Tales of Star Wars escrita por Gabi Biggargio


Capítulo 32
"A vida inteira que podia ter sido mas não foi" (Obi-Wan x Satine / Obi-Wan x Anakin)


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores!

Pra compensar a demora para o último capítulo, estou retornando menos de 24 horas depois com mais um hahahahaha Mas a inspiração bateu e eu não tinha como não escrever! E esse vem pra terminar de equilibrar as fanfics Anidala e Obitine! (só pra eu desequilibrar em breve de novo, porque já tem uma nova Anidala nos meus planejamentos hahahaha - inclusive, estou com saudade de escrever Anidala).

Estava lendo um dos livros de poesia do Manuel Bandeira que "peguei emprestado" hahaha do meu pai e vi essa frase linda que tá no título, foi a partir dela que veio a inspiração todinha! Espero muito que gostem desse conto. Confesso que me doeu bastante escrever esse.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792316/chapter/32

A cozinha era pequena. Então, logo que a água tocou o pó de café colocado no filtro, todo o ambiente foi completamente tomado por um aroma amadeirado e aconchegante. Um aroma que trazia paz e que lhe lembrava a todo instante que aquele era o único lugar em toda a galáxia que ele queria estar: em casa. Era uma vida completamente diferente da que ele havia levado até então. Bem mais calma e com muito menos aventuras. Mas, após tantos anos a serviço da Ordem, eram as pequenas coisas de seu novo dia-a-dia que faziam com que ele tivesse certeza de que tomara a decisão certa. Pequenas coisas como o aroma do café recém-coado ou os pequenos e suaves passos que ele ouvia se aproximando cada vez mais da cozinha, fazendo ranger o piso de madeira.

            — Papai? – perguntou uma voz infantil.

            Imediatamente, Obi-Wan se virou, olhando diretamente para o arco de madeira que marcava a divisão da sala e da cozinha. Ali, havia uma garotinha de quatro anos de idade, vestida com um pijama lilás cheio de desenhos de wookies. Tinha os cabelos loiros, como os da mãe, mas que caiam sobre seus ombros na forma de pequenos cachos que ele não fazia idéia de onde haviam surgido. Os olhos eram azuis, como os do pai, assim como as quase imperceptíveis sardas. Em suas mãos, uma pelúcia de um blurrg.

            — Bom dia, meu amor – ele se adiantou até a menina, tomando-a em seu colo e a beijando na bochecha. O contato da barba do pai com a sua pele fez a menina rir enquanto coçava o olho, ainda como sono. – Dormiu bem?

            Ela fez que sim antes de apoiar a cabeça no ombro de Obi-Wan.

            — Está com fome?

            Com sono, ela apenas fez que sim com a cabeça, e isso foi o suficiente para que ele soubesse o que fazer: apenas alguns instantes depois, uma caneca com leite foi colocada sobre a chama acesa do fogão.

            — Por que levantou tão cedo, meu anjo? – ele sussurrou ao ouvido da filha. – Teve mais um pesadelo?

            As costas de Obi-Wan ainda o lembravam da noite passada, quando fora acordado no meio da noite pelos gritos da filha e precisou se deitar com ela, em sua pequena cama infantil, para que ela se acalmasse e conseguisse voltar a dormir. No processo, ele também adormecera (muito possivelmente, antes dela) e apenas se dera conta disso quando o sol nasceu e, entrando pelas frestas da janela, o acordou.

            — Não, papai – ela disse, pausadamente e em baixo tom. – Eu ouvi você levantar.

            Caminhando pela sala, Obi-Wan acariciava as costas da filha, avançando em direção a ampla janela ao lado do sofá, de onde podia ver um imenso vale após quilómetros de floresta. Era uma sala pequena, com apenas um sofá, uma poltrona e uma mesa de centro em frente à lareira, muito simples para alguém que havia passado a vida toda no estonteante Templo Jedi de Coruscant e mais simples ainda para sua esposa, que crescera no suntuoso palácio de Sundari. Mas, por algum motivo, era o lugar que ele mais amava na galáxia e onde ele verdadeiramente se sentia em casa.

            — O que você vai fazer hoje, papai?

            — Papai precisa ir até a cidade – ele respondeu. – Vou comprar comida pro jantar com a tia Bo hoje. Quer ir também? – ele aproximou a boca da orelha da filha e, sussurrando, completou. – E, se você não contar pra mamãe, eu posso te comprar um sorvete.

            Mais uma vez, a menina sorriu e fez que sim com a cabeça e Obi-Wan sabia que, apesar da promessa, em poucos instantes, ele a estaria colocando adormecida na cama novamente. Conhecia bem a filha e sabia que ela não estava pronta para estar em pé. Era cedo demais para os padrões dela, o sol havia acabado de nascer em Alderaan. Com certeza, ele não teria companhia em sua viagem até a cidade e os bocejos da menina eram a prova disso.

            Novos passos se tornaram audíveis e, em instantes, os dois tinham uma nova companhia na sala.

            Assim como Obi-Wan, Satine vestia um robe. Seus lisos cabelos loiros ainda estavam um pouco bagunçados após se levantar da cama e uma mecha caia em frente aos seus olhos. Uma mecha que ela arrumou enquanto descia os dois degraus que separavam a sala do corredor dos quartos.

            — Bom dia, querido – ela disse, adiantando-se para Obi-Wan e beijando-o rapidamente nos lábios. “Bom dia, amor”, ele respondeu. – Bom dia, meu anjo! – Satine beijou o topo da cabeça da filha e, então, adiantou-se para a cozinha.

            — Tem café pronto – anunciou Obi-Wan.

            Em instantes, Satine voltava para a sala com duas xícaras, sentando-se ao lado do marido no sofá e apoiado a cabeça no ombro livre dele. Em silêncio, os dois brindaram com suas xícaras de café enquanto ela, mecânica e delicadamente acariciava o joelho do marido.

            — Você vai até a cidade, não é? – Satine perguntou, ao que Obi-Wan respondeu com um “Uhum”. – Pode trazer cogumelos? Qualquer um que tiver. A Bo gosta bastante daquela sua receita. Achei que você podia fazer pra gente.

            — É só ela que gosta?

            Satine sorriu.

            — Eu também – ela confessou.

            A mão livre de Obi-Wan, que não segurava a filha, encontrou a mão de Satine sobre seu joelho e os dedos dos dois se entrelaçaram. Eles permaneceram em silêncio por alguns instantes.

            — Posso só te pedir uma coisa?

            — Claro – Satine respondeu imediatamente.

            — Peça pra sua irmã não vir com a armadura nem armada até os dentes, como da última vez – disse Obi-Wan e Satine, imediatamente, sorriu ao se lembrar da última vez em que a irmã os visitara. – A Milla não precisa ver aquilo tudo pra ficar impressionada, fazer um milhão de perguntas e não dormir de novo.

            Satine riu.

            — Pode deixar, eu vou falar com ela.

            Os dois terminaram o café em silêncio e, por fim, Obi-Wan se levantou.

            — Bem, eu acho que vou desligar o fogão – anunciou. – Ela não vai tomar o leite mesmo. – Em seu ombro, Milla havia encontrado a paz em meio aos seus sonhos. – Vou colocar ela pra dormir.

            Satine se levantou simultaneamente, tomando as duas xícaras de café vazias em uma mão e parando diante do marido. Ela afastou alguns fios de cabelo ruivos dos olhos dele e, após murmurar um “Eu te amo”, beijou-o nos lábios antes de avançar até a cozinha.

***

            “Vê?”, dizia a voz em sua cabeça. “Vê como poderia ter sido?”

            Caído em meio ao altar Templo Sith, nos subterrâneos do Templo Jedi em Coruscant, Obi-Wan ouvia as vozes dos antigos Siths em sua mente. Vozes que vinham de todos os lados e invadiam o seu corpo e congelavam a sua alma. Vozes que o atormentavam e que o enchiam de raiva. Raiva por tudo o que aconteceu. Jamais por tudo que poderia ter acontecido.

            “Vocês podiam ter feito uma escolha”, centenas de vozes sombrias disseram ao mesmo tempo, ecoando pela imensidão do templo. “Você podia ter abandonado a Ordem. Ela podia ter abdicado do trono de Mandalore. Mas vocês optaram por não seguir esse caminho. E olhe onde as suas escolhas te leveram, Obi-Wan Kenobi.”

            — Cale-se – ele disse, quase aos sussurros.

            “Onde ela está agora?”, perguntou a voz. “Onde ela está, Obi-Wan?”

            — Morta... – ele respondeu, sentindo um nó em sua garganta.

            “Morta. E de quem é a culpa?”

            — Minha...

            “Sua!”

            Esmagado pela escuridão, Obi-Wan sentia que aquela meditação havia se transformado em uma tortura. Desde o momento em que Satine fora apunhalada, ele se culpava. Mas era a primeira vez que dizia aquilo em voz alta. Que assumia sua responsabilidade. Acreditou que, ao fazê-lo, exorcizaria um demônio que o consumia por dentro. Mas a realidade era que esse demônio apenas se tornara mais vivo e ativo. Como se tivesse sido tirado da dormência e o estivesse consumindo por completo. Possuindo-o.

            “Como esperar servir, se não conseguir salvá-la?”, disse a voz.

            Havia fúria em seu coração. Não contra as vozes que o atormentavam. Contra si mesmo. Contra cada uma de suas limitações que fizeram com que o assassinato de Satine se tornasse uma realidade.

            “Como esperar cumprir seu papel dessa forma?”, as vozes continuaram e, dessa vez, era como se os espíritos Siths estivessem ao seu lado, sussurrando em seu ouvido. “Como espera salvar os outros se não foi capaz de salvar a mulher que ama?”

            — Chega!

            Ele se levantou em um pulo. A Força trouxe seu sabre de luz até a sua mão e a lâmina de plasma azul descreveu um arco violento no ar, em direção ao local em que ele imaginava que estava a origem das vozes estava. Mas não havia espírito Sith algum ali. Havia uma pessoa, que mantinha as mãos levantadas, como se não se aproximasse de Obi-Wan, mas de um animal raivoso.

            — Mestre? – chamou Anakin.

            A voz de seu antigo Padawan o retirou de seu transe de culpa e fúria. Ao perceber que era ele quem estava à sua frente, Obi-Wan desativou o sabre. De repente, não havia mais vozes. Havia apenas ele e Anakin, imersos na escuridão e na imensidão do templo Sith.

            — Anakin, eu... – ele começou. – Eu... O que faz aqui?

            — Vim atrás de você, é óbvio! – Anakin respondeu. – Você desapareceu. Ninguém do Conselho está conseguindo contactar você, não te encontrei no seu quarto, não te encontrei nos jardins do Templo, Cody não fazia idéia de onde você pudesse estar. Eu fiquei preocupado e... depois do que aconteceu... eu imaginei que... talvez... você pudesse estar aqui.

            Silêncio.

            Por alguns instantes nenhum dos dois rompeu aquele estado de estupor em que se encontravam. Obi-Wan sabia que Anakin sabia por que ele estava ali. Devido aos últimos acontecimentos, só algo muito grave como a morte de Satine poderia levar o mestre Jedi a meditar novamente em um lugar tão sóbrio como aquele. Ele esperava nunca mais voltar para aquele lugar, mas ali estava. E Anakin o conhecia bem demais.

            — Mestre, você está bem? – quis saber Anakin.

            — Não – ele respondeu, quase aos sussurros, guardando o seu sabre no cinto e olhando para o chão, envergonhado. – Mas eu vou ficar. Obrigado, Anakin.

            Da forma como ele falara, curto e seco, estava evidente que estava dispensando a presença do antigo Padawan. Que queria ficar sozinho. Mas Anakin não o abandonaria. Não naquele estado, não daquele jeito. Mesmo que sua presença e sua insistência levassem os dois a uma briga. Só sairia do lado de seu mestre quando tivesse certeza de que ele estivesse minimamente bem. E, no momento, o próprio Obi-Wan assumira que não estava. Além de que, aquele não era um lugar para se estar com a mente tão atribulada como a do Jedi naquele momento.

            — Mestre, eu sinto muito por tudo o que aconteceu – começou Anakin, caminhando a passos lentos em direção a ele, subindo no altar de pedra do templo Sith com cuidado. – Eu imagino o quanto ela significava pra você...

            — Você não sabe...

            Ah, como ele sabia... Por alguns instantes, Anakin conteve o impulso de lhe contar sobre ele e Padmé. Talvez, se o fizesse, Obi-Wan acreditaria o quando ele o entendia naquele instante. Entendia a sua dor, entendia a sua frustração...

            Por fim, Anakin parou diante de seu antigo mestre, pousando a mão suavemente sobre seu ombro.

            — Talvez essa dor nunca vá embora – disse o Jedi. – Mas, quanto mais cedo você assumir a verdade pra você mesmo, mas rápido você vai se acostumar com essa dor.

            — Que verdade, Anakin? – Obi-Wan parecia irritado.

            Anakin o olhou com escárnio.

            — Mestre, não tente me enganar – ele disse. – Todos nós sabemos. Você só precisa dizer.

            Obi-Wan não rebateu dessa vez. Havia uma certa condescendência na voz de seu antigo Padawan. Isso o irritou um pouco. Mas também havia carinho, ternura e preocupação.

            Anakin se aproximou ainda mais de seu mestre, envolvendo-o com o braço ao redor dos ombros.

            — Diga – Anakin quase sussurrava.

            Obi-Wan encheu o peito de ar, as palavras saindo de sua boca quase que automaticamente.

            — Eu amava ela – disse, por fim, quase aos sussurros, incapaz de olhar nos olhos de Anakin.

            — Não – Anakin rebateu, quase imediatamente. – Essa não é a verdade. Diga, mestre. Mestre Yoda e mestre Windu não estão aqui embaixo. Não tem ninguém do conselho. Ninguém pra te julgar ou te punir. Diga, mestre. Diga.

            A raiva que Obi-Wan sentia de si mesmo se dissipou no momento em que abriu a boca:

            — Eu amo ela.

            — Assim está melhor – disse Anakin. – Agora, vamos sair daqui. Esse lugar não é o melhor pra se estar com esses sentimentos tão conturbados que você tem agora, mestre.

            Anakin não precisou mais do que isso: aos poucos e bem lentamente, Obi-Wan acompanhou o movimento de seu antigo Padawan, abandonando o altar de pedra do templo Sith e retornando para a saída, em silêncio e sem resistir. Estava inerte, o olhar baixo em direção ao chão. Incapaz de reagir e com os pensamentos perdidos em algum lugar da galáxia entre a sua dor e Mandalore.

            — Fique perto de mim, mestre – disse Anakin, segurando com força a mão de Obi-Wan.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Para quem não se lembra, eu usei uma informação reciclada do conto 12, sobre o templo sith embaixo do tempo jedi em Coruscant.

Espero muito que gostem!

Quanto aos próximos contos, tenho mais uma Anidala planejada e mais um conto sobre o Darth Plagueis (gostei demais de escrever sobre ele haha). Esses são os próximos (não necessariamente nessa ordem), mas eu tenho projetos de idéias para outros. Se tiverem prompts, todas as idéias serão muito bem vindas!

Beijinhos e até o próximo ♥

PS: Gostaria de indicar a mais nova fanfic do meu queridíssimo amigo e irmão de outra mãe, o Amauri hahahaha Para quem gosta do filme Moulin Rouge, ele postou uma one-shot LINDA essa semana. Dêem uma chance para o trabalho dele, garanto que ele não morde haha
https://fanfiction.com.br/historia/795393/Nuit_Noire/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tales of Star Wars" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.