All Star Philosophy escrita por Millis


Capítulo 2
Lemon Yellow


Notas iniciais do capítulo

hellow gatinhos e gatinhas:)
Queria deixar aqui o meu muito obrigado a Nanda Jackson por favoritar a fic, e também a Leitora98 por favoritar e pelo comentário carinhoso que ela me mandou, dedico esse capitulo a vocês, hahaha, e também a minha gabizinha maravilhosa que esta me ajudando a escrever a fic.
A musica do capitulo de hoje é snap out of it do Arctic monkeys, mas como ele é meio grandinho, ja vou indicar duas hahahahha, a outra é why can't we be friends do the academic, escrevi ouvindo elas e recomendo hein ahahahah
boa leitura gatinhos e gatinhas.



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                                                                                                       All night I watch it burn
                                                     And you say                                    why can't we be friends…

Desliguei o despertador com muito ódio, já havia colocado em modo soneca umas 5 vezes (ok, talvez mais), não tinha conseguido dormir direito porque passei quase a noite toda pensando em Percy Jackson e em tudo que havia acontecido no outro dia, olhei no relógio: 6:56

Droga

Levantei-me arrastada, meu corpo tava todo ferrado de cansaço, dormi de mal jeito e tinham marcas pelos meus braços e pescoço, fui até o banheiro e joguei água fria no rosto na tentativa de reiniciar minha alma (não deu muito certo mas pelo menos eu me senti mais acordada), tirei o pijama e entrei no banheiro para tomar um banho rápido e aproveitei para escovar os dentes no chuveiro mesmo.

Vesti o primeiro jeans preto que encontrei no armário e calcei meu all star imundo e surrado (meu maravilhoso all star imundo e surrado) e claro, minha jaqueta. Escovei o cabelo e desci para tomar meu café da manhã, mas, visto que eu estava muito atrasada (como sempre) e era o primeiro dia de aula, eu peguei uma maçã, minha mochila e sai a caminho do colégio.

(...)

Estava fechando meu armário após pegar os livros pra primeira aula que seria de história ( uma das minhas matérias favoritas), o corredor estava lotado de adolescentes sonolentos e irritados jogando truco, comendo suas batatas chips e conversando sobre as férias, Thalia estava escutando musica no volume máximo enquanto me esperava para podermos subir as escadas juntas, ela não perguntou nada sobre a noite passada e nem explicou porque havia ido embora sem mim, o que eu achei estranho já que normalmente contamos tudo uma pra outra, porém eu também não disse nada visto que eu não estava com pique para explicar tudo isso pra Thalia (que obviamente teria um surto). Meu armário ficava ao lado do de Rachel Elizabeth Dare, uma garota de cabelos ruivos que não gostava nada de mim, e eu realmente não entendia o motivo disso, só sabia que todas as vezes que nos encontrávamos em frente aos nossos armários ela dava um sorriso super forçado e em seguida virava o rosto e revirava os olhos achando que eu não veria (fala serio, meus óculos tem mais de 2 graus), era caidinha por Percy e disso todo mundo sabia, mas eu realmente não via motivo para todo aquele ódio no coração que ela sentia por mim, ao lado do armário dela ficava o armário de Percy.

Ele chegou arrastando os pés sobre os corredores, tinha olheiras por todo o canto dos olhos, o que significava que ele não tinha dormido direito essa noite, assim como eu

Interessante

Uma das mãos se agarrava a alça da mochila que estava pendurada em seus ombros e a outra puxava os cabelos para cima, bagunçando-os ainda mais, ele usava uma camiseta branca (que não era do uniforme, como esperado) e calça preta rasgada nos joelhos, além de jaqueta de couro e os all stars tão sujos quanto os meus,  um dos fones no ouvido e o outro pendia solto.

Ele parecia...Irritado.

Abriu a porta do seu armário com brutalidade e começou a retirar os livros do mesmo com ainda mais raiva, dei alguns passos até ele com um pouco de receio e parei na sua frente.

—Oi—Falei baixinho para que ninguém escutasse enquanto colocava as mãos nos bolsos da jaqueta tentando parecer mais a vontade do que estava—Você esta bem?

Seu perfume estava forte, mais do que na noite anterior, Percy virou seu rosto na minha direção com a expressão mais irritada que eu ja vi na minha vida e arqueou uma das perfeitas sobrancelhas.

—Oi—Seu tom era rude, quase ofensivo.

Ele bateu a porta do armário com força e saiu andando me deixando plantada com cara de banana.

Que...Garoto...Idiota!

O sinal bateu e eu tive que engolir o grande nó que havia se formado em minha garganta antes que ele me engolisse. Subi as escadas desejando que nós não tivéssemos aulas juntos naquele dia, na verdade, desejando que não tivéssemos aulas juntos nunca mais, entrei na sala de aula com a cabeça abaixada para que ninguém notasse a minha cara de eu-quero-começar-um-tiroteio e me dirigi a ultima fileira de cadeiras sem olhar para absolutamente ninguém, me sentei jogando os livros sobre a mesa e nem me dei ao trabalho de tirar meu estojo da mochila, estava cansada daquele dia, cansada daquele garoto e de toda essa merda.

A aula começou e como todo primeiro dia, nós não tivemos aula, o professor (que era novo) apenas se apresentou para a turma e pediu que nós disséssemos nossos nomes e idade para ele, eu normalmente gostaria disso, mas naquele dia não, tive que falar meu nome e idade e ele ainda me pediu para repetir porque, segundo ele, eu tinha falado tão baixo que nem a colega do meu lado escutou. Voltei a deitar a cabeça sobre os braços apoiada na carteira quando todo aquele pesadelo terminou  e a outra fileira começou a se apresentar, estava já na ultima fileira de alunos quando eu ouvi a voz dele

Merda!

Ele estava ali, estava na mesma sala que eu e provavelmente tinha visto a vergonha que eu acabara de passar em frente toda a turma (não que eu estivesse ligando muito pra isso, porém eu ligava pra ele, mais do que deveria), “Percy Jackson” ouvi ele dizer  “tenho 18 anos” ele completou, senti meu rosto ferver, e dessa vez era de ódio, ele estava ali, todo normal, como se o que tivesse acontecido na noite passada não fosse absolutamente nada? Eu não conseguia acreditar.

As duas aulas seguintes se passaram do mesmo jeito que a primeira, apenas apresentações (e pela graça dos deuses Percy Jackson e eu não tivemos mais nenhuma delas juntos), a hora do intervalo chegou e eu sai arrastada até o corredor com os fones estourando meus tímpanos  enquanto tentava não chamar nenhuma atenção (o que não era muito difícil), vi Thalia e tentei ao máximo me desviar para alguma porta, pórem era tarde demais e ela já estava vindo em minha direção.

Thalia me olhou brava, mas relaxou depois de ver a situação digna de pena ao qual eu me encontrava.

—Ta tudo bem?—Ela tirou os fones do meu ouvido—Aconteceu alguma coisa?

Apesar de ser extremamente grossa, Thalia era uma pessoa muito preocupada com os amigos e uma ótima ouvinte, temi que se começasse a falar eu iria chorar então apenas fiz que sim com a cabeça, ela me olhou com pena e me abraçou de forma gentil.

—Foi o Percy né?—Ela passou uma das mãos pelos meus cabelos acariciando-os  enquanto a outra ainda me envolvia— Eu vi como ele te tratou hoje. Filho da puta!

A língua de Thalia era mais encardida que seus tênis e eu não pude deixar de sorrir sobre o peito dela. Eu amava aquela doida de todo coração.

Descemos para a o pátio do colégio e fomos até a barraquinha de comida, pedimos dois pacotes pequenos de doritos e uma coca grande para dividirmos, sentamos em um dos cantos do colégio para podermos ficar longe de todos aqueles seres armazenadores de testosterona e relaxar um pouco, coloquei um dos meus fones no ouvido de Thalia e o outro no meu, soltei o play de snap out of it e seguimos devorando nossos salgadinhos. Eu tava tão bem, Thalia acabou me contagiando com seu humor pouco raivoso e eu estava realmente me divertindo com a companhia dela nossas musicas e salgadinhos, até meus olhos encontrarem ele, Percy estava sentado em um dos bancos que estavam dispostos pelo pátio, e ele estava conversando com Rachel Dare, pior, ele estava escutando musica deitado no colo de Rachel Dare, estava rindo com ela, exatamente da mesma maneira que estava comigo na noite passada. Um nó, ou melhor dizendo, a corda inteira se embolou em minha garganta, minha respiração fraquejou e eu achei que ia começar a vomitar todo o salgadinho ali mesmo

Deuses do céu, que ódio!

Meu sangue ferveu e eu não conseguia deixar de encarar aquela cena, Thalia também havia percebido por que soltou um “ah não” baixo o suficiente para que eu quase não ouvisse, na verdade, todo o colégio havia percebido, dei graças aos deuses mentalmente por ninguém ter nos visto na noite passada, Percy virou seu rosto na minha direção e nossos olhares se cruzaram por um momento, me forcei a virar a cabeça após ver ele sorrir exibindo todos os dentes perfeitos, e entrelaçar os dedos com os de Rachel exatamente como ele havia feito comigo.

Desgraçado!

Idiota!

(...)

Abri meu armário com tanto ódio que por pouco não arranco a porta, eu queria sumir, soquei os livros la dentro pouco me importando se isso ia amassa-los ou não, peguei o livro da aula de biologia, fechei (leia-se bati) a porta do meu armário e me virei para ir até a sala de aula quando...

Ah não

Sabe aquele momento no filme dos vingadores em que o capitão américa esta atrás de uma das joias e acaba encontrando o capitão américa do passado e você tem certeza que ele pensou  “Hoje eu não saio daqui vivo”? sabe? Pois é meu querido leitor, foi exatamente assim que eu me senti.

Percy estava ali, em seu armário, pegando seus livros, e ele me olhava. Percy me olhava como se tivesse acabado de ganhar um magnífico troféu ou como se eu fosse seu jantar (sem malícia por favor), ele sorriu para mim, andei com pressa tentando não olhar para os olhos verdes que eu tanto achava lindos, ele parou na minha frente bloqueando a passagem.

Droga

—Hey—Percy começou—Me desculpa por hoje de manhã, eu estava irritado e não devia ter descontado em você

Percy passou a mão pelos cabelos e me olhou com um sorrisinho de canto.

Serio? Depois do showzinho no intervalo, ele vem com essa??Pra cima de mim??

Tentei não encara-lo nos olhos para não dificultar a minha vida.

—OK—falei olhando para meus pés, precisava sair de perto daquele traste.

Tentei me desvencilhar de Percy, mas ele segurou meu pulso.

Deuses, eu imploro, me levem!

—Calma—Ele segurou meu queixo com as mãos e seu toque arrepiou cada centímetro do meu corpo—Esse “ok” não me convenceu, ta tudo bem entre a gente mesmo?

Eu estava ficando tonta, seu toque,  seu perfume, toda aquela encenação com Rachel, o pedido de desculpas, era muita coisa pra se processar. Ele segurou minha mão.

—Ta tudo bem Annabeth?—Ele voltou a repetir.

Eu soltei sua mão da minha e sai andando a passos pesados pelo corredor.

Eu odiava Percy Jackson.

A sala de aula estava barulhenta demais, gente conversando, gente discutindo, gente fazendo piadinha sem graça, gente se esfregando...

Adolescente é uma merda!

Eu tava vivendo aquele dia na base do ódio, só pode.  Thalia estava sentada na minha frente e ela não dizia nada, apenas segurava minha mão enquanto fazia carinho no meu cabelo, mais aborrecentes foram entrando na sala a medida que o professor os forçava a faze-lo, e Percy entrou também.

Não, não, não, não

Ele se sentou do meu lado, ótimo, e ao lado dele, Rachel. O universo estava querendo me dar um sinal de que era pra eu cometer suicídio?

Não olhei  em seu rosto, me forcei a manter a cabeça baixada durante toda a aula, como o professor de biologia não era novo no colégio, na verdade, já trabalhava ali a mais tempo do que eu era viva, não tivemos que nos apresentar (deuses obrigado), ele só passou o cronograma do que iriamos estudar aquele ano, durante a aula, podia ouvir as risadinhas de Rachel enquanto conversava com Percy, senti que iria vomitar, mas continuei mantendo a postura, eu não ia chorar por causa de homem, pelo amor dos deuses Annabeth? Século XXI minha filha, te valoriza. A verdade era que não importava quantas vezes eu repetisse meu discurso feminista para mim mesma, eu me importava, me importava muito, e isso só me fazia ficar com ainda mais ódio.

(...)

Ultima. Aula. Vaga

Isso foi o suficiente para me fazer agradecer aos deuses mentalmente durante pelo menos  5 minutos seguidos, o único motivo pelo qual eu havia ficado feliz naquele dia miserável, guardei meu estojo na mochila e os cadernos esperando que o diretor parasse com seu falatório chatíssimo para nos dispensar de uma vez, ouvia murmúrios e gritinhos de felicidade por todos os cantos da sala de aula, inclusive da ruiva que estava ao lado de Percy, tentei ao máximo não prestar atenção no que estavam dizendo, não queria ter um motivo para que o pingo de felicidade que agora eu tinha fosse por água abaixo, mas ela falava alto demais, ela chamou ele pra sair, disse também que gostava do seu cheiro e do estilo dele (tinha que admitir, ela era boa, bem melhor que eu na verdade quando o assunto era garotos), fechei os olhos tentando limpar minha mente desses pensamentos e me concentrei no discurso chato do diretor sobre motivação, ele falou por mais 10 minutos até nos liberar, alunos e mais alunos foram se enfiando pela porta e batendo uns contra os outros, eu e Thalia esperamos até que pelo menos metade da sala já tivesse saído para sairmos também, ela pegou minha mão e me arrastou para fora da sala de aula fervendo de ódio tanto, ou talvez mais, do que eu.

Encontramos Groover nas escadarias e eles me acompanharam até meu armário para guardar os livros, contei a eles tudo que havia acontecido entre eu e Percy para os dois e tive a impressão de que estavam com mais raiva que eu, Thalia amaldiçoava o nome de Percy com tantos palavrões que eu creio que nenhum de vocês leitores conheçam nem metade das palavras, Groover apenas concordava com Thalia e me abraçava de lado tentando me consolar de alguma forma, saímos do colégio juntos e eu pude ver a nossa frente que Rachel e Percy estavam encostados na parede do lado de fora conversando, revirei os olhos, não aguentava mas aquilo, apenas chamei os dois e nós seguimos por uma rua que nem sequer conhecíamos, fomos andando e conversando enquanto eu tentava não pensar muito na desgraça de primeiro dia de aula que eu havia tido, acabamos por nos encontrar em uma rua e seguimos o caminho, a casa de Thalia era 4 quadras antes da minha e a de Groover ficava do outro lado do bairro, então ele se despediu de nós com um abraço e pegou seu rumo, eu e Thalia continuamos a andar conversando pouco animadas, paramos em frente a sua casa e ela me abraçou

—Tchau, loirinha—Ela segurou minha mão—Liga o foda-se pra esse cara, ele não merece que você fique mal por ele.

—Vou tentar—Sorri tentando parecer convincente.

—Acho bom—Ela piscou para mim—Tchau.

Thalia entrou pra dentro de sua casa.

Vou tentar...

Segui meu caminho e me permiti sentir tudo o que eu havia de sentir: raiva, tristeza, insegurança e...

Droga

Ciúmes.

Eu me sentia uma palhaça, deuses ele não tinha um pingo de vergonha? Custava não ter feito tudo aquilo na minha frente? E aquele pedido de desculpas? Ridiculo!

O nó na garganta voltou a aparecer e senti as lagrimas se acumulando nos meus olhos, lagrimas mais de ódio do que de tristeza para ser bem sincera.

Me perdi tanto em meus pensamentos que mal consegui processar os fatos que se seguiram. Eu tava no meio da rua quase tendo um surto quando um caminhão passou com uma velocidade digna de uma multa altíssima, teria sido esmagada feito batata se não fosse pelas mãos que me puxaram pela cintura com brutalidade, me fazendo cair em cima do meu tal “herói”, Percy segurava minha cintura com força, como se o perigo ainda não tivesse passado, seu toque era firme e a minha cabeça doía

—Você esta bem?—Ele perguntou me olhando preocupado.

—O que você ta fazendo aqui?—Eu soei mais rude do que gostaria, mas aquela altura eu já não me importava mais.

—De nada—Percy sorriu—Caso não tenha percebido, eu acabei de te salvar de ser esmagada

—E eu ficarei extremamente agradecida pelo resto de minha vida—sorri sarcástica.

Me levantei saindo de cima de Percy e apertei meus dedos na minha mochila até que os nós deles ficassem brancos, me virei e comecei a andar ignorando o olhar de Percy sobre mim, ele chamou meu nome, ignorei e continuei seguindo meu caminho.

—Hey—Ele colocou uma das mãos sobre meu ombro.

Mas que droga!

—Eu sei que eu vacilei com você hoje na hora da entrada, mas serio, eu não tinha a intenção de te magoar, eu só to...—Ele não terminou a frase.

—Só ta?—levantei uma das sobrancelhas

—Confuso—Ele me olhou e colocou uma das mechas do meu cabelo atrás de minha orelha—Não quero ficar de mal com você.

—Ta tudo bem—Eu falei baixando a cabeça

Deuses, por que eu tinha que ser tão fácil?

—Eu vou pra casa—me virei e ele me segurou

—Annabeth—Ele passou a mão pelos cabelos—Eu sei que não ta tudo bem, sempre que você esta irritada você abaixa a cabeça.

Eu o olhei confusa, eu fazia isso?

Ele riu da minha expressão

—Eu realmente não tinha a intenção de te magoar, mas por favor, não fica brava comigo—Ele levantou minha cabeça segurando meu queixo com o polegar—Da um sorriso!

Olhei para aqueles olhos verdes, os lindos olhos verdes e me forcei a sorrir sem mostrar nenhum dos dentes.

—Tabom—Ele riu—Agora me de um sorriso de verdade!

—Eu acabei de sorrir—soei mais grossa do que gostaria

—Vamos Annabeth—Ele cutucou minha barriga—Me de um sorriso!

Ele cutucava minha barriga sucessivamente e eu não consegui me conter, sorri e virei meu rosto para que ele não pudesse ver

—Esse é o sorriso!—Ele estava rindo—Esse é o sorriso lindo que eu queria ver! Você morreu por sorrir Annabeth?

Revirei os olhos com seu sarcasmo e sorri mais ainda

—Eu preciso ir—Eu me afastei um pouco dele

—Liga pro seu pai!—Ele me olhou divertido.

—Por que?

—Por que você vai almoçar comigo hoje

Eu o olhei incrédula, ele falou aquilo com tanta naturalidade que chegava

a ser assustador.

—Não posso, Percy. Tenho que ajudar meu pai.

—Tem mesmo? Nós ajudamos ele e depois vamos almoçar então.

Droga!

Eu paralisei tentando encontrar outra desculpa mas nada me vinha a cabeça, Percy riu.

—Você não tem que ajudar ele ne?— Ele cruzou os braços—Ta tudo bem você não querer almoçar comigo, Annabeth.

Merda

—Não é isso! É só que...— travei novamente

—E só que...?—Ele levantou uma das sobrancelhas e me encarou nos olhos.

—Eu vou com você—Cedi me dando por derrotada.

Percy riu

—Se você não quiser, ta tudo bem mesmo...

—Eu quero!—Eu o interrompi

Percy sorriu e pegou na minha mão.

—Vem!

Ele começou a andar me levando com ele, as vezes ele me olhava e sorria, ai voltava a olhar para frente, Percy me guiou até minha casa.

—Vou avisar meu pai que vamos almoçar e trocar essa blusa—Eu soltei sua mão da minha

—Tudo bem, eu espero—ele sorriu e passou uma da mão pelos cabelos

—Quer entrar?—perguntei com pouco receio

—Tudo bem, eu espero aqui fora mesmo.

—Tem certeza?—Olhei nos seus olhos—Vem.

Puxei sua mão sorrindo e o arrastei casa adentro.

Entramos pela porta da frente e convidei-o a se sentar na sala ( que estava um pouco bagunçada, na verdade), meu gato, senhor Bigode, que tinha esse nome exatamente pelo tamanho gigantesco de seus bigodes, estava deitado sobre o sofá com a barriga pra cima lambendo suas patas (preguiçoso), ele era um bichano legal, bom, pelo menos quando estava com fome e ele vinha e se esfregava em minhas pernas e ronronava ate que eu lhe desse sua ração, depois disso ele ignorava minha presença completamente e só me olhava com desprezo, como quem dissesse “não preciso de você humana, você só serve para alimentar minha barriga e nada além disso” (ingrato), Percy foi até ele e passou a mão pela suas orelhas acariciando-as.

—É seu gato?—Ele perguntou ainda fazendo carinho no pelo branco do bichano

Senhor bigode era um gato meio gordinho de dois meses que eu havia adotado da vizinha depois de sua gata dar cria, ele tinha algumas manchas cor de caramelo espalhadas sob o pelo branco e olhos amarelos, era uma bola de pelos de 8 quilos.

—É sim—Me aproximei e fiz carinho no bichano também—É um safado que só quer se alimentar as minhas custas

Percy riu e continuou a fazer carinho no felino

Subi as escadas do meu quarto e joguei a mochila sobre a cama, tirei a roupa rapidamente e fui para o banheiro, tomei um banho rápido (ok, nem tão rápido) e escovei os dentes, vesti minha toalha e fui em frente ao guarda roupa analisando cada peça que agora pareciam tão sem-graça, ouvi batidas na porta.

—Posso entrar?—Percy falou baixo

—É...Espera só 5 minutinhos, estou me trocando— Falei já vestindo uma camiseta de manga longa e me enfiando nos jeans azuis, calcei meus tênis e abri a porta para ele devagar.

—Bom...entra!

Percy me olhou e deu um sorrisinho de canto, ele caminhou até a prateleira com CD’s e pegou um dos poucos que eu tinha

—Harry Styles, Annabeth?—Ele arqueou uma das sobrancelhas e me olhou sorrindo

—ah—Meu rosto ferveu—Hm, é

Ri nervosa

—Não sabia que curtia esses caras—Percy brincou com os fones e devolveu o CD a prateleira

Fala sério, quem não gosta de Harry Styles?

Um silêncio perturbador se seguiu, eu mal conseguia olhar para ele, ok, talvez eu esteja exagerando mas eu e Percy Jackson, SOZINHOS em um quarto era receita para que tudo desse muito errado (ou muito certo, mas eu preferia não descobrir), ele se aproximou de mim e passou o polegar pela meu rosto.

—Tem um cilio na sua bochecha— Seus dedos estavam traçando uma linha sobre a região e ele deu um sorrisinho de canto.

Percy não parava de me encarar e o clima já estava ficando pesado, quase constrangedor, eu e Percy Jackson sozinhos no quarto com ele acariciando minha bochecha, era o suficiente para que eu desejasse ficar ali para sempre, eu sabia que não podia sentir aquilo, não quando eu era apenas mais uma garota que ele passava a mão sobre a bochecha.

Sera que ele faria o mesmo com a Rachel amanhã?

Será que ele já havia feito isso com ela?

As lembranças dele deitado no colo dela, sorrindo para ela, conversando, rindo e ouvindo musica com ela voltaram a minha memória quase que imediatamente.

  Eu era tão fútil assim? Era só ele me pedir desculpas e tudo se resolvia? Eu tava tendo uma crise desnecessária de ciúmes?

Eu me odiava por pensar essas coisas, odiava ainda mais sentir o que sentia por Percy Jackson. Dei alguns passos para trás e virei o rosto me sentindo uma boba.

O que eu tava fazendo com a minha vida?

—Hey, ta tudo bem?—Percy tocou meu ombro falando baixo

—Ta sim—Falei forçando animação—Nós vamos almoçar?

Desviei seu olhar do meu e abri a porta do quarto descendo as escadas, ouvia os passos de Percy atrás de mim, meu pai estava provavelmente em seu horário de almoço, mas provavelmente também não viria para casa, liguei para ele e falei que ia comer com um amigo.

(...)

—Chega, eu não aguento mais—Percy mal conseguia falar com a boca empanturrada de batatas fritas.

Eu ri enquanto tirava uma sequência de fotos engraçadas dele fazendo caretas com a boca cheia. Depois que saímos da minha casa, Percy me levou para um pub no centro da cidade, que não ficava muito longe de nossas casas então fomos andando, durante o caminho eu ouvi ele contar sobre como havia perdido seu cãozinho para o câncer e falamos mais sobre musica, Percy ouvia uma série de bandas que eu nem sequer havia ouvido falar, ele prometeu me mostrar uma chamada The Academic, e por algum motivo eu tinha certeza que iria gostar tanto quanto ele, ele me olhava de relance em alguns momentos, fazia gracinhas e piadas, chegamos em um momento que ele ficou tão empolgado que começou a andar de costas enquanto estampava um sorriso bobo nos lábios, contando mais piadinhas e me fazendo rir mais ainda, eu não conhecia esse lado de Percy, a julgar pelo seu estilo e a casca de garoto que não se importava com absolutamente nada além de sua moto e musicas de rock, mas ele podia ser a pessoa mais meiga que qualquer um conheceria, eu me perguntava se eu era uma das poucas pessoas que conheciam esse lado dele, se ele já havia se mostrado assim para mais alguém, descobri que Percy adorava brincar com tinta, desde fazer apenas arte no papel, até pintar as paredes do seu próprio quarto, também descobri que além do excelente gosto musical, Percy tinha também um excelente gosto para séries, combinamos de assistir a terceira temporada de Good Girls juntos quando lançasse, ele também era péssimo com esportes mas adorava andar de skate (apesar de saber poucas manobras), me peguei imaginando um Percy caindo de skate e a imagem da cena me fazia gargalhar.

Mordi meu hambúrguer, o gosto de cheddar invadiu minha boca, eu e percy estávamos sentados um do lado do outro em bancos de couro pretos, a luz do lugar tinha um tom pouco avermelhado e o rosto de Percy brilhava sobre a mesma.

Eu poderia olhar aquele rostinho para sempre

O azulejo xadrez do local me dava a sensação de nostalgia, me lembrava quando meus pais ainda estavam juntos e nós íamos em pubs e lanchonetes todo fim de noite quando chegavam do trabalho, isso até eles se separarem e ela se mudar para São Francisco quando eu tinha doze anos. Observei Percy esvaziar sua garrafa de coca cola enquanto também me observava, ele afastou o canudo da boca e mordeu meu hambúrguer rápido o suficiente para que eu nem sequer tivesse tempo de protestar.

—Ei!—Eu levantei minhas mãos, deixando o MEU hambúrguer longe dele—Morto de fome.

Percy riu e tomou o hambúrguer da minha mão dando mais uma mordida, dei uma cotovelada de leve nele e ele riu com a boca cheia, Percy passou os braços envolta de minha cintura e me puxou para mais perto dele, senti o seu cheiro, o cheiro que apenas ele tinha, uma mistura doce com o perfume forte, ele fixou seu olhar em mim e colocou uma das mechas soltas de meu cabelo atrás da orelha, como sempre fazia quando estávamos muito próximos, ele deitou sua cabeça sobre meu ombro.

—Eu te pago outro hambúrguer—sua voz soava divertida porém calma ao mesmo tempo, falava baixinho.

—Tudo bem, eu comi mais da metade das batatas então acho que estamos quites—meu tom era tão baixo quanto o dele

Percy deu um riso abafado e senti seus dedos traçarem linhas nas minhas costas, ele subia e descia com as mãos fazendo uma massagem quase terapêutica, qualquer pessoa estaria totalmente relaxada naquele momento, mas eu não, meus músculos se tencionaram ao toque de Percy, ele tinha esse efeito sobre mim, senti uma onda de choque percorrer todo meu corpo e eu só queria que ele não tirasse suas mãos de mim nunca mais, Percy percebeu meu desconforto (que na verdade era um desconforto bastante confortável) e riu, ele se afastou de meu ombro para poder olhar nos meus olhos.

—Relaxa Annabeth—Percy deu um sorriso malicioso ao perceber que ele era o motivo de tudo aquilo—Eu não vou te morder

Percy entrelaçou nossos dedos ainda sorrindo.

—Eu sei besta—tentei conter meu sorriso em vão, senti meu rosto enrubecer.

Percy arqueou uma das sobrancelhas e mordeu o lábio pendendo a cabeça para o lado

Maldito!

Ele me encarava enquanto fazia uma expressão pensativa, me sentia tão bem e tão mal ao mesmo tempo, Percy podia facilmente quebrar meu coração, e eu tinha a impressão de que ele sabia disso, porém ele estava ali, rindo comigo, me abraçando, saindo comigo, e fazendo tantas outras coisas, eu não o entendia, não sabia se sentia o mesmo ou se eu era apenas mais uma garota com a qual ele ria, abraçava, saia e fazia tantas outras coisas, apenas uma amiga. Eu tinha uma queda por ele desde o jardim de infância, mas eu estava bem assim, longe dele, longe de me apaixonar por ele, longe de ser magoada por suas atitudes, e agora que estávamos nos aproximando, eu sentia que era uma marionete sobre seu poder, pronta para fazer qualquer coisa que ele me pedisse, e mais vulnerável a cair caso ele resolvesse soltar as cordas, queria mais do que tudo sair de perto dele (não queria não), mas uma parte de mim me fazia confiar nele, confiava que ele não faria isso, uma parte de mim confiava fielmente em Percy Jackson.

Saímos do pub depois de pagar nossos lanches e bebidas, Percy me deu sua mão e entrelaçou nossos dedos novamente, caminhamos por uma praça onde algumas pessoas faziam caminhada e passeavam com seus bichinhos de estimação, algumas árvores e bancos estavam espelhados pela praça, o silêncio não sufocava, na verdade, acolhia. Abrisa de outono gelada fez com que eu me agarrasse mais ao braço de Percy na tentativa de preservar o calor do corpo, sentamos em um banco enquanto ele retirava seus fones do bolso do casaco, ele me olhou e pude ver um sorriso no canto de seus lábios.

—Toma—Ele estendeu um dos fones para mim

Peguei e coloquei-o no ouvido me aproximando dele pouco a vontade com o gesto, ele soltou o play em uma musica calma e segurou minha mão sobre seu colo, acariciando-a.

—Percy?—Chamei pelo seu nome.

—Que foi?—Ele dirigiu seu olhar para mim, sua voz era doce.

—Eu não quero me arrepender desses encontros—Baixei a cabeça ao me expor tão vulnerável e afundei ainda mais as mãos nas mangas de minha blusa fina.

Percy me abraçou e olhou nos meus olhos de forma tão intensa que eu poderia desmaiar.

—Você não vai—Sua voz era reconfortante e soava como um sussurro.

(...)

Encostei as costas na porta sorrindo feito uma boba, Percy me trouxe até em casa depois da praça e eu estava mais feliz do que jamais estive, tão feliz que nem percebi a presença de Thalia em meu quarto durante alguns segundos, ela me olhava exibindo um sorriso malicioso no rosto, Senhor bigode estava no seu colo e um dos fones caia sobre seu ombro com a musica explodindo.

—Que sorriso é esse, Annabeth?—Ela provocou

—Um sorriso de quem esta feliz ué—revirei os olhos ainda com o sorriso no rosto, estava feliz demais para dar atenção as sua provocações.

—E isso por acaso tem alguma coisa a ver com o senhor punk-Jackson?—Thalia sorriu ainda mais.

Atirei uma almofada sobre a cabeça dela e ela gargalhou satisfeita por ter conseguido me irritar.

—Com o Percy eu não sei, mas posso garantir que não tem nada a ver com você—mostrei a língua para ela—Alias, o que você ta fazendo aqui?

—Eu vou dormir aqui hoje—Thalia me olhou entediada

—Mas como você entrou aqui?—Eu sentei na cama ao lado dela

—Seu pai dã—Ela me olhou como se fosse óbvio—Ele disse que ia no mercado comprar algumas coisas para o jantar, também disse que quando chegasse vocês teriam que conversar.

Revirei os olhos

—Parece que tem alguém encrencadaaa—Thalia cantarolou feliz com a minha desgraça

Joguei outra almofada sobre a cabeça dela e ela a pegou no ar mostrando-me seu dedo feio e rindo.

—Mas então—Thalia se ajeitou com o meu bichano no seu colo—  O que você tava fazendo com Percy? Hoje de manhã mesmo você não tava puta com ele?

—Ah, eu tava—Relaxei os ombros—Mas ele me salvou de ser atropelada e depois fomos almoçar juntos.

—Calma la—Ela se aproximou de mim—Então você quase foi atropelada e saiu com Percy Jackson no mesmo dia? Isso daria uma boa fanfic.

Ela riu e eu contei para ela os acontecidos nos mínimos detalhes possíveis suspirando a cada 10 segundos, Thalia ria e fazia carinho no Senhor bigode que estava esparramado de barriga pra cima sobre a perna dela.

Meu pai chegou do mercado trazendo pizza pra gente, ele ia fazer macarronada mas desistiu so de pensar que teria que cozinhar (ele era péssimo nisso), nós comemos nossas pizzas enquanto assistíamos FRIENDS na TV da sala, eu realmente não entendo como a Rachel pode ficar com o Ross depois da quantidade de babaquices que ele fez, Joey em dois episódios conseguiu tratar ela melhor que Ross em varias temporadas, inacreditável. Thalia e eu tomamos banho e vestimos nossos pijamas, ela com seu shorts preto e a regata também preta, e eu com minhas calças cinzas de coraçõezinhos rosa, um pijama mega  confortável (e infantil), Thalia zombava de meu pijama sempre que podia, mas eu sinceramente não ligava, se fosse confortável, poderia dormir até enrolada em um saco de batatas, voltamos a assistir nossa serie no meu quarto enquanto Senhor bigode ronronava se esfregando em nossos pés, ele queria comida. Fui até a dispensa e enchi sua tigelinha com ração para gatos de sabor peixe (tem um gosto horrível, não que eu já tenha provado que isso) e voltei até o quarto, eu e Thalia assistimos a série enquanto tentávamos acertar amendoins salgados uma na boca da outra, sempre falhávamos e os amendoins caiam sobre o tapete do quarto, após algum tempo nós escovamos nossos dentes e deitamos na cama sobre um amontoado de travesseiros e adormecemos abraçadas enquanto escutávamos uma serie de musicas da playlist de Thalia.

(...)

A luz fraca da lua entrava pela janela do quarto iluminando uma parte dele, não havia conseguido dormir por nem uma hora direito quando acordei, isso fazia meia hora, eu me forçava a fechar os olhos na tentativa de pegar no sono, mas nada adiantava. Decidi levantar, tomando bastante cuidado para não acordar Thalia que estava com as pernas agarradas ao meu corpo, esparramada feito batata palha, coloquei minhas pantufas de ursinho e um moletom cinza, fui até a porta da frente na ponta dos pés para não acordar ninguém da casa e peguei as chaves no canto de uma rack na sala, abri a porta com cautela e sai fechando a mesma atrás de mim, uma das coisas que havia aprendido é que nada da mais sono e cansaço do que fazer caminhada, e era tudo o que eu precisava naquele momento, um tempo para pensar sozinha. Andei por uma serie de ruas vazias, as memorias de quando éramos crianças e brincávamos de pique esconde invadiram meu cérebro: Thalia correndo atrás de Groover sempre que ele comia uma de suas bolachas (não que isso tivesse mudado muito), Percy e Nico brincando de assustar as pombas que estavam na calçada, Luke e eu tentando não deixar Thalia matar Groover, Clarisse tentando ajudar Thalia a matar Groover e por assim se segue, senti uma saudade imensa invadir meu peito, saudade não das pessoas, pois muitas  delas ainda estavam comigo, mas saudade da ausência de preocupações, as únicas que tínhamos eram acordar cedo para não perder nenhum episodio de as terríveis aventuras de Billy e Mandy  e não chegar tão tarde em casa para não perder o jantar ou tomar uma bronca dos pais, era incrível. Meu pensamento vagou um pouco ao tempo em que meus pais ainda estavam juntos, eles pareciam tão felizes, nunca entendi o motivo pelo qual eles se divorciaram, nos finais de semana eles sempre tentavam cozinhar juntos, mas, como nenhum dos dois era um excelente cozinheiro, eles sempre fracassavam e acabavam por pedir pizza ou jantar em alguma lanchonete próxima de casa assim como em todos os dias de semana já que trabalhavam muito e tinham pouco tempo, lembrava também de como eles brincavam um com o outro, meu pai sempre corria atrás dela com uma mangueira quando eles estavam lavando o quintal tentando molha-la, no final das contas era eu quem acabava ganhando pois eles enchiam a piscina, era tudo tão maravilhoso naquela época, mas hoje em dia, eu mais do que ninguém entendia como relacionamentos e sentimentos são complicados, e olha que eu nem estava em um relacionamento com Percy e já achava tudo aquilo demais para minha cabeça (ou para a cabeça de qualquer pessoa). O vento gelado fazia com que eu afundasse minhas mãos nos bolsos do moletom e me encolhesse para me esquentar, dava muito certo não, mas era melhor do que nada, passei por uma coluna de ruas onde os postes de luz ficavam piscando e senti alguns calafrios desejando voltar para casa, porem não o fiz, caminhei por uma rua onde tinha barulho e luzes me sentindo um pouco melhor, quando percebi o porque da quantidade de barulho e luzes já era tarde demais, o bar estava lotado de homens bêbados e violentos fazendo apostas e jogando sinuca, senti um frio atrás da nuca e desejei mais do que tudo que os deuses tivessem piedade do meu ser e me teletransportasse para o meu quarto, o que não aconteceu (deuses inuteis), vesti meu capuz até cobrir meu rosto por completo na tentativa de passar despercebida e comecei a andar na direção de onde havia vindo, mas era tarde demais, um velho barrigudo e bêbado se aproximou de mim acompanhado de outros dois velhos barrigudos e bêbados, ele agarrou meu pulso com força.

—O que uma mocinha tão bonitinha esta fazendo sozinha na rua uma hora dessas?—Suas palavras se arrastavam e eu pude sentir o bafo de cerveja e cigarro mesmo de longe, seus “capangas” estavam rindo.

—Eu não estou sozinha e isso não e da sua conta—Tentei soltar meu braço mas ele era mais forte que eu—Me solta!

—Responda minha pergunta garotinha—Seu hálito tinha um cheiro podre e eu queria soca-lo na boca.

Estava me preparando para lhe dar um chute em seus países baixos e sair correndo quando ouvi uma voz familiar.

—Solta ela—Percy apareceu pelas costas do velho barrigudo segurando uma garrafa de coca nas mãos.

O cara riu e foi acompanhado pelos outros dois idiotas.

—E o que você vai fazer? Atirar sua garrafinha de coca no meu nariz?—Sua voz tinha um tom sarcástico e ele se desmanchava de rir com a própria piada.

—É

Sem pensar duas vezes, Percy quebrou a garrafa de vidro em cima da cabeça daquele velho imundo o deixando desacordado no chão, vi o sangue escorrer de sua nuca careca e os outros dois nos olharam furiosos, Percy pegou na minha mão e começou a correr, eu o segui tentando acompanha-lo, mas era pouco mais devagar por conta do meu tamanho inferior ao seu, em poucos minutos estávamos longe do bar e dos bêbados barrigudos, paramos tentando recuperar o fôlego e eu me sentei na calçada de uma das casas para descansar, Percy fez o mesmo.

—Eu tinha tudo sob controle—Falei com a respiração ainda acelerada e o coração batendo forte no peito.

—Eu percebi—Percy estava tão cansado quanto eu—Se seu plano era ser sequestrada por aqueles caras, então você tinha mesmo.

Eu lancei um olhar nervoso para ele.

—Eu salvei sua vida duas vezes só hoje, um “obrigado” cairia bem sabia?

Eu desviei meu olhar do seu me sentindo um pouco (bem pouco) arrependida.

—E o que você estava fazendo naquele bar uma hora dessas?—meu tom saiu mais rude do que planejava.

Percy sorriu malicioso.

—O que VOCÊ estava fazendo sozinha uma hora dessas na rua, Annabeth?—Ele me encarou

Eu não havia me dado conta da situação em que eu me encontrava até aquele momento por conta da confusão, pela primeira vez na vida senti vergonha das minhas pantufas de ursinho e do pijama de coraçõezinhos, Percy estava usando calças jeans rasgadas e uma blusa vinho com jaqueta preta por cima, senti meu rosto fever em arrependimento.

—Nada demais—Respondi tentando esconder o meu rosto vermelho feito tomate.

Percy riu.

—Qual a graça?—Dirigi meu olhar mais mortal a ele

—Você fica extremamente fofa quando ta com vergonha sabia?—Ele se aproximou de mim

De novo não...

Minhas bochechas ficaram ainda mais vermelhas e eu baixei a cabeça tentando esconde-las, o que só fez Percy rir ainda mais e segurar meu queixo com o polegar.

—Você não precisa ter vergonha de mim, Annabeth—Ele sorriu e seu cheiro invadiu meus sentidos novamente, Percy passou a mão pelo meu cabelo e fixou seu olhar em mim—E você não me respondeu, senhorita estressadinha.

Percy deu um peteleco de leve no meu nariz enquanto sorria.

—Eu só tava caminhando por ai porque estava sem sono—Me rendi e baixei meu olhar para as pantufas de ursinho—E você? Que estava fazendo naquele bar?

Dirigi meu olhar a ele novamente.

—Apostando—Ele sorriu como se aquilo fosse a maior traquinagem da sua vida—É o melhor horário para se fazer isso, os caras já estão completamente bêbados a essa hora.

Eu o olhei incrédula e ele riu mais ainda.

—Você ainda vai arrumar pra cabeça fazendo isso—Eu me encolhi ao seu lado.

—Que nada, os cara ta tudo chapado, se eu perder eu so digo que vou pegar o dinheiro e sumo, no dia seguinte eles não lembram nem do meu rosto—Percy riu e passou um dos braços pelo meu ombro me trazendo para ainda mais perto dele.

Eu o olhei desconfiada.

—Você não tem jeito—Eu escondi o sorriso.

—Você tem razão—Percy enlaçou a minha cintura com o outro braço e encostou seu queixo na minha testa.

Senti o cheiro de seu hálito, menta e coca. Sua respiração estava mais calma e o silêncio da rua estava ensurdecedor, se estivesse sozinha provavelmente estaria com muito medo, mas a presença de Percy me passava uma segurança quase inexplicável.

—Quer fazer alguma coisa?—Ele sussurrou depois de alguns minutos de silêncio

—O que nós poderíamos fazer às duas horas da madrugada?—Eu levantei meu olhar até ele

Percy sorriu encontrando meu olhar e se levantou.

—Vem?—Ele me estendeu sua mão

—Vou me arrepender?—Peguei sua mão com um sorriso

—Provavelmente—Percy já estava me arrastando com ele pelas ruas silenciosas.

Estavamos parados em frente a um pequeno estabelecimento todo colorido com maquinas de jogos infantis, um fliperama. Eu não controlei minha risada.

—Não me diga que você vai me pedir para entrar ai?—Eu apontei para o lugar

—Você tem uma ideia melhor?—Percy cruzou os braços e deu um sorrisinho de canto—É o único lugar aberto a essa hora, sem contar que você esta vestida adequadamente ao passeio.

Seu sorriso aumentou ao caçoar do meu pijama, eu fechei a cara e passei por ele, não sem antes esbarrar em seu ombro.

Ele queria uma criança? Era uma criança que ele iria ter.

Peguei a primeira maquina que vi, Percy veio atrás de mim e estendeu uma moeda no ar, tentei agarra-la, mais ele foi mais rápido e tirou-a do meu alcance.

—Se você perder—Ele sorriu malicioso—Vai ter que admitir que estava errada em relação ao lugar e que esse e o melhor local para se estar as duas horas da madrugada.

Eu ri com sua condição besta.

—E se eu ganhar?—dei de ombros

—Eu pago outra partida—Percy sorriu e passou a mão pelo cabelo bagunçado.

—Fechado—Eu me preparei para encarar aquela joça sem fazer a menor ideia do que iria jogar.

Eu apertava vários botões aleatoriamente tentando fazer o pac man escapar daqueles malditos fantasmas coloridos, quando aquele fantasminha verde maldito comeu meu pac man eu fiquei tão empolgada de ódio que acabei soltando um berro no meio do estabelecimento quase vazio, Percy riu e eu coloquei a mão sobre a boca para abafar o riso.

—Você perdeu—Percy sorriu maliciosamente

Filho de uma senhora muito respeitosa que oferece serviços sexuais a troco de capital!

(a gente até xinga, mas xinga com classe). Revirei os olhos.

—Eu tava errada—Cruzei os braços tentando não sorrir

—E...?—Percy se curvou na minha direção com uma das mãos na orelha como se a minha derrota fosse sua vitória.

—E esse é o melhor lugar para se estar a essa hora—Me rendi revirando os olhos e sorrindo de lado.

Percy sorriu satisfeito por me irritar

—Minha vez—Percy tirou outra moeda do bolso e começou a jogar, assim como eu ele apertava botões aleatórios na tentativa de vencer o joguinho,  e assim como eu tambem, ele perdeu. Ri na cara dele.

—Você perdeu—Eu o olhei provocativa

—Vem jogar então, já que você é tão esperta—Ele abriu passagem para mim e tirou outra moeda do bolso.

Joguei e passei o primeiro nível, mas perdi no segundo. A noite se seguiu com nós dois jogando um de cada vez, vidrando com a derrota do outro e resmungando com a própria, ao final Percy já não tinha mais nenhuma moeda.

Quando chegamos em frente a minha casa, Percy me deu um abraço.

—Eu me diverti com você hoje—Disse sendo quase sufocada pelos seus braços

—Amanhã no mesmo horário?—Ele me olhou divertido

—Combinado—Respondi no mesmo tom brincalhão.

Nos separamos do abraço e segui para dentro de casa sendo acompanhada pelo seu olhar, antes de fechar a porta por completo eu sussurrei um “até mais” e ele respondeu com um aceno de cabeça, tranquei a porta e deixei a chave onde a havia pegado, subi as escadas tomando todo cuidado do mundo para não fazer nenhum barulho, entrei no meu quarto e encontrei uma Thalia mais esparramada do que quando eu havia saído, olhei para meu gato deitado na cama ao lado dela

Bichano preguiçoso!

Me deitei ao lado dos dois e puxei as cobertas até o pescoço abraçando Thalia, não demorei a pegar no sono.

(...)

Peguei um dos livros pra aula de filosofia, Thalia estava furiosa e sonolenta (como sempre), mas estava ao meu lado, vi Percy caminhando em minha direção e me forcei a desviar meus olhos dele, não queria que ele soubesse que ele tinha toda a minha atenção.

—Ops o senhor punk-Jackson  esta vindo em nossa direção—Thalia sorriu maliciosa—Vejo você na aula senhorita Annabeth.

Ela andou para longe de mim e subiu as escadas

Traidora!

—Bom dia—Percy parou perto de mim e cruzou os braços se encostando no armário ao meu lado.

—Bom dia—Passei as mãos pelo pingente no meu colar na tentativa de não deixa-lo perceber o quão boba eu estava

—Ce conseguiu dormir?—Ele baixou a voz e se aproximou de mim

—Consegui sim, e você?—Desviei meu olhar para os livros

—Annabeth, olha pra mim—Ele levantou meu queixo com o polegar

Maldito de lindo!

Percy deu um sorrisinho de canto e pegou minha mão

—Vem!

Ele me arrastou pelo pátio do colégio até chegarmos na cafeteria.

—Senta aqui—Percy me empurrou para a cadeira quase me derrubando.

Eu deixei meus livros sobre a mesa e a mochila escorregou pelo meu braço até o pé da cadeira, caindo no chão, deitei a cabeça sobre os livros fingindo não parecer tão feliz  e interessada em Percy Jackson como eu realmente estava, por um momento minha mente vagou pela noite passada, lembrando dos jogos e das conversas, também das provocações e piadas de Percy, dos abraços e da forma como ele me olhava, sem querer deixei escapar um sorrisinho pelo canto da boca. Percy voltou e se sentou a minha frente.

—Hey—Ele cutucou minha cabeça de leve—Acorda bela adormecida.

—Hm?—Eu ergui a cabeça e fingi um bocejo para parecer mais convincente da minha soneca falsa

A minha frente, Percy tinha uma bandeja com dois hambúrgueres e duas cocas

—Eu disse que tava te devendo um hambúrguer—Ele sorriu—E promessa, é promessa!

Eu ri e dei uma mordida no lanche que estava em sua mão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Então e isso hahaahhaha, estão escutando as musicas?
criticas e sujestões são muito bem vindas ok?
até o próximo capitulo:)



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