O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bom, como eu disse nas notas do capítulo anterior, estou tendo aulas online agora, o que de fato vai me fazer diminuir um pouco a frequência aqui.
Vou prometer então 3 capítulos por semana. Terá capítulo novo toda segunda, quarta e sexta. E talvez eu poste algum capítulo extra no sábado ou no domingo. (Pode ser que eu poste dois capítulos extras, um no sábado e um no domingo, mas não vou prometer isso. KKKKKKK)

Enfim, espero que gostem do capítulo! ^^



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Então, a supervisora do asilo me levou às diferentes salas do prédio, para me apresentar o local.

— Aqui, na sala principal, é a área de lazer dos nossos acolhidos.

— Acolhidos?

— É assim que nos referimos a eles.

— E por quê?

— Porque, de fato, eles estão acolhidos aqui. Sabe, a grande maioria desses estão aqui porque suas famílias não quiseram em suas casas. Uns, porque realmente não tinham condições de cuidar desses idosos em suas casas. Outros, por pura maldade mesmo.

— Imagino.

— Quer conhecer o idoso que você vai cuidar?

— Pode ser.

A supervisora me levou até o balcão, foi para detrás dele e pegou uma caixa cheia de pastas, etiquetadas com letras em ordem alfabética. Tirou a ficha de uma dessas caixas, e mostrou para mim.

— Aldoniro Fernandes Barbosa da Silva – li o nome dele na ficha.

— Esse é o nome dele, mas prefere ser chamado de Aldo.

— Acho que é uma boa escolha da parte dele.

— Ele é um idoso muito... Bem... Digamos... Misterioso.

— Como assim “misterioso”?

— Ninguém sabe exatamente de onde ele veio, quem é sua família, ou porque foi mandando para cá.

— Como assim não sabem quem é a família dele? Não foi ela que o trouxe para aqui?

— Para falar a verdade, não.

— Então...

— Um dia, ele simplesmente veio até nós e pediu para ficar aqui. Ele mesmo assinou toda a papelada, ele mesmo se colocou aqui.

— Enquanto isso, muitos dos que estão aqui querem voltar para suas famílias.

— Pois é... Enfim, eu peço que tenha paciência ao lidar com ele.

— Por quê? Não parece ser tão difícil... – disse isso olhando ao redor, vendo os velhinhos sorrindo e brincando com as enfermeiras.

— Ele é... Um caso particular.

— Um caso particular?

— Além da sua personalidade, que é explosiva algumas vezes, ele faz algumas coisas que... Digamos... Nós não entendemos.

— Como assim?

— Ele costuma sair à noite algumas vezes, sem dizer aonde vai, e volta muito tarde, sem falar uma palavra, nem perguntar adianta.

— Então por que não o proíbem?

— Já o proibimos, mas ele sempre consegue sair sem chamar nossa atenção. Já chegamos até mesmo a colocar uma enfermeira vigiando a porta a noite toda, e ele fugiu. Quem sabe você consiga solucionar esse mistério.

— Bom, não sei se vou conseguir solucionar o mistério, mas com relação à personalidade explosiva, pode ficar tranquila, eu sou mais explosiva que ele, tenho certeza.

— Se quiser conhecê-lo, o quarto dele é o número 32.

Então, eu fui até o quarto, para conhecer o idoso que iria desperdiçar minhas noites nos próximos meses. Fui até o quarto 32, bati na porta e esperei ele responder.

Para minha surpresa, permaneceu em silêncio.

Bati novamente, com mais força.

— O QUE VOCÊ QUER? – gritou ele, lá de dentro.

Devo admitir que fiquei assustada com aquele grito, nem meu pai gritava daquele jeito.

— Eu... Eu posso entrar?

— Quem é? Uma enfermeira? Porque se for, já tomei meus remédios, agora me deixa em paz!

— Eu não sou uma enfermeira, senhor... Aldoniro, eu sou...

— ME CHAME DE ALDO! – gritou, me interrompendo.

Assustada, continuei tentando falar...

— Me desculpe, senhor Aldo...

— Senhor Aldo, não! Aldo! Só Aldo! Será que é tão difícil assim? Afinal, quem é você e o que você quer?

— Eu estou aqui para cuidar de você.

— Não preciso que ninguém cuide de mim! Sei me virar.

— Escuta, eu posso entrar? Quero falar com você.

— Entre logo antes que eu mude de ideia.

Abri a porta e entrei naquele quarto escuro, cuja única luz vinha de uma pequena televisão de tubo que transmitia um VHS que Aldo estava assistindo. E lá estava ele, sentado na cama que ficava na frente da televisão, com os olhos fixos no filme que assistia. Nem mesmo a minha entrada no quarto o fez desviar o olhar.

— É... Boa noite?

Ele continuava assistindo a televisão, sem ao menos mover um músculo. Decidi, então, acender a luz do quarto. Quando fiz isso, ele forçosamente fechou os olhos, pois a luz o incomodara. Concluí, então, que ele estava naquele escuro há horas.

Foi então que ele virou aqueles olhos ranzinzas e cansados para mim. Olhou-me da cabeça aos pés. Muito vagaroso, levantou-se da cama e veio em minha direção.

— Eu não pedi uma cuidadora.

— Estou aqui para fazer serviço social, senhor.

— Me chame de Aldo.

— Ah, é, esqueci.

— Sei muito bem que você esqueceu. Mas o que se podia esperar de uma criminosa?

— Eu não sou criminosa!

— Então por que está pagando serviço social? Pra relaxar?

— Quem dera fosse – cochichei baixinho.

— Como é?

— Nada.

Ele continuou olhando para mim em silêncio. Havia certo repúdio em sua face.

— Qual é o seu nome?

— Evelyn.

— Evelyn? É um nome bonito...

— Obrigada. – respondi, surpresa com o elogio.

— ...Para uma moleca tão malcriada.

— Como é que é?

— Que o seu nome é bonito, apesar de sua má criação.

— Desde que eu bati na porta, você só tem me falado grosserias, e eu sou a malcriada nessa história?

— Exatamente.

Afastou-se de mim e voltou para a cama.

— Quantos anos você tem? – perguntei.

— O que te importa?

— Escuta aqui! – disse, com um tom de voz mais irritado. – Queira ou não, eu vou passar os próximos meses aqui com você. Eu estou tentando ser sua amiga. O que é melhor? Ter uma amiga cuidando de você ou uma estranha que nem sabe sua idade?

Ele virou o rosto para mim com um olhar fixo nos meus olhos.

— Eu não quero ter a companhia de uma criminosa.

— Já disse que não sou criminosa!

— Ah, não? Então por que está aqui?

— Tudo bem, eu admito, eu estou cumprindo pena...

— Pelo quê?

— Eu estava presente na manifestação da semana passada, fui apreendida lá. Só isso.

— Saqueando lojas?

— Não.

— Tacando fogo nas ruas?

— Não.

— Agredindo policiais?

— Bem queria, mas não.

— Então?...

— Eu invadi a prefeitura, e os policiais me pegaram antes de chegar à sala do prefeito.

Aldo tirou sua fita VHS do aparelho, desligou a TV, e depois deu um pequeno sorriso.

— Sabe, garota, de onde eu vim, esse tipo de coragem é algo para se aplaudir.

— E de onde você veio?

— Isso também não é da sua conta!

— Você não quer me dizer a sua idade, não quer me dizer de onde vem... Afinal, por que guardar tanto segredo?

— Se quiser mesmo conviver comigo, vai ter que se acostumar com os segredos. Se você soubesse de todos os segredos que prometi nunca falar, não se sentiria tão a vontade perto de mim.

— Está tentando me amedrontar?

— Talvez... – disse ele, em tom sarcástico.

Nem eu, nem ele falamos algo por alguns segundos. Não demorou muito e o silêncio entre nós tornou-se constrangedor.

— Então... – tentei quebrar o gelo. – Não gostaria de ir até a sala? Jogar alguma coisa? Quem sabe... Assistir algo numa televisão melhor que essa.

— Não perco meu tempo com joguinhos tolos... E minha televisão funciona perfeitamente, obrigado.

— Você não sai desse quarto?

— O que te interessa os locais que eu fico ou não?

— Me interessa porque eu vou cuidar do senhor a partir de hoje.

— Me chame de Aldo! E da próxima vez que me chamar de senhor ou de qualquer outra coisa, eu te mando embora, e você vai ter que pagar sua pena na cadeia, como todos os outros ratos que entram nessas manifestações idiotas.

“Velho grosseiro”, pensei.

Foi uma longa noite, e foi só a primeira de muitas outras que viriam.


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Notas finais do capítulo

Aldo não é um fofo? KKKKKKKKKKKKKKK

Espero que tenham gostado! ^^