After the storm escrita por Dyanna Pereira


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de deixar um agradecimento para minha leitora assídua Abelhinha Gina, que está sempre comentando algo nos capítulos. Obrigada pelo incentivo!



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Estou sentada de frente para meu computador. Meu cabelo que antes estava preso em um coque no alto de minha cabeça, agora cai em ondas por cima de meu ombro. Meus dedos estavam doendo pela força que eu fazia ao digitar no teclado. Eu havia voltado para o trabalho dois dias depois do jantar que fizemos em nossa casa. Fui muito bem recebida pelos meus colegas de redação, principalmente por Amy, minha assistente. Ela ficou muito feliz com a notícia de minha gravidez, embora não tenha dado muito pitaco sobre Harry e eu estarmos juntos outra vez. O importante é sua felicidade, ela disse com um sorriso e depois se retirou da sala. Oliver, meu chefe, teve uma reação engraçada quando contei a novidade. Primeiro, a cor havia sumido de seu rosto. Segundo, pensei que ele ia desmaiar quando pegou uma pasta e começou a se abanar. Ele pediu desculpas um tempo depois, quando se recuperou. Passou uma hora bem longa me explicando sobre sua reação exagerada, revelando que tinha pavor de ser pai. Meus colegas de trabalho também ficaram sabendo da novidade e quando eu interrompia alguma reunião para vomitar, ninguém mais tirava sarro de minha cara.

Eu estava feliz que meu terceiro mês de gestação tinha chegado ao fim e esperava que as coisas melhorassem agora que a 13° semana havia começado. No último mês, passava mal na maior parte do tempo, embora os médicos continuassem me entupindo de remédios. Minhas alterações de humor também não ajudavam. Chorava muito, embora tentasse controlar quando estava na presença de outras pessoas. Me irritava com facilidade e sempre pedia desculpas quando percebia que estava gritando com alguém. Meus enjoos eram horríveis, principalmente no período da manhã. Margaret preparava vitaminas com frutas e minhas refeições eram sempre sopas, o que descobrimos que era mais fácil para mim ingerir sem sentir tanta ânsia de vômito. Meus seios e minha barriga coçavam absurdamente, então comecei a encher meu corpo de óleos e cremes, até que Harry se tornou o responsável pela atividade. Aquilo era um passatempo para ele, que alisava meu corpo e conversava com minha barriga, até eu me estressar e acabar com o momento íntimo. Esquecia das coisas com facilidade e Amy precisava me lembrar diariamente de meus compromissos.

O tempo passava muito rápido. Já fazia um mês que eu havia voltado para minha casa, para Harry. As vezes precisamos olhar uma situação de fora para conseguirmos corrigir os erros de dentro. Nosso relacionamento estava mudando aos poucos. Na noite anterior, tínhamos iniciado uma pequena discussão sobre o horário que ele havia chegado em casa. A empresa estava passando por uma situação complicada, algum contrato que havia sido quebrado. Não me estendi muito no assunto. Era um problema que eles estavam enfrentando,  que precisava de sua atenção. Eu podia entender aquilo. Mesmo assim, Harry pediu desculpas, tomou um banho e nós fizemos amor até eu me sentir cansada o suficiente para dormir nua, nossos corpos enroscados um ao outro. Algumas matérias maldosas foram publicadas sobre mim, em um dia em que me senti tonta na rua e precisei sentar em um degrau qualquer enquanto a vertigem passava. Não me importei, embora Harry tenha ficado preocupado com minha saúde. Ríamos das fofocas que faziam, muitas sobre o fato de estarmos juntos, de minha gravidez ser uma fachada e até de que o bebê era de outro homem. Conversávamos muito, sobre a gravidez mas principalmente sobre nós dois. Tudo o que vivemos naqueles dias separados e também sobre o que aprendemos. Era como um lembrete para não errarmos mais.

As coisas estavam um pouco diferentes depois da briga com Lílian e Tiago. Eles haviam nos visitado algumas semanas depois. Harry passou dias sem ir para a empresa, o que havia rendido muitas fofocas e algumas visitas de Sirius, preocupado com o rumo das coisas. Tiago não conseguia mais tocar a empresa da forma de antes, pois havia passado um longo tempo afastado das atividades. Tudo era muito diferente da época em que ele trabalhava, o que lhe preocupou o suficiente para que ele viesse até nós pedir desculpas e implorar para que o filho voltasse para o trabalho. Não acreditei que seu pedido de desculpas era sincero, mas vi o quanto Harry estava sofrendo por estar longe do que ele amava fazer. Então puxei-o para o canto, pedi para ele não ser teimoso e aceitar a oferta do pai. No início ele bateu o pé, mas depois de uma longa conversa, ele havia voltado. Com algumas condições. Tiago não ia mais se meter no trabalho, iria apenas receber sua parte do pagamento. Harry foi bem grosseiro quando disse que não iria mais aceitar que o pai falasse mal de mim, ou se metesse na vida dele. Me senti extremamente orgulhosa de meu marido.

Ouço uma batida na porta e esfrego meus olhos por baixo de meus óculos. Salvo um arquivo que estava terminando de editar e peço para que entrem. Amy invade minha sala de forma apressada, segurando seu inseparável tablet. Hoje suas roupas estão discretas. Uma saia lápis e uma blusa social.

— Com licença, Gina. O Sr. Potter ligou, pediu para eu lhe informar que pediu para um motorista te buscar.- me mexo na cadeira, tentando encontrar uma posição confortável. Faltavam poucos minutos para meu expediente acabar.

— Me buscar para que? - Amy sorri, me encarando.

— Ele disse que era surpresa. Não posso te dar mais informações. Vim repassar com você os compromissos de amanhã. Tenho que sair um pouco mais cedo hoje. Minha irmã está fazendo aniversário.- balanço a cabeça, abrindo minha agenda em uma página em branco, uma caneta entre meus dedos.

— Depois da reunião sobre a pauta, você tem uma reunião com o Sr. Pattinson. É sobre seu projeto de corte de gastos. Aquele evento ao qual o jornal está concorrendo vai acontecer na semana que vem e o pessoal do marketing está organizando uma festa, apenas para os funcionários. Assim todos assistem juntos a premiação. O Sr. Pattinson ainda não escolheu quem vai com ele representando o jornal, mas todos acreditam que seja você.- ela está dando pulinhos agora, então deduzo que a forma apressada que ela entrou em minha sala era por causa daquela informação.

— Por que você está tão animada? É só uma premiação, Amy. Já fomos em vários desses eventos.- ela me encara, as mãos em cima do peito.

— Vocês já foram, Gina. Eu nunca fui. São eventos importantes para fazer contato.- ela enfatiza o vocês, e minhas bochechas ficam quentes.

— Não sei se vou conseguir viajar se esses enjoos continuarem. As comissárias não merecem ter tanto trabalho com uma grávida que não para de vomitar, você não acha?

— É um voo rápido até Seattle, você consegue.- reviro meus olhos e ela ri.

— Você acha rápido um voo de doze horas?

— Acho sim. Agora vamos continuar com a sua agenda.

A semana ia ser lotada de compromissos, o que já era óbvio para mim. Estava tudo caminhando bem em direção ao prêmio de melhor jornal do Reino Unido. Ia ser uma vitória boa para minha carreira. Amy faz questão de colar alguns post-its coloridos em minha mesa, com informações importantes que vou tratar em reuniões amanhã, mesmo eu batendo o pé e dizendo que aquilo não era necessário. Saio de minha sala um tempo depois com um cachecol enrolado em meu pescoço, vestindo meu sobretudo por cima do blazer fino que usei durante o dia. O motorista da empresa de Harry, Joe, me espera do outro lado da rua, encostado no carro. Ele se assusta ao me ver e acena em minha direção. Caminho até ele, que abre a porta para mim.

— Boa noite, Sra. Potter. Parabéns pela sua gravidez.- entro no carro e espero até que ele de a volta e se sente no banco do motorista.

— Obrigada, Joe.- coloco minha bolsa ao lado de meu corpo, encostando minha cabeça no encosto do banco.

— Imagina. A empresa inteira só fala disso. O primeiro herdeiro do Sr. Potter.

— Hmm, não deixem o patrão de vocês saber disso, pois ele anda bem estressado com alguns probleminhas que estão surgindo.- ele cora levemente e sacode a cabeça.

Não reconheço o caminho que o motorista está fazendo, mas não pergunto para onde estamos indo. Harry devia ter dado ordens a Joe também, então foco na estrada, tentando descobrir onde estou. Um tempo depois, começo a reconhecer o lugar. Os barzinhos e restaurantes estão cheios de universitários, todos conversando animados, segurando garrafas de cervejas enquanto riem. Fui uma daquelas meninas contentes e despreocupadas a um longo tempo atrás, quando cursava minha faculdade de jornalismo. O motorista para em frente a um restaurante, desce do carro, abre a porta para mim e eu saio, reconhecendo rapidamente o lugar. Era um restaurante que se destacava entre os outros pub's, porque era só um pouquinho mais sofisticado. As portas eram enormes e feitas de vidro. Não preciso entrar para me lembrar que por dentro, as paredes eram revestidas de madeiras, que brilhavam por conta do produto que deviam usar para limpar. Do teto pendiam lustres brilhantes, feitos de cristal. As mesas, também feitas de madeiras, eram bem quadradinhas, com flores de todos os tipos como decoração. Foi aqui que Harry me pediu em casamento. Viemos jantar depois de nosso último período de provas e me lembro de estarmos animados com o fato de que finalmente a faculdade estava chegando ao fim. O anel veio em uma caixinha ao lado de um brownie, e com calda de chocolate o pedido foi feito. Sinto mãos pesadas envolverem minha cintura e me viro, sorrindo ao encontrar Harry.

— Olá, mocinha. Está perdida? - ele beija o topo de minha cabeça e percebo que o motorista já não está mais ali. Estava tão distraída com meus pensamentos que não reparei quando o mesmo foi embora.

— Agora não mais.- deposito um selinho em seus lábios e ele me guia para o interior do restaurante. Alguns curiosos se viram e cochicham entre si. Encaro Harry, que da de ombros. Uma recepcionista sorri para nós dois.

— Sr. Potter, Sra. Potter. Sejam bem-vindos ao Victoria. Me acompanhem que os guiarei até a sua mesa.- caminhamos em silêncio até os fundos do restaurante e nos sentamos em uma mesa reservada. A recepcionista acena em direção a um garçom, que rapidamente vem até a mesa, segurando dois cardápios. Ele entrega um para mim e outro para Harry.

— Boa noite, me chamo Robert e vou ser o garçom de vocês essa noite. Gostariam de um vinho para começar?

— Bem que eu queria, Robert.- choramingo e Harry ri, fazendo carinho em minha mão.

— Pode trazer um copo de uísque para mim. Peço que preparem uma jarra de suco para minha esposa, ela está grávida.- Harry fala, com orgulho. Ultimamente ele adorava me lembrar de meu estado, e fazia questão que Londres inteira soubesse também.

— Claro. Qual sabor a senhora prefere? - o garçom se vira para mim, anotando nossos pedidos em um bloquinho.

— Pode ser de maracujá.

— Volto em um minuto com a bebida de vocês. Fiquem a vontade para escolher o que querem comer.- o garçom nos deixa sozinhos. Abro o cardápio, lendo quais são as opções para jantar. Meu estômago revira apenas com essa ação.

— Gostou da surpresa? - Harry me pergunta por trás do cardápio.

— Sim, amor. Nem lembro qual foi a última vez que viemos aqui.

— Pra ser sincero, também não me lembro.

Quando o garçom volta com nossas bebidas, Harry já decidiu o que comer. Ele pede uma massa com filé mignon, já eu me limito a pedir uma canja de galinha. Conversamos um pouco sobre nosso dia de trabalho. Ele me conta que conseguiu reverter o problema do dia anterior depois de muitas ligações, então fazemos um brinde para comemorar.

— Sabe aquela premiação que o jornal está concorrendo? - eu pergunto a Harry, que sacode a cabeça, concordando.- Acredito que Oliver vai me chamar para ir com ele até Seattle, receber o prêmio.

— Que máximo, ruivinha. Isso vai ser muito bom para sua carreira.- concordo com a cabeça e bebo um gole de meu suco.

— É, seria mesmo. Mas não estou me sentindo bem para fazer uma viagem longa de avião. Além disso, só o fato de ganhar o prêmio já vai ser bom para mim. Estava pensando em indicar Amy para Oliver levar em meu lugar.- ele franze a testa, bebericando seu uísque.

— Amy não é sua assistente?

— Sim, ela mesmo. Sabe, eu vejo um futuro enorme pra ela dentro daquele jornal. Ela me ajuda tanto, muitas vezes é até mais responsável do que eu. Quando eu tiver nosso filho, alguém vai precisar ficar no meu lugar. E por que não ela?

— Bem, se você gosta do trabalho dela, não vejo problema nenhum nisso. Vá em frente, ajude ela a subir.

O garçom chega com nossos pedidos, interrompendo nossa conversa. Comemos em silêncio, apreciando o momento a sós. Depois do jantar, pedimos uma sobremesa feita com frutas e chocolate. Como feliz por não sentir nenhum enjoo. Quando terminamos de comer, ficamos mais um tempo conversando enquanto Harry acaricia minha mão por cima da mesa. Saímos do restaurante e caminhamos um pouco pelo mar de estudantes que se juntam nas mesas apertadas dos bares, que ficam espalhadas pelas calçadas e até mesmo pela rua. Um músico está rodeado de pessoas na entrada de um bar. Ele toca Photograph, do Ed Sheeran, enquanto casais se abraçam e cantam baixinho. Resolvemos imitar os casais e paramos para ouvir o músico cantar. Ele me gira quando um música mais animada começa a tocar, e dançamos desajeitados na calçada estreita.

— Você sempre dançou muito bem, Sr. Potter.- eu sussurro em seu ouvido, arrancando uma risada de Harry.

— E você sempre dançou muito mal, Sra. Potter.- eu piso em seu pé com certa força, brincando.

— Engraçado, na época da faculdade muitos caras queriam dançar comigo.- ele faz uma careta.

— Nem me lembre disso. Era foda ter que afastar aqueles babacas de cima de você.

— Ah, mas eu sempre só tive olhos para você, Harry.- envolvo seu pescoço com meus braços e encosto meus lábios nos seus, iniciando um beijo lento. Harry me segura com força e joga meu corpo para trás, atraindo olhares dos curiosos e me arrancando risadas quando beija meu pescoço com os lábios úmidos.

Ficamos mais um tempo ali, aproveitando o clima agradável da noite. Quando começo a ficar com frio, caminhamos até o carro, onde Harry não demora a dar partida no mesmo. Conversamos durante todo o trajeto de nossa casa. Ele me conta piadas sem graça e acaricia minha barriga quando paramos em algum sinal vermelho. Encaro Harry enquanto ele está focado na estrada e sinto vontade de chorar. Não por tristeza ou por medo, mas por gratidão. Eu me sentia amada e segura, mas acima de tudo eu estava muito feliz. Coloco a mão em minha barriga, por cima da de Harry e agradeço. Agradeço por aquele bebê, por aquele momento, por ser amada por aquele homem. Simplesmente agradeço.


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