O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Pois é, galerinha. Chegamos no penúltimo capítulo dessa história incrível envolvendo cangaço, lobisomem e... adolescentes.

Enfim, vocês querem saber o que vai acontecer com Jeanne, então vamos lá...



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Quando Aldo me viu entrar no quarto dele, assustada e ofegante pela corrida, se assustou, e quis saber o que havia ocorrido. Contei a ele sobre o que tinha acabado de ouvir no telefone: o bando que atacava a fazenda tinha sequestrado Jeanne, e se não aparecêssemos logo, iriam matá-la.

Aldo se levantou, pôs as mãos nos meus ombros e começou a tentar me tranquilizar.

— Calma, por favor. Em momentos assim é importante manter a calma.

— COMO QUE EU VOU MANTER A CALMA, ALDO? MINHA AMIGA FOI SEQUESTRADA!

— Eu sei, eu sei! Mas não se preocupe, se eles quisessem realmente matá-la, já teriam feito isso.

— Como assim?

— Pense bem, eles sequestraram ela, não porque querem ela. Sequestraram ela porque querem a mim e a você. Eles não vão matar sua amiga, porque sabem que se fizerem isso, não teremos mais nenhum motivo para ir até lá. Se eles querem atrair os peixes, por que acabariam com a isca?

— Aldo... Eu... Precisamos ir pra lá, rápido!

— Não se desespere, garota! Tá na cara que é tudo uma emboscada. Se chegarmos lá, estarão prontos para nos matar, e se nos matarem, aí sim terão motivos para matar sua amiga, porque ela não terá serventia nenhuma a não ser testemunhar contra eles.

— Eu sei, Aldo, eu sei, mas... O que vamos fazer?

— Infelizmente, não tem outra forma, a não ser cair na armadilha deles.

— Por que não chamamos a polícia?

— Isso só colocaria a vida da sua amiga em risco, usariam ela como refém para fazer os policiais desistirem.

— ENTÃO, O QUE FAREMOS?

Aldo se dirigiu até o armário dele e pegou o rifle.

— Vamos ter que enfrentá-los, de uma vez por todas. O problema é que vai demorar um bocado de tempo para chegar até lá, se pelo menos tivéssemos um carro...

Naquele instante, eu me lembrei de Denis, e corri de volta para a sala principal para ligar para eles.

O povo que estava na recepção se assustou ao me ver correr novamente para o telefone. Liguei para o número de Denis e, apreensiva, falava sozinha pedindo para que ele atendesse logo.

— Alô?

— Denis! Você precisa me escutar!

— Evelyn? Que voz é...

— Cala a boca e escuta! Eu sei por que Jeanne não apareceu na sua casa hoje!

— Ah... Então finalmente resolveu admitir que...

— Ela foi sequestrada! – falei, interrompendo Denis.

— Como é que é?

— Jeanne foi sequestrada! – eu falava de maneira audível, mas tentando não chamar a atenção das outras pessoas que estavam na sala.

— Como assim ela foi sequestrada, Evelyn?

— Os caras que atacaram as fazendas, eles... Sequestraram a Jeanne e disseram que só vão soltá-la se eu e Aldo aparecermos por lá.

— Evelyn, isso é sério?

— Denis, você acha que eu ia brincar com uma coisa dessas? Precisamos do seu carro.

— Como é?

— Do carro do seu pai, aliás. Precisamos dele para chegar à fazenda Águas Claras o quanto antes.

— Evelyn, eu estou de castigo, não posso nem pensar naquele carro!

— E daí, Denis? Jeanne foi sequestrada! Será que ainda não entendeu isso? Pegue o carro do seu pai e venha para o asilo o mais rápido possível!

Desliguei.

Denis ficou sem reação. Sabia que não podia dirigir o carro do seu pai, e se fizesse isso, com certeza o castigo seria bem pior. Mas a sua amiga estava em perigo, perdê-la seria pior do que qualquer castigo que seu pai pudesse inventar.

O pai de Denis estava muito concentrado na televisão, assistindo o telejornal local. Denis saiu de fininho por trás dele, pegou a chave que estava pendurada num prego da parede, foi para a garagem, ligou o carro, e saiu o mais rápido que pôde!

O pai de Denis, ouvindo o barulho do carro, foi até a porta, a abriu e viu seu filho saindo com o carro em direção ao asilo.

— DENIS! – gritou o pai dele, fazendo toda a vizinhança ouvir o barulho.

*

Enquanto Denis não chegava, Aldo e eu discutíamos como faríamos para salvar Jeanne. No meio da discussão, ouvimos um barulho de buzina vindo do lado de fora.

— Deve ser o Denis. – falei.

— Pronta para pular a janela de novo?

— Como é?

Aldo pegou três coletes salva-vidas (o que eu não sabia que ele tinha), me puxou pelo braço, abriu a janela, e pulou dali comigo nos braços.

— NUNCA... MAIS... FAÇA... ISSO...

— Vamos logo!

Eu e Aldo fomos até a entrada do asilo, e vimos Denis no carro.

— Como conseguiu convencer seu pai? – perguntei.

— Quem disse que eu o convenci?

Entrei no carro, e abri a porta para Aldo entrar também. Aldo entrou.

— Uau. – disse Denis. – Então esse é o velhinho descolado.

Aldo virou lentamente a cara para mim.

— O que você andou falando de mim para os seus amigos?

— É uma longa história. Vamos, Denis.

Denis acelerou e partimos em direção à fazenda Águas Claras.

*

Jeanne, com uma mordaça na boca, e com várias hematomas no corpo devido às agressões, dormia, até que foi acordada pelo líder do bando batendo uma frigideira na parede.

— Desculpe-me, bela adormecida. Mas aqui você não tem 100 anos para esperar seu herói. Se o velho não aparecer logo, você morre.

Jeanne permaneceu calada, evitando olhar no rosto dos bandidos.

Um dos caras que a havia sequestrado estava ouvindo a conversa, e resolveu se intrometer.

— Pelo visto ela não quer falar, chefe.

— Talvez esteja impossibilitada pela mordaça da boca.

O chefe se aproximou de Jeanne, e de uma forma nada delicada, arrancou a mordaça da boca da garota.

— Pronto, agora, você pode falar, não é?

Jeanne continuou calada e sem olhar na cara dos bandidos.

— Ela parece ser tímida, chefe.

— Garanto que ela não será nada tímida agora.

O chefe pegou um revólver e o encostou na cabeça de Jeanne. Ela começou a chorar e balançar a cabeça em desespero.

— Por que estão demorando tanto? Será que não se importam com a vida da amiguinha?

Outro integrante do bando entrou na sala e chamou a atenção do chefe.

— Chefe!

— O que você quer?

— O prefeito Tiberius mandou perguntar por que atacamos essa fazenda tão cedo hoje.

— Você pode dizer ao prefeito Tiberius que ele cuide de nos pagar o que foi combinado e nós faremos o que foi nos ordenado da forma que quisermos, não temos nenhuma satisfação a dar para ele.

Jeanne ouvindo aquilo, não pensou duas vezes. Aproveitou a distração dos caras para pegar o aparelho celular que eles tinham deixado longe dela. Da forma mais discreta possível, ligou o gravador de áudio do celular e começou a registrar a conversa dos homens.

— Você tá louco se pensa que vamos falar isso para o prefeito. Ele corta nosso pagamento na hora. – disse um dos integrantes.

— Ele está certo, chefe. Se Tiberius não se importa nem com os nossos colegas que morreram nessa história toda, acha que ele não vai hesitar em cortar nosso pagamento?

— Tiberius é um baita de um idiota! – disse o chefe. – Aquele jumento fez a gente se expor a tantos perigos só para propagar uma lenda idiota na cidade. Não é mais fácil aumentar o turismo de outra forma?

— Chefe, tome cuidado para Tiberius não descobrir que você anda falando dele assim, caso contrário, viramos vítimas do tal “lobisomem” também. – disse fazendo aspas com as mãos ao falar a palavra lobisomem.

Saíram. Quando Jeanne percebeu que estavam voltando para onde ela estava, imediatamente encerrou a gravação do áudio e deixou o celular no local onde estava. Deitou-se novamente no canto da parede.

O chefe do bando entrou na sala e amarrou novamente a boca de Jeanne com uma mordaça. No mesmo instante, ouviu-se, na frente da fazenda, um barulho de motor de carro. Era eu, Aldo e Denis chegando.

— Parece que seu socorro chegou. – disse o chefe.

Aldo e eu saímos do carro portando nossos rifles.

— Denis, vamos logo. – falei.

— Como assim “vamos logo”? Você pediu para eu vir te deixar, não disse que eu ia lutar.

— Vamos logo, caba mole! – disse Aldo, puxando Denis pelo braço para fora do quarto. – Toma isso aqui. – Aldo entregou um revólver calibre 45 para Denis.

— Puxa, vocês tem um rifle e eu uma pistola, ainda bem que ninguém está em desvantagem!

— Vamos entrar. – falei.

Aldo foi na frente, quando ele pôs a mão na maçaneta, ouviu um pequeno barulho vindo de dentro.

— Se afastem! – gritou ele.

Aldo se jogou para a direita, eu e Denis nos jogamos para a esquerda, e a porta da casa da fazenda explodiu. O chefe do bando havia atirado na porta com o rifle dele. Só o que vimos imediatamente depois disso foi uma forte fumaça ao redor, seguido de vários estilhaços de porta que voaram longe.

Quando a fumaça abaixou, vimos os membros do bando espalhados, todos armados. Eram 14 ao todo.

— Esperamos muito por esse momento. – disse o chefe.

— Cadê a Jeanne? – perguntei.

— Sua amiga está bem.

— Bem mal. – complementou um dos integrantes da quadrilha, fazendo todos os bandidos dali rirem descaradamente.

Eu e Denis nos aproximamos de Aldo e ficamos encarando aquela quadrilha.

— Tá vendo aí, Denis? – falei. – Essa quadrilha é o “lobisomem”.

— Cara... Isso é que é decepção. Preferia que fosse o velhote aí.

Aldo olhou furioso para Denis.

— Digo... Preferia que fosse esse senhor de idade ao meu lado.

— Peguem eles. – disse o chefe do bando.

Imediatamente, aqueles 14 homens vieram em direção a mim, Aldo e Denis.

Por ser o mais experiente com o rifle, Aldo cuidou de enfrentá-los na frente. Eu atirava naqueles que conseguiam ultrapassar Aldo, e Denis... Bem... Ele atirou uma ou duas vezes, mas acho que não acertou em ninguém.

Em menos de um minuto, Aldo já havia derrubado três deles. Assim, o chefe se viu na obrigação de entrar no confronto também. Atiravam contra Aldo, mas ele desviava de todas.

Percebendo que todos eles estavam muito focados em Aldo, aproveitei a brecha e corri para dentro da casa para procurar Jeanne.

— Peguem a garota! – disse o chefe, ao me ver correndo para dentro.

Três dos integrantes do bando vieram atrás de mim. Denis, vendo isso, correu atrás deles também.

*

Na sala onde estava aprisionada, Jeanne ouvia todo o barulho de gritaria e de tiros lá fora, e começou a ficar assustada. Foi até a porta para ver se conseguia sair, mas estava trancada. No entanto, ela percebeu que ao tentar abrir, a porta balançava como se estivesse solta. Ela logo chegou à conclusão que a porta não estava firme, e que conseguiria derrubá-la.

Ela começou, então, a jogar o seu corpo contra a porta, cada vez com mais força. Aos poucos, percebia que a porta ficava mais solta. Após umas dez tentativas, ela conseguiu derrubar a porta, e enfim escapar daquela sala. Foi até a cozinha da casa e encontrou lá uma faca, essa seria sua arma de defesa.

*

Durante a minha fuga contra os bandidos que me perseguiam, eu cheguei numa parte em que havia um encontro de dois corredores, um para a direita, outro para a esquerda. Fui para a esquerda, e os três bandidos me seguiram pelo mesmo caminho.

Denis, no entanto, chegou um pouco depois, e não viu qual o caminho que tínhamos tomado, foi para a direita, então.

Enquanto Denis corria, ele chegou até uma escada que levada ao andar de cima, onde estava Jeanne. Ela ouviu os passos de Denis subindo os degraus, e imediatamente pensou que fosse um dos bandidos. Segurou bem a faca que estava em suas mãos, e se encostou na parece ao lado da escada. Quando viu a sombra da figura que estava subindo a escada se aproximando, respirou fundo e apertou mais a faca. Sem perceber que era Denis, quando ele passou do lado dela, Jeanne deu uma facada nas costas do garoto.

*

Parecia o meu sonho. Um corredor estreito e quase sem fim, eu corria desesperada. Tropecei várias vezes, mas não parei de correr, pois ouvia os passos dos três homens correndo atrás de mim. Para o meu azar, assim como no meu sonho, aquele corredor levava a um beco sem saída. Não tinha nada além de uns quadros, estantes e vasos que decoravam a casa. Não tinha lugar para correr, e os bandidos se aproximavam de mim cada vez mais. Quando tropecei novamente, deixei cair o meu rifle, pensei em pegá-lo, mas me dei conta de que se parasse para apanhá-lo, os bandidos me alcançariam. Decidi continuar correndo sem o meu rifle.

Quando eles viram que eu estava presa, deram um sorrisinho, e guardaram suas armas, porque sabiam que não precisariam mais delas.

*

Aldo continuava lutando, bravamente. Mas já sentia o seu corpo cansado. O velhinho era bom, mas ainda assim era um velhinho. Aos poucos, os movimentos de Aldo começaram a ficar lentos e ele começou a abrir muitas vantagens para os bandidos. Em determinado momento, Aldo notou um bandido se aproximando de suas costas e virou-se para onde atacá-lo. Grave erro, pois ao fazer isso, ele virou de costas para o chefe do bando, que não hesitou em disparar.

Rapidamente, Aldo matou no cara que vinha atrás dele. Mas não foi tão rápido para desviar-se da bala do chefe do bando, ao virar-se de novo, o disparo atingiu o seu peito, e Aldo caiu no chão.

*

  Assustado com o golpe que levou, e ainda com a faca cravada nas costas, Denis virou-se para trás e apontou a arma para Jeanne. Felizmente, a reconheceu depressa, e abaixou o revólver imediatamente.

— Jeanne?

— Denis? O que você tá fazendo aqui? Espera... MEU DEUS! Eu acertei uma faca nas suas costas!

— Ah... Isso? – disse Denis, tirando a faca das costas dele.

Jeanne ficou surpresa ao ver que não havia sequer uma gota de sangue na faca.

— Mas como?

Denis levantou sua camisa e mostrou que estava usando um colete à prova de balas. A faca tinha cravado no colete, não nas costas de Denis.

Jeanne suspirou aliviada, mas antes que pudesse respirar melhor, Denis chamou a atenção dela.

— Evelyn está em perigo, deve estar no outro lado da casa, vamos!

Denis puxou Jeanne pelo braço e foram me procurar.

*

Os bandidos caminhavam lentamente para onde eu estava. Não tinha mais como fugir. Eu não queria fazer isso, mas sentei no chão e aceitei o meu fim.

Quando os caras estavam a poucos passos de mim, o do meio foi atingido nas costas por um disparo de rifle, seguido do que estava à sua direita e à sua esquerda.

Olhei para os três deitados no chão, e quando virei o rosto para olhar mais a frente, vi Denis e Jeanne, que estava com o rifle que eu tinha deixado cair na mão.

*

— Boa chefe! – disse um dos bandidos, parabenizando o chefe por ter acertado o tiro em Aldo.

— Agora, vamos acabar logo com esse velho. – respondeu, todo orgulhoso.

O chefe se aproximou de Aldo, abriu a sua camisa para deixar o peito do velho, onde daria o disparo final, aberto. Ao fazer isso, viu que Aldo usava algo por baixo da roupa. No início, acho que fosse outra camisa, mas logo percebeu que...

— ELE ESTÁ USANDO COLETE!

Aldo abriu os olhos, deu um leve sorriso, e rapidamente pegou seu rifle e atirou no homem que estava na frente dele. O restante do bando, vendo que Aldo havia matado o chefe deles, se prepararam para disparar contra ele, mas eu, Denis e Jeanne, abrimos uma das janelas da frente da casa, e começamos a atirar neles lá de dentro. Aldo também ajudou a derrotar o restante da quadrilha.

Em pouco tempo, estavam todos mortos.

Saímos de dentro da casa alegres! Eu abracei Denis e o parabenizei pela coragem. Em seguida, dei um forte abraço em Jeanne, estava tão feliz por ela estar segura! E por fim, corri até Aldo, e o abracei fortemente também, e fiquei surpresa ao ver que ele retribuiu o abraço.

— Precisamos ir agora. – disse Aldo, após aquele momento de euforia.

Quando eu, Aldo e Denis estávamos indo em direção ao carro, Jeanne nos chamou a atenção!

— Esperem!

Olhamos para ela.

— Tem algo que eu acho interessante que vocês saibam.

Jeanne pegou o celular dela e escutamos o áudio que ela havia gravado.

*

Cerca de 20 minutos depois, chegou o prefeito Tiberius, em um carro super luxuoso, até aí nada demais. Ele andou pela fazenda, era visível sua indignação ao ver a quadrilha que ele havia contratado morta no chão. Ele decidiu, então, entrar na casa para averiguar a situação lá dentro.

Quando Tiberius abriu a porta, deu de cara com o Aldo apontando o rifle para ele. Eu, Denis e Jeanne logo atrás.


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Notas finais do capítulo

O PRÓXIMO CAPÍTULO É O ÚLTIMO!!!!! VOCÊS TEM NOÇÃO DO QUE É ISSO?