Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 55
Capítulo 55 - Desmaio


Notas iniciais do capítulo

Truelo - Resumo das Regras


* Três jogadores se colocam de frente um ao outro para o truelo. Cada um deles, aposta no mínimo um e no máximo todos os créditos que possui.

* Cada jogador escolhe uma das três armas oferecidas.

* Há três tipos de armas: a que acerta um a cada três tiros; a que acerta dois a cada três tiros e a que acerta todos os tiros.

* A ordem que cada jogador atira é definida pela arma que pegou. Quem pega a arma que atira um em três começa, seguindo pela que atira dois em três e, por último, o que acerta todos.

* A arma está ligada via wireless com o contador. Ela pode acertar ou errar. O resultado aparece no telão.

* O participante acertado pela arma sai fora da rodada e perde os créditos que apostou

* O sobrevivente da rodada leva todos os créditos da mesa

* Sai da casa quem ficar sem nenhum crédito



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Capítulo 55 - Desmaio

— Todos prontos? - perguntou Pitre, após anunciar o início do jogo - Então...que o truelo comece! Quem será o primeiro a atirar?

O telão mostrava a minha imagem. Ao que tudo indicava eu seria o primeiro a atirar. Em outras palavras, eu peguei a pior arma. Tudo bem. Isso já era esperado. Pelo menos eu já sabia em quem atirar, além disso, tinha uma chance em três de acertar meu tiro.

— Senhor Alan - Pitre me chamou - Em quem o senhor deseja atirar?

— Na Eva - respondi, apontando a arma para ela. A garota apenas me olha sem esboçar muita emoção. Mesmo tremendo (apesar de não ter muito motivo para sentir medo), aperto o gatilho. A palavra "Miss" apareceu na tela. Errei meu tiro.

— Senhor Alan erra o tiro, infelizmente. Próximo a atirar...

A tela mostrou Max. Ele sorri, dá mais uma tossida e escolheu atirar na Eva também.

— Heh! Nenhuma novidade - pronunciou a garota em tom debochado.

— Talvez seja melhor desistir enquanto pode - disse Max, apertando o gatilho. Dessa vez, a coisa funciona.

— Senhorita Eva...está fora da rodada.

Ela se afasta da roda. Agora eram só eu e Max. Como éramos aliados, não fazia muita diferença acertar ou errar. Para me acostumar com o jogo, resolvo atirar. Tento atirar em Max, mas a bala falhou de novo. Só acertaria no próximo tiro. Max também acertou o próximo tiro e levou toda a mesa. Fim da primeira rodada.

— Certo. Vamos para a próxima! - disse Pitre, super animado.

Mais uma vez, Eva apostou um único crédito. Sendo assim, Max e eu também apostamos só um. Se continuasse daquele jeito, a disputa demoraria um século. O criado distribuiu as armas de novo e agora Eva é a primeira a atirar.

— Senhorita Eva...qual é o seu alvo? - perguntou o palhaço.

— Estou pensando - ela respondeu séria.

— Certo...demore o tempo que desejar - terminou Pitre. É. Se estivesse no lugar dela também estaria pensando bastante.

"Eu me fiz de forte, mas a verdade é que minha chance de vencer esse jogo são mínimas", pensava a garota, com um ar claramente tenso. Era raro de ver Eva nervosa com alguma coisa, mas naquela hora parecia que até mesmo a toda-poderosa Eva estava com problemas. "Nessa mesma rodada...suponha que eu acerte o primeiro tiro...mesmo assim, terei que ter a sorte de acertar aquele que tem a melhor arma. E ainda assim, corro o risco de ser acertada pelo que acerta dois em três tiros. "

Max respirava forçado e eu apenas observava. Apesar da vantagem ser nossa, eu sentia que tinha alguma coisa errada. Pelo barulho do lado de fora, parece que começou a chover. Chuva...nunca gostei muito disso. Um clima chuvoso sempre parecia triste e, por alguma razão, aquele estava ainda pior. Por quê? Devia estar feliz por estar quase vencendo, mas algo em mim dizia que as coisas iriam ficar complicadas...

"E mesmo se aquele que acerta dois em três errar, eu não vou acertar o próximo tiro e ele vai me matar na outra rodada. Droga. É impossível vencer com essa arma", ela pensava.

— Atiro para cima - ela respondeu, simplesmente apontando a arma para o teto e atirando.

— Sendo assim...isso conta como um erro para sua arma - comentou Pitre - Aliás, ninguém perguntou isso, mas é melhor tomar cuidado quando escolher atirar para cima. Se uma pessoa que tirou a melhor arma atirar para cima, será considerado como se ela tivesse errado os outros dois e acertado a si mesma, afinal, a melhor arma nunca erra. Embora acho que ninguém faria algo assim.

"Parece fazer sentido", pensei, "Mas...por que alguém faria isso?"

— Senhor Alan? Sua vez - Pitre avisou.

— Tá. Atiro na Eva.

E, dessa vez, por incrível que pareça, eu acerto meu tiro. Ótimo. Na próxima, era a vez de Max

— Senhor Demian...em quem o senhor atira?

— Para cima - disse ele.

— Hã?

— Atirar com a melhor arma significa que o senhor acerta a si mesmo. Tem certeza disso?

— Toda. Estou junto com Alan, como ele perdeu na última rodada, eu entrego o meu crédito para ele agora para equilibrar as coisas.

— Então...que seja. Senhor Alan vence essa rodada.

Próxima rodada. Cada um aposta um crédito de novo. Eva é a primeira a atirar de novo.

— Pode escolher seu alvo, senhorita Eva.

— Não tem o que pensar. Atiro para cima de novo.

— Próximo...senhor Demian.

Max acertou Eva e depois eu acerto a mim mesmo com a melhor arma. Estávamos equilibrando as coisas. Pelo que parecia, se estivéssemos juntos, poderíamos vencer Eva! Era um jogo de dois contra um. Seria impossível ela ganhar! Mesmo que ela só apostasse um crédito por rodada, nós venceríamos. As chances dela eram mínimas. Até um idiota fracassado como eu conseguia ver isso. Mas, infelizmente, as coisas nem sempre saem como estamos esperando. Na prática, a teoria é outra, caro leitor.

— Senhor Alan...o senhor é o primeiro a atirar - anunciou Pitre.

— C-Certo - gaguejei.

Mas errei o meu tiro. Depois era a vez de Eva. Mais uma vez, todos tinham apostado apenas um crédito.

"Não é possível. Os organizadores dessa casa sabem que eles estão juntos numa aliança. Propor um jogo desses torna as coisas muito desequilibradas, mesmo para a Casa dos Jogos. Aliás, conhecendo essa casa como eu conheço, deve ter alguma coisa nas entrelinhas. Sempre foi assim. Deve ter algum jeito de trapacear, mas qual?"

Mais uma rodada, Eva perdeu. Eu venci. Outra rodada. Agora, Eva é a primeira a ir pegar as armas.

"Essas armas...elas são iguais mesmo?", pensava a garota, analisando o mais rápido que podia os detalhes de cada uma, quando, de repente, ela parece perceber alguma coisa, "Hmmm..espere...tem alguma coisa diferente na parte de baixo dessa aqui...parece uma alavanquinha ou algo assim."

As armas em questão não passavam de brinquedos eletrônicos, mas sua forma lembrava muito uma pistola de verdade. Eva pegou a arma que achou diferente, enquanto Max e eu pegamos as outras. Cada um vai para o seu lugar e Eva passou algum tempo, nos poucos segundos antes do jogo começar, observando sua pistola.

"Eu olhei bem as armas na maleta e essa era a única que tinha essa alavanquinha...o que será?", ela pensava, enquanto mudava a alavanca para a outra posição.

— Senhor Alan...o senhor é o primeiro a atirar - disse Pitre.

Claro que decidi atirar em Eva, mas o tiro falhou. O próximo foi Max, mas, estranhamente, o tiro dele também falhou.

— Senhorita Eva...sua vez.

"Perfeito!", ela pensou, sorrindo levemente em satisfação. "Como o esperado! Esse jogo tem uma trapaça! A pequena alavanca, quase imperceptível na parte de baixo, é a melhor arma...é uma forma de reconhecer a diferença entre elas, mas será que ela tem algum efeito? Descubro isso na próxima rodada...porque agora..."

— Atiro em Max Demian! - ela respondeu, atirando em Max e, claro, acertando.

— Senhor Max Demian sai da rodada. Senhor Alan, sua vez.

Tentei atirar na Eva, mas falhei de novo. Claro que ela atira em mim e venceu. Pela primeira vez, ela venceu a rodada.

— Senhorita Eva leva os créditos da mesa. Rodada encerrada - anunciou Pitre.

— D-Droga...que sorte - resmunguei. Ela comemora a vitória com um sorriso.

"Sorte, é? Bem...é verdade que se eu pego a melhor arma, tenho uma chance de um em nove de vencer (*). Mas conseguir isso logo de cara é muita sorte. Será que tem algo a ver com essa alavanquinha? Bem, seja como for, é melhor garantir pegar essa arma sempre."

E ela faz isso. Na próxima rodada, ela manteve a alavanca na outra posição de novo e vence mais uma vez. Isso também se repete na outra rodada. É claro que Max começou a estranhar isso.

— Ora, ora. Parece que estou com sorte, não é?

— Eva...você...você descobriu alguma coisa nesse jogo, não descobriu? - ele perguntou.

— Como você gosta de me acusar. Por que a sorte não pode estar do meu lado?

— Heh! Essa casa pode depender de muita coisa, mas quase nunca é de sorte - respondeu Max.

— Será? Quem sabe... - foi tudo que Eva falou.

Mesmo assim, a garota resolveu não dar muita bandeira e deixou a gente vencer nas próximas cinco rodadas, voltando a ganhar na próxima. Depois disso, ela deixou a gente vencer por mais sete rodadas e ganhou na outra. Naquela hora, eu imaginei que ela estivesse com sorte mesmo, mas era tudo um truque.

— Bem...acho que vou arriscar um pouquinho...se vocês apostarem mais do que um crédito, dou minha palavra de que aposto mais - ela propôs, com uma expressão confiante.

— Será? Tudo bem...aposto 20 créditos - disse Max.

— Também aposto 20 - se Max achava que dava, iria confiar nele.

— Certo...então, aposto 20 também. Estou confiante de que vou vencer na próxima rodada.

— É...parece confiante mesmo. Você sabe que as probabilidades não estão muito ao seu favor - comentou Max.

— Todas aquelas rodadas que eu venci discordam de você, meu caro - ela respondeu cinicamente.

— Veremos na próxima rodada - retrucou Max.

— Isso. Veremos - respondeu ela.

Max tossiu mais um pouco. Também parecia mais pálido do que no começo do jogo. Estava preocupado. Ele teria se esforçado demais? Estranho...mesmo assim, o truelo continuava.

— Muito bem. Aproximem-se e escolham suas armas - disse Pitre.

"Heh! Perfeito! Agora é só pegar a melhor arma e...", pensava Eva.

— Um momento - interrompeu Max - Se importa de pegarmos as armas primeiro?

"O quê? Isso é mal", pensou Eva, que logo tenta dar uma desculpa.

— Que tipo de cavalheiro você é? Nunca ouviu falar que as damas vão primeiro? - ela falou em tom de brincadeira, mas Max não caiu nessa.

— Heh! Como se você precisasse disso - ele respondeu - Tenho uma suspeita...que tem a ver com as armas.

"Maldito! Se ele descobriu..."

Dito e feito. Max pegou a melhor arma, deixando Eva com a segunda melhor e eu com a pior. Começou a próxima rodada.

— Vamos ver - disse Max, sorrindo confiante - Olha só...você tinha reparado nisso, Alan? As pistolas tem uma pequena alavanca, aqui na parte de baixo, onde a seguramos.

— O que? É..é mesmo? Na minha não tem nada.

— Estranho...será que é só na minha? E na sua Eva? - disse Max, com um sorriso cínico.

— Não sei do que estão falando - ela tentava disfarçar e parecia claramente nervosa.

— Muito bem. Vamos começar! - anunciou Pitre. Logo o telão mostraria o primeiro a atirar, ou seja, eu – Senhor Alan, em quem o senhor atira?

— Na Eva - respondi, porém, errando o alvo.

— Parece que o senhor errou. Próximo...senhorita Eva.

— Atiro em Max! - ela respondeu, mas o tiro erra de novo.

— Errado de novo. Sua vez, Senhor Max.

— Ora, ora - ele respondeu - Parece que temos uma coisa curiosa aqui...

— Do que está falando? - Eva parecia tensa.

— A única arma que tem essa chavinha em baixo é a mais poderosa das três e...por coincidência, quando eu ativei a alavanquinha, vocês dois erraram os tiros.

— Qual o problema? É perfeitamente possível nós dois errarmos - argumentou a garota.

— Mais ou menos - ele retrucou - As chances da primeira arma errar é de 2/3. As chances da segunda arma errar é de 1/3. A chance das duas errarem é de 2/9, o que dá uma probabilidade de aproximadamente 22%...é...talvez seja uma probabilidade razoável, mas...vamos continuar jogando.

Max escolheu Eva como próximo alvo e, claro, a atinge. Ela perdeu 20 créditos. Agora eu seria o próximo a atirar.

— Senhor Alan...seu alvo - disse Pitre.

— Pode atirar em mim, Alan - falou Max.

— Mas...eu posso acertar, não?

— Não tem problema - ele respondeu confiante - Apenas atire.

Ainda estava meio receoso.

— Pode atirar. Confie em mim.

Eu obedeci e, por incrível que pareça, eu não acertei. Ele já sabia que eu iria errar?

— As chances de Alan errar o segundo tiro eram de 50% ou 1/2...juntando com a probabilidade anterior, uma pessoa com a melhor arma teria 1 chance em 9...isso dá cerca de 11% de chance. Não é estranho que isso tenha acontecido tantas vezes nesse truelo?

— Aconteceu, oras! O que podemos fazer? Não podemos controlar os eventos - Eva ainda tentava argumentar, mas Max já sabia o que ela estava escondendo.

— Ou será que podemos? Todas as rodadas recebemos armas novas, ou pelo menos, eles renovam as armas colocando-as de volta na maleta. A única arma que tem uma alavanca é a melhor. Por que será? Claro que é o segredo do jogo! Você pode usar a melhor arma se orientando por esse detalhe. E não é só isso! A pistola sempre vem com a alavanca numa posição A, mas ao mudarmos para a posição B, o jogo é controlado totalmente.

— Não sei do que está falando - Eva tentava fugir do assunto.

— Não aja como se não soubesse. Ao mudar a alavanca, você ativa alguma programação nos contadores ou nas armas, fazendo com que elas sempre errem os primeiros tiros. Alan errou os dois primeiros porque a alavanca estava ativada e não porque tinha chances disso acontecer. Você tem a segunda melhor arma, mas com a alavanca ativada você sempre erra o primeiro tiro. Eu só preciso ativar a chave, fazendo com que vocês dois errem a primeira rodada e depois matar Eva para impedi-la de acertar o próximo tiro. Mas como essa trapaça sempre faz a pessoa errar os primeiros tiros, Alan também erraria o próximo e eu só preciso acertá-lo na próxima.

— Wow! Então...até aqui tinha uma trapaça - falei, olhando admirado para a minha arma.

— Sim - Max respondeu - Em resumo, há uma trapaça para garantir que a pessoa que tire a melhor arma vença!

— Estranho...não deveria ser a pessoa que tem a pior arma a ter direito à trapaça? - perguntei.

— Não necessariamente. Nesse caso, duas pessoas podem se juntar para eliminar uma só. Se isso acontecesse, seria impossível a pessoa fora da aliança vencer com a pior arma. Pelo menos, dentro das regras.

Não havia entendido muito bem.

— A melhor arma nunca pode errar um tiro. Se tivesse uma trapaça para a pior arma, todos desconfiariam na hora. Você pode pensar que a trapaça começa quando se escolhe as armas. Basta ser a primeira a escolher. E é isso que ela estava fazendo.

"Droga", pensou a garota, "Era a minha última esperança! Não acredito...eu vou perder!"

— Sim. Era sua única chance de vencer, Eva! - Max falou confiante, embora com uma voz fraca - Agora...que o seu truque foi desmascarado...você está acabada!

Ele se preparava para atirar em mim (afinal, Eva já estava derrotada na rodada). Eva fecha os olhos, praticamente admitindo que perdeu, mas algo inesperado estava prestes a acontecer.

— Pode atirar, Max - eu falei, mas ele respirava com dificuldade - Max?

Ele estava respirando com dificuldade e com as pernas tremendo. Mesmo sorrindo, garantindo a vitória para nós dois, ele tremia e demorava para atirar. Até que, do nada, ele acaba caindo no chão, desmaiado.

— Max? Max!!!! - gritei, totalmente espantado. O que houve com ele?


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Notas finais do capítulo

(*) A probabilidade de eventos independentes acontecerem seguidamente é o produto da probabilidade de cada evento. Por exemplo, a probabilidade de você tirar duas vezes cara ao lançar uma moeda duas vezes é 1/4 (multiplique 1/2, que é a probabilidade de tirar cara na primeira jogada, por 1/2, que é a probabilidade de tirar cara na segunda jogada). É legal lembrar disso para entender as chances que os personagens estão falando. Mas eu nem precisava comentar isso, afinal, eu aposto que vocês amam Matemática! XD



Momentos emocionantes nos últimos capítulos da Casa...bom, o Max não estava bem desde o capítulo passado. O que será que aconteceu? Respostas no próximo capítulo



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