Sangue de Arthur III escrita por MT


Capítulo 2
2- Capítulo, Chaldea


Notas iniciais do capítulo

Eu não queria... realmente não queria, mas não consegui aguentar! Eu preciso postar logo esses capítulos! AHHHHH... Bom espero que gostem e se puderem me dizer o que acharam eu agradeço. Por favor, até um gostei ou não curti, servem!



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Tatsuo, Koji

Que surpresa de cianeto aquilo trouxe a seus olhos. Sabia que ela era problema desde o primeiro dia que se encontraram, mas não imaginou que aquilo doeria tanto.

Esperava que Mordred fosse dar a seu coração uma pausa da dor como sempre fizera. Mas não. Podia ver nos olhos da cavaleira sem seu cavalo branco. Ela estava fria, distante, assustada. 

Não falava nada desde a conversa com Apolo, a entidade com quem o garoto agora dividia o corpo. 

E ele próprio… esfriara após ser socado e desacreditado no momento em que estivera pronto para botar tudo para fora. A coragem se perdeu, a emoção voltara ao comando da razão e o rosto pelo qual aceitou o contrato para voltar a vida não queimava mais com o mesmo vigor em sua mente.

Desceram as escadas, atravessaram os corredores e passaram de frente a leitos vazios com portas escancaradas. Haviam marcas de sangue e urina no chão. 

Alguns pacientes não tiveram um transporte devidamente cauteloso, percebeu. Deviam estar todos apressados após a grande explosão, era um milagre terem tirado tantas pessoas incapacitadas. Mas o descuido poderia ser o fim para alguns deles. Alguém teria morrido?

Ele mesmo morrera naquele hospital. No escuro e silêncio, acompanhado apenas dos próprios devaneios doentios. Quis chorar e implorar pela vida dezenas de vezes, mas não tinha boca e não haviam ouvidos ao seu redor. Estava sozinho, como sempre, e aquilo talvez tenha sido o que mais doeu.

A solidão. Durante a vida não tivera amigos, não tivera amores e não tivera calor humano. Chorara sozinho enquanto outros eram consolados, fizera só o que outros fizeram acompanhados e aguentara todos os fardos quando outros os dividiam. 

Mas já havia aceitado, não é? Aceitado que não era normal nem nunca seria. Aceitado de braços abertos todo sofrimento que viesse por ser assim.

Não. Não depois que conheceu o outro lado, o que não era frio e solitário. Não quando conheceu Mordred, a pessoa que o livrara de toda a tolice sobre conformar-se. 

Mas talvez agora fosse tarde e ela houvesse por alguma razão desistido dele.

Quando chegaram ao refeitório pararam.

Várias mesas viam-se caídas, de pernas para o ar ou para lateral. As cadeiras compartilhavam do mesmo destino. Era como se um furacão houvesse passado por ali. Ou um frenesi de pessoas assustadas correndo pelas próprias vidas enquanto ouviam o aterrador som de uma enorme explosão. 

Talvez a própria houvesse as derrubado com seu impacto. Aquilo não importava. Mordred ergueu uma mesa e uma cadeira e acenou para que o garoto acompanhasse-a.

Tatsuo Koji foi, pegou um assento e pôs-se sobre ele a frente da cavaleira. Ela tinha sangue cobrindo quase metade do rosto e salpicando de rubi o ouro de seus cabelos, além de suor fazendo mechas douradas grudarem na pele. As vestimentas possuiam rasgos e o olhar era selvagem, mas de repente a garota sorriu e tudo pareceu bem. 

Já era fim de tarde e as sombras começavam a engolir o Japão. A lua pairava no céu distante, observando-os enquanto esperava para tomar do sol o palco. 

O garoto abriu a boca para falar algo, mas não sabia o quê. Estava feliz em vê-la sorrir e isso não precisava dizer pois respondeu ao sorriso com outro. 

Então os lábios dela voltaram a rígida linha reta e as pálpebras apertaram-se. 

— Qual o nome da filha do meu pai?

Olhou-a por um instante e piscou. E, após pensar por um momento, entendeu. Era agora óbvio o motivo por trás da distância que se instaurara. O mesmo que a levou a socá-lo.

— Eli, Emiya Eli.

Ela acenou positivamente e o garoto suspirou aliviado. Mas a tensão logo retornou.

— Em que dia você me impediu de levar um gato para casa?

Respirou fundo antes de abrir a boca. Não fora um episódio que gostasse de lembrar. 

— Não impedi, você o levou e ainda me deu chutes quando ele fugiu.

— Está dizendo que a culpa foi minha? - ela disse firme, com apenas o menor toque de ferocidade no tom de voz.

As íris pareceram brilhar e o sangue, o desalinho e a expressão severa fizeram-na soar selvagem, perigosa, capaz de desmembrá-lo ao menor sinal de provocação. Uma gota de suor formou-se nas costas do pescoço do garoto e deslizou maliciosamente pela coluna. Erro um passo e morro como jantar.

Separou os lábios lentamente, sem movimentos bruscos e falou, devagar.

— Não, eu sou... o culpado...? 

A expressão dela tomou uma feição de satisfação e as costas voltaram até o encosto da cadeira. 

— Covarde desse jeito… então é você mesmo, né? - ela disse fazendo-o sentir-se levemente magoado por ser reconhecido por aquilo.

Mas confirmou com um aceno de cabeça.

— Então quem eram aqueles caras mortos no seu quarto? - Mordred perguntou de olhos fechados, num tom leve e com a face inclinada para o topo do hospital. 

Tatsuo Koji suou frio. Não era algo que gostaria de revirar, ainda sentia a sensação. O sentimento de ser apenas um boneco nas mãos de um ventríloquo.

Apolo tinha mais controle do que seria agradável e todo ele sabia disso.

 

Enkidu, Corrente dos céus

Ele dormia numa cama pequena forrada por lençóis verdes. Fora coberto com um pano carmim e um incenso aromatizava o ar com cheiro de café. Seus olhos pairavam fechados e a boca num reto esgar de neutralidade. O Merlim dissera que ficaria bem, que em breve estaria gritando ordens e ofendendo pessoas.

Mas o coração de Enkidu ainda doía. Vira as cicatrizes, enxergara o sangue escorrendo dos ferimentos, estivera o observando quando a corrente dos céus se desenrolou de seu corpo quase moribundo.

Pior, sentiu o nível da energia que o acertou. Não fosse a versão alternativa de si que o cobriu no último instante… o corpo de Enkidu gemia em desprazer só de pensar nas cinzas em que Gilgamesh poderia ter se convertido. 

Tocou-lhe a face uma vez mais, mas dessa vez ele sequer se moveu em resposta. Estaria mesmo apenas dormindo profundamente como dizia o Merlim? A pergunta o fez levar a mão ao seu pulso. Cada instante sentindo o próprio coração comprimir-se tenso no peito. E então o som da vida. O batimento sutil que no momento soou-lhe como a mais doce música.

Ele continuava ali. Ainda não fizera sua partida ao mundo inferior. 

Enkidu suspirou aliviado e suprimiu as lágrimas. Então sentou-se na borda da cama e continuou a observá-lo. Cada entalhe dourado do maior homem que um dia se levantara para assumir o trono de Uruk. E lembrou com um feliz pesar de cada aventura que tiveram juntos. Cada pequena descoberta, do vinho as caçadas. Do povo da cidade que ele governou. 

Foram momentos tão bons, tão divertidos. Gostaria que tivessem durado mais, que fossem maiores. 

Balançou a cabeça, não adiantava pensar nisso agora. Tinha novos amigos e um mestre e uma empreitada heróica. Era nisso que seu foco devia se encontrar. Ainda não haviam feito contato com o inimigo e a assinatura de mana de dois fortes indivíduos permaneciam chocando-se. Como guerreiro mais forte da Chaldea e a arma definitiva criada pelos deuses era sua tarefa lidar com eles. 

Ritsuka Fujimaru, devia muito a essa pessoa e também a estimava quase tanto quanto ao homem deitado diante de si.

Mas se ao menos puder salvá-lo, salvar meu amigo Gilgamesh… não terei arrependimentos.

Aquele era um pensamento perigoso, ele sabia. O destino da história humana pendia sobre seus ombros, a narrativa incansável de incontáveis pessoas correndo e correndo até que suas pernas falhassem e seus corações parassem. Uma narrativa que segue sempre em direção ao final e indeterminadamente repete-o à medida que novos começos, igualmente inaptos a contagem mortal, surgiam com histórias similares e histórias jamais vistas. Não podia dar o trabalho por feito após salvar uma única pessoa, precisava ir além e vencer cada batalha até que a guerra fosse ganha.

Porque Ritsuka Fujimaru iria trilhar esse caminho. E não podia decepcionar alguém a quem chamava de mestre e por quem nutria forte amizade.

— Enkidu. - Ritsuka o chamou e soube que todos já estavam ali e que a reunião estratégica da Chaldea teria início.

 

Arthuria, Alter

Aquilo era impossível. 

Do outro lado da enorme cratera, de pé, com o corpo contraindo e expandindo a cada respiração, usando a espada sagrada como muleta, sangrando de diversos ferimentos e olhando-a como se ainda pudesse arrancar sua cabeça, Arthuria Pendragon mostrava um semblante determinado.

— Como...? - as palavras saíram tal qual um sussurro descrente, abalado.

Percorreu o entorno do circulo que afundava-se até as profundezas da terra com passos rápidos e largos. Precisava ver com seus próprios olhos. E viu, o sonho dourado de qualquer donzela quase totalmente destroçado sob sangue e hematomas, o rei Arthur dos tempos antigos ainda de pé apesar de ferido. A olhando com um brilho selvagem nas íris. 

Um leve tremor atravessou-lhe o corpo. Não era possível. A energia dela não deveria ter sequer aguentado meio segundo contra a sua e, ainda assim, suportara e o suficiente para criar aquele enorme buraco ao invés de permitir a Arthuria ser desintegrada. Que força a movia? Que tipo de magia? Ou ciência a tornara tão mais forte?

— Me diga, de onde vem sua força? Como pôde aguentar? - disse a erguendo do chão com uma mão. A Excalibur da Arthuria que era erguida caiu e fincou-se no solo. O ar soprou levantando uma curta neblina de cinzas negras e a voz da cavaleira, sob o som do vento e detritos por ele levados, soou.

— Sou uma mãe… e não pretendo abandonar minha filha, a pessoa que mais amo nesse mundo… - ergueu um punho lenta e tremulamente. - Irei te derrotar… e dar um grande abraço na minha… filha. 

O punho acertou o rosto da cavaleira negra e o sangue na manopla o sujou. Ela não se moveu, assistiu imóvel a mão da outra cair incapaz de alcançar seu objetivo. 

Não faz sentido. 

A lançou ao chão. O corpo da cavaleira se contorceu em dor ao atingi-lo e sangue voou por entre seus lábios. 

Essa merda sentimental não faz o menor sentido. 

Ergueu a espada negra e carmim e reuniu ali o poder para apagar a outra versão de si. Não havia mais necessidade dela. 

Eu também a amo.

As cinzas dançaram e se afastaram sob a ventania que a espada sagrada gerava ao esbanjar seu poder. Mas as íris verdes, abaixo de toda a dor que os ferimentos causavam, ainda continuavam brilhando em desafio.

Por quê? Eu criei suas emoções do zero, invoquei você e manipulei a porra das suas lembranças. Esse amor que diz ter é falso!

A energia começou a pesar em suas mãos. Chegara o momento. O fim para o rei dos cavaleiros.

— Engula a luz! Excalibur Morgan! 

 

Rose, Moron

Tudo começou com um pequeno boato durante a aula de magia contemporânea. Um milagre que nascia após se sair vitorioso numa guerra entre magos e servos, dizia-se. Parecia banal. E tolo.

Milagres eram coisas da igreja e seus sacerdotes, não algo que os seguidores da feitiçaria e razão fossem buscar. Mas então William Bayers disse que participaria e começara a comprar relíquias para usar como catalisadores. Ouvira apenas de longe, mas soube que despendeu fortunas por um pedaço da cruz de cristo. 

Ele era um aluno modelo e o melhor da turma deles. E se aquela pessoa pusera fé em um ritual duvidoso do oriente, talvez ela também devesse levá-lo a sério. 

No mesmo dia que ouvira sobre a compra foi a biblioteca se aprofundar no assunto, estudando todo pequeno e breve relato que por vezes surgia nos livros. Aparentemente chamava-se ´´Guerra do Santo Graal`` e apesar de sua existência não ser negada pouco falava-se sobre ela. Mas o suficiente para Rose Moron, uma das alunas mais brilhantes da torre do relógio, tirar o que precisava para participar.

E isso era o círculo mágico a ser desenhado e o que precisava fazer para tê-lo funcionando. Todo o resto era simples, ligar para o representante da igreja e apresentar a classe de seu servo e então se preparar para abater os servos inimigos.

Sempre gostara da ideia de testar suas habilidades de estratégia adquiridas no xadrez. Saber se poderia vencer mesmo usando peças vivas e capazes de ser tão aleatórias em seu pensamento quanto qualquer humano. Até a expectativa daquilo a enchia de excitação.

E também a chance de bater no Bayers que, se não era o mais atraente, era um dos motivos que mais a chamava atenção. Ele encabeçava a equipe de babacas que a importunava durante os intervalos. ´´Olha a virgem, se acha melhor que todo mundo, cuidado``, ´´ Já limpou a buceta hoje virgem?`` e o pior ´´Tá toda molhadinha aí embaixo, né? Por que não vem aqui para eu te ajudar? Meu pau é louquinho por virgens. ``. O próprio William nunca dizia nada, mas era óbvio que fazia parte visto que o assédio começara depois que ela o recusou durante uma festa. E que seus amigos eram os responsáveis pelas palavras.

Dia após dia vinha tentando superá-lo nos estudos, mas isso se mostrara impossível. Bayers era uma espécie de super máquina e até mesmo durante as aulas de artes marciais se mostrava imbatível. Rose chorava, todos as vezes que fracassava em ultrapassá-lo e ouvia a zombaria dos garotos, sozinha no quarto a noite.

As amigas a abondanaram para dar mais atenção aos namorados, os pais abominavam a magia e sua tia, a única que aceitava sua vocação, morrera havia dois anos. Ela estava sozinha, com dor corroendo seu coração e fracasso os seus dias. 

Um milagre, uma chance de se provar e a possibilidade de vencer aquele que via como seu maior algoz.

Essa guerra pelo santo graal é como a reunião de tudo que preciso, pensou, ao menos, durante os dias que vieram antes da morte de William Bayers.


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Notas finais do capítulo

E aí? Compartilhem nos seus grupos de leitura se gostaram, se quiserem, né. Mas eu ficaria muito grato se apenas deixassem uma opinião nos comentários... Sério esse vácuo pode matar um escritor do coração, sabe?



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