Sangue de Arthur III escrita por MT


Capítulo 1
1- Capítulo, Os mortos andam


Notas iniciais do capítulo

E voltamos! E sim, antes que você pergunte, ele tá vivo. Maldito seja eu, mas não pude matá-lo ainda. Espero que aproveite esse primeiro capitulo.



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Gilgamesh, antigo rei de Uruk

 

Seu rosto de traços delicados e belos pairava diante de si. Tentou sorrir, estou mesmo morrendo, não é meu amigo? A mão dele tocou sua face com ternura e Gilgamesh sentiu o calor. 

Quis rir, a cena estava errada, apesar de ser-lhe dezenas de vezes melhor do que o que de fato ocorreu. Então os deuses finalmente decidiram refazer seu erro, ha, mas que tolos incorrigíveis… fiz bem em bani-los…

Tociu e sangue escapou por entre seus lábios. Enkidu o limpou com a manga de sua camisa, mas o rei dos heróis continuou sangrando. Ele já começava a perder a posse de seus sentidos. 

A bem da verdade só estava vivo porque negava-se a morrer. Não queria perder a imagem de seu amigo de novo. Não o deixaria, não o veria partir, não o veria morrer. Dessa vez mataria mesmo os deuses, levantaria das profundezas do submundo e faria tanto os céus quanto seus mestres em pedaços.

Mas ainda estava morrendo e o processo não soava como se fosse levar muito mais tempo. Em breve o rosto de Ereskhigal estaria a sua frente e o julgamento sobre sua alma selaria o início da eterna pós-vida.

Como se eu fosse… tossiu, morrer...

Antes que seus olhos fechassem para o mundo superior, ouviu a voz que pensou que nunca esqueceria, mas que esqueceu, e agora percebia o fato com uma pontada de água subindo as íris.

— Mestre, peço permissão para salvá-lo. - mestre?

O mundo sumiu num breu profundo para o rei dos heróis enquanto a voz de seu amigo ecoava de um lugar cada vez mais distante. Ainda podia ouvi-lo, mas não importava o quanto tentasse se forçar a consciência, era sempre mais dragado pela escuridão.

Enkidu…!




Mordred, Pendragon

Ele estava de pé diante dela vestindo um camisolão branco. A olhando com seus tristes olhos negros e, depois que a fitou uma segunda vez, um sorriso e lágrimas. Os cabelos eram pouco mais que cinzas do fogo escuro e profundo que um dia foram. Também tivera uma grande perda de massa e ganhado olheiras mais definidas. As pernas tremiam e a mão deixara cair o bisturi. 

Medíocre, feio e tosco, pensou.

Mas, ainda assim, as lágrimas pareciam querer vir e anunciar o quanto vê-lo a deixara feliz. 

As pernas da cavaleira pareciam frouxas, a garganta pairava entalada por um grito quente e emotivo e os lábios tremiam. 

Quis abraçá-lo. Tão forte que faria com que não restasse nenhuma possibilidade de acordar e descobrir que não passara de um sonho. Queria apertar o garoto e ser apertada por ele, deixar que a água que tanto se amontoava em seus olhos escorresse no pano que vestia.

Precisava tê-lo sob suas mãos para então dizer tudo que não pudera. E ouvir dele sentimentos que correspondessem a aquilo.

Mas ela sabia a verdade.

Mordred respirou fundo, endureceu o coração e forçou-se a ignorar suas emoções. Sentira o contrato quebrar. A mana do garoto sumir numa velocidade tremenda e então o fio que os ligava desaparecer.

Tatsuo Koji estava morto. Aquilo na frente dela, as lágrimas e o sorriso, eram mentiras. O garoto que eu… engoliu em seco … morreu. Isso é tudo e todo resto que ousar negar esse fato não passa de besteiras e ilusões.

Era tão cruel… o coração dela gemeu e contraiu tão dolorasamente que poderia ter gritado. Mas no fim o calor esfriou, a dor tornou-se apenas uma tristeza profunda e silenciosa. E então raiva, ódio, fúria. Alguém brincava com ela, alguém que morreria agonizando. Prometeu.

Desmembrá-lo lentamente e forçar o bastardo a comer os próprios órgãos genitais, pensou, sim, isso seria um bom começo

— Quem é você? - perguntou enquanto os punhos fechavam-se, reagindo a raiva que tomava-lhe as veias.

— Sou eu! Mo-san, sou eu, Tatsuo Koji! - ele disse com o tom embargado pela tristeza e o peito de Mordred bateu dolorosamente. Era quase como se cada palavra naquela voz o fizesse sangrar de um novo ferimento.

— Repita esse nome e eu te mato. - disse o olhando com todo o ódio que corria no seu corpo. - Quem merda é você?

Ele deu um passo à frente e chorando começou a falar.

— Eu já disse! Sou eu, Tatsu… - um soco o enviou voando até os pés da cama do hospital.

Ele ergueu o tronco e levou uma mão a bochecha. A pergunta nos olhos dele quase a fez desabar. Mas, não, não era real e ela não choraria diante um show de pantomimeiro.

— Última chance. - disse materializando a espada bastarda em toda sua glória branca e carmim. - Não vou repetir a pergunta. Seja rápido.

O garoto se ergueu e Mordred soube que não mais fingia ser outra pessoa. A mão dele limpou as lágrimas e desamaçou as vestes com vapor seguindo seus movimentos. E então as íris ergueram-se até a cavaleira, com um brilho maligno e dourado.

— Ele nem pôde dizer as linhas, pobrezinho. - Mordred sentiu um arrepio percorre-la ao escutar uma voz que não era a de Tatsuo Koji. - Você sabe, o ´´eu te amo``. Mas creio que devo me apresentar primeiro, ou reapresentar ou revelar meu verdadeiro nome. No fim ainda não tínhamos trocados nossos nomes, não é?

Mordred ergueu a espada e a apontou para o sujeito com a aparência de seu falecido mestre.

— Seja rápido. - falou pronta para decapitá-lo caso continuasse a enrolar.

O impostor deu de ombros e sorriu.

— Sou o portador das profecias, o deus de nome….




Arthuria, Alter

Uma estocada arrancou a ombreira do vestido dela e abriu um talho sangrento na pele. 

Mas para alguém em posse do santo graal aquilo não era nada.

Ela respondeu ao golpe com outro e acertou a espada da Arthuria mandando-a para longe, junto a arma, enquanto seu próprio ferimento se estancava e desaparecia sob o manto negro do líquido da taça. A cavaleira negra alimentou sua lâmina com mana e a fez brilhar envolta em poder negro e carmim logo em seguida. Do outro lado vislumbrou o dourado luminoso da esperança, que era a última coisa que todos os heróis viam nos seus momentos finais, brilhar e ascender. O poder daquilo não se equiparava a espada do rei dos heróis, não podia vencê-la.

Mas Arthuria não disparou. A portadora da Excalibur avançou para curta distância e forçou uma troca de golpes com a lâmina negra de sua versão alternativa. Explosões seguiram cada encontro como saliva nos beijos quentes de amantes.

De volta ao começo? Isso já está se tornando irritante.

As mãos apertaram o cabo da espada e os pés da cavaleira negra pularam para trás. Estava determinada a dar um fim naquilo e ir para casa. Seria bom conhecer de verdade a filha, tê-la realmente nos braços e  poder partilhar seus sorrisos. Fora tolice deixar aquilo com a outra versão de si. O quê estava pensando na época? Achara mesmo que poderia estragar tudo por ser uma versão sombria do rei Arthur? Estupidez, todos os humanos sempre foram tocados pelo mal, isso não quis dizer que não podiam buscar algo além da crueldade e matança. A cavaleira negra também era capaz de amar e zelar. Também desejava amor e alegria. Também sentia-se solitária e triste ao carregar seus fardos. 

Ah, e como foi difícil pôr as mãos no graal e olhar o futuro do meu primeiro pensamento de desejo. Como foi duro saber que Emiya Shirou amava outra pessoa… naquele momento fiquei realmente feliz com o conhecimento de que Rin estava morta e que eu era a única que sobrara.

Mas agora não devia perder tempo com lamentações nem desejos para o futuro. Tinha de vencer outra guerra pelo graal ou perderia tudo que amava, tudo que vinha amando a distância todo aquele tempo.

E em nome daquilo poderia varrer completamente o Japão. O mundo ou qualquer deus que se pusesse em seu caminho.

— Excalibur Morgan! - o mundo escureceu diante aquele brilho sombrio.

— Excalibur!!!! - o mundo manteve a esperança diante aquele brilho luminoso.

Mas o confronto das espadas sagradas foi o ponto final. As trevas sobressaiam perante a luz. A versão corrompida iria vencer. Havia uma enorme diferença entre suas forças. Um sorriso despontava da face do sombrio rei Arthur.

A vitória é minha!

 

O cálice, Einzbern

Aquilo era um exército enorme. Milhares de pessoas pairando num tom pálido de azul, trajando roupas casuais e armas improvisadas. A garota Einzbern viu de facas de cozinha a tacos finos de madeira. E a esquerda dos humanos, cães, gatos e pássaros. Todos num doente azul. Nenhum deles mexia-se.

O silêncio pairou enquanto a pequena garota observava do palanque de concreto onde fora deixada pela ave. Ainda lembrava do susto e da sensação tênue de tristeza que sentiu ao ver a serva desabar e permanecer no chão.

Era um espírito heroico e, mesmo assim, o mundo a pôs de joelhos

Ela sabia que fora das paredes da fortaleza dos Einzbern e além da neve que cobria as terras além dela havia um lugar ainda mais cruel e impiedoso. O papa confirmara isso com sua fala que deixou claro seu desejo por um milagre pagão de magos que eram abominados como demônios pela religião que liderava. Um homem dito santo que caíra em desespero o suficiente para se agarrar ao que tachava de pecado.

E então também desesperou-se um herói lendário… será que ela viveria para experienciar aquilo não fosse seu dever como o graal? No fim viver seria encontrar o desespero? Achar o seu próprio e terrível abismo? Olhando para todos os corpos ali que pareciam ter sido reanimados por necromancia a garota não conseguiu dizer que não, que existia algo a se tomar nas mãos além da desesperança. 

Quando uma mão fria a tocou pensou ser a morte vindo buscá-la. Quando virou-se para encarar o dono dela, teve certeza de que o era. Frio, gélido, antigo. Aquilo não emanava a aura de um humano, nem mesmo de algo vivo. Com um sobressalto do coração soube que estava diante a alguém que não poderia ser categorizado como um dos mortos e ainda assim não era uma forma de vida.

Uma existência que esbanjava morte, mas que não fora tomado por ela. 

Um deus? Se perguntou e então a criatura cristalina sorriu como se houvesse ouvido uma piada engraçada e estúpida. Ele não era um deus, ao menos, não um bom.




Papa

Aquele era um grandioso exército. O espaço para audições do papa fora completamente preenchido. Bandeiras esvoaçavam ao vento com a cruz branca de Cristo, gritos de exaltação tomavam as bocas dos homens da fé e a batina do próprio líder da igreja católica dançava ao ritmo do vento.

Ainda assim… podemos mesmo vencer?

— Reuniu um belo exército, mas não basta. Meu Heracles poderia facilmente reduzi-los a cinzas em uma hora. Nosso inimigo seria capaz de fazer isso muito mais rápido. - disse a Einzbern. - Falta qualidade, números não se bastarão sozinhos.

O velho assentiu e virou-se para fitar a pequena mulher albina. 

— O que sugere que façamos? 

A Einzbern olhou para o grande exército que via-se pronto para encarar sua cruzada pela fé e... suspirou. Um sopro tão tênue quanto a queda de uma folha sobre o chão dourado pela decaída de dezenas de outras.

— Mande-os para casa. Se eu e meu servo não dermos um jeito no rei dos cavaleiros, é improvável que vocês deem. Vão para casa e rezem até seus joelhos ficarem em carne viva. Não sabemos o que ela fará com um segundo graal, talvez tenha se cansado de apenas brincar de casinha… e se o pior acontecer será sua culpa por não ter destruido o cálice quando esteve em posse dele.

O velho encolheu-se dentro de suas vestes e sentiu o fraco coração bater ansioso. A ganância da salvação por um meio que não Cristo começava a pesar duramente sobre seus ombros frágeis. Nunca o deveria ter feito, fora pecaminoso. Naquele momento cogitou até se suicidar pulando da sacada ao inferno como punição. Seria o mínimo pelos meus pecados.

Mas já tinha ido longe demais para dar para trás. Convocara as facções que brigavam pelo poder no Vaticano, pedira favores a líderes mundiais e usara de mentiras para aliciar membros para sua tropa. Iria até o fim agora e que Deus tivesse piedade das almas que caíriam durante aquela batalha. Porque o fariam e em grande quantidade.

— Iremos até Fuyuki. - disse em tom final. - Podemos contar com seu apoio, garota?

— Não fará diferença, mas sim. - ela ergueu as mãos usando apenas os antebraços e fechou os olhos num sinal de rendição. - Podemos dizer que estamos do mesmo lado. Destruir o cálice é a prioridade. Se tentar me passar para trás e pegar o graal para usar, eu te destruo primeiro, entende?  

Se apoderar do milagre do cálice era exatamente o que o velho tinha em mente. Mas assentiu para a Einzbern e a observou partir a passos calmos e decididos. Logo depois virou-se para seu exército, o braço com o qual tentaria alcançar o graal, e respirou profundamente antes de começar seu discurso de guerra.




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Notas finais do capítulo

É isso, espero que goste. O próximo ep vem daqui a dois dias.



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