O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Como quarta não teve capítulo, hoje vai ter 2 para compensar, stonks.

Espero que gostem! ^^



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Levou-me para um lugar remoto da cidade, um dos lugares mais abandonados pelos governantes. As pistas das ruas não eram pavimentadas. O acompanhei, então, até o que parecia ser uma casa de show.  No entanto, era um lugar repleto de jogos de azar. Havia, no lado de fora, mesas onde pessoas jogavam baralho, jogos de dados, roletas da sorte, e, ainda por cima, apostavam dinheiro de verdade! Eu me sentia em Las Vegas.

— Aldo! – chamei a atenção dele. – Que lugar é esse?

— Não se importe tanto com as aparências.

Fomos até a parte de dentro do estabelecimento. As paredes eram pintadas de rosa com umas listas neon, as luzes do local eram de cores exóticas e bem escuras, e vi, por todos os lados, máquinas de caça-níqueis!

— Essas coisas não são proibidas? – perguntei.

— Invadir a prefeitura também é.

— Não, mas... Como a polícia não veio aqui ainda?

— Sei lá, pergunte a eles.

— Aldo, não me diga que você é um apostador?

— Não, não. Eu seria, se fosse um pouco mais sortudo nessa vida.

Olhei para aos lados e vi várias garotas, todas com roupas curtíssimas, dançando ao som de músicas com teor sexual.

— Você... Sempre frequenta este lugar?

— Sim, mas não pelos motivos que você está imaginando.

Fomos até um balcão que ficava no canto mais fundo do local. Chegando lá, Aldo tocou uma campainha, e um homem, que aparentava ter uns 50 anos, com cabelos grisalhos, careca na parte de cima, magro, e de baixa estatura, veio dos fundos do estabelecimento para nos atender.

— Aldo! – disse o homem. – Você por aqui! Andou sumido, hein?

— Evelyn. – disse Aldo, olhando para mim. – Deixe eu te apresentar o meu amigo Heitor, ele é o dono desse local.

— Prazer. – disse Heitor, estendendo a mão para mim.

— O prazer é meu. – apertei a mão dele, mas ainda estava receosa quanto àquele homem.

— Posso saber quem é essa bela garota, Aldo?

— É uma amiga minha, está cuidando de mim durante uns meses.

— Ela deve ter uma paciência e tanto!

— Você nem imagina. – murmurei baixinho.

— Pode me preparar o de sempre, Heitor? – disse Aldo.

— Claro, espere só um pouquinho aqui.

Quando Heitor saiu, uns dois homens, que estavam na pista de dança, saíram de lá e vieram para perto de mim. Um deles chegou alisando meu cabelo, enquanto o outro deslizava o dedo indicador no meu pescoço.

— Já que você está aqui no bar, quer que eu te pague uma bebida? – disse um deles, no meu ouvido.

Virei e olhei para os dois. Devo admitir, eram dois rapazes bonitos, aparentavam ser mais velhos do que eu uns dois ou três anos. Usavam regatas que ostentavam os músculos salientes dele.

— Não, obrigada. Eu já estou de saída.

— De saída? Mas você acabou de chegar. – disse o outro moço, colocando suas mãos nas minhas costas.

Aldo, enquanto isso, olhava fixamente para a porta onde Heitor havia ido, não esboçava nenhuma reação, mas claramente escutava o que estava acontecendo ali.

— Vem com a gente, vamos nos divertir um pouco. – disse o homem que estava com a mão nas minhas costas.

Aos poucos, senti que a mão dele ia descendo cada vez mais, eu sabia exatamente aonde ela iria parar. Quando percebi isso, dei uma tapa no braço dele, deixando as marcas vermelhas dos meus dedos.

— Escuta aqui. – disse ele, com uma voz menos sedutora e mais intimidadora. – Quem você pensa que é para fazer isso?

Os dois se aproximaram mais de mim. Segurando os meus braços com os punhos e apertando-os forte.

— Deixem ela em paz. – disse Aldo.

— Escuta, por que você trouxe seu pai aqui? – perguntou um deles.

— Pela aparência, parece que é o avô dela, isso sim. – disse o outro.

— Mandei deixar ela em paz.

— E o que você vai fazer se a gente não deixar? – se afastou de mim e se aproximou de Aldo, olhando bem perto dos olhos dele.

— Escute, seu playboyzinho mimado, é melhor você sair de perto de mim e deixe ela em paz. Ou você vai desejar nunca ter vindo aqui hoje.

— E você acha que eu vou ter medo de um velho gagá como você?

— Eu é que não vou ter medo de um adolescentezinho qualquer. Acha que só porque você gosta de ficar mostrando o braço por aí, vai me intimidar?

— Que tal uma luta de braço, então, maluco?

— Não.

— Por quê? Tá com medo?

— Não, eu não quero te humilhar na frente do teu amigo.

— Você é um velho muito abusado pro meu gosto.

O homem foi pra trás do balcão e posicionou o braço na frente de Aldo. Enquanto isso, eu e o amigo do homem assistíamos aquela cena.

— Aldo, vamos embora. – falei. – Deixe esse cara aí.

Aldo olhou para mim.

— Não, se ele quer uma luta de braço, terá uma luta de braço. Além disso, o lanche ainda não chegou.

Aldo puxou uma cadeira, posicionou-se na frente do homem. E os dois começaram uma luta de braço.

Em questão de segundos, o homem quase fez a mão de Aldo tocar o balcão. Porém, o homem fazia uma careta horrível, enquanto Aldo permanecia com a mesma cara de sempre.

Sem sequer mexer um músculo da face, Aldo lentamente levantou seu braço, e empurrou o braço do adversário. O homem começou a se desesperar, tornando sua careta ainda mais feia. Com um súbito e rápido movimento, Aldo aumenta a força no seu braço. O adversário não apenas toca a mão na madeira, mas também acaba caindo nos pés do balcão.

Ao ver o amigo gemendo de dor, o homem que estava do meu lado partiu para cima de Aldo. O velhinho o pegou pela camisa, e, para minha surpresa e de todos no local, o levantou no ar! Em seguida, jogou-o contra uma mesa de ferro que estava no meio do salão. O homem desmaiou na hora.

Nesse momento chega Heitor e olha aquela cena.

— Aldo! Você não cansa de bater nos meus clientes?

— São eles que começam, Heitor. – disse Aldo.

— E quem vai pagar por aquela mesa?

— Esse cara que tá aí nos pés do balcão, já cheirou o hálito dele? Essa essência que ele está fumando é muito cara. Acho que ele vai conseguir pagar a mesa.

Heitor olhou para o chão e viu o homem que tinha apostado uma queda de braço com Aldo gemendo de dor.

— Mas antes, leve-o no hospital. – continuou Aldo. – Acho que ele quebrou o úmero.

Heitor entregou um saco de papel para Aldo, em seguida, o velho deu uma nota de 20 reais para ele.

— Fique com o troco... Vamos, Evelyn.

Então, eu e ele saímos daquele lugar. Fomos, então, para uma pracinha não muito longe dali, com uns banquinhos ao lado de um poste de luz, onde nos sentamos. Aldo tirou do saco de papel dois sanduíches e deu um para mim.

— É para isso que nós fomos àquele lugar? – perguntei. – Para comprar sanduíches?

— Depois que você experimentar o sanduíche, vai entender.

Eu olhei para o sanduíche e não vi nada demais. Parecia ser um x-burger qualquer. Bom, eu estava com fome, então, não podia recusar. Ao dar a primeira mordida, deixei um escapar um “hum...” da minha boca. Aquele sanduíche era simplesmente maravilhoso! Não sei se era o molho, ou a carne, mas era bom!

Enquanto comíamos, decidi fazer uma pergunta para Aldo, mesmo sabendo que provavelmente ele iria me responder arrogantemente.

— Como você fez aquilo?

Ele parou um pouco e, como fazia sempre, olhou fixamente para um ponto antes de me responder.

— Talvez você descubra um dia.

— Afinal, você um idoso mesmo? Por que você parece ter mais força que todos os jovens que eu conheço.

Ele levantou as mangas da jaqueta e colocou o braço dele na minha frente, enquanto usava o outro braço para comer.

— O que é isso? – perguntei.

— Meu braço.

— Eu sei, mas, por que está me mostrando?

— Olhe a minha pele. Não parece enrugada?

— Muito.

— Agora, olhe os meus cabelos.

— São poucos fios.

— E são todos brancos, certo?

— Certo.

— Então, por que pergunta se eu sou de fato um idoso?

— Tá bem, você é um idoso. Mas não é um idoso normal, concorda?

— Depende. O que é normal para você?

Eu fiquei calada.

Quando ele acabou de comer o sanduíche, levantou-se. Tirou do bolso uma passagem de ônibus, e deu ela para mim.

— O que é isso?

— É uma passagem de ônibus. – pra variar, uma resposta arrogante.

— Eu sei! Mas, por quê...

Antes que eu acabasse a pergunta, ele me interrompeu.

— Na rua do lado tem uma parada de ônibus, o próximo passa em menos de 5 minutos. Vá para casa, está tarde.

Disse isso, deu uns tapinhas nos meus ombros, e foi embora. A placa que apontava para a direção onde ele estava indo dizia "Fazenda Trevo de Quatro Folhas".

— Ei! Aonde você vai?

— Evelyn, vamos deixar uma coisa bem clara. Se eu fizer alguma coisa e não te disser como eu fiz, eu não quero que você saiba como eu fiz. Se eu for para algum lugar, e não te disser para onde eu vou, eu não quero que você saiba para onde eu vou, ok?

— Ok.

— Boa noite, menina.

— Boa noite.  – “maluco”, pensei.


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Notas finais do capítulo

Qual o melhor sanduíches que vocês já comeram?

Espero que tenham gostado! ^^