela era o alvo desde o começo? Não faz sentido, tinha evidencias de pólvora nas joias dela, então a história que ela contou inicialmente era falsa.

— Vamos ter que desvendar o assassinato dela, se quisermos saber o que aconteceu antes

— Ah, mais essa – Sara se inclina, colocando as mãos no rosto, mas acaba sorrindo – Seria cômico, se não fosse trágico, sabia?  

— Sem dúvida – Nick também sorri. Observa Sara organizar os papeis – Escuta, você vai folgar na sexta, não é?

 — Boa pergunta – Sara brinca – Eu estava mesmo querendo ver a escala, eu não lembro quando é, por quê?

— Por que a minha é amanhã, mas me apareceu um compromisso meio inadiável, para sexta, sabe?

— Hm, inadiável... – A morena fala de modo meio arrastado.

Nick percebe a provocação e lança um olhar divertido para ela, enquanto pega o celular. Ele faz uma busca rápida e encontra a escala

— Aqui, era sexta mesmo. Quebra esse galho pra mim?  – Nick mostra a tela para que ela mesma conferisse, mas o que ela vê, além do dia que seria sua folga, é o dia da folga do Grissom. No mesmo dia que o Nick.

— Eu topo – Ela sorri, fitando Nick.

— Valeu! – Ele diz animado, colocando o celular no bolso.

Sara termina de organizar os papeis com um sorriso no rosto.

— Você esta bem – Nick afirma, de repente.

— Sim, estou, por quê?

— Nada, você só parece mesmo muito bem. Quero dizer, tem dias que você parece meio pra baixo, incomodada. Mas hoje você parece... Leve – Ele disse de modo suave – Isso é bom, muito bom – Ele para quando escuta seu celular tocar, mas antes de atender, se vira para a amiga e completa – Seja lá o que estiver fazendo, continue  – Ele sai, falando ao telefone.

Sara se surpreende. Não tem feito nada de diferente... A única coisa que aconteceu que, com certeza, melhorou o humor dela, foi Grissom.

Ela fica comovida em saber que tem pessoas ao redor dela que conseguem perceber esses detalhes. Tem momentos em que os casos lhe afetam mais do que ela gostaria. E tem momentos que seu passado pesa demais. Estar ao lado de alguém que ela não pode ter, todos os dias, no trabalho também não é fácil. E realmente, tem dias que todos esses fatores parecem se sobrepor sobre ela, de uma vez...

Mas ela tinha que agradecer por esses últimos dias que tem sido bons. Muito bons.

Enfim, a morte de Louis O’Neill foi facilmente solucionada. E com ela, veio também a resposta para o assassinado do garçom. E ninguém jamais pensaria no desenrolar desses fatos.

Sara já tinha feito seu relatório e estava registrando as evidencias na sala de arquivos, quando percebeu que já tinha passado do seu horário. Respirou fundo e pensou em Grissom, mais uma vez.

Queria vê-lo.

Rapidamente, caminhou até a sala de materiais e reabasteceu a maleta que deixa em sua casa, para dias como esse, em que não a tempo de passar pelo laboratório antes de ir para a cena do crime.

Ajeitou o cabelo, arrumou o lenço que usava em seu pescoço, pegou suas coisas, respirou fundo e caminhou até a sala dele, com passos firmes.

Ao longe, ela o viu, pela porta costumeiramente aberta, sentado em sua mesa, lendo. Aproximou-se devagar e encostou-se ao batente da porta, quieta.

— É o livro do Greg? – Depois de alguns segundos, resolveu chamar sua atenção. Ele levantou seu olhar para ela e endireitou-se na cadeira.

— Sim, eu vou ler. Mas por diversão... – Ele arqueou uma sobrancelha e ela sorriu.

— Foi um caso e tanto. Inesperado...

— No fim, todos eles são – Grissom se volta para o livro.

A morena olhou para trás, certificando-se de que não tem ninguém por perto, e então entra na sala. Grissom percebe e volta seu olhar para ela.

— Eu só quero ter certeza de que não vai voltar atrás. Sobre o jantar... – ela pergunta em um tom de voz mais baixo, que transparecia um pouco de insegurança – Amanhã, é sua folga. E eu troquei a minha com o Nick... Pra amanhã também... Então, na minha casa?

Grissom respira fundo, antes de responder, no mesmo tom de voz que ela.

— Eu não vou voltar atrás... Estarei lá.


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