Os sonhos são as realizações de desejos ocultos. (Freud, 1899).

Existem sonhos que vivemos de maneiras inesquecíveis. Mergulhamos em experiências surreais. Alcançamos patamares que nos parecem impossíveis quando estamos despertos. Então, um questionamento pode ser levantado:

Será mesmo que deveríamos acordar?

Rose abriu os olhos com certa dificuldade. Os segundos foram breves e suas pálpebras cerraram-se novamente. A cabeça da adolescente doía como se alguém tivesse a colocado dentro de um balde de metal e dado diversas batidas com uma colher de pau.

Em pensamento, a ruiva fingiu não saber de onde viera tanto cansaço. Na verdade, a garota passara dois dias inteiros sem dormir. Isso mesmo. 48 horas completas e ininterruptas sem tirar pelo menos uma única sonequinha.

Era semana de observação estelar e, contrariando a sua mãe, que tinha outros planos em relação ao tempo livre da filha, Rose passara duas noites inteiras analisando o céu.

Como de costume.

O corpo da garota, obviamente, não aguentou. A única coisa que Rose se lembrava daquela manhã chata de sexta-feira era de fechar os olhos durante a aula da senhorita Brown e apagar rapidamente. Quanto tempo ela havia dormido? Não fazia a mínima ideia. Mas estava preparada para a chuva de reclamações na diretoria. Ou provavelmente uma detenção.

Falando nisso, era estranho não ouvir vozes.

Rose tentou abrir os olhos mais uma vez, agora com um pouco mais de sucesso. Um brilho intenso ofuscou a sua visão. A ruiva tentou proteger a face com uma mão, enquanto erguia o seu corpo lentamente.

— Ai... – reclamou para si mesma quando tentou levantar. Suas mãos tocaram em algo macio.

Rose apalpou a textura felpuda com certo estranhamento. Existia uma similaridade com algo. Na verdade, parecia o tecido do seu velho e amado sofá surrado.

Seus olhos azuis se abriram por completo.

— Mas o quê...

Aquela não era a sala de aula e sim o seu quarto. Todavia, o seu quarto estava estranho. Era claro demais. Amplo demais. E não que ela não fosse higiênica, mas também estava limpo demais.

Que merda tinha acontecido?

Não era possível que tivesse dormido tanto ao ponto de ser rebocada para casa por algum trator. O seu pai já não tinha mais tanta força física para carrega-la a grandes distâncias. Nem a curtas.

Rose levantou-se rapidamente. Desejou no mesmo momento não ter ficado de pé porque sabia que cairia outra vez. Existia uma lista de coisas bizarras que apareceram no seu quarto, ela pode perceber, mas, exatamente nenhuma bizarrice no mundo se compararia com o que a ruiva estava a encarar agora.

Sentado na poltrona ao lado da porta, de pernas cruzadas, Scorpius Malfoy lia uma revista feminina.

Completamente nu.

Completa e inteiramente nu. Dos pés à cabeça.

Era importante salientar.

O rosto de Rose estava mais vermelho do que a cor dos seus cabelos. Se ela fosse uma chaleira, explodiria tamanha quentura do sangue que percorria as suas artérias. Rose achou que o seu estômago iria sair pela boca.

Ao ver que a ruiva estava de pé, o garoto abaixou temporariamente a revista.

— Oh. Bom dia, Weasley. – disse ele calmamente.

Rose não esperou nem mais um segundo para soltar um grito.