Like a Vampire 4: Endgame escrita por NicNight


Capítulo 27
Capítulo 27- Primeira de seu nome




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Narração Sarah

 

Eu mal conseguia olhar pra porta trancada do quarto.

 

Minhas pernas estavam tremendo. Eu suava. Era quase como se meu coração  parasse e depois de alguns segundos ele acelerasse de vez.

 

Fazia muito tempo que eu não sentia isso. E olha que eu estava no meio de uma guerra.

 

Ouvi uma batida na porta.

 

Anna entrou, parecendo meio hesitante.

 

—Você tá bem…?- Ela fechou a porta atrás de si- Ou melhor?

 

Cocei os olhos.

 

—Nem eu sei.

 

—Você não…precisa descer se… não quiser.

 

—Não, eu tenho que ir.- Bufei- Se eu não for, ela vai ser um inferno pra vocês. Pelo menos comigo lá, ela só foca em mim.

 

Anna cerrou o cenho.

 

—Se eu fosse mais forte… eu ia bater nela.

 

Eu ri.

 

—Eu sei que ia.- Segurei a mão dela- Mas talvez eu precise ir exatamente pra algum dos meninos não resolver… você sabe.

 

Anna me estendeu o antebraço. Eu o segurei e descemos juntas a primeira série de escadas.

 

No corrimão, minha gêmea estava apoiada.

 

—Ah, finalmente.- Sofie descruzou os braços ao me ver.

 

—O que estava arrumando aqui?- Me aproximei dela.

 

—Eu não vou encarar sua ex maluca sozinha.- Sofie respondeu, como se fosse óbvio.

 

—Você não ia estar sozinha. Tem umas 20 pessoas aqui que…- Fui interrompida por um olhar sério da minha gêmea- Eu entendi. Você quer ficar do meu lado.

 

Mordi a bochecha, claramente ficando ainda mais nervosa.

 

—Ei, todo mundo vai tá do seu lado.- Sofie segurou meu braço- Mas não precisa se forçar se não quiser.

 

—Eu tentei convencer ela disso.- Anna murmurou.- Mas a sua família consegue ser mais teimosa que a minha.

 

—Ah, disso eu tenho certeza.- Sofie riu.

 

Senti uma coisa ruim subir pela minha garganta.

 

—Eu acho que preciso mesmo ir.- Confirmei- Ela só veio aqui por mim.  Pelo menos por desencarne de consciência.

 

Parece que a cada segundo eu tentava arrumar mais alguma desculpa pra justificar a péssima decisão que eu estava prestes a tomar.

 

Descemos até a sala de estar em silêncio.

 

Nos vendo chegando na sala cheia, Brunna correu até nós.

 

—O que tá pegando?- Sofie sussurrou pra Brunna.

 

—Desculpa, a Haruka não deixou eu expulsar ela.- Brunna sussurrou de volta- A Cousie também não, mas ela foi correr pra sala do trono então não sei se conta.

 

—E você fez café pra ela?- Sofie pareceu assustada.

 

—Ai, na verdade o café era pra mim e pro Ruki.- Brunna murmurou- Só que aí ela falou que gostava de café e aí ficou subentendido que eu ia fazer café pra ela. Aí eu entrei em pânico e…

 

—Relaxa.- Eu apertei minhas próprias mãos- Não é como se ela fosse passar a morar aqui depois de uma xícara de café.

 

—Certos foram o Jackson, o Mao, a Yui e a Sol. Eles vazaram pro quarto logo depois dela chegar.- Anna respondeu.

 

—E a Priya e a Daay.- Brunna confirmou- Quer dizer, elas foram mais obrigadas a ir embora do que realmente foram por vontade própria. Cousie pirou falando que essa visita não pode nos fazer esquecer do baile.

 

Respirei fundo e dei o braço de novo pra Anna. Sofie e Brunna reclamaram algo logo atrás da gente, o que me deixou levemente ansiosa.

 

Mas mesmo assim entramos.

 

Nem todos os Sakamaki estavam lá, como pude perceber. Subaru, Shu e Ayato estavam sumidos. Bem diferente de meu namorado, Reijii e Laito.

 

Dos Mukami, apenas Kou não estava lá. Os Tsukanami também não, como fui rápida em perceber.

 

E das Creedley, apenas Haruka e Eliza.

 

—Finalmente a mulher da hora chegou!- Neyo sorriu. Docemente da forma que sempre fez desde pequena- Eu tava na verdade falando agora sobre você com todo mundo!

 

Forcei um sorriso.

 

—Adorável.- Sofie murmurou atrás de mim.

 

—Ah, Sofie, eu mal te vi aí!- Neyo acenou.

 

—Eu… te recebi?- Sofie fez uma careta.

 

—Estávamos relembrando sobre nossa infância.- Neyo avisou- Por que não se sentam?

 

As minhas outras irmãs não pareciam nada entusiasmadas com qualquer fosse o papo.

 

Eu me meti entre Marie e Kanato, sendo quase apertada pelos dois instantaneamente.

 

Sofie se sentou ao lado de Nikki, no braço do sofá.

 

—Então? Qual as novidades?- Neyo parecia alegre- Eu não viajei esse tempo todo aqui pra nada, devem ter boas notícias depois de todos esses anos.

 

—Nada demais.- Victoria estava com uma cara de quem desejava a morte- Só sabe, o normal.

 

A verdade era que os últimos anos haviam sido tudo, menos normais. Se possíveis, os mais bizarros que eu já vivi.

 

—Fala sério, faculdade?- Neyo puxou assunto- Pessoalmente, eu fiquei super feliz porque passei na facul de medicina que eu sempre quis. Sarah, você conseguiu uma vaga pra artes plásticas?

 

Paralisei de novo quando ela me dirigiu a palavra.

 

—Eh…- Demorei pra responder- Sim?

 

—Que ótimo, sempre foi seu sonho, né?- Neyo riu- A gente sempre combinou que ela ia ficar fazendo a arte dela e eu bancando nós duas do hospital, quando a gente namorava.

 

—Hã… arte não necessariamente significa não ganhar dinheiro.- Brunna respondeu.

 

—Mas vocês arrasaram, hein?- Neyo ignorou totalmente a Hudison- Adorei a decoração do lugar. É tão… regencial. Eu só não sabia que planejavam viver com tantas pessoas.

 

—A gente nem teve escolha, mas fazer o que né.- Shu deu de ombros, recebendo um chute de Nikki.

 

—Principalmente com meninos.- Neyo continuou- Eu achei que a Sofie odiasse homens, já que ela nunca teve um namorado, sabe?

 

Ayato ficou claramente desconfortável. Assim como Sofie.

 

—Você acha mesmo?- Laito deu corda.

 

—É. A Sofie vivia só com o Natsume.- Neyo riu- E vocês sabem como é colégio, a fofoca sempre foi que um dos dois jogava pra outro time. Mas o Natsume eu já vi com namorada depois.

 

—Na verdade, esse é meu namorado.- Sofie sorriu de forma cínica.

 

Ela apontou pra Ayato, que até melhorou a postura.

 

—Meu casal!- Eliza assobiou, fazendo Sofie revirar os olhos.

 

Neyo arregalou os olhos, pra logo depois franzir o cenho:

 

—Seu namorado? Quer dizer que até você arrumou um cara bonito?

 

—Como assim "até ela"?- Ayato pareceu ofendido.

 

Sofie pôs a mão no joelho, talvez pra tentar impedir ele de voar em Neyo.

 

—Na verdade, aqui tem a maior parte comprometida.- Lua alongou os dedos.

 

—E você, Sarah?- Ela pagou de simpática, olhando pra mim com os olhos brilhantes.- Comprometida?

 

—Eu…- Me senti fraquejar.

 

—Sim.- Kanato pôs a mão no meu ombro- No caso, comigo.

 

Neyo pareceu levemente confusa.

 

—Ah. Eu não sabia…

 

—Que ela tinha namorado?- Anna sugeriu- Era de se esperar. Estranho seria se você soubesse.

 

Nikki concordou com a cabeça.

 

—Desculpa, Sarah. Desde quando você decidiu voltar pro armário?- Neyo franziu o cenho.

 

Senti a saliva ser engolida com dificuldade na minha garganta.

 

—Como assim voltar pro armário?- Yuma pareceu confuso.

 

—É. Como assim voltar pro armário?- Marie, ao contrário, parecia irritadíssima.

 

—Ah, nada contra.- Neyo sorriu de forma simpática- É só que eu achei que você não namorasse homens. Já que namorou comigo e…

 

—Hã, talvez seja porque ela é bi?- Eliza me defendeu- Só uma sugestão mesmo.

 

—Isso ainda?- Neyo suspirou- Tudo bem, vocês que sabem. É só que você era tão nova quando me contou e… ah, isso é um anel de noivado?

 

Ela pegou a mão de Brunna sem nenhuma formalidade, que fez uma careta antes de retrair sua mão.

 

—É.- Concordou de forma educada.

 

Neyo olhou pra Ruki, que a abraçava de lada.

 

—Vocês formam um belo casal. O casório de vocês vai ser bélissimo, tenho certeza!

 

—A gente não… te convidou?- Ruki pareceu confuso.

 

—Por favor, não me entenda como indelicada.- Neyo se assustou- Pergunte Sarah, ela sabe que eu amo uma boa festa!

 

—Uma pena, porque aqui a gente só tem aqueles bailes beeem bregas.- Haruka sorriu de forma nada sincera.

 

—Uh! Adoro bailes! Vocês são tão á moda antiga!- Neyo comemorou- Vocês terão um logo? Dá pra notar pelas decorações na frente da fortaleza!

 

Haruka se afundou no sofá ao perceber que havia só piorado a situação.

 

—Sarah ficaria linda linda num vestido rosa. Ela sempre fica linda de rosa.- Neyo voltou sua atenção pra mim- E de cabelo longo. Não acha, Ka…

 

—Nato.- Kino sussurrou.

 

—Kanato!- Neyo disse de forma natural.

 

—Sarah fica linda de qualquer jeito.- Kanato me olhou, quase como se pedisse aprovação.

 

—Ah. Isso explica... seu visual novo.- Neyo me olhou de cima a baixo-  Não que esteja feia, Sarah. Mas estou acostumada a te ver de outra forma. Não me entenda mal, mas você parece uma depressiva com esse look. Mas você é livre pra fazer o que tem vontade, sabe?

 

—O que diabos você tá fazendo aqui, Neyo?- Soltei.- Depois de todos esses anos, resolveu voltar?

 

Ficamos em silêncio.

 

—Não sabia que eu não era bem vinda.

 

—Bem, normalmente não teria como você perguntar já que você não teve contato comigo pelos últimos quatro anos.- Cruzei minhas pernas- Como que você ao menos sabia onde eu estava?

 

—Eu vim matar saudades!- Neyo franziu o cenho, mas sorriu- Exatamente por isso. Faz tanto tempo que não temos contato, e eu acho que seria realmente uma pena todos os anos que nós sete nos conhecemos irem pro ralo assim, sabe?

 

—Isso não responde minha pergunta.- Me esgueirei pra frente- Estamos a muitas, muitas horas de distância da nossa cidade. É metade de inverno. Estamos numa fortaleza mega segura. Quem te falou onde estávamos, e como você nos achou.

 

Neyo ficou segundos em silêncio antes de rir:

 

—Ah, Sarinha, relaxa! Você sempre fica tão nervosa quando as coisas saem dos planos! Acho que você e sua irmã tem isso em comum, né? Vocês duas precisam aprender a se jogar! Deixar a vida te levar!

 

Praticamente senti meus dedos se enfiarem nas minhas mãos.

 

—Neyo, por que você não se retira?- Eliza cerrou os olhos.

 

—Eu fiz uma viagem longa!- Neyo retrucou- Até chegar aqui, quero dizer.

 

—Então que tal ir pro último corredor?- Reijii sugeriu- Peça pra qualquer um dos criados te mostrarem um quarto.

 

—É. Um beeeem lá no alto.- Nikki murmurou- Aí você aproveita e se j…

 

—Aproveita pra ir dormir. Isso- Haruka foi rápida em interromper.

 

—Acho que não foi isso que ela quis…- Kino pensou alto.

 

—Acho que quem vai acabar indo pro quarto sou eu.- Engoli em seco- Se me dão licença.

 

Acabei saindo correndo quando fora da vista.

 

Bati a porta do meu quarto assim que eu entrei.

 

E ainda bati a do banheiro de brinde.

 

Apertei a pia nas minhas mãos, sentindo minha respiração ficar rasa.

 

Era quase como se eu estivesse entupida. Nem conseguia chorar, muito menos respirar.

 

Arfei. Abri minha boca, tentando ver se o oxigênio conseguia finalmente entrar no meu corpo.

 

Não tive sucesso. Bati a minha mão na mesa de frustração e me arrependi em segundos quando realmente senti a dor.

 

Merda de burrice.

 

Abri a gaveta do espelho, procurando com meus olhos embaçados o rótulo específico.

 

Quando achei meu potinho branco, o abri e coloquei duas pílulas da mesma cor na mão.

 

Nada suficiente, peguei a caixinha vermelha. E depois a azul.

 

Esperei quase até que minhas pequenas mãos mal se fechassem de tão cheias antes de mandar tudo goela abaixo. Peguei uma garrafa de água que eu sempe mantinha na mesa e comecei a beber, tentando engolir tudo de uma vez

 

Eu mal ouvi uma voz me chamando antes de sentir uma pressão vindo de trás da minha barriga. Um aperto com força.

 

Eu cuspi rapidamente os remédios que mal havia engolido. Meio engasgada, me debrucei na pia, tossindo.

 

Uma outra arfada por falta de ar passou por mim, me fazendo soltar um barulho estranho.

 

Uma mão estendeu um copo de água pra mim.

 

—Eu achei que você ia precisar.- Kanato estava de rosto baixo.

 

Eu olhei pra minha garrafa de água caída no chão antes de pegar o copo, tremendo, e bebericar um pouco.

 

—Você quer ir pro quarto?- Ele me questionou.

 

—N…Não…- Pisquei algumas vezes- Eu ainda tenho que… limpar essa bagunça… E arrumar o meu vestido pro baile... e…

 

—Acho que você não me entendeu.- Kanato me encarou- Você quer ir pro quarto comigo?

 

Pisquei mais vezes, dessa vez na direção dele. 

 

Kanato me puxou com delicadeza na direção da porta.

 

Eu não estava lá com toda a força que existia em mim, então nem resisti tanto.

 

Quando vi, eu estava sentada na cama.

 

Kanato ficou do meu lado. Abriu minhas mãos e passou os dedos carinhosamente pelas feridas nas palmas.

 

—Quando você me falou que tinha uma ex, eu imaginava que ela seria bem mais…

 

—Agrádavel?- Questionei- Bem, existe um motivo por ela ser ex e não atual.

 

—Eu de verdade achei que ia me morder de ciúmes só de imaginar vocês duas…- Kanato me encarou com seus grandes olhos- Sarah-chan...

 

Não consegui o olhar. Minha garganta se fechou.

 

—O que a Neyo fez com você?

 

Mordi a minha bochecha,tentando esconder ou ignorar o fato que meus olhos estavam se enchendo de lágrimas.

 

—Kanato.- A minha boca finalmente se abriu- Eu não sei mais o que eu tô fazendo.

 

Kanato parou de fazer carinho na minha mão por alguns segundos, meio assustado.

 

—Bem, normal. Eu li num livro de psquiatria que a maior parte das pessoas enfrentam crises de identidade na sua idade e…

 

—Não…Espera, que?- Fiquei confusa- Como você leu… Enfim. Isso não vem ao caso. Não é sobre isso.

 

—Então é sobre o que?- Ele apertou minha mão.

 

—Kanato, você sabe o que é passar sua vida toda fingindo ser alguém que não é?- Finalmente consegui o olhar- Eu nunca soube criar personalidade própria. E quando eu tento lidar com todos os sentimentos que eu reprimi por anos…

 

Eu não tinha palavras pra continuar.

 

—Você… solta tudo de uma vez?- Kanato sugeriu.

 

—É. Tipo isso.- Respirei fundo- Eu sei que não sou uma boa pessoa. Eu tenho total consciência que tudo que  eu recebi até hoje foi puro karma de todas minhas ações. Caralho, talvez até a Neyo voltando seja karma.

 

Kanato não falou nada.

 

—Eu sei que de todos aqui, eu sou a última que mereceria uma segunda chance.- Senti meus olhos começarem a arderem- Então por que dói tanto agora? Sabe, tendo a confirmação de que eu sempre vou ser assombrada por tudo que eu fiz?

 

—Se isso é sobre seu surto do ano passado, a gente já falou sobre isso.- Kanato começou a fazer carinho no meu cabelo- A gente não combinou de nós dois nos mudarmos pra longe daqui e conseguirmos fazer terapia quando tudo acabar?

 

—Hoje eu nem sei mais se existe salvação pra mim.

 

—Ei, não fala assim.- Kanato me obrigou a me virar pra ele- Se existe salvação pra alguém como eu, não vai ser pra você que o mundo vai virar as costas. A Neyo é cruel.

 

—E eu sou tão ruim quanto ela!- Admiti- E não importa quantas desculpas eu tente arrumar: que ela tentou me transformar na boneca dos sonhos dela, que ela me isolou da minha própria família e dos meus amigos… Isso não muda o quão tenebrosa eu sou.

 

—Ok, primeiro que eu não sabia de nada disso. Sarah, você não é tão obscura que nem acha. Você cometeu seus erros, claro. Mas quer mudar, e está mudando. Está lutando contra a sua escuridão interna. E isso é a melhor coisa que eu podia pedir. Você é meu exemplo.

 

Acabei rindo:

 

—Você tem mesmo um péssimo gosto.

 

—Sarah, se você conseguiu me abraçar mesmo com… todas as coisas que eu fiz. Todos os meus erros e crimes. Por que eu não te amaria mesmo você sendo só um ser quebrado?

 

—Kanato, você não tá me ouvindo.- Levei os olhos aos céus- Eu quase matei a minha irmã gêmea. Sendo por querer ou não, eu assinei meu contrato de ódio eterno naquele momento.

 

—Você… o que?

 

Respirei fundo.

 

—Lembra do dia que a Sofie foi trancada num banheiro, aí rolou o incêndio e ela desmaiou e tudo aquilo?- Eu estava meio sem paciência- Obra minha e da Neyo. Duas meninas de 12 anos que acharam que ia ser divertido trancar o banheiro no meio da aula.

 

—Você não sabia. Era uma criança.

 

—Kanato, eu realmente gosto de você, mas não precisa ignorar meus erros. Talvez eu não possa me flagelar pelo que eu cometi naquela época. Mas eu posso me flagelar pelo jeito que desrespeitei todo mundo ano passado. Ou pelo jeito que eu não contei pra Sofie por todos esses anos.

 

—O que a Neyo disse quando ficaram sabendo da Sofie?- Kanato me interrompeu.

 

—Ela disse que esse tipo de coisa acontecia.

 

—E vocês continuaram amigas?

 

—É claro. Pouco tempo depois a minha mãe morreu e… a Sofie meio que se afundou nos estudos e eu não tinha muito pra onde ir. Mas a Neyo me ajudou de verdade a passar por aquela época, sabe?

 

—Isso foi antes de vocês namorarem?

 

—Sim, namoramos uns 3 anos dep… Espera aí, que interrogatório é esse?

 

—Vocês namoraram dos 15 aos 16 anos?!- Kanato se exaltou.

 

—É, basicamente.- Me afundei na cama- Eu acho que eu já não conhecia quem eu realmente era áquele ponto. Eu já estava de cabelo gigante, falando fino e usando roupa cor de rosa.

 

—Isso explica o susto que ela levou com você hoje.

 

—E aí depois de um ano de namoro eu percebi, sabe? Eu olhei ao meu redor e pensei um dia "Cara, como assim a Neyo é minha única amiga? Cadê todo mundo que tava aqui?". Eu levei um susto.

 

—Ela te isolou do mundo mesmo, né?

 

—Acho que ela não queria nenhuma voz da razão pra me fazer notar o quão… estranha eu estava. Quando eu questionava isso, ela ria e falava sobre como eu era bobinha de acreditar naquelas matérias da Capricho sobre…

 

—…Relacionamento abusivo?- Kanato sugeriu.

 

—É. Isso. Acho que era isso que eu sofria.- Engoli em seco- Eu fiquei tão feliz quando eu me reconectei com a Sofie, Kanato. É como se minha alma finalmente voltasse aos trilhos. Como se a gente fosse partes diferentes da mesma alma, sabe?

 

Kanato meio que concordou:

 

—É… eu já senti isso com os meninos. Não nesse nível, acho. Eu meio que ainda odeio eles. Mas odeio sem ódio. Não faz sentido.

 

—Eu senti vontade de morrer quando eu finalmente saquei o que eu fiz ano passado. Sabe, com ela.- Limpei as bochechas- Acho que eu cheguei a… quase querer botar essa vontade em prática.

 

—Sarah!- Kanato se assustou.

 

—Eu tô falando a verdade. E depois, toda aquela história com o Robert… Tudo que eu consegui pensar era sobre como eu queria estar lá. Pra proteger ela. E sobre como eu não estava. Por decisão minha.

 

—Sarah, você não pode colocar o peso do mundo em cima de você.

 

—Se o universo estava procurando alguma forma de falar sobre o quão… ferrada eu estou. E sobre como eu mal mereço estar nessa fortaleza, foi esse o sinal.- Passei a mão no nariz- Trazer de volta a única pessoa que realmente me faz voltar por instinto mecânico á submissão.

 

Kanato não respondeu nada.

 

—Eu mal consigo falar perto dela. É reação do meu corpo ver ela me esculachando como quiser e morder a língua e abaixar a cabeça. Eu não sei o que sentir. Culpa? Medo? Ódio? Porque eu de verdade não sei diferenciar a bagunça que tá aqui dentro. E eu não sei se um dia vou conseguir.

 

—Me escuta.- Kanato me puxou- Você é íncrivel. Pode não ser uma pessoa boa, e nem disso te cobrarei. Porque daqui ninguém é santo. Eu te admiro por enfrentar essa… garota de merda aí, e por ter coragem de assumir seus erros.

 

—Você acha mesmo?

 

—Tenho certeza. Se tem alguém dessa fortaleza que pode evoluir, é você.

 

Eu me encolhi no colo de Kanato, sentindo seus braços abraçarem meu colo.

 

—Como que eu vou sobreviver a esse baile com essa merdinha?- Suspirei.

 

—Ei, se ela tentar fazer algo contra você, acredita em mim, ela vai ter que enfrentar a raiva de umas dez pessoas.

 

—Mas eu não mereç…- Comecei.

 

—Você vai ser protegida. Que nem você protegeria a Anna. Ou a Eliza, ou sei lá, a Lua. Você vale a pena.

 

Me acomodei nas roupas dele. Kanato se esticou um pouco e me deu Teddy II pra segurar. 

 

—Pelúcias de vez em quando entendem a gente melhor que seres vivos.- Kanato sorriu de forma sincera.

 

Eu olhei pra ele, sentindo meu coração se acalmar enquanto eu apertava o urso contra mim e sorri.

 

—Mas você ainda precisa contar pra Sofie tudo que me contou antes que ela decida abrir a boca.

 

Bufei.

 

—É. Eu sei. Eu vou contar.

 

—Promete?

 

Estendi meu dedo mindinho pra ele:

 

—Prometo. Dessa temporada não passa.

 

Kanato fez uma expressão confusa, e eu revirei meus olhos.

 

Ele me abraçou mais forte, esperando com que minhas lágrimas parassem de cair e eu dormisse de exaustão.

 

—_________________________________________________________

 

Narração Lilith

 

Arrumei o capuz em meu cabelo, ainda agachada.

 

Olhei de canto, pronta pra atacar.

 

Assim que um dos guardas se aproximou, eu espreguicei minhas mãos antes de pular em cima do homem, minhas mãos pressionando contra seu pescoço.

 

Assim que o senti parar de se mexer, eu o arrastei devagar pra trás da árvore e roubei sua espada do cinto.

 

Corri de volta pra trás do pequeno muro, antes de pulá-lo.

 

Eu não conhecia bem o local, então seria arriscado demais usar magia.

 

Me escondi atrás de outro arbusto, analisando todos os guardas do acampamento passarem, antes de andar devagar até a área mais isolada.

 

Achei bizarro como ela estava totalmente sem vigilância.

 

Procurei ansiosamente pelas jaulas que estavam entre as cabanas.

 

Quando o vi, senti meu coração sair pela garganta.

 

—Igor!- Falei de forma aguda, mas ainda baixa pra que não me chamassem a atenção.

 

Ele abriu seus olhos castanhos, apertando o pequeno pacote em seus braços.

 

Estava extremamente magro e machucado, quase senti que não o conhecia mais depois de tanto tempo separados.

 

—Lilith?- Sua voz estava mais rouca- Como…

 

Fiz um sinal de silêncio quando ouvi barulho de passos, e fui rápida em pegar um grampo do meu cabelo e abrir o cadeado.

 

—Temos que ir!- Sussurrei pra ele, que saiu meio cambaleando da jaula.- Você tomou sua poção?

 

—Tenho tomado, eles me dão porque é difícil lidar com um lobisomem.- Igor segurou meu rosto entre as mãos- Eu senti…

 

—Também senti saudades, mas podemos ir rápido?- Pedi- Jajá vão chegar!

 

Igor concordou, antes de apertar nosso filho em seus braços. 

 

Corremos de volta até o muro. Ele me passou o bebê, ainda dormindo. Escalou o pequeno muro, e depois eu passei Oliver coberto antes de subir.

 

—INTRUSOS! FUGITIVOS!- Ouvi uma voz berrando.- A PRIMEIRA SAKAMAKI INVADIU!

 

Igor me puxou pra eu descer, e foi só correndo que pude segurar sua mão.

 

Oliver acordou com um pequeno choro, mas não havia tempo de parar.

 

Corremos juntos. E foi só aí que notei a bandeira que tremeluzia acima de nós.

 

Com o símbolo da rebelião.




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