As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 38
Sobreviventes


Notas iniciais do capítulo

No restante do Santuário, os poucos cavaleiros sobreviventes lutam como podem para ajudar a deusa Atena.



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Próximo às moradias dos santos, um cavaleiro de pele morena e traços indígenas estava cercado por uma Hidra de três cabeças. Sua armadura era azul marinho, e possuía uma lâmina acoplada ao braço direito.

— Sempre que eu corto uma cabeça, outras três nascem no lugar... Havia me esquecido disso — recuava contra a parede de uma casa, suando frio.

O monstro avançou, e as três cabeças deram o bote ao mesmo tempo. Porém, levantaram somente poeira quando demoliram a habitação, pois o cavaleiro já havia saltado para o alto. E conforme descia novamente, cortando o ar, milhares de gotículas de água condensavam-se no rastro de sua lâmina, guiando uma enorme coluna de água que acompanhava o seu golpe.

— Pancada da Cachoeira¹! — exclamou, enquanto golpeava o chão logo à frente do monstro.

Explodindo no solo, a pancada d’água refletiu dezenas de rajadas contra a Hidra, levantando-a aos céus ao mesmo tempo em que despedaçava-a em dezenas de pedaços.

Em meio à chuva de sangue e carcaças, o cavaleiro suspirou aliviado e, retraindo a lâmina de sua armadura para dentro da manopla, desabou sentado no chão.

— Espere, aquilo é...    

Olhando em direção ao topo das Doze Casas, pode ver a grande aura de um dragão esmeralda subindo aos céus. E perto do firmamento, o rastro de luz começava a curvar-se para baixo e queimar como uma estrela cadente. A expressão do cavaleiro era de completo terror enquanto acompanhava aquele rastro de fogo.

— Amana de Peixe-Espada... — tirou sua concentração outro cavaleiro, que acabara de chegar.

Era um homem branco e de volumosa barba castanha, aparentando ter quase 30 anos de idade. Portava em seu punho direito um longo cajado, que parecia servir como uma lanterna, já que possuía um enorme e luminoso cristal em sua extremidade superior. Tanto seu cajado quanto sua armadura possuíam um belo tom negro, que engrandecia ainda mais o ar misterioso desse cavaleiro.

— Noah de Pastor²... — cumprimentou-o Amana, levantando-se com o cenho preocupado. — O que está fazendo aqui? Não deveria estar evacuando os moradores de Rodorio?

— Já terminamos — anunciou uma garota sem máscara e de armadura alva, que surgiu sentada em cima de uma das casas, com suas esguias pernas cruzadas e lisas coxas à mostra. — E não se preocupe. A Saintia de Ursa Menor ficou cuidando deles e dos aspirantes a cavaleiro.

— Saintia? — questionou Amana, surpreendendo-se também com a graciosidade com que falava aquela garota de cabelos da cor do fogo.

O cavaleiro não pode deixar de notar, ainda, o quão bem caía em seu corpo aquela bela armadura, ressaltada também pelo fino vestido de seda branca que escorria por baixo.

— As Saintias... São as sacerdotisas que vivem junto a Atena... — explicou, como quem dizia o óbvio.

— Ah... É mesmo... — desculpou-se, com uma reverência. — Como vocês não descem muito aqui, eu havia me esquecido...

A garota desceu do telhado em um salto, e estendeu uma mão para cumprimentar o cavaleiro, ainda que com certo desdém em seus olhos esmeraldas.

— Sou Isla de Lírio³. Eu tinha saído para buscar algumas mudas pro jardim de Atena, quando tudo começou...

— Ela e a Ursa Menor me ajudaram a terminar de evacuar os moradores e os aspirantes — explicou Noah, que a seguir voltou o olhar para o céu, preocupado. — Sinto muito por sua mestra...

Amana assentiu rapidamente, e logo virou-se. Tentava esconder os olhos vermelhos.

— Não se preocupe... — respondeu com frieza, tentando demonstrar controle emocional.

— Então, se já está tudo bem — intrometeu-se Isla no diálogo — vamos logo... Precisamos nos juntar aos demais cavaleiros sobreviventes.

~

— São muitos! — exclamava o Cavaleiro de Centauro, enquanto usava suas chamas para tentar bloquear a passagem das criaturas míticas. — Maldição... Quando parecia que a situação já estava ficando sob controle... Começaram a aparecer muitos mais monstros!

O prateado criava barreiras de fogo como podia, mas seus esforços eram em vão. As criaturas continuavam a empilhar-se sobre os cadáveres carbonizados uma das outras, até abrir passagem através de suas colunas de fogo e, ignorando o cavaleiro, enfileiravam-se cada vez mais escadas acima, partindo em direção à primeira casa.

— Jamil, esqueça isso! — gritou o Cavaleiro de Hércules, enquanto terminava de enforcar um gigantesco leão. — Fuja para a Torre do Relógio... Nossa batalha aqui já está perdida.

— Mas, Amir, se não fizermos nada e eles continuarem a subir...

Nesse momento, um minotauro, que presumiu-se estar morto, levantou-se às costas do Cavaleiro de Hércules e, antes que ele pudesse reagir, transpassou o braço através do tronco do cavaleiro. Amir berrou em agonia, enquanto largava o leão e via as garras do algoz atravessando seu peito.

— Amir! — desesperou-se o Cavaleiro de Centauro.

— Jamil... Fuja... — balbuciou, gorgolejando no próprio sangue.

~

No pátio em frente à Casa de Áries, os cadáveres de dezenas de criaturas mitológicas acumulavam-se aos pés de Marin de Águia. Dragões, minotauros, hidras, grifos, basiliscos, quimeras, ciclopes... Marin já havia destruído toda sorte de criaturas que poderia se imaginar. Ainda assim, elas continuavam a surgir às dezenas das escadas que chegavam na primeira casa.

— Não sei quanto tempo mais eu posso segurá-los... — arfava a amazona, antes de ter que voltar a lutar.

Saltando sobre um enorme ciclope com seu Lampejo da Águia, Marin esmagou o seu crânio, aterrissando, a seguir, com uma boa distância dos demais inimigos.

“Estranho...” Pensava a amazona, após concluir o abate, e olhando em direção ao interior escuro da Casa de Áries às suas costas. ”Lá dentro só estão os corpos de Kiki e das demais criaturas que derrotei... Ainda assim, sinto como se houvesse alguém me observando.”

~

Da Casa de Touro, Inna acompanhava o dragão esmeralda que subia aos céus.

— Maldição... Até a Huan-Li... Se isso continuar, pode ser que o inimigo realmente consiga atravessar as Doze Casas...

Inna estava preocupada pois, nos últimos minutos, também havia deixado de sentir os cosmos do Cavaleiro de Gêmeos, Itsuki e demais cavaleiros de bronze e de prata que defendiam as Doze Casas. Além disso, as coisas pareciam estar complicadas para Hela na Casa de Câncer. Se ela caísse, restariam somente os dourados de Escorpião e Peixes para deter os inimigos restantes.

— Eu preciso fazer alguma coisa. Mesmo que custe a minha vida, porém...

Inna voltou seu olhar para a Casa de Áries, igualmente tensa. Marin esteve dando conta das feras de Epimeteu até agora. Porém, o número delas invadindo o Santuário aumentou consideravelmente nos últimos minutos.

— Se essas bestas conseguirem abrir caminho até a Casa de Touro... Droga, Cavaleiro de Virgem. Eu tinha um pouco de esperança que você fosse nos ajudar, mas... Sua presença sumiu completamente.

~

Uma gigantesca baforada de fogo encurralou Marin entre dois outros dragões, quando um deles rodou sua cauda espinhenta sobre a amazona, lançando-a ao longe.

Marin quicou duas vezes no mármore frio, antes de sucumbir em frente à Casa de Áries. Já estava exausta. Sem conseguir se levantar, recuou arrastando-se de costas, até que encontrou apoio em uma coluna.

— Eu sempre estive preparada para morrer por Atena, mas jamais imaginei que seria como comida de dragão...

As bestas cercavam-na cada vez mais de perto, já preparando-se para o abate, enquanto Marin, apesar de não ter mais forças para levantar os punhos, ainda elevava o cosmo em desafio. Não temendo a intimidação da amazona, porém, um basilisco deu o bote para o golpe final. A amazona aceitou seu destino e virou o rosto, fechando os olhos.

Estranhando a demora para o resultado, porém, voltou a abrir os olhos, e viu a gigantesca cobra se desfazendo em pedaços na sua frente.

— O que... — questionava Marin, sentindo que um poderoso cosmo a havia protegido.

Todas as bestas deram um passo para trás, enquanto presenciavam um cosmo assustador aproximando-se do interior da primeira casa. Apesar de desprovidas de grande intelecto, todas as células de seus corpos podiam dizer que elas morreriam se não recuassem. Enquanto isso, Marin olhava sem acreditar no que revelava-se da penumbra da primeira casa.

— Não pode ser... — desabou Marin.

— Descanse, querida Marin — confortou a voz serena de Kiki, que largou sua capa sobre a amazona enquanto passava por ela. — O resto, agora, fica por minha conta.

Espalhando seu cosmo dourado por todo o jardim da Casa de Áries, o cavaleiro evocou seu golpe máximo.

— Extinção Estelar!

Um gigantesco foco de luz cresceu entre as criaturas, expandindo-se por todo o pátio até engoli-las por completo.


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Notas finais do capítulo

1. Golpe baseado no Waterfall Basin do personagem Kamado Tanjirō, da série de mangá/anime Kimetsu no Yaiba
2. A constelação de Pastor é mais conhecida pelo nome de Boieiro, mas Pastor também é uma denominação possível.
3. Lírio é outra constelação extinta que eu escolhi para formar o time de saintias.



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