Implicância Fora de Série escrita por Saori


Capítulo 2
Uma verdadeira rosa.


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente, pessoal!
Observação número 1: tô me sentindo a própria Rose por ter gente falando que eu dei spoiler de It, me desculpeeeem!
Observação número 2: obrigada pelos comentários, eu juro que vou respondê-los, mas é que eu acabei ficando um pouco enrolada com trabalhos e coisas da vida.
Espero que gostem desse novo capítulo! Boa leitura. ♥
Ps: esse capítulo ainda vai falar sobre aquele spoiler de It, não me odeiem.



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Scorpius Hyperion Malfoy.

Granger e Weasley, eu conhecia aqueles sobrenomes. Não foi preciso muita pesquisa para saber de onde. Uma mensagem de texto para Albus Potter e todo o mistério havia sido revelado: Rose, a garota insuportável da cafeteria e Albus, o meu melhor amigo, eram primos. Primeiro, essa informação me trouxe surpresa e, depois, um sentimento de pena e compaixão que eu jamais havia sentido por alguém anteriormente, isso só de imaginar o quão difícil devia ser a vida do Potter por ter que conviver com ela desde o dia do seu nascimento. 

Apesar do infortúnio do destino de ter colocado Rose no curso da minha vida, e do spoiler que me foi contado, eu continuei frequentando a cafeteria e, até o fim daquela mesma semana, eu terminei de ler “It: A Coisa”. Felizmente, para o bem da minha sanidade mental e de meu pavio, não tão curto, mas limitado, nós não tivemos mais nenhuma conversa além daquela. 

E, sim, para a minha total não-surpresa e infelicidade, o Eddie realmente morria no final. 

Depois de uma longa manhã de aulas, segui para a cafeteria, como o habitual. Ela ficava próxima da Universidade e servia como uma grande escapatória nos intervalos do meu horário. Além disso, a leitura sempre foi um passatempo de meu agrado e, aquela cafeteria em específico, tinha um ambiente próprio para leitores e uma clientela limitada. Era exatamente por isso que eu me sentia mais confortável quando estava ali. Sem as pessoas me encarando, julgando, tanto pela minha aparência, quanto pelo meu sobrenome, como faziam na universidade. Ou, pelo menos, quase isso, porque do outro lado do cômodo, Rose Granger-Weasley me encarava, sem qualquer explicação. Eu diria que chegava a ser um pouco estranho ou inusitado.

Tentei focar no meu livro novo, que, no caso, era uma coletânea de contos do Edgar Allan Poe, mas era difícil quando havia alguém me observando. Suspirei fundo, tentando me manter calmo. Tirei os olhos do texto novamente e olhei de relance para a menina novamente, que pareceu perceber e disfarçou o olhar, desviando-o para um canto aleatório. Voltei a ler e, novamente, tive a sensação de estar sendo vigiado.

Certamente, eu já estava acostumado a ser observado, mas aquele era o meu único e exclusivo recanto de paz e calmaria, em que eu não precisava me preocupar. Entretanto, agora, pelo visto, eu precisava. 

De repente, a vi caminhar. Ao perceber que ela vinha em minha direção, fechei os olhos com força e, mais uma vez, respirei fundo. Eu havia dado sorte nos últimos dias, em que ela estava dividindo a função com um companheiro de trabalho, e era ele quem estava sempre me atendendo, porque, convenhamos Rose Weasley era uma medrosa e, aparentemente, estava com medo de mim. No entanto, para minha total infelicidade, este não era o caso no momento. Tentando buscar paciência, iniciei uma contagem regressiva mentalmente: três, dois, um…

— Boa tarde. — Rose estava claramente forçando um sorriso. Eu, particularmente, pouco me importava. — O que vai querer hoje? 

— Café preto, sem açúcar. — Respondi, sucinto. Eu não queria dar margem para qualquer conversa. Quanto menos contato com Rose Granger-Weasley, menos estresse. 

Ela rolou os olhos, de um lado para o outro. Provavelmente porque eu estava fazendo o meu pedido habitual. Eu não ligava. 

— Coletânea de contos do Edgar Allan Poe? — Indagou, enquanto observava a capa do livro. 

Maldita Rose, mais uma vez estava prestes a atormentar o meu momento de paz e descanso. 

— Sim, por quê? Quer me contar o final de cada conto também? — Perguntei, de mau humor. 

Antes mesmo da resposta dela, desviei a minha atenção de Rose e a retomei para o meu livro, como se implorasse para que ela fosse embora. Entretanto, obviamente, ela não percebeu. 

— Você é um grande imbecil. — Ela bufou, e eu olhei brevemente para ela. 

Eu poderia dar de ombros para aquela ofensa. Poderia fingir não ter escutado ou, até mesmo, simplesmente ignorar e deixá-la sem motivo de resposta. Na verdade, isso normalmente era o que eu fazia, uma vez que eu não costumava dar ouvidos às pessoas ao meu redor. Entretanto, quando se tratava de Rose Weasley, era diferente. Por mais que eu não a conhecesse há muito tempo, por alguma razão, ela me tirava do sério. Mais do que qualquer pessoa que eu já conheci em toda a minha vida. Mais, até mesmo, do que Albus Potter.

— E você é irritante. — Apesar da frase de caráter ofensivo, não havia muita emoção na minha voz. — Você podia trazer o meu café, não acha? — Sugeri, lembrando-a de seu trabalho. 

— Grosso. — Resmungou, baixinho. 

Eu fingi não ouvi-la. 

Rose deu meia volta e retornou para a região do balcão, onde prepararia a minha bebida.

Alguns minutos se passaram, mas eu estava tão entretido em minha própria leitura, que nem me dei conta de quanto a Weasley estava demorando para preparar um simples café preto e sem açúcar. Apesar de eu evitar, de todas as formas possíveis, qualquer mínima troca de palavras com ela, eu precisava daquele café. Basicamente, era a cafeína que me dava forças para aguentaar a minha rotina.

Levantei-me de minha cadeira e fui até o balcão. Haviam apenas duas pessoas nao local além de mim, ambas servidas, o que significava que não era um problema por excesso de clientes, mas sim, provavelmente, alguma implicância ridícula de Rose por mim. Honestamente, eu pouco me importava com o que ela achava de mim. Eu só queria o meu santuário, a minha paz, e não ser incomodado no momento mais precioso do meu dia. Sendo assim, já reunindo a minha mínima paciência, eu toquei a pequena campainha que havia repousada sobre o balcão e esperei até que alguém aparecesse.

De repente, uma menina de cabelos loiros, que ficava no caixa, apareceu. Eu apenas ergui minhas sobrancelhas, esperando por alguma explicação, sem nem mesmo precisar dizer qual era o meu problema. Esperava que, no mínimo, houvesse algum entendimento de que eu havia feito um pedido há mais de quinze minutos e ele ainda não estava pronto. No entanto, a garota simplesmente continuou me encarando, esperando que eu dissesse alguma coisa. Finalmente, me dei por vencido, afinal, aparentemente nem todos tem o dom e a habilidade da percepção.

— O meu café ainda não chegou. 

— Ah, sobre isso… — Começou a dizer, um pouco sem graça. — Tivemos um pequeno problema técnico, mas ele já está quase pronto. 

— O que foi, Malfoy, não sabe esperar? 

Após ouvir aquela frase, Rose finalmente apareceu, com uma xícara de café em mãos. Eu não sabia o que havia acontecido, mas ela certamente não estava com uma cara boa. Talvez tivesse levado um fora do namorado, ou algo assim, mas, volto a afirmar: eu pouco me importava. A única coisa que me chamou a minha atenção foi o meu sobrenome sendo usado pela menina de cabelos ruivos. Então eu havia sido descoberto no meu único  recanto de paz, em que, apesar de ser um Malfoy, eu podia agir como o meu verdadeiro eu, sem os julgamentos, sem as cobranças. Ou, pelo menos, era assim até cinco segundos atrás. Suspirei fundo, indignado pela descoberta, mas eu não podia esperar que a minha paz durasse tanto tempo. Não quando os Malfoy eram tão conhecidos na cidade. Na verdade, meu tempo frequentando a cafeteria era o meu novo recorde. 

— Não vai pegar o seu café? — Perguntou, já demonstrando-se impaciente. 

Eu não a respondi, apenas estiquei o braço na direção dela, prestes a pegar a bebida, mas, por uma desatenção mútua, o copo se desequilibrou e espatifou-se sobre o balcão. O furacão Rose, que normalmente explodiria sob circunstâncias como aquela, não disse nada, apenas começou a pegar os cacos de vidro sobre a bancada de madeira. Estranhei a reação incomum vinda dela e, por alguns minutos, permaneci estático, apenas observando-a atentamente. O que diabos eu estava fazendo? Também não saberia dizer. Eu não diria que sei muito sobre Rose, mas apenas o que venho observando nos últimos dias, desde que comecei a frequentar esse local. Não que eu goste, ou que ela seja especial por isso, mas eu sempre fui uma pessoa observadora e nem mesmo Rose Weasley escapou da minha mira. De qualquer forma, certamente, isso não significava nada além de um mero hábito. 

Quando finalmente encontrei disposição para ajudá-la, a ouvi murmurar um palavrão, sem muita delicadeza. Por fim, olhei para a palma da mão direita dela, que agora estava sangrando. Provavelmente havia pegado um dos cacos de modo errado e, por isso, tinha se cortado. 

— Com licença. — Ela murmurou baixinho e correu para dentro da loja. 

Acho que ela nunca foi tão educada comigo na vida. 

A verdade era: eu me sentia um pouco culpado pelo que havia acabado de acontecer e, devido a isso, fui contra tudo o que os meus instintos costumavam indicar e adentrei o local, procurando por Rose.

A encontrei no banheiro, com a mão machucada sob a água da pia, tentando limpar o sangue. 

— Alex, eu estou… — Finalmente, ela me olhou, se dando conta de que não era a colega de trabalho. — Ah, é você. — Estava levemente surpresa, ainda que tentasse esconder. — Eu já vou preparar o seu café, se puder me dar cinco minutos… 

— É sério isso, Weasley? — Indaguei, incrédulo. 

Mesmo que ela me odiasse, não era possível que tivesse uma imagem tão deturpada sobre mim. 

— Desculpa, mas eu não tenho como preparar agora! Não sei se percebeu, mas a minha mão está sangrando sem parar aqui! — Demorou um pouco, mas, finalmente, Rose explodiu, como uma bomba. 

— Eu vim te ajudar. Foi culpa minha também, não foi? — Proferi, deixando o meu orgulho um pouco de lado. 

— Eu não preciso da sua ajuda, ok? Eu consigo fazer isso sozinha. — Ela fechou a torneira e olhou para mim, completamente furiosa. 

— Não sei se já te disseram isso, mas você é muito orgulhosa. — Suspirei, tentando me controlar para não soar tão grosseiro, apenas o mesmo tom frio habitual. 

— Já, já me disseram isso. Muitas vezes, se é o que quer saber. — Ela abriu uma gaveta e pegou um kit de primeiros socorros. 

Quando Rose abriu a caixinha, algumas gases caíram no chão. Ela respirou fundo e foi quase como se eu conseguisse ler sua mente através daquela simples, porém nítida, expressão facial, que gritava algo semelhante a: “Eu estou de saco cheio”. Pensei em dar meia-volta, retornar para a minha mesa e fingir que nada havia acontecido, mas o meu sentimento de culpa não permitiria. De fato, de todos, esse era o sentimento que mais pesava em minha consciência, não importava o que eu fizesse. Na verdade, eu até mesmo ousaria dizer que é único ao qual eu ainda não havia aprendido a reprimir. 

Em silêncio, retirei a caixa das mãos de Rose e, dentro dela, havia um pequeno frasco de álcool, que fiz questão de pegar. Estendi as minhas mãos na direção dela, mas ela recuou, escondendo-a atrás de seu próprio corpo. Eu não conseguia acreditar em tamanha teimosia, mesmo quando eu estava sendo genuinamente bondoso. Respirei fundo, incrédulo com tamanha infantilidade, mas também buscando me acalmar. Rose Granger-Weasley realmente me tirava do sério, mesmo que eu mal a conhecesse, mesmo em seus pequenos gestos. 

— Sem criancisse, Rose. Deixe-me te ajudar. — Pedi, ainda com a mão estendida na direção dela.

A menina suspirou e, aos poucos, revelou a mão machucada, com um arranhão ao longo de toda a sua palma. Olhando para a ferida, eu diria que não precisaria de pontos, por ser um corte superficial, mas estava, mesmo assim, estava bastante feio. Espirrei um pouco do líquido, a fim de desinfetar o corte e Rose fez uma careta. Inevitavelmente, eu ri. 

— Então quer dizer que você ri? — Ela ergueu as sobrancelhas, desconfiada e, como em um passe de mágica, era como se a ferida já não doesse mais. 

— Nossa, Weasley, você é tão engraçada. Deveria até considerar trabalhar como comediante. — Falei, em um tom levemente zombeteiro. 

— Já você, jamais poderia ter essa profissão, com tamanho mau humor. — Resmungou, mas alto o suficiente para que eu ouvisse.

— Então eu sou o mal humorado? — Ri, sem qualquer ânimo. Era como se ela estivesse contado uma piada de mau gosto. 

— O que está insinuando? — Rose perguntou e, involuntariamente, mexeu a mão, o que lhe rendeu uma nova careta de dor. 

— Exatamente o que você entendeu. — Revirei os olhos. — Agora, deixe essa mão parada. 

Após desinfetar a ferida, peguei uma tala e enrolei ao redor da mão de Rose, finalizando com um nó apertado, mas que fosse fácil de tirar quando ela precisasse. Quando terminei, voltei o meu olhar para ela, que tinha uma feição ainda emburrada. Sob outras circunstâncias, eu diria até mesmo que ela estava adorável, mas não depois de tantas ofensas. 

— Troque a tala depois do banho, amarre com força para não voltar a sangrar e desinfete com álcool antes, vai melhorar em alguns dias. — Expliquei, olhando para Rose, mas ela tinha o olhar focado no chão. 

Suspirei fundo, pensando em como eu ainda tinha tanta paciência para lidar com tamanha teimosia e criancice. Virei de costas, prestes a sair do local, mas parei quando ouvi a Weasley me chamar, em um tom de voz tímido, o que era novidade para mim. Justamente por isso, ela despertou a minha atenção, fazendo com que eu me voltasse para ela novamente. 

— Obrigada. — Ela agradeceu, parecendo sincera. Havia um sorriso discreto em seus lábios e, devo admitir, era lindo. — E me desculpe. — Rose não deu detalhes, mas eu sabia que o pedido se tratava das grosserias sem fundamento dela, especificamente, naquele dia. 

— Está tudo bem? — Perguntei, em um impulso. 

Normalmente, eu simplesmente iria embora, no máximo, daria um meio sorriso, mas algo mais forte tomou conta de mim. 

Ela respondeu com um aceno de cabeça, indicando que sim, mas eu não acreditei. No entanto, também não insisti, apenas dei meia-volta novamente e voltei a caminhar. 

— São os meus pais. — Começou a falar, fazendo com que eu me virasse para ela mais uma vez. — Eles estão brigando cada vez mais, e eu odeio pensar na ideia de que eles podem se divorciar. 

— Eu sinto muito. — Respondi, sincero. 

Desde o início do dia eu percebi que havia algo errado com ela, mas não imaginava que tivesse a ver com a família. Pensei em um possível namorado, problemas na faculdade, mas nunca isso em específico. Por algum motivo, me vi na tristeza de Rose. A minha família, apesar de ter um sobrenome altamente reconhecido, estava longe de ser perfeita. E com longe, eu quero dizer bem distante mesmo. Especialmente desde que a minha mãe adoeceu, deixando apenas eu e meu pai a sós. Nós nunca tivemos uma boa relação e brigas estavam sempre presentes no nosso cotidiano. Para ser sincero, nossa relação de pai e filho se resumia a cumprimentos cordiais e trocas de ofensas completamente desnecessárias. Obviamente, eu já estava acostumado. 

— Não importa, eu nem sei porque estou te contando isso, me desculpe. — Ela sorriu, sem graça. — Eu vou… — Rose limpou a garganta, tentando retomar a postura. — Preparar o seu café. 

— Preto e sem açúcar. — Ressaltei. 

— É mesmo? — Ela indagou, completamente irônica. — Ah, e pense nisso apenas como uma trégua. Não pense que eu vou te dar folga só porque você é um Malfoy. 

Após dizer aquelas palavras, Rose piscou, riu, divertida, e saiu do banheiro. Aparentemente, ela não ligava para o meu sobrenome, como a maioria das pessoas, o que me causou um certo alívio. Era como se me visse como eu realmente era e não como um Malfoy, como todos os outros me viam. Como se me visse além daquela máscara que eu era obrigada a vestir, mesmo contra a minha vontade. 

Por algum motivo, minha percepção sobre Rose Weasley mudou completamente. Foi exatamente naquele exato instante, parado e sozinho, que eu percebi que ela fazia real juz ao seu nome. Rose era graciosa, como uma rosa, mas repleta de espinhos, que serviam para a sua própria proteção, como um escudo. Aquela foi a primeira vez que, de fato, a admirei, não pela beleza, mas pela personalidade forte, que eu agora compreendia mais do que ninguém. No fundo, ela era tão delicada quanto uma rosa. Foi ali que percebi que, talvez, fôssemos mais parecidos do que eu imaginava. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do novo capítulo! E aí, o que estão achando do Junho Scorose? Porque apesar de estar mega atrasada, eu estou amando. ♥

Até a próxima!