Tales of Star Wars escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 42
Decisões (Qui-Gon x Satine)


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores!

Volto hoje com uma continuação do conto 19, aquele Obitine da névoa em Corelia. Mas, apesar disso, o conto de hoje não é um Obitine (ok, vai... vai te rum pouquinho sim, mas bem de leve ahahahaha). A idéia do conto de hoje é mostrar alguma interação significativa entre a Satine e o Qui-Gon. Como o Qui-Gon já está morto em clone wars, a série não dá nenhuma referência pra gente sobre como era o relacionamento dos dois, então resolvi trazer isso aqui.

Espero que gostem, meus amores ♥



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O espaço era frio demais para os padrões da jovem. Desde que precisou sair de seu lar, escoltada por dois Jedi para se proteger, a duquesa Satine Kryze de Mandalore já havia viajado de um planeta a outro por incontáveis vezes, mas, mesmo assim, ainda não havia se acostumado com as baixas temperaturas que, no hiperespaço, não eram controladas nem mesmo pelo melhor sistema de ar condicionado existente. Muito menos pelo sistema de ar condicionado daquela lata velha que ocupavam.

A verdade é que, apesar de ainda não ter se acostumado com o frio, ele não a incomodava tanto. Apenas queria um motivo para criticar a nave e, por tabela, a Padawan que viera ao encontro dela em Corelia, acompanhada de seu mestre, para a entregar após o pedido de socorro do mestre Qui-Gon. Rayra, Aayla... Alguma coisa no meio disso.

O fato era que Satine deveria estar muito grata a ela por ter vindo socorrê-la após a queda de sua nave, dois dias antes, e ao Conselho Jedi, que atendeu o pedido de ajuda, mas a verdade era que ela havia pego uma antipatia imensa pela Twi’lek quando a conheceu. Quando a Padawan viu Obi-Wan ferido, Satine não pôde deixar de sentir ciúmes do que presenciou. A amizade dela com Obi-Wan, a preocupação nos olhos dela, a forma como ela falava com ele... Claro que Obi-Wan ainda estava um pouco letárgico após aquele arpão envenenado (caso contrário, Satine temia estar com raiva dele também), mas ela não havia gostado nem um pouco daquela proximidade entre os dois. Quase como se fossem... íntimos.

Internamente, ela queria aceitar a explicação mais racional possível: os dois eram Padawan no Templo Jedi e, obviamente, a convivência devia tê-los feito bons amigos. Mas, claro, essa era uma explicação que seu coração não aceitava em hipótese alguma. Apesar da ajuda, Satine apenas conseguia sentir raiva.

De qualquer forma, vivendo sua crítica ao máximo, Satine fez a única coisa que poderia fazer naquele momento de silêncio e solidão, perdida no interior de uma nave que vagava pela imensidão interminável do universo: chá.

Assim que chegou à cabine, com duas xícaras em sua mão, ela entendeu uma para o mestre Qui-Gon, que pilotava a nave e, naquele momento, parecia prestes a dormir enquanto observava os monitores piscando à sua volta.

— Obrigado, lady Kryze – ele disse, tomando a xícara em suas mãos e se ajeitando na poltrona.

— Disponha, mestre – ela respondeu, bebendo um gole da própria xícara antes de se sentar na poltrona ao lado da dele. – Frio, não?

— Uhum – Qui-Gon grunhiu em confirmação enquanto bebia seu primeiro gole também.

Por alguns instantes, os dois permaneceram em silêncio. À frente deles, do outro lado da grossa camada de vidro, havia apenas o vazio. Segundo mestre Qui-Gon, um vazio que os direcionava para Takodana. “Um lugar polêmico”, dizia ele. “Vamos nos encontrar com centenas de contrabandistas e caçadores de recomepnsas, o que é um risco na sua situação, mas, como qualquer lugar infestado por esse tipo de gente, também é o melhor lugar para se esconder deles. Eles nunca vão imaginar que você está tão perto assim.” De fato, era uma lógica convincente. “Você ao menos conhece alguém lá?”, quis saber Satine. “Uma velha amiga. Uma rainha de piratas, mas que não vai me negar ajuda se eu pedir, não importando quanto seja o prêmio pela sua cabeça.”

A idéia não deixava Satine muito confiante, mas mestre Qui-Gon parecia ter certeza do que dizia. E, após meses fugindo com ele, a duquesa mandaloriana havia aprendido a confiar nos instintos do Jedi. Ele realmente tinha um bom tino para julgar a índole das pessoas.

E era exatamente por isso que ela se preocupava com a discussão que havia tido com ele, dois dias antes, quando Obi-Wan quase morrera envenenado.

— Sabe, eu não espero que entenda o que é ver o seu lar ser destruído pela guerra – ela começou, ser ter coragem de olhar para ele. – Na verdade, espero que jamais saiba. Mas, se você tivesse visto as coisas que eu vi, iria entender a minha posição em querer evitar conflitos a qualquer custo. Iria sentir o mesmo repúdio que eu sinto por toda essa violência e iria entender porque eu quero acreditar tanto que a diplomacia pode ser sempre a primeira e última solução a ser considerada.

Novamente, silêncio. Os dois beberam mais um gole de chá.

— Mas...? – disse Qui-Gon, crente de que a jovem duquesa tinha algo a mais a falar.

— Mas, ao mesmo tempo, eu entendo o que quis me dizer sobre valorizar a vida das pessoas e sobre eu ter responsabilidade sobre elas – continuou Satine. – Às vezes, situações de emergência podem surgir e, para defender quem mais precisa de ajuda, eu posso precisar quebrar com os meus valores. Porque a vida dessas pessoas é a minha responsabilidade... é o meu dever... é por isso que eu estou no trono. E essas pessoas não vão se importar com os meus valores pessoais quando estiverem à beira da morte. E, se eu negar auxílio, então eu fui negligente com o meu dever, mesmo que, para isso, eu precise agir contra o que eu acredito.

Satine praticamente vomitou essas palavras antes de, por fim, ter coragem para encarar Qui-Gon.

Ele olhava para ela. Por detrás de sua barba, havia um sorriso de quem estava satisfeito com aquilo. Mas não completamente.

— Posso te fazer uma pergunta, lady Kryze?

— Claro.

— Se um dragão kryt for devorar um bantha... sem qualquer contexto maior para pensar nas consequências... o que você faria? Isso é, é claro, se tivesse poder para impedir. Salvaria o bantha da morte certa? Ou deixaria que ele fosse devorado?

— Eu o salvaria! – Satine respondeu imediatamente, como se essa fosse a única opção possível.

Qui-Gon riu, deixando a duquesa levemente irritada. Era exatamente a resposta que ele esperava ouvir.

— Mas, se o dragão não comer o bantha, ele não vai morrer de fome?

Encurralada naquele dilema, Satine não sabia o que dizer.

— Por que você prefere que o dragão morra, Satine? – Qui-Gon aproveitou o silêncio da jovem. – Por que não deixar que a natureza siga o seu curso? Deixar o dragão tentar ter a chance de comer o bantha e deixar o bantha ter a chance de tentar fugir, sem interferir?

Novamente, ela se manteve em silêncio, sem uma resposta concreta ou minimamente convivente. Talvez, porque, por sua aparência, o dragão fosse um animal muito mais ameaçador que o bantha. Apenas por isso. Mas essa resposta, claramente, tinha um imenso juízo de valor por trás e Satine sabia que seria a resposta errada, embora não visse outra opção.

— Agora eu vou mudar a minha pergunta – disse o Jedi. – E se o dragão kryt fosse me comer? Ou comer Obi-Wan? Ou comer a sua irmã? Você nos salvaria?

— Claro! – ela respondeu novamente.

— Mas, de novo, o dragão não vai morrer de fome? – perguntou Qui-Gon. – Por que sacrificar a vida dele e não a nossa?

— Porque são vocês! – respondeu Satine. – Porque eu me importo com vocês!

Novamente, ela havia chego no ponto que Qui-Gon queria.

— Exatamente, Satine, exatamente – ele parecia visivelmente satisfeito com o rumo daquela conversa. – Você se importa com a gente. Você sente afeição por nós e, por isso, nesse segundo caso, você mantém a sua resposta de nos salvar, mesmo que isso signifique a morte do dragão. E você fez essa escolha porque se afeiçoou a nós, sabendo que essa escolha trará prejuízos a outros envolvidos. Você faz essa escolha conscientemente... não pelas suas consequências... mas apesar das suas conequências.

Satine entendia a metáfora, mas não conseguir ver para onde o Jedi a estava guiando.

— Nós, Jedi, somos treinados para controlar nossas emoções – Qui-Gon se explicou. – Para que possamos agir em situações como essas e tomar decisões sem interferir no equilíbrio da Força. Você pode não ser uma Jedi, mas é uma governante, e será sempre colocada em situações em que precisará agir de forma parecida. Uma decisão sua sempre irá beneficiar uns e prejudicar outros. Então, como agir quando você precisar tomar uma decisão? Como escolher quem deverá ser prejudicado? Lembre-se que, nesse caso, não há a opção de deixar a natureza seguir seu fluxo. Você é a duquesa de Mandalore e tomar decisões é seu dever.

Satine permaneceu calada. Novamente, não sabia como responder.

— Difícil, não é? – Qui-Gon sorriu para ela. – Talvez esse seja o maior dilema da política. Sempre dois lados estarão em choque, querendo que você escolha entre propostas opostas, cada lado com seus argumentos. E não necessariamente um deles está certo ou errado. São apenas visões diferentes sobre o mesmo fato, mas igualmente válidas. Qual delas é a melhor decisão a ser tomada? É impossível saber, tanto quanto é impossível saber como teria sido se você tivesse tomado a decisão oposta. Mas deixar que as suas emoções falem por você em um momento desses é o primeiro passo para o erro.

Enfim, tudo começava a se esclarecer. Mas algumas peças ainda não se encaixavam...

— Então, você está dizendo que eu deveria ter mesmo deixado o caçador de recompensar atirar no Obi-Wan em Corelia? – ela parecia confusa, sem entender o que estava acontecendo e começando a se sentir enfurecida por ter chego a essa conclusão depois de Qui-Gon ter gritado com ela em Corelia sobre o quanto ela havia sido irresponsável. – Que eu deveria deixar a situação ocorrer de forma natural, sem interferir?

— Pela Força, não – Qui-Gon recuou, mas não estava frustrado por Satine ter chegado àquela conclusão. Muito pelo contário: mais uma vez, esse parecia ter sido o objetivo dele. – Veja bem... Os caçadores de recompensas não iam morrer de forma se não matassem Obi-Wan, não?

Mais calma, Satine riu. A explicação parecia tão óbvia...

— Com você falando dessa forma, parece uma decisão fácil – disse Satine. – Mas, no calor do momento, eu acho que jamais conseguiria construir um raciocínio desses.

— Mas você precisa – disse Qui-Gon, assumindo um tom sério. – Você é uma governante, lady Kryze. E acredite em mim, ser um governante é um trabalho mil vezes mais perigoso que ser um Jedi. Você vai precisar tomar decisões importantes de um momento para o outro e, nas suas mãos, milhões de vidas estarão em jogo. Vidas como as do bantha, que você não conhece pessoalmente, mas que você tem o dever de honrar e proteger. E, assim como você fez em Corelia, seus ideais pessoais e seus sentimentos podem interferir negativamente na sua decisão. Por sorte, eu estava lá para reverter isso, mas quem estará com você se isso acontecer de novo? Se erro quase custou a vida de Obi-Wan. No futuro, seu erro pode custar a vida de milhões de pessoas. E nenhum dos familiares e amigos delas irão se importar com as suas convicções pessoais quando exigirem a sua cabeça. Seu pacifismo é muito bonito e louvável, mas você precisa refletir a partir de qual momento defendê-lo passar a ser mais danoso que abandoná-lo.

O choque estava estampado em cada traço no rosto de Satine. Aquilo tudo com certeza seria motivo para longas reflexões em um futuro próximo. Afinal, ela nunca havia parado para encarar seu cargo daquela forma.

— Afinal, nós, Jedi, somos pacifistas, tentamos todas as vias existentes para resolver um conflito da forma mais harmoniosa possível – continuou o homem. – Mas, infelizmente, nem sempre isso é possível. E é por esse motivo que, às vezes, nós precisamos nos defender – imediatamente, ele segurou seu sabre de luz, exibindo-o para a jovem.

Vendo a ansiedade nos olhos de Satine, Qui-Gon sorriu para ela e, gentilmente, disse:

— Chega por hoje. Você já tem muito o que pensar. Agora vá dormir. Está tarde, você deve estar exausta e eu posso guiar a nave sozinho até Takodana.

Satine, imediatamente, se levantou.

Ela olhou para Qui-Gon por alguns instantes. Havia um sentimento esquisito por aquele homem. Um sentimento que ela nutria por pouquíssimas pessoas. Um sentimento que ela já nutria por ele há algum tempo, mas que, após toda essa explanação, potencializava-se infinitamente: admiração.

— Obrigada, mestre – ela disse, por fim. – Em todos os anos em que estudei política em Sundari, ninguém nunca me deu uma lição tão valiosa como essa.

— Você não precisa agradecer – Qui-Gon sorriu, apertando a mão dela com gentileza. – Boa noite, lady Kryze.

Ainda desnorteada, Satine se dirigiu à saída do cockpit. Quase no corredor, ela parou e se virou para o Jedi uma última vez, chamando-o pelo nome.

Imediatamente, ele se virou, olhando- para ela.

— Sim?

— O que você teria feito? – Satine perguntou. – No meu lugar?

Qui-Gon respondeu quase que imediatamente.

— Jovem e inexperiente como você, talvez eu teria exitado. Hoje, eu teria atirado sem pensar duas vezes.

— Mas não é só porque matando os caçadores de recompensa você não estaria interferindo no equilíbrio, não é? – Satine quase conseguia prever a resposta. – Tem mais coisa.

Qui-Gon sorriu, desviando o olhar.

Touché.

— Meu primeiro motivo para atirar seria por ser Obi-Wan quem estava em risco de morte – o Jedi respondeu. – E que se dane o equilíbrio. Obi-Wan é um filho pra mim e eu mataria mil caçadores de recompensa para salvar a vida dele, se fosse necessário.

— Mas isso não vai contra toda essa racionalidade dos Jedi que você acabou de me ensinar? – ela perguntou. – Nutrir sentimentos pelos outros e deixar que eles tomem suas decisões por você?

Após um rápido instante de silêncio, Qui-Gon respondeu:

— Vai. Mas quem disse que eu sou um Jedi perfeito?

***

Ao entrar na única cabine da nave, Satine viu Obi-Wan deitado em uma das duas únicas camas, encarando a parede. Naquele momento, ele tinha um sono tranquilo, felizmente. Após o envenenamento, ele alternava períodos de um sono mais leves e outros mais agitados, assim como períodos de perfeita lucidez e de pura confusão quando estava acordado. Mestre Qui-Gon dizia que era temporário, que ele estaria completamente recuperado assim que pousassem em Takodana. Mas, naquele momento, Satine se sentia mais feliz e mais calma por vê-lo bem.

Diante e tudo o que Qui-Gon havia lhe dito, Satine se sentia mais culpada ainda pelo que havia acontecido a ele. Ela deixou que sua soberba e sua arrogância quanto aos seus próprios ideias falassem mais alto e, assim, pusera a vida do Padawan em risco por uma decisão irrepsonsável. Ele, a quem ela realmente nutria milhões de formas de afeto.

Sutilmente, ela se abaixou ao lado dele e beijou sua bochecha.

— Me desculpe, Obi-Wan – ela sussurrou.

Imediatamente, ela se deitou com ele, abraçando-o pelas costas com um braço e acariciando seus cabelos com a outra mão. Um momento que ela queria que durasse para sempre. Sem Jedi, sem Mandalore, sem caçadores de recompensas. Apenas ela e ele, perdidos naquela cabine no meio do espaço, com mestre Qui-Gon obviamente sabendo o que se passava lá dentro, mas respeitando aquele momento sem interferir, deixando a Força seguir o seu curso.

Como governante, Satine teria que tomar decisões importantes. Decisões que mudariam vidas e destinos. Decisões as quais era seria a maior (quando não, a única) responsável. Decisões que poderiam mudar a história de pessoas que ela amava e de pessoas que ela não conhecia. Decisões que poderiam mudar para sempre a sua terra natal.

Mas, naquela noite, ela escolhia Obi-Wan.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam, meus amores!

E mandem prompts se quiserem ♥

Beijinhos e até o próximo!



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