Sangue de Arthur III escrita por MT


Capítulo 5
5- Capítulo, Carta sangrenta


Notas iniciais do capítulo

E aí? Tem alguém lendo essa fanfic...?



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Cálice, Einzbern

 

Era carregada como um saco de batatas por um grande cão negro. O Caster seguia ao seu lado montando em um cavalo com uma longa marca de corte no pescoço. Atrás deles, cinco generais brancos como gelo seguidos de uma enorme hoste formada por mortos.

Ela os ouvia. Seus passos, suas bocas movendo-se esfomeadas, os grunhidos sem significado. Cada movimento a levava mais adentro na cidade de Fuyuki. Podia dizer só de observar. Os prédios mudavam, as casas e mesmo as estradas. Logo o sol desceria sobre eles. A noite a muito se alongara. 

Não, permanecerá noite enquanto ele estiver aqui. Algo dentro dela sussurrou e todo seu corpo tremeu. Ela não soube o que aquilo significava, se fora só um pensamento assustado ou uma intuição profética sobre uma verdade que deveria desconhecer. Olhou para o homem que parecia ter sido esculpido de uma geleira e sentiu calafrios tomarem-na.

Ele é perigoso demais para ter o graal, a certeza a atingiu novamente. Não era um humano, não tinha amor por eles. Tudo que aquela criatura cristalina fazia era matar e usar cadáveres como marionetes. Que tipo de desejo algo assim poderia ter que não trazer ainda mais matança?

Mas não era da alçada dela o que seria feito do cálice. Estaria morta de qualquer forma e fora ensinada a imparcialidade. Quem quer que vencesse seria digno de ter seu desejo realizado, isso era tudo.

No entanto ainda se pegava desejando que a Saber aparecesse e tomasse para si o milagre do graal. Alguém como ela, idiota e bruta, não haveria de ter um maligno pedido. Na verdade, era provável que ainda tivesse em mente desejar a volta a vida do mestre dela. 

Isso se ainda não tiver desaparecido, lembrou com amargura enquanto era balançanda pelo ritmo do cão. Já sentia feridas se abrirem na barriga onde entrava em contato com o dorso do animal. Doíam, mas quando reclamara da primeira vez suas palavras tinham caído em ouvidos surdos e não imaginava que o resultado mudaria se tentasse uma segunda vez. Mordeu o lábio inferior e forçou-se a aguentar quieta.

Andaram por muito mais tempo, mas a lua continuava no comando dos céus. Fazia frio também e o ar cortava como navalha. Nunca pensara que sentiria o corpo tremer tão longe da gélida Rússia. Mas ali estava. Embora se era apenas pela temperatura ou se os dedos ossudos do medo pairavam sobre ela, não tinha certeza.

Quando a hoste parou de repente, cessando mesmo o menor dos ruídos, ergueu as íris para a frente.  Diante de seus olhos a figura de uma mulher e um enorme homem cinzento lado a lado. Ela tinha cabelos brancos e pele pálida, vestia-se de roxo. O sujeito era terrivelmente alto e musculoso, usava apenas um short e carregava um machado dourado.

Então um arrepio de reconhecimento a atingiu. Ouvira sobre ela, a traidora que percorria a neve em busca de sangue. O cálice que falhou no seu papel e retornou para disseminar destruição. O monstro alvo que surgira da união com humanos. A temia. Aquela era a criatura que assombrava seus pesadelos.

Seu corpo se retesou sobre o animal. Sentiu a própria respiração tornar-se ofegante. Suor frio escorreu pelo seu pescoço.

Estava assustada e, pela primeira vez, não conseguia fingir que não. Mal notara o exército que se erguia as costas dela. Vestidos em trajes brancos e armados com armas de fogo. Pareciam fantasmas, manchas ascendendo atrás do monstro que a garota temia desde que tivera idade para temer.

Ao longe o sol começou a se erguer ou era apenas o calor da urina que não conseguira conter?

 

Rose, Moron

Todos os seus planos, ideias e pensamentos. Tudo que sabia sobre o graal e si mesma. Do que isso valia quando se recebia uma carta manchada por sangue?

A tirou de cima dos panos com cuidado. Sentindo o corpo gélido e a pele empalidecendo. Não era do tipo que gostava de brincadeiras, mas sabia reconcenhecê-las e aquela não se tratava de uma. 

O papel do envelope era branco e o selo tinha o mesmo tom carmim do que sujava-o. Encontrara a carta sob a porta e então a levara para a cama e começara a rodeá-la.

E logo quando escuto aquela macabra noticia… gemeu se recordando do que ouvira mais cedo. Estavam todos os alunos na sala, escutando atentamente o professor, mas não. Não estavam todos ali. Uma mulher irrompeu pelas portas e se dirigiu até o mestre que palestrava. Após sussurrar umas palavras no ouvido dele, ela se virou e partiu tão súbita quanto uma chuva de verão.

Murmúrios nasceram entre os alunos. Teorias, conjecturas e, em algum lugar, a tensa verdade. 

O rosto do professor havia tomado uma severa e tensa postura. Quando ele ergueu os olhos havia uma melancolia brilhando neles. Como se algum grande desastre houvesse se abatido contra si. E de certo modo sim, o tinha sido.

A boca dele abriu e as palavras caíram sobre os ouvidos dos estudantes. Um coro deprimente sobre a morte do aluno mais notável da torre do relógio. William Bayers havia sido encontrado aos pedaços junto a mais dois garotos no pátio dos fundos da instituição. Ninguém sabe quem o fez, nem mesmo existem conjecturas sobre o motivo. Até onde se sabia, ninguém teria uma razão para matá-los.

Eu teria, pensou ao ouvir aquilo, ele transformou minha vida num inferno. E logo a imagem do Bayers  sendo morto pelas mãos dela surgiu, fazendo-a tremer e sentir o sangue gelar. Até a ideia de surrá-lo soava-lhe terrível agora que ele fora morto.

Ao fim daquela aula foi direto para o dormitório, suando frio. Se perguntando se o assassinato teria a ver com a guerra pelo graal e se a vida dela corria o risco de acabar como a do Bayers. 

E então a carta. Até agora os  pelos dela mantinham-se em pé. Mas deveria abri-la. Ou não? 

Já ouvira sobre maldições postas em baús e tumbas, estudara sobre isso. Além disso… além disso… como poderia romper um lacre com mãos tão tremulas?

Virou-se para o armário e começou a tirar dele roupas, íntimas, calças, camisas. Também seus documentos. Carteira de identidade, cartões de crédito, tudo que precisava para fugir.

Suas mãos moveram-se à frente de seus pensamentos, pegando, organizando, ponderando. Mas de repente uma coisa lhe veio à mente. Fitou o volume azulado, o esverdeado, o carmim.

Poder que transcende a humanidade… lembrou indo até os livros.

Eu posso fazer mais que correr.

Um círculo de invocações desenhou no chão, pôs o primeiro volume no centro e recitou o encantamento. Estava fazendo, estava trazendo seu próprio herói a vida, das páginas esbranquiçadas daquela fantasia medieval para o pó e terra da vida real.

O brilho azul ergueu-se tomando o quarto e cegando por alguns instantes a garota. Então frio, o calor aos poucos desapareceu do recinto conforme uma figura humanóide tomava forma da luz azulada. 

Algo dentro dela começou a gritar.

´´Corra``, ´´corra por sua vida``.

 

Tatsuo Koji

Sinto meu corpo inteiro formigar. Ele estava no comando de novo. A imensamente grande e quente mente do deus movia meus dedos, sentia meu respirar e moldava minhas palavras.

Era quente. Tatsuo mal podia respirar diante de todo aquele calor, mas aquilo não passava de uma sensação de sua consciência. Seus pulmões funcionavam perfeitamente bem naquele momento. E continuaria  assim enquanto Apolo estivesse ali.

Levou apenas alguns minutos e logo o deus o devolveu o controle. Era sempre estranho, como se acordar um milésimo de instante após dormir. Seus olhos se abrem rapidamente e o peito sofre um pequeno espasmo. Você estava com um pé no mundo dos sonhos, mas algo o puxa para trás e o trás a realidade.

Mas ele também sentia o corpo gélido nas extremidades e tremia de leve. O fogo levava o calor consigo quando se retraia. Tatsuo se via tentado a pedir que Mordred o abraçasse novamente, para que pudesse sentir-se quente.

Tolo, você está para morrer, tem mesmo tempo para hesitar?

Olhou para a cavaleira. Ela estava suja, maltrapilha e desalinhada. Mesmo que suas íris ainda brilhassem e seu semblante ainda estivesse firme num esgar determinado. Podia sentir que não era o momento para desejos egoistas.

Não apenas porque ela dirigia um carro em meio a um apocalipse zumbi com mortos marchando como um exército, eliminando a vida sempre que a encontravam. Aquilo era a guerra pelo santo graal, não um encontro entre adolescentes com sérios problemas familiares. Se realmente a queria em seus braços, precisava vencer e pegar o cálice.

Ou… largar tudo e fugir, mas então Apolo ainda o manteria vivo ou permitiria que controlasse o corpo? Fizera a proposta a Mordred uma vez e desde então não conseguira deixar de lado o pensamento sobre quão tola era.

Certamente o deus tomaria uma atitude para impedi-lo. Apolo não era tão amigável quanto seus modos podiam fazer parecer. Ele tinha um objetivo e Tatsuo pouco mais era que uma ferramenta diante de suas mãos. 

Vencer, se a queria, teria de vencer a guerra e rezar pela benevolência do deus.

Seu desejo ao graal não passava de um sonho morto, mas isso não significava que todos os motivos para ganhar haviam deixado de existir. Ainda havia razões pelas quais sair vitorioso emanando determinação a cada poro do seu corpo e por hora aquele seria todo calor no qual aqueceria-se.

Mordred desviava de carros abandonados, pisoteava zumbis desgarrados e as vezes descia para salvar pessoas. O objetivo inicial era diminuir os números do inimigo atacando pelas bordas. Mas logo ficou claro que fora ingênuo.

Haviam milhares deles, cobrindo dezenas de quilômetros. Mesmo sendo capaz de varre-los com Clarent ainda existia a chance de não abarcar o líder e se não o fizesse… provavelmente se veriam diante uma luta que não poderiam ganhar.

Então estavam basicamente fazendo um controle de danos enquanto a reserva de mana de Mordred aumentava. Ela ficaria com força suficiente para destruir o exército dos mortos e batalhar se ainda fosse necessário.

Esse era o novo plano, mas, se por acaso o inimigo voltasse-se contra eles agora ou antes da cavaleira ter mana o suficiente, estariam numa situação crítica. Não tinha como matar todos aqueles zumbis sem usar a explosão máxima de Clarent, não tinham como fugir ou derrotar o chefe se fizessem isso.

Mas Mordred ainda sorria ao passar por cima de um zumbi e brandia sua espada de novo e de novo contra as criaturas que sitiavam pessoas. Ela não parecia ter medo. Era uma cavaleira habituada ao sangue e ao aço do campo de batalha, um demônio humano capaz de se manter são e poderoso mesmo diante ao apocalipse de estar a beira da morte, dançando com a vida por um fio entre carcaças empapadas pelo cheiro fétido de defunto.

Em algum momento começou a sorrir também, a dar suporte durante os resgates, a esquecer de tremer diante a perspectiva do inferno. Era como estar louco. A morte o espreitava de cada direção possível, de cada esquina e curva. Mas Tatsuo se mantinha calmo.

Até que começou.

As passadas se tornaram mais rápidas, os sons dos mortos mais lamurientos, o tremor na terra advinda da marcha do exército cresceu. Estava ali, soube de imediato, o primeiro passo do Caster rumo ao pescoço inimigo.

 

Illya, Einzbern

Eles se encontraram no centro dos dois exércitos que chocavam-se. Tanto os mortos quanto os vivos mantinham distância deles. ´´São perigosos``, quase podia ouvi-los dizer, ´´Melhor ficar longe deles se quero continuar de pé.``. 

O inimigo era branco como gelo e carregava uma lança cristalina. Haviam cinco desses, pouco diferiam em feições e no formato das armas alvas que reluziam a já minguante luz da lua.

Era gélido estar na presença das criaturas pálidas e, mesmo naquela época do ano, uma geada caia sobre Fuyuki. O som do sangue esguichando para fora das veias, do desespero soando garganta ao vento. Das mandíbulas se fechando em carne e osso, triturando-os de novo e de novo. Tudo se juntava numa profusão de terror e pesadelo.

Ela sorriu diante do tremor que a atingiu. Estava quase acreditando que sentia aquela fraqueza encontrada no lado perdedor. Por um momento a sensação de dedos frios percorrendo sua espinha, agarrando a carne por baixo da sua pele, a fez pensar nessa tolice.

Que sentia medo.

As armas se chocaram sobre o ar como relâmpagos. Por cima, por baixo, um soco do berserker acertou.  Mas estava lutando contra quatro ao mesmo tempo. Uma lâmina rompeu seu tendão e sua perna esquerda cedeu. Outra foi rumo ao pescoço de Heracles, só que ele esquivou e dividiu a criatura ao meio e logo em seguida, apoiando sobre um pé, arremessou outra para longe com a parte plana do machado. Mas um continuava ali e pressionou-o.

Aquele último era mais habilidoso e aos poucos levava o grande herói grego a recuar. Com uma única perna seus movimentos estavam terrivelmente prejudicados. Não podia atacar com toda força e o gélido inimigo ficava cada vez mais atrevido. Atacando em direção a pontos vitais e esquivando dos balanços selvagens do machado. 

Os outros voltavam. O dividido ao meio que se remontara, o socado, o arremessado. Não tinha como o Berserker vencer naquelas condições. Ele precisava… morrer.

Mas talvez isso pudesse ser adiado mais um pouco. Invocou seus familiares, criaturas feitas de cordões de mana, brancas, afiadas e velozes. E eles destroçaram os três que tentavam retomar a batalha.

Ela sorriu e os fez dar meia volta para acertar o que lutava contra o Heracles. Contanto que pudessem vencer aqueles quatro, os demais mortos seriam uma tarefa simples… 

Foi, no meio desse pensamento, que algo atravessou a cabeça do Beserker fazendo-a explodir disseminando sangue, ossos e carne para diversas direções. E a Einzbern instantes depois tossiu sangue. 

Quando ergueu a mão para o peito, ela o atravessou como se nada houvesse ali. Algo havia atravessado seu peito. A lança do quinto, concluiu enquanto a mente começava a desvanecer.

Mais sangue escorreu boca a fora antes que seus joelhos tocassem o chão e sua cabeça encontrasse o asfalto duro e frio. Estava morta e sequer pudera encarar o seu verdadeiro inimigo. O rei negro que reinava sobre os cavaleiros. 

Mas estava ao menos livre e isso a fez sorrir.


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Notas finais do capítulo

Sério, alguém tá mesmo lendo essa fanfic?



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