Obi Wane-Shots escrita por Pugamegold


Capítulo 11
Cabeça a prêmio


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos leitores, como estão?

Trago para vocês o maior capitulo que já escrevi na minha vida kkkkkk Alguns capitulos atrás, perguntei se preferiam que eu dividisse ele ou o postasse inteiro... Inicialmente eu iria dividir em duas partes, mas como eu uso imagens para ilustrar os contos e não queria ter que repetir as imagens, resolvi postar inteiro mesmo kkkk

Sorry... Nunca escrevi um capitulo tão grande e confesso que fugiu um pouco da minha zona de conforto ( personagens que tive que criar, muitos dialogos... etc) Editei o final varias vezes pois nunca achava que tinha ficado bom o bastante, por isso a demora em postar kkkkk

Até que finalmente, consegui chegar a um resultado que me agradou e trago para vocês... Espero que gostem.

Vamos lá então
Boa leitura hahaha

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A cada passo dado, uma pequena nuvem de poeira surgia, sujando cada vez mais suas botas. A caminhada era longa, mas era preciso ser feita regularmente para chegar até o seu destino. Ao longo dos anos, Ben Kenobi descobriu, por experiência própria, que mesmo estando naquele planeta quente e árido, existiam lugares agradáveis para se estar e meditar.

  Poderia fazer isso na sua pequena casa, é claro, mas às vezes sentia-se sufocado e passou a apreciar ficar ao ar livre, principalmente no final da tarde e inicio da noite, já que a temperatura tornava-se mais fresca.

  Ao chegar ao lugar escolhido naquele dia — no alto de uma cadeia de montanhas — o Jedi tirou seu manto e olhou em direção ao por dos sóis de Tatooine. Gostava de admirar esse momento. De relance, notou uma movimentação estranha na encosta do morro em que se encontrava. Um garoto magricela corria, tentando fugir de saqueadores que estavam em seu encalço.

— Aquilo definitivamente não é algo que se vê todos os dias. — Ele murmurou e se abaixou.

  Com o olhar, acompanhou o garoto de cabelos negros e pele clara correr por mais dois quilômetros antes de tropeçar e cair, engolindo areia. O garoto tentou se levantar, mas um dos saqueadores foi mais rápido e pisou em suas costas, forçando-o a ficar deitado.

  Ben estava longe demais para ouvir a conversa e mesmo que conseguisse ouvir, não poderia fazer nada. Ele era apenas um velho vivendo pacificamente em sua cabana e cuidando de seu rebanho de Banthas, o que poderia fazer? Chutar a canela dos agressores?

  Com um longo suspiro, ele desviou o olhar da cena. O que queriam com aquele garoto? Uma ideia passou por sua mente e ele a achou plausível. Devia ser um escravo tentando fugir.

 De relance, notou que o garoto agora estava de joelhos, com as mãos na cabeça. Iria ser fuzilado.

— Belo dia para deixar seu sabre de Luz em casa, Ben! — Ele resmungou consigo mesmo e ficou de pé.

  Sabia que era uma péssima ideia intervir, pois logo os boatos correriam soltos e poderiam chegar aos ouvidos daqueles que ele vinha evitando há anos. Ajudar aquele garoto poderia acabar com seu disfarce e com seus planos, poderia inclusive colocar Luke em perigo. Seu coração batia acelerado. Deveria agir como Obi Wan ou continuar seu caminho como Ben?

  Notou que o tempo do garoto havia se esgotado e um dos saqueadores apontava um blaster para sua cabeça, pronto para disparar. Balançando a cabeça negativamente, ele optou por agir como Obi Wan.

  Sorrateiramente, ele saltou até a parede da montanha oposta já escurecida pela falta de luz solar, dando lhe uma vantagem. Conseguiria chegar perto dos saqueadores sem que eles percebessem, ao menos esperava por isso.

  Pulando em direção ao solo, esgueirou-se até ficar a poucos metros de distancia do grupo. Contou quatro integrantes, mais aquele que apontava a arma para o garoto. Próximo, ele conseguiu entender o que diziam.

— Ande logo moleque! Quais são suas ultimas palavras? — o homem de cavanhaque esbravejou — Estou ficando com os dedos dormentes!

  Soluçando, o garoto balbuciava algumas palavras que o velho Jedi não compreendeu de imediato.

— Deixe... Irmã... Livre... — Seu corpo todo  tremia. — Por favor!

— Depois dessa sua tentativa fracassada de fugir?  — o homem soltou uma gargalhada e seus comparsas o acompanharam. — Depois de lidar com você, ela vai pagar na mesma moeda... Ou talvez eu encontre outras funções para ela, se é que me entende.

  Ben ficou estático. Não iria permitir tamanha atrocidade com aquelas crianças, mesmo que isso lhe causasse problemas futuros, os quais poderia resolver quando surgissem. Primeiro tinha que cuidar daquela situação. Procurou ao redor algo que pudesse causar uma distração e encontrou algo perfeito. Movendo o dedo indicador da mão esquerda rapidamente para o lado, lascas de pedra se soltaram do paredão e voaram em direção aos saqueadores, bem na hora em que o executor preparava-se para apertar o gatilho.

 Assustados com a repentina chuva de pedras, os saqueadores começaram a atirar para cima, na esperança de atingir quem quer que fosse o responsável por aquilo. Com um sorriso de satisfação no rosto, Kenobi lançou mais pedras na direção deles, o que foi o suficiente para que batessem em retirada, deixando o menino largado no chão.

  Cauteloso, ele saiu das sombras e caminhou devagar até o garoto, que parecia desfalecido no chão. Temia que uma das pedras o tivesse atingido, mas quando se agachou perto do corpo imóvel, percebeu que não era o caso.

— Olá. — Ele disse pondo a mão gentilmente nas costas do menino. — Não se preocupe, estou aqui para ajudar. Meu nome é Ben.

  O garoto que até então estava com os olhos fortemente fechados, os abriu devagar e encarou o homem a sua frente. Apesar de algumas rugas e uma expressão cansada, seu rosto lhe pareceu familiar. Já o tinha visto antes, mas não se lembrava de como nem de onde. Sentou-se e estendeu os braços para o Jedi, indicando para que ele tirasse suas amarras.

— Claro! — Ben as arrancou com facilidade. — Bem melhor não acha? — Ele sorriu. — Suspeito que não tenha para onde ir não é?

  O menino afirmou com a cabeça. Não conseguia desviar a atenção daquele rosto que lhe soava tão familiar. Precisava lembrar, sabia que era importante.

— Bom, acho que posso arrumar uma cama para você. — O Jedi ergueu-se e estendeu a mão para o garoto. — Vamos? Aqueles sujeitos podem voltar a qualquer momento.

  Relutante, ele apertou sua mão com força e colocou-se de pé, com os braços ao redor do corpo. Ventava bastante naquele inicio de noite.

— Está com frio? — Kenobi fez menção de tirar seu manto, mas lembrou-se de que o deixou no topo de uma das montanhas e mordeu os lábios, frustrado. — Não se preocupe, não é muito longe.

  Com um aceno positivo do garoto que não parecia ter mais do que 14 anos, o ruivo iniciou a caminhada até sua casa. Apesar de sentir-se bem em ter ajudado, seu coração estava apertado. Com o que exatamente, ele não sabia. Com os anos de experiência, aprendeu a ser cauteloso, mas andando lado a lado com aquele menino, por mais que tentasse, não conseguia entender como ele poderia lhe ser prejudicial. Podia sentir a aflição em seu coração, sua angustia, seus medos e ao olhar sua mente, captou apenas pensamentos voltados a uma menina idêntica a ele — sua irmã provavelmente.

— Por que me ajudou? — Ele perguntou, evitando olhar para o homem que caminhava ao seu lado.

— Por que não ajudaria? — Ben o fitou.

  O garoto chutou algumas pedrinhas que estavam em seu caminho.

— Por que sou um escravo. Ninguém ajuda os escravos... — Ele murmurou e fechou com força os dedos nas palmas das mãos.

— Eu não me importo com isso. — O Jedi levantou o olhar e encarou o céu noturno. — Conheci um garoto como você, há muitos anos. —Seus olhos arderam com a enxurrada de lembranças que invadiram sua mente.

— Um escravo? E o que aconteceu com ele? — o jovem finalmente o encarou, esperando uma resposta.

  Ele se libertou, cresceu e tornou-se um dos melhores Jedi da Galáxia... Depois sucumbiu para o lado negro da força e agora causa morte e destruição por onde passa... Essa com certeza não era a resposta mais adequada para dar ao menino. Pensativo, o Jedi foi tirado de seu devaneio por um puxão em sua roupa.

— Hein? — o garoto questionou incisivamente.

— Ele... — O ruivo engoliu em seco. — Cresceu e se tornou um homem muito bom e honrado, mas foi morto na guerra. Era meu melhor amigo.

  Com um nó na garganta, Ben evitou olhar para o menino. A resposta que deu não foi exatamente uma mentira — Anakin realmente fora morto por Dath Vader. Era isso que o velho Jedi sentia em seu coração.

— O que aqueles homens queriam com você? — Ele perguntou, tentando mudar de assunto. — É claro, se não se importar em me contar...

— Estavam me caçando. — O menino disse secamente. — O chefe estava me negociando de novo. Então eu decidi que iria fugir. Assim poderia dar um jeito de acabar com eles e libertar minha irmã.

— Desculpe. — Ben ergueu uma sobrancelha. — Negociando?

  — Sim. E o que fazem com escravos, caso não saiba! — O garoto exclamou, irritado. — Aqueles saqueadores roubam crianças de suas famílias e vendem como escravos para quem estiver disposto a pagar. Mas eu sempre dificultei as coisas para ele... — Seus olhos brilhavam de satisfação. — Em todas as vezes que fui vendido, arrumava um jeito de ser devolvido, para poder ficar perto da minha irmã. Eles nunca a venderam, disseram que ela não tinha valor comercial por conta de ser menina. — Olhou para o Jedi. — Prometi aos meus pais que cuidaria dela e é o que vou fazer até o fim.

  Perturbado pela historia trágica do menino, Kenob achou melhor não fazer mais perguntas.

  Ao chegarem, o garoto estacou há poucos metros da entrada, aflito por causa do som que vinha de trás da pequena cabana. Olhou ao redor, como se esperasse ser capturado por algum tipo de criatura monstruosa.

— Não se preocupe. — Ben tocou em seu ombro, o que fez o jovem afastar-se sobressaltado. — É um pequeno rebanho que eu cuido. São inofensivos. — Ele sorriu, tentando parecer simpatico. — Aliás, eu ainda não sei o seu nome.

  O garoto não parecia estar à vontade. Olhava desconfiado para os lados, mas nunca diretamente nos olhos do Jedi. Murmurou então uma palavra que Ben não conseguiu entender.

— Desculpe. — Ele se agachou na intenção de ficar na mesma altura do garoto e assim conquistar sua confiança. —Sei que teve um dia difícil, mas eu só quero ajudar. — Levantou as mãos em um gesto de paz. — Não sou como aqueles que te machucaram.

— Então quem é você? — O garoto exclamou raivoso. — Não pense que confio em você só por que salvou minha vida. — Ele se afastou. — Não dá para confiar em ninguém... Em ninguém.

— Concordo com você. — O Ruivo ergueu-se e colocou as mãos na cintura. — Vamos começar de novo então. Meu nome é Ben Kenobi. Sou um velho que mora no deserto e passa o tempo consertando coisas que as pessoas jogam fora. — Ele estendeu a mão. — Sua vez.

  Relutante, o jovem fitou o Jedi e semicerrou os olhos.

— Meu nome é Haat Cali. Sou um escravo.

— Bom Haat. — Kenobi cruzou os braços. — Acho que terá que encontrar outra função para você. Está livre agora.

— Só serei livre quando conseguir libertar minha irmã das garras daqueles bandidos.

  Apesar de ser jovem, Haat tinha uma grande amargura em seu coração, constatou Ben e ele não o culpava. A luz da lua podia ver marcas profundas nos braços do garoto e uma grande cicatriz em seu rosto, que ia da orelha esquerda até metade da bochecha. Marcas típicas de pessoas escravizadas e que eram torturadas por seus senhores.

— Vou tentar ajuda-lo Haat, mas por hora. — Ele indicou a entrada. — Descanse um pouco. Ao amanhecer conversaremos melhor a respeito.

  Haat o fuzilou com o olhar e obedeceu. Ben não se incomodou com o olhar indiferente do jovem. Havia se acostumado com esse tipo de tratamento, pois em Tatooine, as pessoas dificilmente te olhavam de outro jeito.

  Acompanhou seu hospede e entrou, fechando a porta atrás de si.

— Pode dormir ali. — Ele apontou para a cama no canto da sala.

  Haat não se moveu. Permaneceu imóvel.

— Por que está me ajudando? — Perguntou sem mexer um musculo. — Não tenho nada para dar em troca.

— Por que acha que eu iria querer algo em troca? — Kenobi suspirou cansado. Parado no meio da sala, só queria que o menino confiasse em suas boas intenções.

— Todos sempre querem algo em troca. — Disse o jovem, andando em direção à cama e deitando-se em seguida.

  Era verdade. As pessoas dificilmente faziam alguma coisa sem esperar algo em troca e Haat provavelmente presenciou muito disso ao longo de sua vida. Por isso era de se esperar que ele pensasse algo assim, afinal, não conhecia Ben. O fato é que nunca se conhece alguém por inteiro, só aquilo que a pessoa permite que você veja. O velho Jedi aprendera isso da pior forma possível.

  Com isso em mente, O Jedi acomodou-se em uma poltrona velha e gasta e se cobriu com um espesso cobertor de pele. A primeira coisa que faria, antes de ajudar o jovem a resgatar sua irmã, seria recuperar seu manto.

 

 

 

  Acordou cedo no dia seguinte, evitando fazer barulho para não acordar seu hospede e saiu em seguida. Antes de fazer qualquer coisa, precisava buscar seu manto esquecido na cadeia de montanhas ao sul. Era muito útil e tinha certo valor sentimental, o que era um pouco engraçado. Desde os primórdios da Ordem, Os Jedi não colecionavam posses, eram adeptos do desapego. Ele próprio teve que abrir mão do próprio nome em prol de um bem maior, mas eram outros tempos aqueles...

  Gostava daquele manto velho e surrado, o fazia sentir-se em casa.  Por sorte, ele ainda estava lá, ainda mais sujo e empoeirado. Ben o sacudiu e virou o rosto para longe das partículas de areia.

  Não demorou a retornar e ficou surpreso ao encontrar o jovem acordado, sentado a mesa num canto da sala. Por um instante pensou em perguntar se ele havia dormido bem, mas achou idiotice perguntar uma coisa dessas.

— Você fala bastante enquanto dorme. Não consegui dormir por 10 minutos. — O jovem resmungou, com a cabeça apoiada em uma das mãos, sonolento.

— Bom dia para você também. — Ben estendeu um copo de leite azul para o garoto. — Precisará de energia se quiser ajudar sua irmã. — Ele sentou em uma cadeira meio bamba perto da pequena mesa. — Peço desculpas pelo incomodo, é um habito que adquiri ao longo dos anos.

  Haat o fuzilou com o olhar e virou o copo, derramando o liquido azul por sua roupa. Ao terminar, estendeu o braço, indicando que queria mais leite.

— Certo. — O velho Jedi então lhe serviu mais um copo, posicionado a jarra sobre a mesa. —  Antes de qualquer coisa, preciso fazer umas perguntas... Onde fica o cativeiro? Preciso do local exato. Se você pudesse desenhar, ajudaria muito. — Ele analisou Haat atentamente — Com certeza deve haver mais deles por lá, mas duvido que esperem uma retaliação, não costumam ser tão espertos assim... — Ele coçou a barba ruiva grisalha. — Preciso saber também a quantidade exata de escravos, mas vou deixar uma coisa bem clara: Provavelmente não conseguiremos libertar todos, talvez alguns...

— Quem é Anakin, Luke, Leia e Padmé? — Haat perguntou sem cerimonias, fazendo o Jedi engasgar.

— O que?

— Você repetiu esses nomes à noite inteira! Até os memorizei. Quem são? Sua família? — O menino pareceu não notar a expressão de dor que passou sorrateiramente pelo rosto de Ben.

— Quase isso... — Disse o ruivo, encolhendo os ombros. A simples menção daqueles nomes fazia com que antigas feridas voltassem a doer. — Podemos voltar ao assunto? Você entendeu a parte em que eu disse que não poderei ajudar todos...?

— Não me importo com os outros!  —O garoto bateu o copo com força na mesa. — Me importo apenas com Meka, entendeu? E você... — Ele olhou Ben de cima abaixo. — Como pensa em acabar com os saqueadores? Não sei quantos são, sei que são muitos... Todos os dias aparecem mais deles. Mas pelo que vejo você não passa de um doido que mora sozinho no deserto e que passa as noites chamando por pessoas que nem devem estar mais vivas!

— Não se preocupe com isso meu Jovem. — Abatido, Kenobi se levantou e ajeitou seu cinto. — Sou velho, mas ainda posso dar conta de alguns marginais.

— Você não é tão velho. —  Haat murmurou envergonhado pelo súbito ataque explosivo e evitando olhar para o homem a sua frente, completou. - Você me lembra ele, na verdade.

— Ele quem? — Kenobi Perguntou intrigado.

— Meu pai. — O menino levantou a cabeça e encarou Ben. — Era corajoso e não tinha medo deles. Por isso foi morto quando eu tinha cinco anos. — Ele tinha uma expressão raivosa. - E você também vai!

  Com um balanço de cabeça, o ruivo soltou um suspiro.

— Sinto muito por seu pai. — Ele fitou o garoto sentado na cadeira, com as mãos em volta do copo rachado. — Mas eu não vou morrer, nem posso pensar nessa possibilidade. Tenho assuntos pendentes.

— Que tipo de assuntos? — Olhando mais atentamente o homem e com a ajuda da claridade, com certeza o conhecia de algum lugar. Já vira seu rosto estampado em cartazes espalhados por em uma parede de um dos cativeiros em que já esteve, quando era mais novo, mas por mais que tentasse forçar sua mente a se lembrar, não conseguia identificar quem era aquele sujeito.

— Não são relevantes. Agora. — Ben caminhou em direção a saída. — Irei até a cidade e farei um reconhecimento. Sinto que encontrarei as respostas que procuro por lá. Quanto a você. — Virou-se e de braços cruzados, lançou um olhar firme para o garoto. — Fique aqui e alimente os animais. Trarei alguma coisa para você comer.

  Com um salto, Haat pôs se de pé em frente à Kenobi e agarrou sua manga com força.

— Deixe-me ir com você! Se insistir para que eu fique aqui, cuidando daqueles animais idiotas, eu irei fugir e resgatar minha irmã sozinho entendeu?

— Haat. — Kenobi disse devagar. —  Nosso objetivo é resgatar sua irmã, sem causar tanto alarde. Se você for comigo, aqueles homens poderão te reconhecer e nosso plano de resgate se tornará um desastre.

— Nosso objetivo? — o garoto afastou-se. —  Você não me conhece, não conhece minha irmã!  Por que se importa tanto?

  Por que Ben Kenobi, que na verdade era Obi Wan Kenobi, havia sido um dos mais renomados cavaleiros Jedi na época da republica e seu dever era exatamente esse: Ajudar aqueles que precisavam ser ajudados, proteger aqueles que não podiam se proteger.

— De onde eu venho. — Ele escolheu as palavras com cuidado. — É assim que fazemos. Se alguém precisa de ajuda, e eu puder ajudar, o farei com prazer.

  Observou a reação indiferente do garoto e percebeu que não conseguiria convence-lo a ficar. Dando-se por vencido, ele olhou ao redor, como se procurasse por alguma coisa.

—  Vamos fazer o seguinte. — Ele avançou para algumas caixas perto do sofá e tirou uns objetos para fora. — Achei! — Ele entregou um capacete e um óculos protetor para Haat. — Acho que vai servir. Estava guardando para dar de presente para uma pessoa, mas embrulharei depois. —  O garoto pegou e os examinou. — Ponha isso e fique perto de mim. Se por acaso avistar os saqueadores, prometa-me que não vai fazer nada. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Combinado?

   O jovem então apertou a mão estendida amigavelmente de Ben a sua frente e a sacudiu, porém não havia dito que prometia.

— Ótimo. Vamos lá então... Quero terminar tudo antes do jantar.

 

 

 

  A Cidade Com certeza não era um dos lugares preferidos de Ben. Sempre lotada, ele temia chamar atenção, por isso tentava se misturar a multidão. Com o rosto coberto, andava rapidamente entre os fazendeiros que tentavam vender suas mercadorias. Vez ou outra olhava para trás para se certificar de que o garoto o seguia. A sensação de que algo ruim iria acontecer o dominava, mas começou a pensar que sempre se sentia assim quando tinha que ir até o centro.

— Ali. — Encostado a um muro em ruinas, Kenobi apontou para um prédio logo a frente que estava bastante cheio. —Algo me diz que estão ali dentro. — Ele virou para encarar Haat. —Fique aqui. Vou até lá tentar descobrir um jeito de ajudar sua irmã. E... — Ele arrumou o capuz. — Por favor, não faça nenhuma besteira.

  A passos largos seguiu em direção ao bar e entrou. Haat o observou desaparecer, apreensivo. Como poderia confiar naquele homem? E se fosse algum escravocrata fingindo querer ajudar, quando na verdade queria apenas lucrar com eles? Sua situação poderia ficar ainda pior.

  Ajeitando os óculos em seu rosto, ele olhou ao redor, certificando-se de que não havia ninguém que pudesse reconhecê-lo. Decidido a salvar sua irmã sozinho, correu o mais rápido que podia até a entrada da espelunca, que era guardada por um Rodiano mal encarado.

  Parou subitamente ao perceber que ele fazia parte dos saqueadores responsáveis por manter ele e sua irmã em cativeiro. Disfarçadamente, ele caminhou em diagonal até um aglomerado de pessoas exaltadas próximas a um muro alto. Curioso, ele se esgueirou no meio das pessoas e passou a frente de um homem baixinho, ficando de frente para a parede que estava cheia de cartazes.

  Atônito, olhou para cada rosto estampado na parede com os dizeres PROCURA-SE e PAGA-SE ALTISSIMA RECOMPENSA. Eram Jedi que haviam sobrevivido ao expurgo e agora estavam foragidos. Continuou olhando até que um chamou sua atenção e ele finalmente se deu conta de onde conhecia o velho homem que o salvara no dia anterior.

  OBI WAN KENOBI

 ALTAMENTE PERIGOSO

RECOMPENSA POR QUALQUER INFORMAÇÃO

 

  Abaixo dos dizeres, havia a imagem de um homem ruivo, com a barba feita e bem vestido. Apesar de estar bem mais jovem no cartaz, Haat não teve duvidas de que era a mesma pessoa.

  Ainda chocado, não percebeu a aproximação de alguém por trás que o agarrou pela gola de sua roupa e o arrastou para longe da aglomeração até um beco. Lá, aproveitando que estavam de certo modo bem escondidos, Kenobi puxou ainda mais seu capuz para esconder seu rosto aflito.

— Achei que tinha dito para você ficar quieto. —  Ele disse nervoso.

— Você!  — Haat apontou o dedo. — Você é um Jedi! Sabia que não podia confiar em você. — Ele cuspiu no chão. — Você é ainda pior do que aqueles saqueadores!

— Haat. — Kenobi agarrou seus ombros. —  Me escute com atenção! Sei onde sua irmã está e posso ajuda-lo a resgata-la, mas se você me entregar para os soldados, não poderei fazer nada. — O garoto tentou se soltar de suas mãos. — Por favor, confie em mim.

  Com os olhos ardendo em chamas, o garoto ficou paralisado. Seu coração batia acelerado. Jamais confiaria num Jedi. Eles eram tão ruins quanto os saqueadores, dissera seu pai um pouco antes de morrer, mas se fosse preciso fingir para o bem de Meka, então assim seria.

— Esta bem. — Ele olhou para os próprios sapatos já gastos. — Como vamos salvar minha irmã?

 — Vamos voltar. Eu tenho um plano. — O Jedi o soltou.

  Haat também tinha um plano.  Jurou ao seu pai que cuidaria de Meka e faria o possível e o impossível para protegê-la, mesmo que isso custasse sua própria vida. Sozinhos no mundo há quase oito anos, os dois tinham apenas um ao outro.  A vida de um escravo não era fácil, mas ao lado da irmã tornava-se mais tolerável e por isso faria qualquer coisa para tê-la de volta.

 

 

  A caminhada de volta ocorreu no mais puro silencio. Por mais que tentasse fazer o garoto confiar nele, Ben sentia que acontecia exatamente o contrario. Não era a primeira vez que via cartazes com seu rosto estampado pela cidade, mas graças a sua habilidade de confundir a mente, até então tinha conseguido se livrar de encrencas. Poderia fazer isso com Haat, mas não queria ter que apelar. Queria apenas que o menino acreditasse nele e confiasse, mesmo que ele próprio não confiasse em si mesmo a um bom tempo.

  Realmente chegaram a tempo do Jantar. O Jedi preparou um caldo e serviu um pouco ao jovem, que sequer tocou na refeição.

— Achei que tinha um plano. —  Ele comentou, mexendo o caldo com uma colher.

— Eu tenho, mas temos que ir devagar. — O ruivo bebeu um gole de sua água. — Há muito em jogo Haat, não podemos agir de qualquer jeito.

— Quanto mais eu espero você e seu plano estupido. — Haat cuspiu as palavras. — Menos tempo minha irmã tem. Não consegue entender isso?

  Cansado de discutir, Kenobi fechou os olhos e pediu por paciência. Há anos não tinha que lidar com alguém tão genioso quanto aquele garoto e sua paciência de Jedi havia sido substituída pela paciência de Ben, que não era tanta assim.

— Agiremos pela manha. Descobri que ao amanhecer, a maioria dos capangas viaja até o mercado central de escravos e só alguns ficam de vigia no local. Isso nos dará uma enorme vantagem. Tenha paciência meu jovem. — Ele levantou-se da mesa. Não tinha mais apetite. — Tente dormir um pouco. Prometo que terá sua irmã de volta.

  Sem esperar uma resposta, ele se afastou e saiu, deixando o Haat sozinho, que repassava em sua mente o brilhante plano que ele mesmo tinha formulado sem a ajuda do Jedi e que com certeza daria certo. Não tinha como dar errado. Em troca da liberdade da sua irmã, ele daria outro escravo para os saqueadores. Um escravo ainda mais valioso.

  Um Jedi.

 

 

 

  Durante a madrugada, esperou pacientemente Ben pegar no sono e sorrateiramente, aproximou-se. Mexeu em suas vestes a procura de uma prova favorável a seu argumento, quando fosse discutir os termos da libertação de sua irmã com o Chefe. Ao achar o que procurava, sorriu satisfeito.

  Na ponta dos pés, caminhou em direção à porta e parou olhar para trás para ter certeza de que o homem dormia profundamente. Tendo certeza de que ele dormia, pôs se a correr em direção as dunas, onde ficava o complexo dos saqueadores.

  Ele obviamente sabia para onde ir. Não precisava esperar o Jedi tomar uma atitude.  Ele mesmo iria salvar sua irmã e juntos seriam livres, sem a ajuda de ninguém.

  Correu o mais rápido que podia e quando chegou, respirou fundo varias vezes para recuperar o folego. Aproximou-se da entrada e bateu com força na porta.

  Antes que pudesse dizer algo, uma mão verde o agarrou pela abertura e o puxou para dentro. Era o Rodiano que vira mais cedo e continuava com uma cara de poucos amigos.

— Olhe só quem voltou Sakat! — Ele gritou e apertou ainda mais a mão no braço do garoto. — Aquele escravo!

  Das sombras surgiu um Homem alto e careca, com uma enorme cicatriz no olho esquerdo. Era o mesmo que quase matara Haat e também o líder dos saqueadores. Também foi o responsável por matar o pai deles, há alguns anos, tomando para si a guarda das crianças.

— Sabia que iria voltar. — Ele sorriu, deixando a mostra dentes quebrados e podres. — Sempre volta, não é mesmo seu verme?

  Apontando para o jovem, Sakat ficou observando satisfeito enquanto seus capangas avançavam e amarravam o menino, deixando-o de joelhos. Entretanto, Haat não parecia assustado nem preocupado, pois já esperava por essa recepção calorosa. Calmamente, ele deixou que os saqueadores o erguessem e antes que o carregassem para os fundos do alojamento, onde ficavam as celas, ele gritou:

— Esperem! Tenho um acordo para fazer com vocês! Esperem!

— Acha mesmo que iremos fazer um acordo com um verme como você? —  um Weequay sem o olho esquerdo rosnou. —  O que você poderia nos oferecer, hein? Depois de tudo que aprontou durante esses anos. Causou muito prejuízo ao chefe sendo devolvido repetidas vezes pelos senhores que o compravam. Não serve para nada, nem para ser um escravo!

 Com um sorriso, Haat relaxou os ombros. Agora tinha a atenção que precisava. Olhou ao redor com um ar de superioridade.

— E se eu dissesse que... Tenho um Jedi ?

  A palavra Jedi causou um enorme alvoroço entre os capangas de Sakat, que apareceu logo em seguida visivelmente incomodado com aquele barulho todo. Com os braços cruzados, fuzilou ferozmente o garoto sorridente.

— Chefe. — O Weequay gaguejou —  Ele disse... Disse que tem um Jedi!

   Sakat então olhou o garoto, que manteve a conexão sem fraquejar, apesar de sentir um arrepio na nuca agora que tinha colocado seu plano em ação. Por um momento sentiu-se arrependido, mas logo a sensação passou ao lembrar-se de que era por sua irmã. Prometera aos pais que ficariam sempre juntos e era isso que ele iria fazer.

— Um Jedi hein? E o que mais, garoto?  — Seu tom de voz era debochado.

  Sem hesitar, Haat olhou para suas vestes e fez um gesto com a cabeça, indicando que tinha algo ali. Sakat então se aproximou e enfiou sua mão direita em uma abertura na camiseta do garoto. Sua expressão mudou drasticamente ao sentir um objeto metálico e comprido em seus dedos.

 Arrancou o objeto das vestes do menino e o observou admirado. Um sorriso surgiu em sua boca e seus olhos brilharam.

— Soltem o garoto. — Ele disse sem tirar os olhos do sabre de luz de Ben. — Temos assuntos a tratar.

  Livre, Haat então contou tudo desde o inicio, quando fora salvo pelo Jedi. Sakat absorvia as informações atentamente, formulando em sua mente um plano para colocar as mãos em Ben.  Seus olhos pareciam dois cifrões ao pensar na recompensa que ganharia por entregar um Jedi as autoridades.

 

 

  Estava quase amanhecendo quando Haat e Sakat deram as mãos, selando um acordo.  O garoto partiu logo em seguida, com o sabre de luz de volta a suas vestes e um par de algemas elétricas balançando em sua cintura. Tudo estava indo conforme planejara. Entretanto, parou no meio do caminho ao perceber uma coisa: Estava tão concentrado na conversa que se esqueceu de pedir para ver sua irmã. Olhou para trás. Já estava bem distante do complexo e se voltasse, perderia muito tempo e poderia dar de cara com Ben o esperando, pronto para lhe perguntar o que fazia com o seu sabre de luz.

  Não. Virou-se novamente e correu, com um sorriso nos lábios. Teria muito tempo para ver Meka. Logo estariam juntos de novo e nada nem ninguém impediria isso.

 

 

  Chegou a tempo de encontrar o Velho Jedi ainda dormindo. Com cuidado, colocou o sabre novamente de onde o tinha pegado e se afastou devagar. Logo ele teria sua irmã de volta e tudo ficaria bem para dos dois. Quanto a Ben, ele não se importava. Aquele era um planeta cruel e injusto e o velho deveria saber disso antes de resolver ajudar alguém. Agora aprenderia da pior maneira.

  Pouco depois, Kenobi abriu os olhos devagar. Demorou um tempo para despertar totalmente. Levantou da velha poltrona e olhou ao redor, descansando o olhar sobre o menino que fingia dormir profundamente e sentiu pena do mesmo. Tão jovem, mas com uma vida tão sofrida.

  Com sorte — Ao longo dos anos passou a acreditar que a sorte às vezes era bem útil — Conseguiria libertar a irmã do cativeiro e assim eles poderiam tentar uma nova vida. Torcia para que a sorte estivesse ao lado deles naquele dia. Não era só Haat que precisava daquilo. Ele também precisava sentir-se útil de novo, parte de algo maior, como nos velhos tempos. Algo que fizesse a diferença na vida de alguém.

  Acordou o garoto e fez questão de lhe explicar o plano repetidas vezes. Após ter certeza de que Haat compreendera tudo, partiram. O alojamento dos saqueadores não era longe e conseguiram chegar a tempo de ver a maioria dos sujeitos saindo com suas speeder bikes em direção ao oeste.

— Você vai ficar aqui, enquanto eu entro lá e pego sua irmã. — Ele repassou novamente o plano. Encontravam-se escondidos atrás de um enorme pedregulho, alguns metros longe da entrada do complexo. — Entendeu?

— Como sabe que ela esta lá realmente? — Haat perguntou, fingindo estar interessado. Ele sabia muito bem que Meka estava lá, Sakat havia dito que estava, embora ele não tivesse visto com os próprios olhos. Apesar de tudo, confiava no homem, ele lhe dera sua palavra! Alguma coisa ainda tinha que valer verdadeiramente naquele planeta e ele, na sua ingenuidade, acreditava que o homem realmente tinha uma palavra de honra. Na sua opinião, ele tinha mais familiaridade com Sakat do que com o Jedi e com isso achou que tinha uma vantagem.

— Não se preocupe. Consegui extrair informações bem valiosas de um dos capangas. — Ele piscou para o garoto. —  Vai dar certo.

  Com um aceno de cabeça, o menino observou Ben correr abaixado em direção à parte de trás do complexo.  Esperaria até que fosse a hora certa de agir. Apesar de tudo, sentiu um pouco de pena do homem. Um destino terrível o aguardava e ele nem sequer suspeitava de nada.

  Mas na verdade, Ben sentia algo estranho sim, porém não deu atenção. Acreditava ser apenas impressão sua. Correu até chegar à entrada dos fundos. Sua intenção era pega-los de supressa, evitando se pudesse usar a força bruta.  Usaria seu sabre de luz somente em ultima opção.

  Adentrou e viu-se num breu total. Se a informação estivesse correta, ali deveria estar às celas onde mantinham os escravos, porém não havia mais ninguém ali além dele. A sensação de que algo estava errado se intensificou e então um clarão o deixou cego momentaneamente. Notou uma aproximação por trás, mas antes que pudesse se virar completamente, foi golpeado na nuca com uma barra de ferro. Haat o acertara em cheio e aproveitando a ocasião, colocou as algemas elétricas nas mãos de Kenobi, que ligaram imediatamente, lançando uma corrente elétrica por todo o corpo do Jedi.

   Devido à intensidade dos choques, Ben não conseguiu se manter de pé e caiu de joelhos. Levantando a cabeça com dificuldade, tentou focalizar Haat poucos passos a sua frente, com um sorrio  no rosto.

— Desculpe Jedi, mas tenho um plano melhor para salvar minha irmã. — O garoto se aproximou e com cuidado, retirou o sabre de luz do cinto de Ben. —  Você não vai mais precisar disso.

— Não... Faça... Isso... — O ruivo tentou dizer algumas palavras, mas a descarga elétrica era muito forte. — Por favor, Haat!

  A porta do outro lado da sala se abriu e Sakat entrou, com  um sorriso que ia  de orelha a orelha, olhando Kenobi como se fosse um troféu.

— Ora ora, pegamos um Jedi! — Ele exclamou alegre, chegando perto de Ben e dando-lhe um chute, que deixou o ruivo sem folego. — Muito bem garoto. — Encarou orgulhoso Haat. — Já pode desligar isso ai!

   A descarga elétrica cessou e o Jedi ergueu o rosto, contorcido de dor.

— Haat... —  Ele fitou o jovem. — Não confie nele. Aconteça o que acontecer, não acredite nele!

— Cale-se, escoria Jedi. —  Sakat lhe deu um murro, arrancando um gemido do homem imobilizado pela dor das descargas elétricas. — O garoto é mais esperto que você!

— Muito bem. — Haat se adiantou. — Agora solte minha irmã e iremos embora daqui e o Jedi será todo seu. — Ele disse jogando o botão responsável por ativar a descarga elétrica das algemas.

  Com um aceno positivo ao pegar o dispositivo no ar, Sakat assobiou e a porta pela qual tinha passado se abriu novamente, revelando um Transdoshano. Trazia ao seu lado, segurando fortemente, uma menina cujos cabelos negros e desgrenhados cobriam-lhe praticamente todo o rosto. 

— Meka!- Gritou Haat, correndo até a jovem. — Estava com saudades. Você está bem? — Ele se afastou e segurou seus ombros com carinho. — Meka?

  Observando atentamente, o menino notou que alguma coisa estava errada. Apesar de serem gêmeos, ele era mais alto do que ela, mas a menina a sua frente tinha praticamente a mesma altura e sua pele era fria como metal. Não parecia ser humano.

  Com o coração acelerado, Haat afastou o cabelo bagunçado e deu um pulo para trás, assustado. Aquilo com certeza não era sua irmã e muito menos se assemelhava com uma pessoa. O que deveria ser um rosto não passava de um emaranhado de fios e placas de metal. No lugar dos olhos, dois orifícios iluminados por um pequeno ponto de luz. Nem ao menos se deram ao trabalho de terminar o droide, simplesmente colocaram uma peruca para que o menino, na sua empolgação, não percebesse que não era sua irmã.

— Isso não é... Isso não é minha irmã! Onde ela está? — Haat gaguejou.

— lamento. —  Sakat exclamou, admirando o dispositivo pequeno e redondo em sua mão. - Sua irmã não esta aqui na verdade. Vendi ela para um Wookie no dia em que você fugiu. A essa altura, não deve ter sobrado muita coisa dela. —  Olhou para o jovem boquiaberto. —Desculpe, são negócios! Fique com esse droide no lugar, tenho certeza de que não vai notar a diferença, sua irmã não falava mesmo.

  Haat estava branco como papel. Tudo ao seu redor começou a girar e ele sentiu como se os seus pés deixassem o chão. Meka deveria estar ali, tudo estava indo conforme o planejado; ele pensou em tudo ...Só não imaginou que seria enganado dessa forma tão ridícula e previsível.

— Onde ela está? — Ele balbuciou as palavras, fuzilando Sakat com o olhar. — Onde está minha irmã?

— Não reclame! Irei poupar sua vida e dar uma nova chance a você de ser um bom escravo, mas só se prometer nuca mais tentar fugir, o que acha? — O Homem careca deu de ombros e jogou o dispositivo para cima, o pegando em seguida. — Eu Acho que esta de bom tamanho

  Tremendo dos pés a cabeça, o garoto então se deu conta de que segurava o sabre de luz e uma ideia surgiu em sua mente. Não tinha mais nada a perder. Vingaria sua irmã mesmo que isso custasse sua própria vida. Olhando ao redor maliciosamente, sabia que não teria chance, mas pelo menos poderia tentar matar Sakat.

— Não vou perguntar de novo, Onde ela está? — Gritou

— Quer que eu desenhe para você? — Sakat passou o dedo indicador pelo pescoço, com uma expressão sádica no rosto. — Na próxima vez moleque, não acredite em tudo que dizem. — Sua risada era doentia.

  Ajoelhado, Ben tentava livrar-se das algemas. Captou instantaneamente o pensamento suicida do garoto e sabia assim como ele, de que seria inútil.

  Olhou para Haat e notou que ele segurava a arma reluzente com tanta força que as pontas de seus dedos estavam brancas. Ele atacaria a qualquer momento, tamanha sua fúria.

  Sakat viu que o que o Jedi estava tentando fazer e apertou o dispositivo, enviando outra corrente de eletricidade pelo corpo do homem, que se contorceu ainda mais.

 — Aonde pensa que vai, Jedi? Na na ni na não, fique ai e seja um bom menino...

  Aproveitando a distração momentânea, Haat avançou na direção do chefe, brandindo na altura da cabeça o sabre de luz. Desajeitadamente, ele tentou transpassar Sakat, que desviou rapidamente para o lado direito. O golpe atingiu o peito do transdoshano que ainda segurava o droide disfarçado e caiu morto antes de atingir o chão.

— Ah seu verme! — Sakat tirou uma adaga de seu cinto e foi em direção ao menino, cuja expressão em seu rosto beirava ao completo desespero. — Queria me matar é? — Soltou uma gargalhada estridente. — Quem você pensa que é? — Abriu os braços, gesticulando para que Haat se aproximasse. — Venha, tente de novo!

  Enraivecido e deixando o medo que envolvia todo o seu corpo de lado, o menino correu em direção ao homem responsável por toda a desgraça em sua vida. Tão cego de ódio, descuidou-se e tropeçou no corpo daquele que acidentalmente matara, caindo em cima do cadáver. No ato, o sabre voou de sua mão e quicou no chão, até parar ao lado dos Pés de Sakat. Ele, porém pareceu não notar.

— Patético. — O Chefe se aproximou e agarrou o garoto pelo pescoço.

— Deixe o garoto em paz! — Urrou Ben. A dor não o incomodava mais, mas o deixava impossibilitado de se mover. — Irei com vocês de bom grado. Não tentarei fugir... Dou a minha palavra! — Disse ofegante.

— Não sei se percebeu Jedi, mas essa coisa de PALAVRA — ele enfatizou — não tem muito valor por aqui, ainda mais vindo de alguém como você! — Apertou ainda mais a mão no pescoço do menino, que aos poucos ia perdendo a consciência. —  Mas sim, você ira conosco e será um bom Jedi. Em troca eu prometo que farei bom uso da recompensa pela sua cabeça.

  Ben fuzilou o homem com o olhar, depois desviou para o objeto esquecido aos seus pés. Tolo, pensou.

  Encarando novamente o sujeito, ele disfarçadamente abriu as mãos e imaginou o caminho que o sabre percorreria até chegar a ele, mas a força das descargas emitidas pelas algemas o estavam bloqueando, de modo que o sabre apenas tremesse sob o chão empoeirado.

Droga! Um pouco mais de concentração bastaria para atrair sua espada, mas a intensa corrente de energia que fluía pelo seu corpo embaralhava sua mente.

  Olhou para Haat e viu a vida do menino esvaziando-se devagar, enquanto o chefe dos saqueadores apertava cada vez mais forte. Aquilo foi o suficiente para que Ben focasse toda a sua concentração e assim finalmente, conseguisse atrair seu sabre de luz.

 Apanhando-o no chão, Kenobi girou a luz incandescente e partiu as algemas, se libertando enfim das descargas elétricas. Com um pulo, colocou-se de pé e com a palma da mão, empurrou Sakat contra a parede, deixando-o atordoado. Antes que Haat atingisse o chão, Ben correu até ele e o segurou, repousando-o no chão cuidadosamente. Ainda estava respirando.

— Parece que você não é um bom Jedi. — O líder exclamou enquanto se apoiava com a mão direita na parede. Ergueu o dedo indicador da outra mão e o balançou para lá e para cá. — Vou ter que lhe dar um corretivo. Sabe... — Recuperado, começou a andar em direção a Kenobi despreocupadamente. — Sou conhecido por ter matado muitos Jedi.  Acha que esse seu olhar me assusta? Ou que essa sua Espadinha reluzente me causa calafrios? Seu tempo acabou Jedi!

 Ben deixou Haat deitado e se ergueu. De olhos fechados,  permitiu que o homem se aproximasse enquanto absorvia aquelas palavras amargas, típicas de alguém tão corrompido pelo lado negro, que já não havia mais salvação para sua alma.

— E então... Vai me matar? Veja, estou desarmado. — Ele largou sua adaga, que ao atingir o chão produziu um som agudo. — Pelo que eu me lembre, Jedi não matam pessoas desarmadas. — Rindo, ele girou no lugar, mostrando a Kenobi que não possuía mais nenhum tipo de arma. Achou que isso irritaria o ruivo.

— Não vou te matar. - Ben disse calmamente, baixando seu sabre de luz. Algo lhe dizia para que não atacasse — Sua punição chegará na hora certa. Resta-me apenas esperar por isso.

— É uma pena... Por que eu não costumo ter muita paciência! — Sakat gritou.

  Subitamente, ele sacou uma arma escondida por baixo de sua camiseta e apontou para Ben, que Instintivamente levantou seu sabre e defendeu o disparo feito pelo chefe dos saqueadores. O tiro ricocheteou na lamina e acertou a perna direita do homem, derrubando-o no chão, urrando de dor.

— Maldito! — Ele esbravejou. — É melhor me matar agora se não quiser ser caçado pelo resto da sua vida!

  O Jedi caminhou até ele e se abaixou a poucos centímetros de distancia.  Fechou os olhos e pousou a mão na testa do homem enraivecido.

— O que está fazendo? — ele Gritou, —  Não ouse usar aqueles truques Jedi em mim...

  Antes que Bem tivesse a oportunidade de manipular a mente de Sakat, outro disparo foi feito e esse foi direto no coração do líder dos saqueadores. De olhos arregalados, Sakat desabou no chão, morto.

  Kenobi se virou a tempo de ver Haat soltar o blaster que pegara do trandoshano quando tropeçou no corpo do mesmo alguns minutos antes.

— Como deve ser... — O garoto murmurou as palavras e seus olhos reviraram.

— Haat! — Bem gritou e correu até o menino, que convulsionava a poucos passos de distancia. — Resista Haat! Aguente firme. — Ele disse exasperado ao apoiar a cabeça do garoto no colo. —  Haat!

  A convulsão passou e o Jedi suspirou aliviado, mas a sensação durou pouco. O garoto ficou pálido e sua respiração tornou-se irregular.

— Desculpe-me Ben. — Ele disse e uma lagrima escorreu pelo seu olho esquerdo. — Só queria libertar Meka. —Tossiu um pouco de sangue. — Por favor, fique comigo. Não quero morrer sozinho.

— Tudo bem, descanse agora. — Ben passou a mão pela testa do garoto. — Estarei aqui... Apenas descanse.

 Haat então deu seu ultimo suspiro e fechou os olhos para sempre. Apesar de toda amargura e raiva, ele era apenas um menino que precisava de ajuda. Um menino que queria ser livre em um mundo onde a liberdade estava longe de ser alcançada. 

  Ben fechou os olhos e inspirou fundo. Em seus tempos de gloria, talvez fosse capaz de salvar Haat e sua irmã, mas naquele momento, ele não passava de um simples velho incapaz de salvar a si mesmo.

— Eu que peço desculpas, Haat...


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Podem dizer kkkkk Criticas e sugestões são bem vindas

Como eu disse, eu não tenho muita familiaridade com esse estilo, mas eu quis arriscar e saiu isso kkkkk Espero que gostem.

Eu fiquei feliz com o resultado, pois foi exatamente o que eu imaginei na minha mente quando eu vi essa imagem e fui escrevendo... Tive mais dificuldade no final, mas deu tudo certo kkkk

Agradeço por estarem aqui sempre tão presentes e maravilhosos

Que a força esteja sempre com vocês...

Obs: Caso gostem hahaha eu tenho mais dois que estou escrevendo nesse estilo ( e meio que travei também pq mds é muito dificil escrever cenas com muita ação kkkk) eu vou termina-los e postar assim que possivel...



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