O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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O meu nome é Evelyn. Desde a minha infância eu vivi numa pequena cidade do interior brasileiro. Era um lugar pacífico, aconchegante. Tínhamos, é claro, vez ou outra, nossos problemas civis. Assaltos, assassinatos, e outros crimes. Não estávamos livres disso, mas raramente aconteciam.

Quando ocorria um assassinato na cidade, vish! Parecia que um famoso ator de Hollywood tinha visitado a cidade, porque só se falava nisso durante todo um mês! Tínhamos uma rede de TV local, e quando um crime desses acontecia, passava-se um mês com o telejornal falando sobre o mesmo caso, porque realmente não haviam outros casos para se falar. Demorava muito até que outra pessoa fosse assaltada ou assassinada.

Isso fez com que a cidade ganhasse dois adjetivos: segura e chata.

Mas a segurança não durou muito, e o que aconteceu naqueles meses não foi nada chato.

Antes de contar-lhes a minha experiência, preciso deixá-los cientes sobre o contexto em que essa história se encaixa.

Junho de 2009, alguns meses depois do atual prefeito na época assumir seu posto. Tiberius Eduardo, um nome muito estranho para um prefeito, entrou para a prefeitura prometendo melhorar a cidade. “Nossos dois adjetivos serão positivos”, disse ela na sua campanha eleitoral em 2008. A ideia era manter a segurança da cidade, mas torná-la mais atraente para os turistas. E a ideia dele era boa, inclusive: investir no comércio.

Ora, por que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro são tão visitadas? Claro, têm as belezas naturais, as magníficas praias que refletem a beleza brasileira, mas também são ricas em comércio. Por isso que tantos aprovaram o discurso de Tiberius.

Ah... Mas o nosso prefeito estava apenas começando a mostrar suas garrinhas. Quando ele decidiu atacar, o povo da nossa cidade teve que revidar.

Com tanto dinheiro enviado pela prefeitura aos comércios, começou a faltar leitos, equipamentos e vacinas nos hospitais. E vale lembrar: foi justamente na época da pandemia da gripe suína. Outra coisa que ficou claro com o passar do tempo é que Tiberius não estava nem aí para o comércio geral da cidade. Logo se notou que apenas os grandes comerciantes estavam sendo beneficiados.

Pequenos comerciantes, como donos de mercearias, gerentes de pequenas lojas e varejistas, enfrentavam problemas como falta de produtos e muitos tiveram que fechar suas portas.

É... Tiberius queria transformar o nosso adjetivo ruim em bom, mas acabou transformando o nosso bom em ruim.

A segurança, que era muito elogiada na cidade, desapareceu. Pequenos comerciantes tiveram que adentrar no mundo do crime para sobreviverem, e em pouco tempo, as manifestações contra Tiberius tomaram conta das noites da cidade. Jovens saiam à noite para as ruas mascarados e diversas vezes se reuniam na frente da prefeitura dizendo palavras de ordem contra o prefeito.

Sempre que uma manifestação desse nível acontecia, os jornalistas iam cobrar um posicionamento de Tiberius no dia seguinte. E o prefeito dizia sempre a mesma coisa: “tá tudo sobre controle”. Mas não estava. E a prova disso foi a grande manifestação que fizemos em 9 de junho de 2009.

A manifestação aconteceu às 21h, mas cerca de meia hora antes, um grupo de manifestantes foi até a subestação da cidade, e, passando pelos guardas, desligou o serviço de energia de todo o município. E o apagão dominou a cidade. Era uma noite com muitas nuvens, então nem a luz da lua estava ali para amenizar a escuridão. As únicas luzes que iluminaram a cidade naquela noite eram as chamas de fogo que os manifestantes tacaram em latas de lixo, carros e outras coisas. Outras pessoas pegavam pedras enormes e quebravam os vidros das lojas, e aproveitavam o tumulto e a escuridão para saquearem o quanto quisessem. Tá, eu sei, esse não é o jeito certo de se manifestar. Não se constrói uma cidade destruindo-a, isso é lógico. Mas no meio de toda aquela adrenalina, você acha que os manifestantes iriam se preocupar se tinha alguém saqueando lojas ou não? Só tínhamos um alvo para aquela noite: Tiberius Eduardo.

— Eu quero um pelotão da Polícia Militar para enfrentar esses manifestantes – disse Tiberius ao telefone, ao ver pela janela aquela multidão que vinha em direção à prefeitura.

— Mas, prefeito – respondeu o comandante -, a Polícia Militar está investigando o grupo que provocou o apagão.

— Que se f*da o apagão! Eu quero vocês aqui imediatamente!

Nunca tínhamos visto algo desse tipo. Centenas, talvez milhares de pessoas, grande maioria mascarada, portando cartazes, e algumas mais radicais, levando tochas. Todas indo em direção à prefeitura.

E lá estava eu, no meio de toda aquela gente, não usava máscara, nem levava um cartaz, nem tochas, mas já estava rouca de tanto gritar. Foi então que vimos luzes azuis e vermelhas e ouvimos um barulho de sirenes aumentando cada vez mais. Quando notamos, vimos viaturas da Polícia Militar nos cercando por todas direções.

— São os desgraçados da polícia! – gritei eu – Não pensem que vão nos impedir!

Foi então que eu vi várias pessoas recuando ao verem os homens fardados, armados com fuzis e armas de choque, munidos com spray de pimenta e vestidos com coletes a prova de balas.

— Ei! Voltem aqui! – falei aos berros ao ver todos aqueles manifestantes recuando – Vocês vão mesmo desistir por causa desses idiotas fardados?

Mas mesmo eu gritando, muitos saíram correndo. Mas outros ainda seguiam avançando e não demonstravam estar intimidados com a ofensiva da Polícia Militar.

— Isso aí, gente! Vamos em frente! Não parem! – minha voz, de tão rouca, já estava parecendo a de um fumante, mas eu não ligava, a emoção do momento estava tomando conta de mim.

Ah! Que raiva que eu tinha da polícia! Será que eles não percebem o quão terrível era o prefeito que eles estavam defendendo? Se eles se importassem em proteger a cidade, não estariam defendendo aquele crápula. Nem eu sei explicar quão grande era a vontade de espancar aqueles policiais.

Eu estava ali procurando uma revolução para a cidade, mas eu nem sabia que a grande revolução que começaria ali seria na minha vida.


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Notas finais do capítulo

Que fique bem claro que eu não tenho nada contra a polícia! Isso é uma característica da personagem. Kkkk. Respeito os policiais, desde que não sejam racistas! #BlackLivesMatter

Esse capítulo foi bem introdutório, mas acho que já dá pra ter uma noção do que a fic reserva. Kkkkk.

Espero que tenham gostado desse início! Um abraço! ^^