A brincadeira começou. Abriu um sorriso quando ela correu de seus braços em direção à mata densa. Fechou os olhos escuros e contou até dez. Queria que ela tivesse tempo suficiente para tentar fugir e se esconder. 

Ouviu os pés erráticos pisando nas folhas, tropeçando nos galhos, afundando na lama. Esperou que aqueles últimos esforços não a fizessem desmaiar. A brincadeira perdia a graça quando suas convidadas ficavam inconscientes. 

Inspirou fundo. O perfume adocicado misturava-se ao cheiro do suor, do sangue, do terror, da esperança que se esvaía do corpo dela. Engoliu o fluxo de saliva em sua boca. Abriu os olhos e começou a segui-la, passos lentos e cuidadosos. 

Deparou-se com a entrada de uma trilha proibida, uma fita puída com o aviso de “não ultrapasse” presa entre as árvores. Abaixou-se e engatinhou com facilidade, adentrando um corredor estreito em meio ao amontoado de árvores, a luz do sol bloqueada pelas folhas. 

O breu momentâneo deu lugar à claridade brusca do riacho, as águas indicando o caminho para o abismo. Estava perto. Ainda não conseguia vê-la, mas agora a ouvia com perfeição. O coraçãozinho em um ritmo furioso, bombeando sangue fresco para as extremidades do corpo. A respiração entrecortada. O bater dos dentes. Os pingos de sangue caindo da ferida aberta no braço dela. 

Movimentando-se como um lobo, andou pelas pedras e desviou para a margem à esquerda. Aproximou-se de uma árvore moribunda, o tronco cheio de fungos, seus cascos de um verde anêmico. 

Ali estava ela, encolhida como uma criança. Suja como uma vagabunda. Quando notou sua presença, tentou levantar-se para correr, mas já era tarde. A brincadeira chegou ao fim. Tinha vencido, como sempre as vencia, e agora sua paciência se esgotava. Agora tinha fome.

Tomou-a em seus braços novamente, segurando os cabelos com delicadeza. Acariciou seu rosto enquanto sorria para ela. 

E enterrou os dentes em seu pescoço.