Termita escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 1
O Começo


Notas iniciais do capítulo

Baseado no episódio doze, da sexta temporada, intitulado "A queridinha do papai".



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Começa mais um turno no Laboratório Criminal da agitada Las Vegas.

Sara acaba de entrar no prédio, mais animada do que de costume. Os dias não tem sido fáceis, mas ela busca sempre se superar, um momento de cada vez.

E o trabalho dessa jovem morena era uma espada de dois gumes. Afinal, lidar com a morte todos os dias pode balançar qualquer pessoa, então tinha dias que ajudava, dias que atrapalhava.

Hoje, ela estava bem e queria permanecer assim. Quando ela passa por algumas pessoas, as cumprimenta com um sorriso, caminhando em direção ao seu armário, onde se prepararia para mais uma jornada de trabalho.

— Hey Sara, você parece de bom humor hoje – Greg que já estava terminando de se aprontar, a cumprimenta.

— Greg – Ela acena com a cabeça, sorrindo de leve – Depois do caso com o “Lobisomem”, sinto que hoje será uma noite tranquila – Ironiza ao se lembrar do ultimo caso que tiveram. Greg apenas sorri, concordando.

— Quando a gente acha que já viu de tudo...

— Nesse trabalho, parece que nunca.

Sara guarda seus pertences no armário, e rapidamente, está pronta.

Os dois caminham lentamente até a sala de descanso, onde Nick e Catherine conversavam.

— Pela velocidade dos passos, vocês não estão prontos para mais uma noite – Eles mal entram na sala e ouvem Nick dizer.

— Eu estou sempre pronto – Greg responde rapidamente e Sara sorri, contudo não demora para sua atenção ser roubada.

— Que bom ouvir isso, pois já temos dois casos – Eles não perceberam a aproximação de Grissom, mas a voz muito conhecida capta facilmente a atenção de todos na sala – Temos um homem encontrado morto em uma garagem e uma mulher em um estacionamento. Nick e Catherine, quero que fiquem com esse.

— Okay – Nick se aproxima, pegando a ordem de trabalho.

— Os demais vão trabalhar comigo – Grissom diz, voltando seu olhar para Gregory e Sara – O legista já foi, então vocês podem ir na frente. Comecem com a casa. Warrick e eu vamos logo atrás e ficaremos com a cena do crime.

— Você manda, chefe –  Greg diz, mas Sara apenas acena, concordando.

O olhar rápido dele já era o suficiente para desestabilizá-la. Verdade seja dita, desde a primeira vez que o viu, naquele fatídico seminário, há tantos anos, que esse olhar a balançava.

Ela era completamente feliz com a amizade que haviam conquistado, mas dizer que era completamente satisfeita seria mentir. Ela sempre queria mais, embora ele nunca estivesse preparado para retribuir.

Mas o que poderia ser feito?  Mesmo todo o tempo que permaneceram separados, antes dela se mudar para Las Vegas, ou não importando o quanto tentasse mudar isso, Grissom ainda dominava completamente seus pensamentos. E isso a consumia em alguns momentos.

Mas não hoje.

Hoje seria um bom dia e nada mudaria isso.

— Eu dirijo dessa vez – Ela ouve Greg lhe dirigir a palavra e retorna de seus pensamentos. Caminhavam em direção, a sala onde pegariam a maleta com os materiais necessários, para então seguir para as respectivas cenas.

— Tudo bem, então eu escolho a música.

— Que bom que eu curto seu gosto musical, não é mesmo?  – Ele rebate, já sabendo que seus gostos são bem parecidos, então ela sorri.

— Hey, sem flertes, isso é trabalho.

— Droga Nick, estragou meus planos de uma viagem romântica com o Greg – Sara brinca, olhando para trás, para ver a reação do amigo.

— Uma viagem romântica de quinze minutos? – Ele rebate.

— Já ficou sozinho com a Sara? Para algumas pessoas é mais do que suficiente – Greg rebate e neste ponto, Grissom que caminhava a frente das duplas se vira e fita Greg, seguindo seu olhar para Sara, depois volta sua atenção ao caminho.

Gregory se endireita, como se tivesse sido pego no flagra. Mas volta seu olhar para Nick, assim que Grissom some pelo corredor.

— Não estou sabendo de nada disso, Sara. Nunca ganhei uma viagem romântica – Ele brinca, já com sua maleta em mãos.

— Deixa comigo Nick, vou te dar uma viagem inesquecível de vinte minutos, que tal? – Catherine, que até o momento apenas ouvia, se manifestou. E apesar de falar com Nick, olhou para Sara e sorriu.

— Por que isso me deixou todo arrepiado? – Nick disse em tom preocupado, fazendo Catherine e Sara darem uma boa risada.

Sara aproveitava ao máximo esses momentos de descontração, pois esse trabalho pode facilmente os consumir sem nem perceberem.

Em poucos minutos, estavam chegando a casa onde havia a ocorrência.

— Oi Jim – Sara o cumprimenta primeiro – Tem alguém na casa?

— Não. Aquela jovem morena, Bianca Desmond, mora aqui com o rapaz encontrado morto, aquela com ela é Chelsea Wannamaker, que passava essa noite apenas. Eu não as deixei voltar até que chegassem. O crime foi na garagem.

— Vamos ficar com a casa. Vamos dar uma olhada na parte de baixo para que vocês possam entrar – Greg afirmou.

— E o corpo?

— É do Grissom, ele já está vindo – Sara responde, seguindo o Greg.

— Nada mal – Ele diz assim que entra.

— Uma bela casa, duas mulheres lindas... – Sara diz sugestiva – Talvez, ciúmes? 

— Ou traição – Greg acrescenta, já colocando as luvas.

Ambos analisam os cômodos buscando alguma coisa fora do normal, mas não encontram nada.

— Nada... Então eu vou subir e você processa as garotas.

— Tudo bem – Sara concorda e sai da casa atrás do Jim. Ele estava voltando da garagem bem na hora – Você pode trazer as duas, por favor?

Ele acena e volta seus passos em direção as mulheres.

Sara o observa conduzir as garotas e pede para Bianca sentar-se no sofá. Jim acompanha a outra garota até um sofá mais afastado.

A jovem morena é muito bonita e aparenta estar muito abatida. Ela senta-se no sofá, e abraça as pernas, desconfortável.

— É minha culpa – A garota disse baixo.

— Desculpe, o que? – Sara pergunta, para ter certeza de que ouviu certo. Seria uma confissão?

— Eu o amava... Por isso ele morreu. Eu sou amaldiçoada... – Ela quase sussurrou essa ultima parte, fitando o chão.

Sara ficou alguns segundos em silêncio, pensando no que poderia dizer. E na falta de algo bom para dizer, o melhor é não dizer nada, então seguiu com o trabalho.

— Meu nome é Sara Sidle e preciso te analisar, tudo bem?  – Sara diz a fitando, atentamente, buscando alguma pista. A olho nú, não encontrou nada, então resolveu usar uma luz ultravioleta.

— Me mostra suas mãos, por favor? – Sara pede e a jovem prontamente atende. A luz reage á alguma coisa nas mãos dela, mas não parece ser sangue – Do outro lado, por favor – Bianca obedece e acontece a mesma coisa.

Sara tira os óculos e olha atentamente a jovem bonita.

— O que você estava fazendo antes de encontrar o Ahren morto?

— Limpando – Diz, meio abalada.

— Com o que?

— Alvejante. É a única coisa que funciona – Sua voz sai baixa, em um tom triste.

— Sabe, você pode se vestir se estiver com frio – Jim, aparece e conversa com a jovem.

— Ela não vai me deixar ir até meu quarto – Responde inalterada.

— Podemos pedir que te tragam algo – Sara sugere, mas a garota não responde, então ela continua – Vou pegar suas digitais e DNA, tudo bem?

Bianca balança a cabeça em concordância e apenas se deixa conduzir.

Quando termina, Sara se volta para o Jim, avisando que havia acabado e logo foi para a outra mulher.

Ela parecia ser um pouco mais velha, porém também era muito bonita. Não havia nada de suspeito na loira, nem nada que reagisse a luz.

E ela não havia dito uma única palavra, enquanto era analisada.

Terminando ali, a CSI sobe para ajudar o Greg e o encontra verificando um enorme banheiro.

— E ai? 

— O ultravioleta está iluminando tudo – Greg se volta pra ela.

— Ela limpou tudo, então devem ter falsos positivos.

— Incluindo os dentes – Ele diz enquanto retira os óculos – Olha no armário.

— Um monte de clareador e creme pra acne – Sara olhava atentamente o interior do armário com vários vidros de diferentes marcas. Então se volta para o amigo – Está pensando o mesmo que eu?

— Viciada – Greg completa como se fosse óbvio.

— Definitivamente.

— Talvez ela tenha matado Ahren na garagem, depois veio aqui e tomou banho.

Sara ponderou sobre essa versão e se lembrou da jovem, lamentando no sofá.

— Bom, ela estava dizendo que o amava. Qual seria o motivo?

— Ainda estou apostando minhas fichas em traição – Greg reafirma sua primeira impressão. Na verdade, seu primeiro chute.

— Ele estava com duas garotas, não me parece que elas tenham problema em compartilhar.

Greg levanta o olhar, como se reconsiderasse.

— Vamos analisar a cama.

Ambos voltam para o quarto, enquanto Greg recoloca os óculos. Sara segura a ponta do lençol.

— Já tirou fotos?

— De absolutamente tudo.

Então ela levanta o lençol, enquanto Greg ilumina com a luz especial, buscando encontrar alguma pista. Logo a luz reage.

— Hmm... Ocupados – Sara comenta.

— Se a Bianca o matou e depois veio aqui tomar banho, ela deixaria um rastro – O rapaz comenta, remontando em sua mente os passos que a morena teria dado.

— Talvez – Sara permanece analisando a cama, enquanto Greg usa a luz ultravioleta para observar o chão. Não demora muito e ele encontra o que procurava.

— Parece que ela esqueceu uma mancha.

— Encontrou alguma coisa? – Sara pergunta, enquanto coletava amostras dos lençóis.

— Parece uma pequena mancha de sangue, em direção da porta... Vou coletar.

Levaram pouco mais de uma hora coletando tudo o que pudesse ser útil no caso e então voltaram para o laboratório.

Sara se concentrou em catalogar e encaminhar as evidências para analise, o que ocupou boa parte do seu tempo. E, enquanto Greg dava andamento conforme os resultados saíam, ela deu inicio ao processo de documentação do caso.

Ainda estava no inicio quando seu telefone tocou

— É o Greg, tenho uma novidade: o sangue no carpete não era do Ahren, era de outro homem, fichado por estupro, posse de drogas e outros pequenos delitos.

— Suspeito promissor. Nesse caso, sua teoria de traição vai por água abaixo.

— A sua de ciúmes também... Mas já vamos saber, Jim já mandou buscar o rapaz. Vou interroga-lo.

— Okay, eu vou demorar aqui um pouco aqui ainda, te aviso assim que terminar.

— Beleza, bye – Greg desliga e Sara se concentra em terminar a papelada.

Quando ela já tinha adiantado tudo o que podia. Levantou-se e esticou as pernas, decidindo tomar um chá. No caminho, viu Grissom passar rapidamente no fim do corredor e automaticamente diminuiu o passo.

Trabalhar perto dele era uma inconstância completa. Tinha dias que ela queria estar com ele o tempo todo, queria falar com ele o tempo todo. Dias em que ela apertaria o passo para alcança-lo, mesmo que apenas para passar por ele.

E tinha dias como esse, que em ela não queria ter que pensar nele. Não queria sentir sua barriga gelar por tê-lo visto passar, ao longe.

— Sara – Greg aparece em boa hora.

— Hey, como foi o interrogatório?

— O rapaz é ex da Bianca, eles estavam juntos há alguns meses atrás, porém, numa noite, alguém o ameaçou, atirou nele e mandou se afastar.

— Não brinca.

— Sério! Ele ainda tinha a bala alojada na perna. Cedeu voluntariamente, e eu peguei os resultados. Vem, vamos até o Warrick e eu conto tudo.

Warrick estava em uma sala, analisando dados do caso. Juntos puderam encontrar mais uma peça do quebra cabeças. Além de mais pessoas envolvidos na trama, descobriram que a Chelsea era na verdade mãe de Bianca.

— Sara, eu estou com todos os registros telefônicos, pode comparar, por favor?   – Warrick pede enquanto se levanta – Preciso ver com o Jim se ele não pode falar com o pai de Bianca.

— Claro, pode deixar.

Então ela começa a imprimir os registros, comparar e identificar os números. Algum tempo depois, Warrick volta e pede para que ela o acompanhe até a casa de Bianca, para mais perguntas. Foram o caminho todo comentando o caso.

— Freud teria um dia cheio só com essa família.

— O Pai ama a filha, mas a mãe a vê como adversária.

— E todo mundo se perguntava por que a Bianca nunca conhecia um cara legal.

— Bianca devora caras legais no café da manhã.

Ambos já estavam em frente à casa da jovem e algo parecia errado. A porta estava entreaberta e não havia ninguém a vista. Os dois sabiam que esse era um sinal ruim e entraram em estado de alerta.

Sara empunhou sua arma enquanto Warrick entrava.

— Laboratório Criminal de Las Vegas! – Ele gritou e esperou uma reposta, que não veio – Cuidado.

Com passos leves, entraram na casa, observando tudo atentamente.

— Sara – Warrick diz e então ela percebe que a jovem está no sofá e foi agredida.

— Bianca, você está bem? – Ela a toca com cuidado – Precisamos de uma ambulância – Enquanto Warrick pede socorro, Sara continua com Bianca e há medo em seus olhos – Quem fez isso com você?

Bianca abre e fecha a boa algumas vezes, mas não fala nada.

— Vou olhar o resto da casa, fica esperta.

— Tudo bem – Sara passou a observar atentamente a jovem, em busca de alguma pista. Olhou em volta, no sofá, no chão e não tinha nada visível, que demonstrasse luta.

Em poucos minutos ouviu o barulho da ambulância.

Depois que a jovem foi levada, processaram a sala e a casa, mas não encontraram nada que os ajudasse a encontrar o agressor, então Sara foi até o hospital, tentar novamente conversar com a Bianca. Mas não obteve sucesso, ela simplesmente não quer contar, nem se deixar ser analisada.

Porém, não foi de tudo perdido, já que ela conseguiu a luva que a enfermeira usou para analisar os ferimentos. Talvez ela consiga uma transferência de DNA assim.

De volta ao laboratório, Sara caminhava com o resultado em mãos, em direção à sala de descanso onde Warrick estava. Passou pela sala do Grissom, no caminho e se pegou virando o rosto, para evitar olhar se ele estava lá. Quase não o se viram naquele turno e ela estava querendo manter as coisas assim.

— Trouxe os resultados de Bianca... Bom da luva que eu peguei da enfermeira, já ela mesma não colaborou em nada – Disse caminhando em direção ao Warrick, que estava sentado, olhando todos os dados que já tínhamos conseguido.

— E conseguiu alguma coisa?

— Identificamos uma substância, olha – Sara lhe deu o resultado laboratorial, enquanto ia até um armário pegar um copo térmico que ela usava costumeiramente, e um pouco de chá. Sentou-se ao lado do colega.

— Achei vocês. Também quero um café – Gregory entrou e, após pegar o café, sentou-se também ao lado de Warrick – Conseguiu DNA das luvas, Sara?

— Não. Acho que a Bianca está protegendo alguém.

— Descobrimos uma substância pegajosa que tinha no pescoço dela – Warrick responde e me devolve a folha com o resultado – É um preservativo usado em cercas, trilhos e postes telefônicos.

— O ex namorado dela mora perto dos trilhos e é louco o bastante.

— Sim, mas não atiraria em si mesmo... E acho que se fosse mesmo ele, a Bianca nos contaria – Sara pondera.

— Postes – Warrick parece ter uma ideia e começa a procurar algo nos documentos do caso.

— O que é? – Greg pergunta.

— O cara que perdeu a ferramenta, que eu encontrei, e trabalhou na casa dela. Essa é a ordem de serviço e data de 18 de Dezembro – Ele pensa por um instante e resolve conferir – Foi um domingo. Estranho, não acham?

— É o documento original? – Sara pergunta.

— Sim – Warrick entrega a ordem para a jovem que olha atentamente.

— Vamos ter certeza.

— E lá vai ela... – Greg diz e ela apenas sorri. Rapidamente ela ocupa uma das salas e processa o papel em busca de algum tipo de adulteração. E encontra.

Ela manda um bip para Warrick que pede para que ela o encontre na sala de evidências. Animada, ela caminha com o papel da descoberta em mãos, mas sua animação morre um pouquinho ao ver, ainda de longe, que ele não está sozinho.

Grissom está lá.

Depois de um dia inteiro sem estar com ele, ter a chance de se aproximar apertava seu peito. Ela respira fundo e se recompõe rapidamente.

— Oii – Diz tentando ser o mais casual possível, fitando Grissom, que apenas a olha de volta. Então ela se aproxima e coloca o papel sobre a mesa. Warrick se posiciona ao seu lado, ansioso por ouvir o que ela tinha descoberto – Terminei de analisar a ordem de serviço e havia dois tipos de tintas na data, o que significa que ela foi comprometida. A verdade é que Tom Harper não trabalhou na casa dela em Dezembro, mas uns dez meses antes.

— Por que ele mentiria sobre isso? – Warrick questiona.

— Parece que ele era mais do que o cara do telefone, pra Bianca – Sara olha para Grissom por um momento, depois retoma suas conclusões – Nossa solteira era bem ocupada.

Sara se vira e observa os papeis que antes ela havia analisado, com as chamadas telefônicas de Bianca, e estavam expostas na parede.

— Esses são os telefonemas de Bianca para Tom, em amarelo. Em azul, é da Bianca para Justin, o ex com a bala na perna, e de rosa são as ligações para Ahren. As ligações para Tom começam em fevereiro, bate com a data original da ordem de serviço, e vão até Junho. De duas a três vezes por dia – Ela faz uma pequena pausa e olha para os dois, para ter certeza de que estavam acompanhando – Em Junho ela começa a ligar para Justin, então as ligações para Tom param... Até... – Sara se volta para Grissom que completa:

— A semana em que Justin foi baleado.

— Exatamente. Ahren entrou em cena em meados de Setembro. E, novamente, as ligações para os outros pararam. Até uma semana atrás.

— Quando ela ligou várias vezes para o Tom, de novo – Grissom novamente completa.

— Sempre que ela liga para esse Tom, alguém se machuca – Warrick comenta.

— É como termita – Grissom fala, ainda olhando os dados telefônicos.

— Termita? – Sara o olha confusa, sem conhecer a expressão.

Grissom volta seu olhar para ela e começa a explicar

— Ao se combinar elementos, aparentemente inofensivos, como alumínio e ferrugem, pressione os, acrescente calor e isso cria uma explosão tão quente que queima através do aço. Poderosa, mas incontrolável – Nesse ponto, Grissom volta seu olhar às anotações – Queima e queima até queimar a si próprio. Queima até consumir os dois elementos.

Sara observava atentamente a explicação e não pode deixar de imaginar que essa era a sua situação, de certa forma.

— Eu acho que algumas pessoas não devem ficar juntas – Ela respondeu de maneira sincera e Grissom a olha imediatamente. Talvez, ele tivesse entendido o sentido de suas palavras, que iam muito além do caso em questão.

— Eu acho que nesse caso, o único elemento perigoso é esse Tom Harper – Warrick continua, alheio ao que ocorria em sua frente – Bianca é inofensiva e livre. Tom a queria somente pra ele, não importando os meios.

Sara, que até então sustentava o olhar de Grissom, desviou para Warrick.

— Vamos ver... Vou falar com o Jim para trazer o Tom aqui... – Sara diz e não olha de novo para Grissom, apenas sai da sala.

Ela sempre soube que não teria chance com ele, mas ainda queria mais do que tudo, ter.

Caminhou rapidamente até a sala do policial, tentando em vão controlar as batidas aceleradas do coração.

— Jim, descobrimos que possivelmente Tom adulterou a ordem de trabalho que trouxe e, que ele se relacionava com Bianca muito mais do que disse – Sara jogou todas as informações rapidamente, assim que entrou na sala, e então, respirou fundo.

— Você veio correndo?

— Quase isso – Ela responde sem graça.

— Bom ver que você se empolga em solucionar um caso – Ele brinca enquanto pega o telefone e liga para a companhia telefônica, pedindo a localização do funcionário. Assim que Brass termina a ligação e se levanta, fitando Sara que não havia movido um único musculo – Vou atrás do garotão esperto, quer vir? 

— Ah, quero... – Ela aceita e o segue até o carro. No caminho ele chama uma viatura para acompanhar. Em poucos minutos, localizam Tom Harper, trabalhando em um poste.

— Ei Tom, vem aqui – Jim fala, ainda saindo do carro e Tom pareceu ficar tenso – Você me fez te procurar duas vezes, Tom. Sabe que isso é um saco? 

Sara observa que ele tem uma ferramenta interessante presa nas botas, o que o ajuda a fixar os pés dos postes.

— Algum problema? – O rapaz pergunta, quando já estava no chão.

— Acredito que viu a Bianca de calcinha mais de uma vez – Jim comenta sugestivo.

Sara se abaixa e analisa mais atentamente a ferramenta e acredita ter traços de sangue nela. Era possivelmente a arma do crime.

— Isso pode mudar um homem – Ela afirma e então Tom engole em seco – E parece que foi exatamente o que aconteceu.

— Pega suas coisas, vamos ter uma conversa lá na delegacia – Brass avisa e dá sinal para os policiais o conduzirem.

— Ahren tinha uma perfuração consistente com aquela haste na bota do Tom – Sara diz quando ele já estava na viatura.

— Então, é caso encerrado – Jim diz animado, enquanto entram no carro.

No caminho Sara liga para Warrick e conta o que descobriu.

Rapidamente estão de volta. Tom é levado para a sala de interrogatório e cede voluntariamente o equipamento, que é analisado enquanto ele é interrogado. Havia mesmo vestígios de sangue e batia com o DNA da vítima.

Warrick conseguiu uma confissão, então Jim começou a dar andamento no processo jurídico, enquanto Sara estava finalizando a papelada do caso, para dar como concluído.

Ela escrevia concentrada, de costas para porta, quando Grissom passou e a viu. Ele parou por um instante e pareceu vacilar entre entrar ou continuar seu caminho. Depois de alguns longos momentos decidindo, ele entrou.

—  Está fazendo o relatório? – No momento em que ouviu sua voz, seu coração falhou e ela parou de escrever, e isso não passou despercebido por ele. Rapidamente ela se recompôs e continuou.

—  Sim, já estou finalizando minha parte e então te entrego para assinar. Apareceu mais alguma coisa?

—  Não – Ele disse se aproximando – É uma noite atipicamente calma.

—  Que bom, não é? – Ela disse sorrindo, ainda focada nos papeis.

—  Você... Foi com o Jim, procurar o Tom? 

—  Fui – Ela confirmou, com uma sobrancelha levantada, finalmente o fitando. Ele já sabia essa resposta – Por quê?

—  Eu te procurei e não achei.

—  Precisava de mim pra alguma coisa? – Sara pergunta, já se levantando. Organiza os relatórios, coloca em uma pasta e entrega para Grissom, ainda esperando uma resposta.

Ele apenas observa os movimentos dela e no fim, pega a pasta. A verdade é que ele não sabia o que dizer. Sempre tinha coisas demais passando pela sua cabeça, principalmente no que se referia a ela. Mas não tinha aptidão suficiente para colocar em palavras.

—  O que foi? – Ela perguntou, ainda incerta.

—  Você... Tem algum problema em trabalhar comigo? 

—  O que?  Como assim? – Perguntou incerta.

—  Bem... – Ele parecia medir cuidadosamente as palavras – Às vezes, eu tenho a impressão de que você me evita e, às vezes, te sinto mais próxima do que nunca – Fez uma pausa – Às vezes sinto que quer falar mais do que realmente fala... Por isso, fala nas entrelinhas, como hoje.

Sara sentiu sua pulsação subir. Achou que Grissom não percebia as mudanças comportamentais que ela tinha, pois nem ela mesma planejava se comportar assim. Realmente, tinha dias que ela queria tentar até o ultimo segundo, e tinhas dias que ela só queria esquecer.

—  O que quer que eu diga? – Sara diz baixinho, sustentando seu olhar.

—  Eu... Eu só... – Ele começou a dizer, mas não concluiu, apenas ficou ali, parando a fitando.

Sara sorri, nervosa. Ele nunca sabe o que dizer. E, depois de ouvi-lo, naquele interrogatório que ela jamais esquecerá, ela sabe o porquê. Ele tinha medo.

Mas ela não.

—  Tem dias que eu estou forte o bastante... – Sara diz, cruzando os braços – Para ficar perto de você sem correr o risco... De ceder, sabe?  E tem dias que não –       Grissom ficou completamente sem reação – E é verdade, eu sempre falo nas entrelinhas, mas porque você nunca me dá a chance de dizer claramente.

A morena encara o chefe, analisando seu rosto tão próximo, aproveitando a chance que ela tem. E depois de alguns segundos, deixou um suspiro escapar, seria mais um beco sem saída.

—  Tem razão... Nós nunca conversamos claramente sobre... – Ele deixou a frase no ar e dessa vez, foi Sara que ficou sem reação. Todas as investidas que ela já havia tentado, até agora, não tinham surtido efeito nenhum. Ele sempre as cortava na raiz. Apenas o fato dele ter tomado a iniciativa em falar sobre eles, já era um grande avanço.

—  Você quer conversar... ?   – Tentou não parecer tão ansiosa quanto estava começando a ficar.

Grissom apertou os lábios, ponderando.  Ele desviou o olhar por um momento e Sara teve medo de que ele voltasse atrás. Mas então ele voltou a fita-la nos olhos, dizendo:

— Antes tarde do que nunca.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado;
Vou seguir essa mesma linha nos próximos.
Até...



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