Ponto de Vista escrita por Mrs Ridgeway


Capítulo 2
01. Exploradora de sonhos


Notas iniciais do capítulo

Oie, bbs!

Antes de tudo, eu gostaria de agradecer three thousand times pelos comentários e a chuva de amor no primeiro capítulo. Fiquei muito feliz pela recepção de todxs vocês por acompanharem a minha história maluca ♥

Segundo, eu juro que a partir de agora a gente vai começar a entender melhor as coisas ~ ou talvez não, desculpa ahahah.

Já peço desculpas se alguém achar o capítulo grande demais. Passou um poquito da minha meta de tamanho para os capítulos, mas é que as vozes da minha cabeça disseram que era necessário.

Mas enfim, vamos ao que interessa!



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Sonhos lúcidos são quando sonhamos enquanto sabemos que estamos sonhando. (LaBerge, 1985).

Onironauta é o termo que se refere àquele que mantém a percepção consciente, nítida e capacidade direta sobre as suas ações ou até mesmo sobre o conteúdo que vive enquanto sonha. 

Em seus universos, onironautas são exploradores de sonhos.




Sexta-feira, 09h45.

 

Rose acabara de pisar no corredor principal do pavilhão. Seu humor estava seco, como a manhã de verão na cidade. Teria que assistir mais uma aula completamente maçante antes da hora do almoço.

— Merda, esqueci o meu passe! – alguém exclamou ao seu lado.

          — Rosie, me empresta dez libras para o lanche?

A ruiva não se moveu nem um milímetro para ajudar. Não tinha forças, nem vontade para isso. Só continuou a andar morosamente e sem foco.

— Rosie?!

A mão a cutucou com a ponta da unha comprida e pintada de azul.

— Eu sei que você está me ouvindo, Rose Weasley!

— Me deixa em paz, Dominique. – a ruiva respondeu sem paciência. – Eu quero morrer.

— Credo!

Dominique abriu a mochila de Rose displicentemente. – O que houve dessa vez?

— Nada. Eu só não dormi essa noite. 

— Outra vez procurando estrelas?

— Sim.

— Mais uma noite?!

— Isso mesmo.

— Você é maluca.

Rose encarou o corredor bem como se olhasse para o além. Ela deslizou as mãos tal qual estivesse a puxar uma cortina de seda delicada, de uma janela que somente ela era capaz de enxergar.

— O universo é fascinante, Domi. – disse. 

E suspirou com um certo brilho no olhar, mesmo que bolsas inchadas e rosadas se apresentassem bem debaixo das suas pálpebras inferiores.

— Espero que você esteja se preparando para as últimas avaliações. – falou Dominique, enquanto puxava a carteira da prima de dentro da mochila da mesma.

          — A tia Mione te mata se...

— Eu não conseguir nota o suficiente para aplicar na Oxford. – a ruiva completou.

A Maldição de Hermione, o filme.

Os pelos do corpo de Rose se eriçaram só de pensar em ter que assisti-lo algum dia.

— Mamãe me lembra disso a todos os momentos. 

— Pois bem.

— Só que hoje eu sinto que vou conseguir terminar o meu catálogo. É a principal noite de observação deste mês. São as condições perfeitas para finalizar as minhas anotações.

Dominique não sabia se gostava ou não de escutar aquilo. Ela admirava a paixão da prima pelo seu hobby, entretanto, sentia-se verdadeiramente preocupada. Principalmente depois do que acontecera  três semanas atrás.

— Rose... – a loira começou devagar. – Você sabe que as prov... 

A frase da adolescente fora interrompida por um pigarro alto e estridente. Albus Severus Potter desfilava pelo corredor, acompanhado pelo seu time uniformizado de babuínos jogadores de rugby.

Palavras da ruiva.

Domi rolou os olhos. Já Rose só queria se enfiar em um buraco e sumir para sempre. 

Ou pelo menos até todo mundo sumir do planeta.

— Olá, família.— Albus passou um dos braços pelos ombros de Dominique, que sorriu.

— Adeus. – disse Rose.

A garota deu meia volta. Para sua infelicidade, havia uma barreira de brutamontes atrás dela a impedir a sua passagem.

Ela voltou a encarar o primo.

— Onde aperta para eles se saírem da minha frente? – questionou com sarcasmo.

— Você não vai querer saber.

Albus soltou um sorrisinho.

— Você está com uma cara péssima. – ele disse.

— Obrigada.

— Como a de um texugo atropelado.

— É exatamente como eu me sinto.

— Nós dois temos um assunto pendente, Rose.

— Não temos. – ela rebateu. – Eu não vou. Me deixe em paz.

Rose puxou Dominique pela mão, em um solavanco. Porém, antes que as duas se afastasse, Albus agarrou a outra mão livre da prima.

Criou-se um cabo de guerra.

— Deus, me salva! – Dominique implorou ao ser puxada para os dois lados. – Vocês enlouqueceram, por acaso?!

A carteira de Rose, que antes fora surrupiada pela loira, caiu no chão.

Severus... – Rose sibilou, ácida. – Não me provoque!

— Eu não aceito um não como resposta!

— Isso é um problema seu. Vá para a terapia.

— Rose...

— Não!

Albus suspirou. Ele soltou a mão de Dominique, que agradeceu imensamente aos céus pelo ato. Ela abaixou-se para pegar a carteira de Rose no chão, mas, uma grande mão pálida foi mais rápida.

A loira recuou depressa.

— Isso é seu? – o dono da mão perguntou.

Ele sorria sem sorrir, se é que é possível fazer tal ato de maneira consciente. Era um adolescente alto e muito bonito. Seus cabelos quase brancos estavam molhados, como se tivessem sido lavados a pouco.

Era um membro atrasado da gangue dos babuínos do rugby, diria Rose.

Provavelmente o único que aparentemente faz uso do banho, ela também diria. 

— N-n-não.

A voz de Dominique parecia ter ficado presa no meio da sua garganta. O loiro sorriu. Ele também tinha a incrível habilidade de sorrir com os olhos. Muito rara. Domi sentiu suas pernas ainda mais bambas depois disso.

— Isso é meu, Malfoy. – falou Rose em alto e bom tom.

Foda-se que Scorpius Malfoy era bonito, extremamente agradável de se olhar e que a sua colônia irritantemente deliciosa estava se instalando devagar nas mucosas das narinas da garota. Rose só queria sair daquele maldito corredor.

Scorpius deu um passo para frente. Ele estendeu a mão.

— Hum... – pigarreou a ruiva ao pegar o objeto. – Obrigada.

— Por nada, Weasley.

Rose enfiou a carteira rapidamente na mochila. 

— Vamos? – perguntou a Dominique. A prima afirmou com a cabeça. 

          — Você não vai fugir de mim, Rosie. – disse Albus.

“Hoje à noite eu vou a sua casa, porque eu sei que você está de castigo e não pode sair. Você não tem onde se esconder e vai ter que me receber. E eu só saio de lá depois que você aceitar a minha proposta.”

— Melhor desistir. – rebateu a garota.

— Jamais.

Rose não queria continuar a discussão. Ela deu as costas ao primo e empurrou um dos jogadores com o ombro, antes de partir em direção a sala de aula com Dominique em seu encalço.

Ao se afastarem o suficiente para não serem ouvidas, a loira exclamou:

— Ai, porque o Malfoy é tão gato?!

Rose não sabia. Porém, não podia negar que diversas vezes se pegava pensando no motivo.

 

...



Sexta-feira, 10h37.

 

O tempo estava completamente enfadonho. O relógio acima da srta. Brown parecia não ter se movido nem meio grau de lugar. Hiperbólica até a raiz dos seus fios de cabelos avermelhados, era a quinquagésima oitava vez que Rose Weasley bocejava naquela manhã. 

Seu tronco esguio estava jogado em cima da mesa e amassava todos os seus papéis. Não que ela se importasse. Estavam cheios de anotações rasas, desenhos de estrelas e cometas, e de asteróides com formato de donuts. Tinha até mesmo um planeta aleatório rodeado de anéis cruzados. A garota o nomeara de firefist.

Diziam que o último ano de colegial era o melhor de todos. Existia o baile e a formatura...

Ok.

Existia a sensação de crescimento pessoal por estar fechando um ciclo...

Ok.

Isso sem falar de certo misticismo acerca da possibilidade de se tornar de fato um indivíduo humano adulto...

Também ok.

A ruiva só achava engraçado como outro lado da moeda raramente era comentado. Todos sempre propagavam o mesmo discurso irritante de conto de fadas. Só que Rose odiava contos de fadas. Principalmente depois que os seus últimos anos naquela instituição se tornaram um verdadeiro inferno na Terra.

Faltavam exatos dois meses para a aplicação para a universidade.

Oxford University.

Em breve aconteceria o último bloco de avaliações acadêmicas. Não obstante, ainda que parecesse soberba da sua parte, Rose sabia que as suas notas teriam o sucesso esperado no GCSE**. O score perfeito viria. Com ele, a aprovação no tão sonhado curso de medicina.

Rose sacrificou muito por aquilo. Coisas que até muito pouco tempo atrás a ruiva achou que não sentia a menor falta.

Mas, será que tinha valido mesmo a pena?

Há mais de um ano Rose se pegava pensando sobre aquilo.

Ela piscou, sonolenta. Era irritante a forma que os seus pensamentos não conseguiam se desligar daquelas questões. Porém, para a sua sorte – ou não. –, os seus olhos teimosos fecharam-se bem no meio da reflexão. A cabeça ficou pesada. Os sons, lentamente, foram se dissipando no ar.

A única coisa que Rose conseguiu reparar antes de apagar completamente, foi da voz da senhorita Brown falando algo sobre... filosofia... contemporânea...

 

.

.

.

.

 

Até que...

.

.

.

.

 

 

 

O grito agudo perdurava por mais de dez segundos. Scorpius coçou o ouvido esquerdo, agoniado.

— Pare de gritar, Weasley. Ninguém vai te ouvir!

— VOCÊ ESTÁ PELADO! – a garota jogou uma almofada no loiro, que se defendeu com as mãos. – PELADO. E NO MEU QUARTO!

Os berros não cessaram e vieram acompanhados de mais almofadas e outros objetos arremessados.

— Weasley... – Malfoy tentou falar. – Voc...

— QUE MERDA TÁ ACONTECENDO?!

— Weasley...

— O QUE VOCÊ F...?!

Quando a garota ameaçou tocar num globo de vidro aparentemente pesado, que estava apoiado na cômoda, o garoto se levantou da poltrona.

Ao vê-lo completamente de pé, Rose sentiu-se trêmula. Ela soltou o objeto e virou-se rapidamente de costas para Scorpius.

— Vo-você es-está pelado! – exclamou. 

Não sabia porquê gaguejava. – No meu quarto!

— Sim.

— Por quê?!!

— Porque você quis.

— O QUÊ?!

A resposta aparentemente absurda fez a ruiva se virar de volta.

— Isso mesmo, Weasley. – Scorpius pegou a revista do chão e sentou-se novamente na poltrona. – Se eu estou despido é porque você quis assim.

Rose negou rapidamente com a cabeça.

— Isso não é possível!

— É claro que é.

— O que nós fizemos?!

— Até então nada.

— Então por que você está aqui?!

— Isso eu já te respondi. – o loiro virou a página da revista, sem olhar para a garota. – Eu estou aqui porque você me quer aqui. 

— Aqui?! – parecia um absurdo.

— Sim, aqui. Na sua cabeça.

— C-co-como?

Rose deu dois passos para trás. Ela se perguntou quais drogas o garoto deveria ter experimentado antes de iniciar aquela conversa.

Ou talvez ela que tivesse experimentado.

— Na minha cabeça?! – questionou, incrédula.

— Foi o que eu disse.

— Não pode ser.

— É comum você ser meio tapada assim nos seus sonhos?

Sonhos?

Interessante.

— Então... eu estou... sonhando?

— Óbvio.

— Mas... como isso é possível?

— Você leu sobre isso no mês retrasado, esqueceu? – disse Scorpius retoricamente, já no fim da revista. –- Sonhos lúcidos. Técnicas de foco e controle mental e blá blá blá...

— Como você sabe disso?! – ela franziu a testa.

— Eu faço parte da sua mente.

— Pelado?

— Eu me recuso a repetir sobre isso.

Ele rolou os olhos. – Se a minha nudez te incomoda tanto, você poderia experimentar me dar roupas.

Não estava mais incomodando tanto assim, seja dita a verdade.

Rose pensou, porém não disse.

Malfoy sorriu, todavia.

Existia um laivo astuto e malicioso nos seus olhos acinzentados quando ele a encarou naquele momento. A ruiva pigarreou, sem jeito.

—Eu posso?! –  indagou curiosa.

Scorpius suspirou. Ele fechou a revista e a jogou na mesa de cabeceira.

— Isso é um sonho, Rose. – falou. – Você pode fazer exatamente o que quiser.

Não havia nada mais maravilhoso do que ouvir aquela frase. Contudo, também era ridículo. 

— Eu sei que você está pensando que é ridículo. É claro que Rose Weasley iria pensar. – Scorpius deu um risinho. – Mas, apenas tente. 

De fato não iria custar absolutamente nada tentar. Se fosse uma peça que algum dos seus primos – ou talvez todos. – estivesse a pregar, um mico a mais ou outro a menos não iria fazer diferença.

Rose virou-se novamente de costas para o loiro.

— Ok...

A ruiva fechou os olhos. Decerto sua mente, ultimamente confusa, agora aparentava estar bem limpa. Nítida seria a palavra ideal. Rose realmente sentiu como se pudesse fazer o que bem quisesse. 

Então ela mentalizou.

Quando se virou outra vez, Malfoy estava completamente vestido.

Não era possível

— É claro que é possível, Weasley. – ele sorriu. Parecia estar confortável em seu novo moletom.

Os dois se olharam por alguns segundos e Rose sentiu algo diferente. Era como se ela também pudesse experienciar as emoções de Scorpius. A sensação estava longe de ser confusa, ainda assim, a garota sentiu-se estranha por gostar daquilo.

Rose se aproximou da figura do loiro.

— Afinal, o que é você? – perguntou.

Se perguntou.

Scorpius deu de ombros.

— Digamos que aqui eu sou o seu... ponto de vista…

Haveria resposta mais pertinente do que aquela? A ruiva não entendia bem o motivo, mas sabia que não existiria. 

Malfoy pôs uma mão no bolso da calça esverdeada. A outra, ele ofereceu na direção de Rose.

 – Nós temos que ir. – avisou.

Rose não perguntou para onde. Não havia necessidade. Era o seu sonho, no fim das contas. Ela sabia que só precisava atravessar a porta daquele quarto. 

Ou da sua imaginação.

A ruiva enlaçou os seus dedos finos nos de Malfoy. 

— E por favor, Weasley, não acorde. – ele pediu marotamente. 

Rose sorriu de volta antes de abrir a porta.

 

 


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Notas finais do capítulo

**GCSE: General Certificate of Secondary Education. A prova lá que a galera da Inglaterra tem que fazer no fim do colegial.

As vezes eu tenho a impressão que a Rose é intensa demais. Sério kkkk

Sim, são dois Scorpius. Um só não bastava para mim ahsuahuahs
E não, sonhos lúcidos não acontecem beeem dessa forma. Tem todo um outro rolê e explicações mais complexas, eu sei. Mas, não teria graça se eu não modificasse ;)

Beijos e até o próximo!