Tales of Star Wars escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 41
Despedida (Anakin x Ahsoka)


Notas iniciais do capítulo

Sem muita enrolação, vamos ao conto!

Espero que gostem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792316/chapter/41

"I was beggining to believe I knew who you were behind that mask, but that's impossible! My master could never be as vile as you!"

(Ahsoka Tano, Star Wars Rebels - Twilight of the Apprentice)

 

Vestida com sua túnica branca, ela mais parecia um fantasma enquanto caminhava lentamente, mantendo o olhar fixo no horizonte. Iluminada pela luz de outras das várias luas de Endor e pela luz das estrelas, a sua presença era denunciada apenas pelo som das folhas secas, que se partiam conforme ela pisava ao solo. E, claro, pela sua companhia: uma jovem mandaloriana com a armadura de beskar mais colorida de toda a galáxia.

As duas mulheres enfrentaram uma grande dificuldade para pousar na lua florestal, precisando atravessar um cinturão de destroços da segunda Estrela da Morte que ainda orbitavam o astro antes de chegarem à superfície. Uma vez que pousaram, seu caminho se tornou muito mais tranquilo: mesmo após dias, o ewoks pareciam ainda estar em festa, despreocupados demais para se importarem com a presença de duas forasteiras recém-chegadas.

Por fora, Ahsoka Tano parecia calma, mas, por dentro, seu coração estava disparado. Não fazia idéia do que iria encontrar: paz ou terror, ambas as possibilidades a assustavam. Mas ela sabia que, seja lá o que fosse, aquilo seria um ponto final. Um ponto final para a maior história de sua vida e para o seu relacionamento com aquele que considerava o mais próximo de um irmão que jamais tivera. E ela precisava daquilo. Mais do que ninguém, ela precisava concluir aquele ciclo. Encerrá-lo de uma vez por todas para que pudesse se concentrar em sua nova missão.

— Me desculpe perguntar – disse Sabine Wren, carregando seu capacete entre os braços, logo atrás. – Mas como isso vai nos ajudar a encontrar o Ezra?

— Não vai – Ahsoka respondeu imediatamente, tão serena quanto seu caminhar. – Não diretamente, pelo menos. Mas eu quero terminar isso pra poder seguir em frente. De uma vez por todas.

E Sabine entendia mais do que ninguém o que Ahsoka estava enfrentando. Assim como ela, Sabine também precisara abandonar seus amigos momentaneamente por questões pessoais, pois sabia que seus próprios conflitos poderiam por em risco suas ações. Mais do que ninguém, a jovem mandaloriana sabia a importância de organizar o próprio lar. E, mesmo em um sentido figurado, Ahsoka precisava organizar o seu lar, dando adeus àquela que fora a pessoa mais importante de sua vida em uma época tão importante para ela.

— A partir daqui, eu gostaria de seguir sozinha – disse Ahsoka, parando por alguns segundos e voltando o rosto para trás. – Se você não se importar.

Sabine parou imediatamente.

— Não me importo – respondeu a mandaloriana. – Estaria aqui esperando.

Um sorriso amargo e melancólico se formou no rosto de Ahsoka. Após murmurar um “Obrigado”, a togruta retomou o seu caminho, passando por entre as árvores na direção que a Força lhe indicava. Nunca havia sequer pisado na lua florestal de Endor, mas, por algum motivo, ela sabia exatamente para qual ponto da floresta devia se dirigir para encontrar o que procurava.

E ela não estava errada.

Após alguns minutos caminhando, Ahsoka chegou à orla da floresta. Alguns metros à frente, o solo da floresta terminava em uma grande escarpa, a qual, sob a luz das luas e das estrelas, permitia a visualização de um amplo vale. Uma vista bela e serena, digna de ser o local de descanso eterno dele. Entre a orla da floresta e a escarpa, a torguta localizou os restos de uma pira funerária, construída há exatos cinco dias e queimadas logo em seguida.

E apenas nesse momento, enquanto caminhava em direção aos restos de madeira queimada, foi que ela se permitiu retirar o capuz que cobria sua cabeça. Cada vez mais perto, Ahsoka viu que havia um amontado de pedras, organizadas na forma de um pequeno círculo fendido no meio que, na medida do possível, muito se assemelhava ao antigo símbolo da extinta Ordem Jedi. Uma espécie de totem, marcando o local para sempre.

Ao ver aquilo, um misto de sentimentos conflituosos surgiu no peito de Ahsoka. Inicialmente, ficou satisfeita em ver que o local não fora marcado com o capacete da figura que o Jedi havia se tornado, o que seria uma representação infeliz do homem que ela conhecera. Mas, por outro lado, não conseguia deixar de pensar que aquela homenagem não podia ser uma forma que tentar apagar os erros que ele cometera como Darth Vader. De qualquer forma, era como se o vento lhe soprasse a missão de manter aquele lugar para sempre no anonimato e no esquecimento, para que nunca fosse encontrado e, assim, jamais se tornasse um local de peregrinação ou para que nunca fosse vandalizado.

— De todas as pessoas que pudessem descobrir sobre esse lugar, eu imaginava que você seria uma das primeiras – disse uma voz masculina, muito próxima a ela. – Só não esperava que fosse a primeira.

Ahsoka não precisou se virar para saber quem estava com ela naquele local. A voz era clara e, mesmo após mais de vinte anos sem a ouvir, a mulher a reconhecia e sabia exatamente de quem era. Seu coração acelerou e sua respiração falhou quando ela, finalmente, se voltou para encarar sua companhia e pousou os olhos sobre Anakin Skywalker, envolto em uma luz espectral.

E era o mesmo Anakin que ela conhecia. O mesmo Anakin tão jovem e cheio de vida do qual, tantos anos antes, ela se despedira naquele cruzador, quando ele ia resgatar o chanceler, sem saber o tenebroso destino que a galáxia teria nos dias que se seguiriam. Sem imaginar que pessoas tão próximas a ela estariam envolvidas em uma transição drástica entre momentos históricos, pondo fim à milhares de vidas e história. E sem nunca sequer imaginar que um dos maiores responsáveis por tudo isso seria uma das pessoas que ela mais amava no universo.

— Olá, mestre – ela disse, incapaz de evitar que um sorriso discreto surgisse no canto de seus lábios.

Era estranho chamá-lo de mestre, após tantos anos. Principalmente depois do próprio Anakin ter se desviado do caminho que ele mesmo ensinara a Ahsoka. Mas chamá-lo dessa forma, quase que instintivamente, apena revelavam a ela que, apesar de toda a decepção, havia algo de boa que ela ainda sentia por ele: respeito.

Mesmo assim, olhando no fundo dos olhos azuis de Anakin, Ahsoka ainda via resquícios do homem contra o qual duelara em Malachor. No fundo, ela sabia que era apenas coisa de sua cabeça, mas a lembrança do evento lhe causava arrepios. Havia tanto ódio e a Força era tão grande ao redor dele. Ela não tinha a menor chance. Jamais estaria viva se não tivesse sido por... Ezra.

E era por ele que ela estava lá.

— Eu pensei muitas vezes se deveria vir – ela começou.

— E você se arrepende?

— Não – Ahsoka respondeu imediatamente. – Apenas não pensei que te encontraria aqui.

— Se não era para me encontrar, então porque veio?

Ahsoka engoliu em seco.

Será que, inconscientemente, ela ansiava por reencontrá-lo?

— Para me despedir – era o que ela dizia para si mesma, desde que recebera a notícia da morte de Darth Vader.

— Então você veio me encontrar – confirmou Anakin, avançando até ela. – Só não esperava que fosse ser dessa forma.

A torguta permaneceu em silêncio antes de, por fim, ceder ao orgulho.

— Exatamente.

Anakin estava bem próximo a ela. Em seu rosto, um sorriso. O mesmo sorriso que ele dava sempre que uma idéia absurda e improvisada lhe passava pela cabeça. O mesmo sorriso que ela via quando, contrariando absolutamente todas as expectativas, eles sobreviviam a um plano que tinha todas as chances de dar errado. O mesmo sorriso que, mesmo após tantos anos, ela ainda guardava tão vividamente em suas memórias mais íntimas. E, nesse momento, um nó se formou em sua garganta.

— E mais uma vez, eu te pergunto – continuou Anakin. – Agora... sabendo que esse encontro não foi da forma como esperava... você se arrepende?

Mais uma vez, a resposta de Ahsoka foi imediata.

— Não.

E ela não sabia disso até o momento em que proferiu tal palavra.

Nesse momento, o sorriso de Anakin morreu. Em seu rosto, foi substituído por todas as expressões que o remorso era capaz de causar no rosto de alguém.

— Eu entendo se você me odiar pelo resto da vida... – ele começou.

— Não odeio – Ahsoka o interrompeu. – Eu tentei. Tentei muito. Eu apenas sentia pesar por ter perdido o Anakin que eu conheci. Eu tentei te odiar todos os dias desde que soube que realmente era o homem por trás daquela máscara. Mas eu não consegui.

Anakin não precisava dizer nada. Ahsoka o conhecia muito bem para saber que, dessa vez, era na garganta dele que se formava um nó. Um nó que ali estava entalado pelos últimos vinte e cinco anos.

— Eu me culpei – ela continuou. – Me culpei por não estar ao seu lado no momento que você mais precisava e me culpei por não ter conseguido te trazer de volta à luz em Malachor. Erros dos quais eu nunca vou me perdoar.

— Você fez muito mais do que era esperado de você, Ahsoka – Anakin interveio. – Você viu em mim uma luz que ninguém mais acreditava que existia.

— E de que isso adiantou? – ela o questionou. – Eu falhei, não falhei? Você continuou o seu caminho.

— Mas, talvez, o seu sacrifício tenha sido um primeiro passo de uma jornada muito maior – rebateu Anakin. – O que Luke conseguiu, me trazendo de volta, jamais teria sido possível se, anos atrás, você não tivesse acreditado que ainda havia algo de bom em mim.

Ahsoka baixou a cabeça, envergonhada.

Talvez, Anakin tivesse razão. Mas isso não a impedia se sentir frustrada.

— Por que veio se despedir?

— Porque meus anos como lobo solitário acabaram – Ahsoka parecia ter a resposta na ponta da língua. – Eu encontrei uma família. Amigos. E um deles precisa da minha ajuda agora. Mas, se eu vou me entregar totalmente para essas pessoas, minha vida anterior tem que morrer.

— Então, isso é um adeus?

Havia pesar na voz de Anakin. Mas, ao mesmo tempo, orgulho e respeito.

— Sim – anunciou Ahsoka, sentindo o peso doloroso da palavra em seu peito.

— Então, eu desejo que você seja muito feliz com essa sua nova família – disse Anakin. – Você se tornou a pessoa mais poderosa que eu conheço e essas pessoas tem sorte de terem alguém honrada como você ao lado deles.

— Tudo o que eu sei foi você quem me ensinou – ela rebateu.

— Não tudo – disse Anakin. – Uma boa parte, talvez – junto com o riso de Ahsoka, uma lágrima se formou em seu rosto, lembrando-se da falta de modéstia de seu antigo mestre. – Mas você não é o que eu te ensinei. Você é o que você fez com as coisas que aprendeu. E isso é mérito exclusivamente seu.

Por alguns instantes, os dois se contemplaram sobre a luz noturna na lua florestal de Endor. Por alguns instantes, Ahsoka quis que aquele momento demorasse a eternidade. Mas o tempo era curto. Ezra precisava de ajuda.

— No fim, adianta se eu disser que eu lamento muito que tudo tenha acontecido da forma como aconteceu? Que eu me arrependo de absolutamente tudo o que eu fiz.

Era nítido na voz de Anakin que aquela pergunta (e, principalmente, suas possíveis respostas) o atormentava. Por mais que a mulher quisesse trazer conforto àquela pessoa tão querida, dona de seu afeto e de seu desafeto, ela não conseguiria mentir daquela forma para ele. Além de que, se aquele era realmente um adeus, ela não queria que aquela relação terminasse com uma mentira.

— Não – respondeu Ahsoka, firmemente. – Seu arrependimento não vai trazer de volta todos os que morreram. Mas não há como mudar o que aconteceu. Se a Força quis que fosse assim, então teria sido de qualquer jeito. Com ou sem você.

Anakin abaixou a cabeça, envergonhado.

A típica reação de alguém que já sabia a resposta de sua pergunta, mas, em negação, recusava-se a acreditar nisso. Mas ouvi-la vinda da boca de Ahsoka era o fim de qualquer uma de suas dúvidas. A paz que ele queria jamais seria alcançada.

— Adeus, mestre – ela disse, por fim. Havia um tom melancólico em sua voz, apesar do sorriso e das lágrimas em seus olhos.

— Que a Força esteja com você, Ahsoka.

Em um gesto simples e único, Ahsoka se virou. Ela não olhou para trás enquanto caminhava de volta à floresta.

Não era mais Padawan, não era mais fulcrum. Ahsoka não sabia exatamente quem era a partir daquele momento. Mas tinha uma galáxia para viajar, planetas para conhecer e pessoas com as quais viver grandes novos momentos.

Ela podia não saber mais quem era. Mas iria descobrir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A última interação canônica entre a Ahsoka e o Anakin que temos ciência é aquele duelo FENOMENAL dos dois em Malachor, no final da 2a temporada de Rebels. Mas, ao mesmo tempo, é de quebrar o coração e eu me recuso a acreditar que aquilo foi o último contato dos dois, que sempre foram tão amigos e parceiros. É um fim trágico demais pra uma das relações mais lindas que a gente tem no universo de Star Wars e só de pensar nisso me parte o coração.

Exatamente pra suprir isso eu escrevi esse conto. Eu me recuso a acreditar que aquela foi a última interação dos dois, então, eis aqui a minha versão. No fim, ainda é um momento um pouco amargo, mas ao menos é um momento de compreensão e respeito, muito diferente do que a gente vê em Rebels. Eu prefiro me iludir e acreditar que, em algum momento, a Ahsoka pôde reencontrar com o Anakin que ela conheceu e colocar as diferenças de lado.

Enfim, é isso, meus amores. Espero de coração que tenham gostado ♥

Podem pedir prompts, se quiserem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tales of Star Wars" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.