Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 14
14- Depois da tempestade o que vem?


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem com vocês? :3

Gostaria muito de agradecer a quem resolveu colocar para acompanhar a minha fic, me motivou a continuar com "Passando a Perna".

Agora vamos a leitura e espero que gostem.



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Capítulo quatorze
     Depois da tempestade o que vem?

“Você acha que é um garoto tão legal
E todo mundo gosta de você
Sei que você acha que sou estúpida
Diz que sabe mais do que eu
Mas o que você nunca vai entender
É que eu costumava ser uma grande fã
Mas agora você é um garoto tão legal
É como se eu nem sequer te conhecesse”
(Tate McRae – What would you do?)

 

Mesmo que eu nunca houvesse tido essa experiência era como se um caminhão tivesse passado por cima do meu joelho quando acordei naquela manhã. Foi por causa dos pulos? Minha gritaria? O quanto corri de hospital em hospital? Toda a tensão pelo que aconteceu naquele campo? Quem sabe a verdadeira culpada seja eu por ter desobedecido o médico e forçado muito.

Foi como um castigo, um parecido com que Daniel sofreu, apesar de jamais dar para comparar com sua doença no coração. Só tinha certeza que ele deve amar demais futebol para arriscar morrer apenas para jogar.

“Não vou poder ir à escola, mal consigo andar.” — Elisa.

Isso era igual dizer que estava paraplégica a Alison e tinha a certeza de que iria me mandar várias mensagens com os maiores dramas possíveis. Antes achava até engraçado, porém com o tempo foi se tornando preocupante o quanto a sua imaginação pode voar longe com romance e tragédias. Era tanto que poderia ser uma nova William Shakespeare escrevendo outra versão de “Romeu e Julieta”.

“Mas às 15h estarei no hospital.” — Elisa.

— Seu gelo, qualquer coisa ligue. — O melhor pai de todos, ainda botou ali para que não precisasse sair da cama. Claro que nem ficou por precisar ir trabalhar e já estava acostumada com isso por muitas vezes ficar sozinha.

A vontade era de chama-lo de volta para que me desse o controle da TV e assistir aquele filme sobre o conde drácula. Juro ter tentado algumas vezes me empurrar para pegar, mas apenas serviu para trazer mais dor e sofrimento. Olhei pro lado em busca de qualquer coisa que me tirasse esse tédio e aquele livro de romance apareceu como se fosse um fantasma.

“Explica melhor as coisas, estava a ponto de ir para a sua casa!” — Alison.

Se não fosse aula de história ia era me xingar por ter dito que estava bem e iria a visita, pois não teria desculpa para sair, mas como é a matéria favorita me dava sermão do mesmo jeito. Não adianta, de qualquer forma haveria sermão e alerta para não a incomodar.

“Viram o que aconteceu com Daniel?” — Cecília.

Quando vi essa mensagem sendo mandada há um bastante tempo eu sabia que viria mais. Minha amiga tinha razão que receberíamos noticias dele no outro dia e não precisava se preocupar, mas os boatos podem ser mentiras também.

“Que desmaiou no campo?” — Helen.

“Foi de tanta bomba que tomou.” — Renato.

“Não, ele apanhou do cara do outro time, soube que pegou a namorada dele!” — Mariana.

O Daniel tem problema no coração, seus idiotas. Era isso que queria gritar para todos, só que as palavras de minha mãe sobre ser segredo seguiam em minha mente para que não contasse. Mesmo longe ainda tinha poder sobre mim.

“Foi overdose de cocaína, estava na balada sábado à noite.” — Alberto.

De que lugar saiu isso? Da “fofocalizei”? Algum vídeo de rede social? Toda essa merda estava no grupo do colégio e capaz dele ter visto e piorado de saúde, me deixava mais irritada ainda ao ler cada mensagem sobre ontem. O que poderia fazer?

“Viu o que estão falando?” — Elisa.

Mandei com um print para a única pessoa que ficava ao meu lado e visualizou em pouco tempo. Nem precisava comentar mais nada para saber como estava me sentindo com tudo aquilo. Era como reviver as piadinhas sobre odiar homens, porém tinha vontade de ir ao diretor para que os punisse por isso.

“Não tem só vocês que está nesse grupo, sabiam? Dá para apagarem antes que outras pessoas vejam? Um professor talvez?” Alison.

E deve ter chamado eles de todo e qualquer nome com essas perguntas e logo o que apareceu foram vários “mensagem apagada”, também porque não só ela pediu, mas outros que disseram coisa pior e ameaçaram até cair na porrada. Ao entrar em páginas que encontrei foram notícias sobre o prodígio e a dúvida sobre seu futuro, certa vereadora deve estar arrancando os cabelos nessa hora.

“Obrigada por toda preocupação, galera, só caiu a minha pressão. Semana que vem estarei de volta.” — Danmônio.

Ver esse apelido que coloquei antes me dava vontade de rir, no entanto quando o encaro agora vem a vergonha por ser tão infantil. Troquei apenas para o nome completo e fiquei encarando aquela tela enquanto decidia se o chamava ou não, porque cada palavra que li eram bem falsas para mim.

“Está acostumado.” — Alison.

Isso que recebi quando desabafei, sem emoção alguma ou até empurrão para que fosse dizer a ele. O dia parecia tão estranho que pensei estar tendo pesadelo ou o acontecido tinha não apenas me afetado. Quando a carona chegou e me levaram ao hospital quase empurrada para consulta e depois a visita nem prestei atenção na música que tocava. Tudo era Daniel, doença e morte que quando me virei para o lado até levei um susto com a cara que minha amiga fazia.

— Que bicho te mordeu? — Comecei.

— A Marina falando para ficar quieta. — Poderia até notar o veneno escorrendo pela sua boca ao falar dela. — Pau mandada do caralho! — Gritou.

— Deixa eu adivinhar, é por que a namorada dele é a Alicia? — Soltei.

— Como se fosse fazer alguma coisa. — Tinha de concordar, se havia uma coisa que se importava era com a imagem de santinha. Jamais imaginaria ela pedindo para deletarem as mensagens ou xingando, nem por amor.

— Contigo acho que sim. — Disse quando lembrei daquela briga entre as duas que deixou a mim e os poucos daquele lugar sem entender nada. Talvez a única vez que parecia mais humana.

— Deveria era me agradecer. — Faz esse bico não.

— Eu gostei. — Sussurrei e foi o suficiente para sorrir e me dar um abraço.

A primeira coisa que fiz ao entrar na recepção foi pedir uma pulseira para poder ir ao quarto que estava internado. Os dois não esconderam que não aprovaram em nada e o adulto entrou na frente para que pudesse ser atendida.

— Que pressa é essa? Ele não vai sair do lugar. — Detesto quando estão certos.

— Para não precisar voltar aqui. — Essa desculpa talvez cole.

— Então vai ver seu joelho primeiro? — Não era meu plano, mas tá.

— Sim. — Quase não saiu de tão chateada que estava por me atrapalharem.

— E ficará esperando na sala? — Haja paciência.

Encarei meu pulso e os dizeres “urgente” não estavam lá sabia que ficaria muito tempo naquele lugar cheio de gente reclamando, crianças chorando e o risco de flagrar alguém com um machucado enorme. A cada imagem passando na minha cabeça ficava mais louca e com vontade de fugir, mas só teria tombo em poucos passos e um novo machucado.

— É minha mãe por acaso? Vai procurar o que fazer e me deixa em paz. — Se quisesse já estava para briga.

— Então irei ver o Daniel. — Claro que ia me provocar.

Não só falou, mas saiu mesmo e me deixou sozinha na hora que me chamaram para consulta. Pela cara do médico quando falei tudo que ocorreu haveria mais remédios e recomendações no lugar de alfinetadas. A forma de jogar em minha cara que tinha de tomar cuidado era a possibilidade de tala e sessões torturantes de fisioterapia.

Pelo menos poderia sair, mesmo sem algum atestado, e fazer o que eu vim para fazer nesse lugar, que é encontrar o meu novo parceiro de trabalho. Estava me sentindo feliz e ao mesmo tempo quase chorando enquanto passa por cada porta daquele corredor.

— Alison, que aconteceu? — Perguntei quando a vi na frente do quarto.

— Estou até agora tentando entrar, porém pelo jeito toda a cidade resolveu ter a mesma ideia de ir visita-lo. — E eram tantas cabeças que nem enxergava a cama ou alguma parte dali.

— E acha que vão embora hoje? — Eram flores por todo o lado e alguns ainda levavam na mão, tentei pular para ver como estava e meu joelho me deteve na força do ódio de tanta dor que senti.

— Vamos voltar amanhã. — Desistindo?

— Deixa só eu ver sua cara. — Contrariei quando dei alguns passos vacilantes e quase cai ao chão por causa de alguém. Era como estar em um show lotado.

— Está tão apaixonada assim que não pode passar um dia sem vê-lo?  — Estava ela rindo atrás de mim ao me pegar para poder me levantar. O seu jeito de dizer que tinha enlouquecido era tão “romântico”.

— Quis dizer culpada, não é? — Devolvi sem me debater para voltar a multidão e me olhar sendo levada para cada vez mais longe dele.

— Pelo quê? Chutou ele naquele campo por acaso? Para com essa idiotice ou te darei um belo motivo para se sentir pior. — Que cruel.

Apenas fiz do chão o meu confidente ao encará-lo enquanto murmurava palavras sem sentido para mim, eram a maioria xingamentos para não mandar a pessoa ao meu lado tomar naquele lugar e conseguir fechar a boca.

— E se morrer a noite e não conseguir nem pedir desculpa? — Sussurrei quando esse pensamento invadiu minha mente, talvez ia ao inferno por isso.

— Não vai acontecer. — Mesmo que quisesse passar confiança era notável que sua voz tremia. Nem ela tinha certeza.

— Era melhor mesmo termos deixado para a terça. — Fiquei até envergonhada vendo todos aqueles buquês enquanto estava de mãos vazias. — Eu esqueci as rosas.

— Sim. — Esse consolo apesar de ter vindo de quem acha a maior besteira ficar dando algo assim para os pacientes, pois era igual dizer que querer que morram, foi capaz de me acalmar de alguma forma.

Aquele silêncio dentro do carro ao som de uma música lenta me fez perceber o quanto cansava estava com tudo que aconteceu. Conseguia ouvir meu coração bater cada vez mais devagar quando os segundos iam passando e apenas pude voltar a mim com as cutucadas da Alison para que acordasse.

O relógio avisava que faltavam um bom tempo ainda para meu pai chegar, saber disso me fez querer desmaiar ali na porta para não andar um passo sequer, eles deram uma de mal educados e ficaram bambos. Preferi ajoelhar para não cair e nem sei quantos minutos se passaram até que escutasse o meu celular tocar e avisar que Daniel estava ligando.

— Olá. — Sussurrei depois de ficar olhando para ele e adivinhar como estava se sentindo só pela sua cara. Mesmo que tivesse pálido e o tubo passasse por seu nariz, parecia dizer que tudo ficaria bem.

— Achei que tinha travado a tela. — Sua gargalhada durou pouco pela tosse que soltou e a voz ainda era muito fraca. Que vontade de chorar que está me dando. — Olá, Elisa. — Finalmente me cumprimentou.

— Por que me ligou? Precisa descansar. — Praticamente implorei para desligar.

— Costume. — E essa única palavra me lembrou do tanto que repetia adorar ver minha reação. — Alison me mandou mensagem e falou que tinham vindo.

Atrás dele tinha uma parede branca, mas com alguns aparelhos e o fio que ligava ao soro. Me perguntava para que era tudo aquilo, porém me segurei para não falar a ele e o forçar mais.

— Tchau. — Eu fui a pessoa que tocou no botão vermelho por não aguentar sua respiração ofegante, seus cabelos revirados e o rosto amassado pelo sono, tudo que chamava atenção era sua doença e me deixava mais mal.

“Disse que estava doida para me ver. ;)” — Daniel Schutz.

O emoji de piscada era uma tentativa de cantada? Mesmo que estivesse ficado vermelha, era só pela minha amiga ser tão fofoqueira, não pela verdade ter sido jogada tão facilmente. A cada cena que repassava de mim fazendo escândalo e querendo entrar no quarto ficava mais constrangedor.

“Sim.” — Elisa.

Nada sairia além disso, as vezes que tentei digitar dizendo que era uma mentira parecia me entregar e apagava todas elas, até desistir e concordar. A sua demora em responder também me deixava mais ansiosa se fosse rir de mim, me xingar ou mudar de assunto.

“Apenas isso? Achei que ia dizer que me amava.” — Daniel Schutz.

Agradeço por não estarmos por videochamada, porque não saberia a reação ao soltar aquilo de sua própria boca. Era por não saber se o odiava mais, se sentia pena ou uma vontade de se dar bem com ele.

“Aqui não tem lugar para romance, Sr. Daniel, só filmes com zumbis.” — Elisa.

Enviei uma foto da categoria de terror e me recomendou um que desejava muito ver e não teve chance. Era um de morto vivos que tinha lançado esse ano e fui agradecer, porém lá estava sua chamada de novo para que botasse para assistir e dessa vez não tinha sua cara ali, mas escutar sua voz de vez em quando era o bastante para saber que estava acompanhando.


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Notas finais do capítulo

Que acharam do capítulo?

Apenas para avisar que a gif não é minha. Caso tenham percebido algum erro de português podem me avisar que irei revisar.

Caso queiram comentar fiquem a vontade, ficarei muito feliz com isso, adorarei saber a opinião de vocês, o que estão gostam, querem que mude, que esperam para o final ou um "oi".



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