As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 33
Castor e Pólux


Notas iniciais do capítulo

Chegando à Casa de Gêmeos, Itsuki se depara com um ensandecido Cavaleiro de Gêmeos. A amazona não sabe o que aconteceu com o aliado do Santuário, mas o cavaleiro quer matá-la a qualquer custo.



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Já fazia algum tempo que Itsuki corria por dentro da Casa de Gêmeos, sem encontrar uma saída. Estranho. Shoryu já havia lhe contado a respeito do Labirinto de Gêmeos, mas a amazona não esperava ficar preso nele, já que, agora, subia as Doze Casas para ajudar os cavaleiros de ouro. Mas, quando foi resgatada do Ciclo das Seis Existências, Itsuki sentiu que Atena tentou levá-la para longe dessas batalhas. Então, talvez as ordens do Santuário ainda fossem para que cavaleiros de bronze e de prata ficassem longe das Doze Casas.

“Pera aí...” pensou consigo, ao achar ter visto um brilho dourado no meio do breu.

Saindo do percurso dos corredores da Casa de Gêmeos, Itsuki viu-se entrando em um grande salão. Em seu centro, encontrou um cavaleiro de ouro, cuja armadura ainda detinha o brilho da benção de Atena, o que significava que ele era um aliado e que, provavelmente, tratava-se do cavaleiro de Gêmeos que esteve procurando.

— Você está bem? — perguntou Itsuki, com cautela.

O cavaleiro estava prostrado no chão e de costas, contorcendo-se como se estivesse em grande agonia. Com o elmo largado ao lado, suas mãos, cujas unhas chegavam a tirar sangue de sua cabeça raspada, apertavam as próprias têmporas. O resto do seu estado físico também era lamentável. Havia uma grande queimadura em suas costas, que atravessava a armadura de ouro e penetrava sua carne, e o seu corpo, como um todo, estava coberto de sangue, que parecia fluir de orifícios que atravessavam sua armadura.

— Não... Não se aproxime! — suplicou o cavaleiro, ainda evitando contato visual. — Eu não quero machucar ninguém!

A amazona não deu mais um passo sequer. Assustada com a desorientação do cavaleiro, Itsuki tentava imaginar o que poderia ter deixado nesse estado um homem grande e poderoso como aquele.

— Não se preocupe... — deixou escapar, de forma involuntária, não só para tentar acalmá-lo, mas também para tranquilizar a si mesma, incomodada que estava em assistir o sofrimento do cavaleiro. — Eu sou uma aliada — completou.

Nesse momento, porém, o cavaleiro não virou para Itsuki com o olhar de quem procurava um amigo, mas sim com o olhar de quem tinha a mais violenta das intenções assassinas. “Esses olhos...” Assustou-se Itsuki. “Eu nunca vi olhos tão agressivos como esses... É como se eu estivesse encarando um demônio!”

— O que disse?! — bradou o cavaleiro, raivoso. — Disse que veio aqui para me matar?!

— O quê?! Não! Eu disse que sou uma aliada — tentou explicar, batendo a mão no próprio peito.

— Estou vendo... Realmente, a sua armadura também não tem mais o brilho da bênção de Atena. Então, você é aliada daqueles cavaleiros de Nibiru que passaram pela minha casa mais cedo! — afirmou, entrando em postura de ataque.

Nada do que o cavaleiro dizia fazia sentido. Itsuki não tinha ideia do porquê dele estar tão confuso. Mas, sentindo-se ameaçada, e vendo que não só a sua aparência, como também tudo o que dizia, era percebida de forma distorcida pelo cavaleiro, a amazona de Fênix não teve escolha, a não ser entrar em postura de defesa e preparar o cosmo.

— Eu não serei derrotado novamente! — exclamou o cavaleiro irado, antes de lançar seu ataque.

O soco, imbuído de cosmo energia, criou um deslocamento no ar que lançou Itsuki para longe, até esmagar com as costas uma das pilastras da Casa de Gêmeos. Um pouco tonta, a amazona levantou-se rapidamente, já temendo receber novo ataque. “Eu não queria machucar um aliado agora...” Pensou a garota. “Mas sinto que, se eu ficar só me defendendo, esse cara vai realmente me matar...”

Como previsto, o Cavaleiro de Gêmeos logo a atacou novamente, dessa vez com uma rajada de socos à velocidade da luz. Porém, apesar dos golpes não serem mais nítidos do que um entrelaçamento de linhas douradas, Itsuki conseguiu prever cada um deles e, primeiro se abaixando e fintando à direita, e depois saltando para o alto e para a frente, com uma cambalhota no ar, evitou todos os golpes para, então, aterrissar com uma “voadora” no peito do cavaleiro, que foi atirado contra o solo, quicando uma vez, e rebatido para longe.

— Os seus golpes... — suspirou Itsuki, aterrissando já em postura de combate. — São muito rápidos. Mas não tão eficientes quanto o Relâmpago de Plasma do Cavaleiro de Leão — declarou, lembrando de sua luta contra Richard.

Um certo alívio surgiu na mente da garota, ao perceber que toda a surra que havia levado na Casa de Áries não fora em vão.

— Entendo... — disse o endemoniado geminiano, tremendo de ódio enquanto levantava-se. — Então você não é uma amazona de bronze qualquer... Nesse caso, terei de usar minhas técnicas secretas — concluiu, cruzando os braços para cima.

Aquela postura. Devido à sua obsessão em encontrar Ikki de Fênix, Itsuki sempre procurou aprender tudo o que podia a respeito do cavaleiro, incluindo suas históricas batalhas contra Saga, Kanon e Kaim. Itsuki nunca viu a Explosão Galáctica antes, mas tinha certeza de que tratava-se desse golpe.

— Desapareça, junto com as estrelas! Explosão Galáctica!

Mesmo sem saber exatamente o que esperar, a amazona não ficou parada e também elevou o cosmo para atacar. Usando a postura em que a Ave Fênix atinge seu potencial máximo, o clássico golpe de mão espalmada à frente, Itsuki contra-atacou com sua mais poderosa rajada de ventos incandescentes. Ao centro dos dois, os golpes chocaram-se e, da colisão, surgiu uma grande explosão, que varreu tudo ao redor. Os pés de Itsuki arrastaram-se alguns metros para trás, mas a amazona permaneceu firme em sua postura de ataque e não caiu. Porém, quando olhou para o geminiano, viu que ele não havia se movido um único centímetro; a propagação da explosão havia sido muito mais forte para o lado da amazona. “Impossível... Nem mesmo o Asura conseguiu ficar imóvel após colidir sua técnica com a minha... Isso quer dizer que, mesmo depois de toda a minha experiência nas últimas batalhas, ainda não sou párea para ele?!”

— É bom que você perceba a diferença entre nossos poderes... — comentou o cavaleiro, percebendo a frustração estampada no rosto da amazona. — Assim, você aceitará mais facilmente o seu destino, quando eu te mandar para o inferno! — exclamou, assumindo mais uma vez a postura da Explosão Galáctica.

Isso era ruim. O corpo de Itsuki já havia ficado mais pesado, e um fio de sangue escorria de sua boca. Se esse embate continuasse a se repetir, a amazona continuaria a receber dano colateral após cada colisão, até que sua defesa fosse finalmente quebrada, e o seu corpo partido ao meio.

Porém, esse dilema fez a amazona lembrar-se de algo que era comumente dito nas histórias sobre os Cinco Lendários, tanto por Ikki, quanto pelos cavaleiros de gêmeos. “Um golpe não funciona duas vezes contra o mesmo cavaleiro”, eles diziam. Se era assim, Itsuki deveria colocar sua cabeça para pensar, e explorar o que já havia aprendido da Explosão Galáctica... “É isso!” Concluiu, lembrando-se da famosa luta entre Hyoga e Ikki.

— Explosão Galáctica! — anunciou o dourado, lançando mais uma vez a técnica assinatura dos geminianos.

Dessa vez, Itsuki apenas deu um passo para trás, antes de ser varrida pela explosão das estrelas. As partes vazias da armadura de Fênix voaram para longe, espalhando-se pela Casa de Gêmeos, e não restando um sinal sequer do corpo que a habitava.

— Humpf. Não sobrou um átomo sequer do inimigo... — conferiu o geminiano, caminhando até as peças da armadura.

— Atrás de você! — anunciou Itsuki.

Surgindo com um gancho de direita no queixo do cavaleiro, junto com sua incandescente energia cósmica, a amazona lançou-o contra uma pilastra, a qual se partiu ao meio e desabou sobre o corpo do cavaleiro. Vendo que ele permanecia nocauteado, Itsuki aproveitou o momento para avançar à próxima casa. Porém, quando tentou chamar sua armadura de volta, percebeu que ela não respondia. Teria ela ficado danificada demais após receber a Explosão Galáctica sem defesa alguma?

— Me perdoe, Fênix. Eu acabei exigindo muito de você — lamentou, vendo que as peças realmente pareciam fragilizadas demais para reagir. — Sei que você pode renascer das cinzas, mas não sei como convocar esse seu poder, e não posso esperar por você. Preciso partir logo antes que o cavaleiro de Gêmeos acorde...

Despedindo-se da armadura, e vendo que o Labirinto de Gêmeos já havia se dissipado, Itsuki virou-se para a saída e começou a correr. Entretanto, quando já estava próxima de deixar a terceira casa, raios de luz dourados, vindos às suas costas, passaram ao seu redor e juntaram-se à sua frente, formando a imagem de um cavaleiro de gêmeos completamente trajado, embora uma estranha sombra cobrisse seu rosto. A amazona ficou sem entender como ele havia se formado daquela maneira à sua frente, quando uma voz surgiu às suas costas, para explicar.

— Foi muito inteligente a maneira com que você usou uma ilusão em sua armadura para me enganar... Mas aquilo nem se compara à minha habilidade de controlar a armadura de gêmeos.

Era o cavaleiro de gêmeos quem falava, surgindo completamente nu às suas costas, após se libertar dos entulhos que o esmagavam. Ver que o geminiano não usava roupa alguma constrangeu um pouco a amazona, mas não o suficiente para encobrir a sua surpresa com aquela habilidade de controle da armadura.

— Então é isso... — conferiu Itsuki, voltando a encarar a armadura de gêmeos. — Apesar de parecer a sua imagem idêntica, é apenas a sua armadura sendo controlada por seu incrível poder...

— Infelizmente, elogiar minhas habilidades não salvará a sua vida. Naquela hora, você deveria ter me atacado para matar. Porque, agora, sem a sua armadura, é você quem irá morrer! — exclamou, apontando a palma da mão para a armadura de gêmeos.

Reagindo ao cosmo dourado de seu portador, a armadura avançou mirando um soco no coração da amazona. Porém, para o espanto de Itsuki, a indumentária de Gêmeos travou o punho a apenas alguns centímetros de seu peito.

Também perplexo, o geminiano continuou a usar o cosmo para ordenar o ataque. Mas, tremendo, a armadura seguiu resistindo ao comando.

— Eu... Não entendo... — protestou o geminiano, ainda se esforçando para desferir o comando. — Apesar de minhas ordens, a armadura se recusa a atacar...

Vendo que era inútil ir contra a vontade da armadura, o cavaleiro desistiu, e deixou que Gêmeos voltasse à sua forma de totem. Assumida essa forma, perceberam que lágrimas escorriam das faces de Gêmeos.

— A armadura... Está chorando? — questionou Itsuki.

— As armaduras têm vontade própria... — explicou o geminiano. — Se ela se recusa a te matar... Isso significa que eu estou levantando o meu punho contra a justiça?! — questionou, perplexo.

Nesse momento, uma forte dor começou a afligir a cabeça do geminiano, que voltou a se prostrar da maneira que Itsuki havia lhe encontrado mais cedo. A amazona podia sentir que a mente do cavaleiro estava em forte conflito.

— Me dói muito vê-lo sofrer assim... — lamentou a amazona. — Ver um homem da justiça em conflito com as próprias convicções; atormentado por tais ilusões... Mas eu não sei mais como te ajudar. O melhor que posso fazer por você é avançar à próxima casa, e carregar comigo a sua vontade de proteger Atena — despediu-se, com pesar, já se preparando para seguir à próxima casa.

— Espere! —exclamou o cavaleiro, desesperado, estendendo uma mão para Itsuki. — Mesmo que Gêmeos me diga o contrário, eu não consigo deixar de pensar que estou deixando um inimigo passar... — argumentou, levantando-se, e cerrando um punho. — A única explicação é que você fez alguma coisa à minha armadura... Sim! É a única explicação! Sendo assim, eu terei de matá-la com minhas mãos nuas!

A expressão assassina do cavaleiro estava ainda mais assustadora do que antes. Foi só então que, lembrando-se de outra história, Itsuki entendeu a razão por detrás daqueles olhos demoníacos. “Como eu sou idiota... Não acredito que fui me esquecer disso!”

— Escute com atenção, cavaleiro de gêmeos! — suplicou, também entrando em postura ofensiva. — Eu não sei como isso foi acontecer, mas eu acredito que você está sob efeito de seu próprio golpe de controle mental, o Satã Imperial!

— O quê?! Não seja ridícula — disse incrédulo. — Que tipo de honra eu teria se eu acabasse dominado pelo meu próprio golpe?! Eu vou acabar com você logo, por dizer tais bobagens...

Itsuki acreditava que havia uma maneira de anular o efeito do Satã Imperial, se fizesse o mesmo que Ikki na Guerra Santa de dois séculos atrás, quando o Golpe Fantasma de Fênix fortuitamente anulou o Satã Imperial que afligia Suikyo de Garuda. “Para a minha sorte, o psicológico dele agora está instável demais para me atacar com a Explosão Galáctica ou outra técnica secreta. Mesmo assim, eu só vou ter uma chance... Pois, sem armadura, irei morrer no primeiro golpe que receber, seja ele qual for...”

Avançando um contra o outro, cavaleiro e amazona lançaram, cada qual, um soco certeiro no adversário. Itsuki cravou o punho na testa do geminiano, deixando a marca do Golpe Fantasma em sua mente. Porém, o cavaleiro atravessou o peito da amazona com seu punho, fazendo jorrar sangue por todo o chão.

“Droga... Eu não fui rápida o suficiente?!” Pensou, desesperada, olhando para o próprio peito, aberto. “Mas será que, pelo menos...”

Quando Itsuki olhou, aflita, para seu adversário, viu que não era a satisfação de uma intenção assassina realizada que estampava seu rosto, mas, sim, o choque de quem havia acabado de cometer um grande erro. Isso foi o suficiente para um sorriso de alívio formar-se no rosto da amazona.

— Me desculpe... — disse Itsuki, começando a desabar no chão, quando foi amparada pelo confuso cavaleiro. — Me desculpe, por não conseguir te salvar... Antes que me matasse... — continuou, regurgitando o próprio sangue. — Parece, que no fim, meus esforços não fizeram diferença... Já que, de qualquer maneira, você acordaria do Satã Imperial, depois que eu morresse... Mas, pelo menos... Eu posso conversar com o verdadeiro Cavaleiro de Gêmeos, antes de morrer...

Lágrimas escorreram na face do geminiano, quando finalmente entendeu o que estava acontecendo.

— Não chore... — disse Itsuki, segurando com uma mão o rosto do cavaleiro. — Pelo menos, eu dei a minha vida... Em troca da de um cavaleiro... Muito mais poderoso, e que... Certamente... Protegerá... Atena...

Com seu coração parando, a vida sumiu de seus olhos.

Em prantos, e até mesmo soluçando, o geminiano, acolheu-a em seu peito, e abraçou-a mais forte. Suportar a dor, do que havia acabado de cometer, era tão difícil, que o cavaleiro preferia voltar a ficar louco.

— Não... Você está errada... — protestou, severamente, como se ela ainda pudesse escutá-lo. — De que adianta eu ter esse poder, se tudo o que eu pude fazer com ele foi matar uma criança? Você, amazona de Fênix, que deu a sua vida pela minha, sem nem mesmo saber o meu nome, é que é uma verdadeira defensora de Atena... — lamentou.

Começando a queimar o cosmo ao máximo, como nunca antes visto na Casa de Gêmeos, o cavaleiro começou a desbravar os limites além do sétimo sentido. Estava decidido a corrigir essa injustiça, nem que para isso tirasse a própria vida.

— Ó, Atena, por favor, me escute! — lamuriou, para o alto, em intenso sofrimento. — Assim como os gêmeos, Castor e Pólux¹, da Era Mitológica, me ajude a oferecer a minha vida, no lugar da dela!

Sentindo o brilho de Niké, que sempre guiava Atena à vitória, o cavaleiro finalmente despertou o oitavo sentido. E, então, em uma manobra desesperada, arrancou o Arayashiki de sua própria alma, e depositou-o no corpo de Itsuki. Assim, o ferimento no peito da amazona começou a se reconstituir, ao mesmo tempo em que o corpo do geminiano começava a desvanecer, desaparecendo aos poucos na forma de uma poeira dourada.

— Amazona de Fênix... Herde a minha vontade de proteger Atena...

No submundo, nos vales distorcidos em que a deusa Atena e Maitreya encontraram e curavam a alma de Kiki, uma estrela cadente cruzou o céu. Nesse momento, Saori sentiu o último lamento de seu fiel Cavaleiro de Gêmeos, e uma lágrima escorreu em seu delicado rosto.

— Atena? Você está bem? — questionou o Cavaleiro de Taça, preocupado.

— Sim... — disfarçou, limpando a lágrima, apesar de, inconscientemente, ter feito uma negativa com a cabeça. — Não se preocupe comigo. Falta pouco para salvarmos o Kiki — declarou, tentando mostrar otimismo, no marejado olhar.


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Notas finais do capítulo

1. Castor e Pólux são os gêmeos que originaram a constelação, após um deles oferecer a imortalidade para salvar a vida do irmão.



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