Audeline escrita por Jardim Selvagem


Capítulo 16
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Música: Temper Temper - Black Pistol Fire



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792477/chapter/16

James passou as últimas horas forçando um vômito que não vinha. Tentava convencer a si mesmo de que se arrependia profundamente do que fizera, que ele não era e nunca seria um monstro. Mas a verdade, a verdade que emergia das sepulturas de seus pensamentos para assombrá-lo, era que ele nunca se sentira tão livre, tão… vivo

Sua mente repassava, como em uma sessão de cinema particular, as últimas horas. Os gritos abafados da bela mulher loira. As lágrimas escorrendo aos montes pelas bochechas, diluindo a sujeira em seu rosto. A excitação inevitável de James diante daqueles olhos azuis arregalados olhando diretamente em sua alma. A boca dele tornando-se vermelha. A doçura acalentando sua língua. Sangue deslizando por sua garganta como o mais nobre vinho que provara. As pupilas dilatando-se. A visão transformando-se num túnel escuro cujo foco era apenas o murmurar daquelas artérias azuis e verdes, um convite irrecusável por baixo daquele manto de pele macia. 

Ele não conseguira parar. 

Sangue por todos os lados. Sangue sangue sangue — 

Com a mesma rapidez com que a euforia surgira, abandonara-o assim que a fonte secara.

Um grunhido animalesco escapara de seus lábios. Nunca era o suficiente. Nunca conseguia satisfazer-se. Sentia a garganta árida mais uma vez.

Olhou do corpo seco destruído no chão para o sorriso vulpino de Victoria. 

— O que você fez comigo, sua filha da puta?

James empurrou Victoria contra a parede, levantando-a com facilidade pelos cabelos. Ela ainda sorria. Uma criadora orgulhosa de sua criatura.

— Não sou eu quem está com a boca suja de sangue humano, querido.

— Me leve de volta para o centro da cidade. Agora.

Ele puxou os fios ruivos com mais força, como se tentasse arrancá-los pela raiz, mas Victoria era imperturbável.

— Eu posso levá-lo de volta para seu hotel, James, mas preciso alertá-lo: vai piorar.

— Chega! Não quero escutar mais nenhuma das merdas que você diz… 

Mas ela continuava, inabalável:

— Vai piorar, e a sede será tão infernal que o pouco controle que você tem vai se esvair pelos seus dedos. E não haverá nada que você poderá fazer a não ser matar, James. Aceite isso. Faz parte da sua natureza. Da nossa natureza.

— Cale a boca.

— Se não quiser machucar quem não merece ser machucado, fique comigo, James. Posso orientá-lo. Posso protegê-lo.

Ele deu um tapa em seu rosto.

— Eu mandei você calar a porra da sua boca!

Victoria levou os dedos até os lábios. O batom cremoso ficou borrado, tingindo os cantos da boca de um vermelho desvanecido, a mesma cor de suas bochechas. Ela olhou para ele e soltou uma risada amarga.

No instante seguinte, James estava jogado no chão. Victoria aproximou-se dele e colocou um dos pés entre as suas costelas. Num resquício de seus instintos humanos, James sentiu imediatamente a dificuldade em respirar, mesmo que agora seus pulmões não mais precisassem de oxigênio. A ponta do salto alto afundou em sua pele, perfurando-a. Ele gemeu alto de dor. 

— Nunca mais ouse levantar essa mão suja para mim de novo. 

Ela o soltou e saiu para fora. Ao longe, ele ouviu os rugidos do motor do carro. 

 

 

Rosalie permanecia de braços cruzados e cara fechada no assento de trás do carro, enquanto Leah dirigia e Bree acompanhava as instruções do GPS. Era mesmo muito conveniente que a rota traçada pela Blazer da ruiva levasse fosse próxima da casa de férias de Emmett. E ainda perto de Seattle, onde elas tinham encontrado o primeiro corpo. A ruiva, o tal do Laurent, Emmett e seja lá mais quem ele está acobertando. Todos juntos nessa merda. Disso Rosalie tinha certeza. Só lhe faltava a resposta para a pergunta crucial: qual deles era o assassino? 

Não era Emmett. Claro que não. Mas talvez fosse quem ele tanto insistia em proteger. Ela também tinha certeza disso, de um jeito inexplicável e estúpido, mas ainda assim indiscutível. E era só por causa dessa certeza que ela acabara concordando em tentar seduzi-lo para conseguir informações enquanto as outras seguiam os rastros do carro de Victoria. 

O estômago de Rosalie se revirava com a expectativa do que aconteceria ou não aconteceria em breve. Sua confiança, geralmente inabalável como uma parede de concreto, agora tremia junto com seu corpo. Tudo bem, estou um pouco nervosa, e daí? Olhou para baixo com desgosto. Nervosa e ridícula. Completamente ridícula nessa roupa. Usava um vestido — cacete, há quantos anos eu não uso um vestido? — que ressaltava seus quadris e ainda possuía um decote profundo nas costas. Como se isso fosse atrair um vampiro. Certo. Rosalie apostava que seria mais eficaz ela fazer um pequeno corte no ombro e tirar os perfumes para evidenciar seu cheiro natural. Quer atrair um vampiro? Fácil. Sangre. 

Ela empurrou os saltos desconfortáveis no assento da frente, chutando o encosto. Leah a fuzilou com os olhos pelo retrovisor. 

— Estamos chegando? — Rosalie perguntou pela décima vez.

— Ainda não — Leah e Bree disseram em uníssono.

Rosalie revirou os olhos para si mesma. Por que Emmett tinha de morar tão longe? Como poderia ser tão estúpido a ponto de aceitar aquele encontro depois da última conversa deles? Não que ela temesse estar indo de boa vontade para uma arapuca ou algo do tipo — Emmett não era o assassino e ponto final. A ausência dos venenos prontos não lhe fazia falta neste caso. De qualquer forma, ela não entraria na casa de um vampiro de mãos vazias: na sua bolsa havia uma estaca pequena e o bom e velho revólver carregado com as balas de prata que ela comprara na dark web. 

O carro parou de súbito.

As duas murmuraram um “boa sorte” distraído antes de irem embora e deixarem Rosalie na calçada. 

Ela não sabia o que esperar da casa de Emmett, mas definitivamente não era aquilo. O edifício parecia antigo, como se pertencesse a outro século, mas continuava bem-cuidado: a grama estava aparada e os jardins cheios de flores amarelas e azuis. Ela caminhou até a entrada com dificuldade; o sapato apertava seu dedo mindinho. Depois de anunciar sua presença na portaria e ser liberada, ela entrou  por um largo e imponente corredor até encontrar o… Cadê a porra do elevador? A essa altura os sapatos já aplicavam um engenhoso método de tortura nos seus dedinhos. Abriu uma das portas do hall de entrada dos visitantes. Uma escada de mármore infinita acenava de volta para ela.

As informações do porteiro voltaram uma a uma ao seu cérebro.

O apartamento de Emmett ficava no último andar.

Eram vinte e quatro andares.

 

 

Pingando de suor, carregando os sapatos nas mãos, a sola dos pés escura de sujeira, Rosalie enfim chegou até o apartamento dele. Ela tentou puxar a barra do vestido grudento e sufocante para baixo como se isso fosse melhorar sua aparência. Apertou a campainha. 

Emmett não demorou nem um minuto para abrir a porta. Assim que a viu, o sorriso enorme em seu rosto diminuiu milímetro por milímetro até desaparecer por completo.

— Por que você está vestida assim?

Rosalie olhou para a camiseta de algodão e as largas calças de moletom de Emmett. Quis tacar os saltos na cara dele. Vestido idiota. Sapato idiota. Maquiagem idiota. Estou sufocando dentro dessa merda. 

— Por que você está vestido assim?

Ele riu diante do tom ressentido dela.

— Entra aí, posso emprestar minhas roupas para você ficar mais confortável, se quiser.

Rosalie atirou-se para dentro, largou os malditos sapatos no tapete e afundou no primeiro assento que encontrou. Passou uns bons minutos tentando recuperar o fôlego e esfriar o corpo. Quando o batimento cardíaco voltou ao normal, prestou atenção ao seu redor. A casa de Emmett era toda cinza e branca, minimalista e moderna, um contraste direto com a antiguidade inegável do seu prédio. O cheiro de perfume amadeirado flutuava pela sala de estar, acalentando o olfato de Rosalie. O sofá no qual ela se sentara era tão espaçoso que ocupava quase todo o cômodo, almofadas e estofados macios como as mãos dele. As mãos dele, que uma vez seguraram as suas, palma com palma, frio contra calor, dedos entrelaçando-se. Que uma vez apoiaram-se em seus ombros, afagando sua pele. Mãos que agora mexiam na caixa de som de última geração.

— O que você está fa… 

Ela reconheceu de imediato o início de “Never Gonna Give You Up” e segurou a vontade de rir quando o viu mexer os quadris de um lado para o outro. Rosalie saiu do sofá para ir até ele.

— Tá ouvindo esse negócio por quê? — perguntou, enquanto olhava os dedos dele pressionando os botões para aumentar o som. — Vai dar uma festinha temática por acaso?

Emmett olhou para ela, surpreso.

— Como você sabe?

— Cacete, hein, Emmett… 

Ele deu de ombros. 

— É uma brincadeira que eu e meus amigos gostamos de fazer. Um jeito divertido de relembrar os velhos tempos. Dessa vez sou o responsável pela playlist, então estou escolhendo os hits do final dos anos 70 até os anos 80 para a nossa festinha particular.

— Particular, é? Só você e seus amigos vampiros… sem nenhum… lanchinho para compartilhar? 

— Você pensa mesmo o pior de mim, não pensa? 

De você não. Mas dos seus amigos… 

Rosalie preferiu não responder em voz alta, optando por mudar de assunto: 

— Acho que vou mesmo querer uma roupa emprestada, já que você ofereceu.

Ele sorriu.

— Segunda porta à direita. Pegue o que quiser. 

Ela seguiu as orientações, entrando num enorme quarto com os mesmos tons neutros da sala. Em frente à cama king size, havia uma longa mesa de vidro com um laptop cinza e alguns livros de ficção histórica. Ao lado, um pote transparente com um par de baquetas. Ela tirou do armário um conjunto de moletom azul escuro tão grande que parecia uma manta, trocou de roupa e deixou o vestido em cima da cama. 

Quando ela voltou para a sala, Emmett tinha colocado para tocar “Billie Jean”. Rosalie se pegou batendo os pés de acordo com o ritmo da música.

— Não sabia que você tocava bateria. 

Ele parou de mexer na caixa de som, mas continuou quieto.

— Toca profissionalmente?

— Sim. Numa banda. 

— Com os mesmos amigos vampiros das festinhas temáticas? 

— Sim…

— Qual banda? É conhecida? 

Ele deu de ombros.

— Algumas pessoas conhecem a gente.

Rosalie riu. 

— Você é famoso por acaso?

— Você costuma saber o nome do baterista das bandas que gosta? 

— Só do cantor.

Ele sorriu. 

— Exatamente.

Rosalie sentou-se no sofá.

— Você parece muito ligado a esses caras.

Emmett aconchegou-se num assento próximo ao dela. 

— Eles são meus melhores amigos. Conheço todos há literalmente séculos.

— E você confia neles? 

Ele olhou para ela. Rosalie viu a confusão refletida nas pupilas.

— Por que não confiaria?

— Durante todos esses séculos, nunca aconteceu nada de…

Um segundo depois e os lábios dele estavam a centímetros da orelha de Rosalie.

— Já percebi aonde você quer chegar… — Emmett sussurrou. — E não vou cair nessa, Rose.

Então chega de sutilezas.

— Você admitiu que conhecia Lauren e April. 

— Conhecer não significa ser melhor amigo ou… 

— Você se alimentava delas, Emmett?

— Eu nunca machucaria um ser humano. — A voz dele era subitamente austera, incrédula, machucada, como se ela o tivesse acusado de um crime hediondo. 

— Duvido que os seus amigos pensem a mesma coisa.

Começaram as primeiras batidas de “Psycho Killer”, do Talking Heads. 

— O que você quer que eu diga, Rose? Que eles são diferentes de 99% da nossa população? Que eles preferem sangue de animais ao de humanos? Desculpa, mas não posso mentir. Não para você. 

— Puta merda, você é um hipócrita!

— O quê?

— Do que adianta você me dizer que não se alimenta de humanos se você anda com esse tipo de gente? Se os seus melhores amigos são verdadeiros predadores? 

— Predadores? Eles não forçam ninguém, tá legal, sempre se alimentaram apenas de quem oferecia o próprio sangue.

— Caramba, quanta decência! Beber sangue de inocentes apenas com consentimento! Eles fazem isso como? O método old school ou a lista de classificados no Dark Creatures?

Emmett a encarou, estreitando os olhos dourados como se estivesse pensando se deveria responder ou não. Rosalie agora batia os pés não em relação à música, mas no ritmo de sua impaciência. I can't seem to face up to the facts… I’m tense and nervous and I can’t relax… 

— Varia. Tenho dois amigos que ainda preferem o old school, e um tinha conseguido uma nova fonte pelo website. Eu nunca entrei no Dark Creatures, mas sei que lá pode-se escolher por tipo sanguíneo, e como ele só bebe A negativo, fica mais fácil para…

Aquilo era demais para Rosalie. 

— Tá bom, tá bom, já entendi. Dois comem de tudo, o outro é um enjoadinho e você é vegetariano. 

Emmett riu.

— Você resumiu bem. 

— Lauren e April eram a fonte dos seus amigos? 

— Você sabe que não vou responder isso.

— Então me responde outra coisa: Victoria Sutherland e Laurent Da Revin levavam Lauren para… 

— O Bar 54 — Emmett completou automaticamente. 

— Pelo jeito você conhece os dois.

— Só de vista. Nunca fui amigo de nenhum deles.

O cérebro de Rosalie começava a associar as novas informações às antigas, como se finalmente encontrasse as peças que faltavam num grande e interminável quebra-cabeça. 

— Você fazia Música na Universidade de Phoenix?

— Isso mesmo.

— Então se é de lá que conhece a ruiva, o Laurent e a Lauren, como você conheceu a… 

— April? 

— Isso mesmo — Rosalie repetiu as palavras dele.

— Amigos em comum. — Ele deu de ombros.

— Vampiros ou humanos?

— Os dois.

— Sabe dizer se a ruiva e o Laurent também a conheciam? 

— Nunca vi a April com os dois, então acho que não. 

Rosalie assentiu. Seu estoque de perguntas esvaziou-se. Se Victoria e Laurent não conheciam April Jenks, então… Ela olhou para Emmett. Então a única coisa que parecia conectar as duas vítimas eram os amigos dele. Eu sabia. Você está acobertando alguém, Emmett. E você… 

— Você não vai me dizer qual deles. 

Ela não precisava explicar a frase; ele sabia muito bem ao que ela se referia. 

— Entregar um amigo de mão beijada para uma caçadora de vampiros? Tentador, mas não, obrigado.

Ouvir aquilo era o suficiente. Seu trabalho ali chegou ao fim. E não do jeito que ela queria. 

Rosalie se levantou do sofá.

— Você tá impedindo o avanço da investigação de dois assassinatos, Emmett. Você tem noção do quão errado é isso, não tem? 

— Estou apenas protegendo quem eu amo. 

— Você está protegendo um potencial assassino.

Ela foi até o quarto dele para trocar de roupa. Voltou com o conjunto de moletom dobrado no antebraço. Mirou no rosto dele, mas acabou atirando as roupas no seu peito. Pegou os sapatos que estavam largados na entrada do apartamento. Ela já estava na soleira da porta quando ele surgiu ao seu lado. 

— Rosalie, espera!

Ela levantou a cabeça para fitar o rosto dele antes de ir embora. Encontrou mais uma vez os olhos de Emmett límpidos, vivos, puros, os lábios entreabertos com o silêncio que tomou o lugar das palavras que ele iria dizer. Ela nunca descobriria se eles eram tão macios quanto as mãos dele.

— Rosalie, eu…

— Seu prédio devia arrumar a porra de um elevador. 

E fechou a porta na cara de Emmett. 

 

 

Billy Black finalmente deu as caras. Não que James tivesse se lembrado de cobrar notícias daquele velho — a contratação do detetive parecia ter ocorrido em outra época, em alguma realidade alternativa, onde não existiam indivíduos com caninos afiados e pontudos. Onde ele não era uma dessas pessoas. Um desses monstros

Havia tanto com que se preocupar agora. Como a sua garganta permanentemente seca. Como seu estômago vazio. Mas ainda assim, mesmo com a fome, a sede implacável, Giulia não deixara de ocupar um espaço em sua cabeça. 

James precisava enterrar a preocupação com suas novas necessidades fisiológicas e continuar com o plano. Seu celular mostrava as ligações perdidas de Black. Ele apertou o botão para retornar a chamada.

— Phoenix — A voz de Black era firme e incisiva.

— Como é?

— Recomendo que volte para Phoenix. — Ao fundo, James ouviu um revirar de papéis. — Angela Weber está na lista de convidados da imprensa para uma festa particular que ocorrerá no primeiro dia de um festival de música em Phoenix. 

As mãos de James já procuravam as roupas para enfiá-las na mala preta.

— E a conexão dela com Giulia? 

— Ainda estamos apurando as possibilidades — Black falava como se tentasse aquietar uma criança ansiosa. 

Possibilidades. Velho insolente. No mundo de James existiam apenas certezas. Ele sabia que Giulia tinha algo a ver com Angela. De que outra forma aquela piranhazinha ajudaria alguém sem ganhar nada em troca? Talvez fossem irmãs, amigas, namoradas… Dane-se, elas eram alguma coisa, e ele sabia disso em sua alma. 

Black continuou o falatório do outro lado da linha, mas James não ouvia muito menos processava as palavras que saíam do telefone. Desligou na cara do velho. Tinha coisas mais importantes a fazer.

Ele podia estar com a imagem pública manchada, mas isso não o impedia de ainda ter seus contatos com pessoas do meio artístico. Comprou um ingresso comum — franzia a testa só de pensar que se misturaria à gentalha — e conseguiu o famoso passe VIP para a festinha exclusiva com celebridades e outros poderosos da indústria depois do fim do festival.

Fechou a mala e desceu até a recepção para fazer o check-out. Tinha mesmo muito trabalho a fazer. 

 

 

Embora tenha falhado na missão de arrancar informações sobre o último relacionamento de Edward Cullen, Angela continuava com as esperanças intactas. Afinal, ela ainda possuía os tickets para a after party do festival de música em Phoenix no qual a Maze iria tocar dali a poucas semanas. Enxergava neles a chance de reencontrar Cullen e conseguir, de uma vez por todas, as informações de que precisava. E salvar seu emprego. 

Agora só faltava convencer sua melhor amiga a ficar com o outro ingresso. 

Angela se jogou no sofá, fazendo Bella dar um pulinho de susto no assento ao lado. 

— Bellaaa… — Ela cantarolou. — Olha só o que eu tenho… — Angela começou a vasculhar em sua bolsa. Tirou de lá duas pulseirinhas roxas fosforescentes. — Consegui dois passes para uma festa exclusiva depois daquele festival de música em Phoenix! 

— O festival onde Edward Cullen vai se apresentar? Esse festival? 

— Claro! — Angela então franziu a testa. — Espere aí, como você sabe que o Cullen vai tocar lá? Andou pesquisando sobre ele, é? 

— Andei pesquisando sobre a banda dele — Bella corrigiu. 

— E por que esse interesse súbito na Maze?

— Gostei das músicas. — Bella deu de ombros. Angela não levou o assunto adiante; sabia que aquela era uma luta há muito perdida. 

— Então nem vou precisar implorar para você ir, não é?

Angela balançou as pulseirinhas na frente da amiga. As mãos de Bella tornaram-se garras de uma águia: ela arrancou um dos passes de sua mão. Fitou a pulseira com olhos acetinados, quase como se fosse chorar ali mesmo.

Isso é perfeito

Angela piscou. Pelo jeito um certo alguém tinha se tornado fã de uma certa banda…

— Divirta-se por mim. 

— O quê? Você não vai?

— Não com você. Vou precisar resolver umas coisas do trabalho antes de ir, então devo chegar na festa bem mais tarde. Tudo bem se você for na frente? 

— Claro. Problema nenhum. 

O sorriso de Bella brilhava junto com seus olhos. 

 

 

Primeira sexta-feira de julho. Primeiro dia de festival. James chegou à tarde, após a abertura dos portões. As filas quilométricas que ele vira pela televisão já tinham se dissolvido, e agora ele poderia andar calmamente até o local, sem milhares de humanos suados e apetitosos para tirarem seu foco. 

O festival se dava num enorme, vasto, aparentemente infinito campo de grama aparada, ladeiras e morros, cujos topos abarcavam os palcos. As grades dos palcos principais já estavam ocupadas, inúmeros fãs abarrotados lado a lado, conversando sobre suas músicas favoritas, dividindo garrafas de água quente e tirando selfies para postar em suas redes sociais.

Os raios de sol caíam imperdoáveis sobre o capuz de James. Ele andava sem rumo, de repente se vendo sem planos traçados e objetivos futuros. As palavras de Victoria rodeavam sua cabeça como um mosquitinho persistente zumbindo em seu ouvido: vai piorar, vai piorar, vai piorar

Não. Não deixaria aquela vagabunda infiltrar-se em sua mente. Quanto menos James pensasse nas necessidades que se apoderavam de seu corpo, melhor. Ele não era um monstro. Ele não machucaria ninguém ali. Como conseguiria? Não a céu aberto, não com milhões de pessoas à sua volta, não sem um lugar obscuro para atrair sua presa.

James aproveitaria o festival como um ser humano qualquer. Esqueceria que era o que era. Desapareceria em meio à multidão enquanto procurasse Angela Weber ou Giulia Zafuri. 

Horas e incontáveis shows de bandas das quais ele nunca ouvira falar depois, o céu escureceu, levando consigo o sol e o calor dos infernos que subia pelo chão de cimento em volta dos palcos, trazendo no lugar um vento leve e frio. James pesquisou sobre o assunto: se tinha algo que quase sempre acontecia nesses festivais em Phoenix era a chuva noturna. 

Em questão de minutos, os pingos d’água molhavam seu capuz, descendo por sua testa e deslizando até o queixo. Se fosse antes de tudo, antes de ele se tornar o que era, James teria se irritado e buscado a passos firmes algum tipo de proteção. Mas agora que tipo de vampiro se importaria com a porcaria de uma chuva? 

Como se importar com aquela chuva quando… Ele engoliu em seco. Quando todos aqueles humanos cantavam a plenos pulmões, suas carótidas túrgidas de sangue, convidando-o para… para… Não.

Não

James não faria aquilo que sua mente e estômago pediam. Ele tinha senso de equilíbrio. Tinha controle sobre si mesmo. Victoria e suas previsões estúpidas que se fodessem.

Tenha controle. Não pense sobre isso. Tenha controle, merda. Cerrou os punhos e arranhou a própria pele. Controle. 

Controle.

Controle-se.

Contro — 

— Com licença, você está na fila?

As narinas de James se abriram. Ele aspirou como se fosse um narcótico. Virou-se para a menina de olhos e cabelos cor de mel que estampava um sorriso amigável para ele.

Sorriu de volta e chegou para o lado da bancada de bebidas.

Pediu perdão a si mesmo pelo que faria em seguida. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Desejo a vocês uma ótima semana! Comentários são sempre bem-vindos! (E até o próximo cap... hehehe ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Audeline" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.