Gravity Falls: Um Verão Nunca Esquecido escrita por Sweet Aeryn


Capítulo 9
Capítulo 9: O Lago Estrelado




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Mabel acordou com os raios de sol que entravam pela janela do quarto batendo em seus olhos. Ela puxou a coberta por cima da cabeça e virou de lado, em direção à parede. Queria continuar dormindo para sempre. Lentamente ela virou para o lado oposto e abaixou a coberta, espiando o lado de fora e percebendo que o irmão não estava mais no quarto. Na noite passada ela pediu desculpas diversas vezes porém Dipper apenas se deitou sem falar mais nada, uma reação que nunca vira antes e a deixou verdadeiramente preocupada. Ela sentou à beira da cama, calçou seus chinelos felpudos de coelho e desceu as escadas. Encontrou Dipper sentado à mesa da cozinha, escrevendo freneticamente em um caderno rodeado de diversas pilhas de papéis amassados.

— B-bom dia Dipper.

— Mabel eu tenho que bolar um plano para resolver isso. Já descartei 57 opções, estou começando a ficar sem ideias. Não sei mais o que fazer.

— Err... Dipper você já parou pra pensar que não é o fim do mundo?

— O que?! Resolver isso está parecendo muito pior pra mim do que derrotar o Bill.

— Arg, garotos, por que sempre complicam TANTO as coisas? - Ela abriu a geladeira e pegou uma garrafa de leite. Serviu dois copos e colocou um em frente ao irmão, sentando-se ao lado dele - Dipper é só você conversar com a Pacifica e explicar que foi tudo um grande mal entendido.

— C-conversar?

— Sim - Ela colocou uma enorme quantidade de cereais coloridos e açucarados na tigela à sua frente.

— Mabel você tá maluca?! Quando foi que algo assim já deu certo na vida real?

— Tipo... Sempre? Olha... Eu sei que não ajudei muito ontem, mas me escuta agora: não importa o que você faça para tentar consertar as coisas, planos mirabolantes, tudo isso será superficial e colocará sua credibilidade em jogo. Pode parecer que não Dipper, mas você está catastrofizando a situação por que está inseguro e tudo bem, é normal se sentir assim, ainda mais quando você teve um trauma relacionado a rejeição. Você está com medo de ser rejeitado de novo e apenas aproveitou a circunstância para deixar o seu surto vir à tona.

— Eu nã-               

— Vocês passaram a noite de Summerween juntos e foi ótimo pra você. Depois você a chamou para sair e não teve uma resposta, colocando em crise sua segurança de que aquela noite significou algo. Mas sabe de uma coisa? Eu a encontrei e ela estava chorando. Sabe por que ela estava chorando? Por que ela se magoou com a ideia de você estar com outra pessoa justamente pois aquela noite significou algo sim. Então - Mabel pegou a caneta da mão do irmão e atirou pela janela - Faça um favor a si mesmo e pare de fugir das situações - Ela levantou e agarrou o braço dele, forçando-o a se levantar também e o empurrou para fora da cozinha e depois para fora da Cabana do Mistério - E vá logo falar com ela. Se não der certo é por que não era para ser, Dipper. Não acabe com sua sanidade mental. Não ceda para o desespero. Você sempre soube como resolver isso, não é? Você é mais inteligente do que isso.

Mabel bateu a porta na cara do irmão e encheu seu peito de orgulho, sentindo-se vitoriosa. "Agora você arrasou, Mabel" pensou.

***

Dipper estava bufando, nervoso, resmungando sozinho enquanto caminhava pela cidade.

— Mabel idiota, problema idiota, fliperama idiota, pedra idiota! - Ele chutou uma pedra que jazia na rua, acertando um pedestre do outro lado da rua. O garoto saiu correndo enquanto sua vitima reclamava e gritava que faria uma queixa. Quando parou de fugir ele se viu de frente à floresta e resolveu explorá-la enquanto buscava as respostas em sua cabeça. Já tinha passado por praticamente cada  centímetro quadrado da boscagem enquanto desvendava os mistérios contidos no diário perdido que encontrara cinco anos atrás, porém nunca tinha ido ao Lago das Fadas. Lembrava-se de ter lido a respeito desse local mas nunca despertou interesse para conhecer tal lugar. Até então.

— Hunf... Vai que é um lugar mágico que vai me dar a solução misteriosa do meu problema. Vale a pena conferir.

O lago era perto e não demorou muito até que chegasse no local. Uma clareira iluminava um vasto lago, rodeado por flores que lembravam lírios. Não tinha nenhuma fada lá no entanto, fazendo ele se questionar a respeito do nome.  O rapaz sentou à beira do lago, ainda pensando nas palavras da irmã. No fundo sabia que estava apenas com medo mesmo mas não conseguia admitir. Compreender, aceitar e encarar seus problemas internos era muito mais complicado do que qualquer mistério que tenha enfrentado em Gravity Falls e doía muito mais. Enquanto olhava para o lago percebeu algo no fundo que chamou sua atenção.

— Hã, isso são...? Haha, esse lugar é realmente mágico no fim das contas. Mas não durante o dia.

"Você pode me encontrar na orla da floresta às 19h? Existe algo que preciso te mostrar - DIPPER"

***

Dessa vez, diferente do encontro no fliperama, o garoto obteve uma resposta apenas alguns minutos após ter feito o convite. Um simples "sim", mas ao menos uma resposta. Dipper e Pacifica se encontraram 19:00 em ponto no local combinado. Ainda inseguro ele apenas acenou de longe.

— Oi Pacifica. Obrigado por ter vindo.

— Você deveria agradecer à Mabel na verdade. Ela me mandou uma mensagem antes de você. Me disse que você provavelmente me procuraria e que era importante que eu ao menos ouvisse - As palavras eram reais, mas o sentimento não. Pacifica não foi apenas por que sua amiga lhe aconselhou assim, mas sim por que seus sentimentos, mesmo feridos, não mudaram e ela ansiava encontrar-se com sua paixão. Encobrir isso pareceu a melhor opção para que ela não se machucasse mais.

"Obrigada, Mabel! Eu vou te recompensar depois, promessa de gêmeo" pensou o garoto.

— Vamos então?

Os dois adentraram a floresta em completo silêncio que logo fora quebrado, já que o caminho que iriam percorrer era curto.

 - Olha eu quero que seja uma surpresa então... A partir daqui posso te guiar com seus olhos fechados?

— O que.. Mas...

— Eu não vou deixar nada acontecer, eu juro. Se você tropeçar eu te seguro para não cair. Você confia em mim? - Disse estendendo a mão direita.

A jovem pensou por alguns instantes. Ela não conseguiu conter o sorriso, que Dipper retribuiu,  e então ela apoiou a mão sobre a dele. O garoto se posicionou à direita de Pacifica, ficando lado a lado com ela. Manteve a mão direita como apoio e levou a mão esquerda à cintura da jovem em um toque gentil e respeitoso. Ela sentiu seu coração pulsar com a aproximação. Conseguia sentir seus batimentos fortes e acelerados por toda a extensão do seu corpo até as pontas dos dedos enquanto Dipper transparecia muita calma e confiança. Percebendo isso ela se sentiu completamente segura e, finalmente, fechou os olhos. Os dois caminharam floresta adentro durante poucos minutos que pareceram uma eternidade para ela. A alteração do sentido visual lhe fizera perder um pouco da percepção temporal, somada ao nervosismo por estar tão próxima a Dipper e a ansiedade pela surpresa. Um segundo parecia uma hora.

— Aqui você precisa vir com mais cuidado para não escorregar.

— Tudo bem.

— E vamos precisar tirar nossos sapatos.

— O-o que?

— Confie em mim, vai valer a pena.

Ela apoiou a ponta de um dos pés sobre o calcanhar oposto e empurrou para baixo, deslizando sua bota para fora. Repetiu o movimento do outro lado e depois dobrou os joelhos, um de cada vez, para perto do corpo, retirando as meias. O rapaz retirou seus sapatos da mesma forma.

— Vai ficar um pouco gelado, tá? Vamos bem devagar, como se estivesse descendo uma escada.

— Tá bom.

Os dois deram mais um passo à frente, bem lento, descendo do nível em que estavam. Pacifica soltou um pequeno grunhido assustado quando a textura do ambiente mudou e seu pé tocou a água gelada. Ela tateou o fundo com cuidado e quando sentiu o chão firme trouxe a outra perna.

— Isso. Agora espere um pouco. Continue com os olhos fechados e não se mexa, tá certo? - Ele soltou a cintura e a mão da jovem e se afastou um pouco.

— Dipper!

— Eu ainda estou aqui do seu lado. Não se mexa.

Os dois ficaram de pé, imóveis e em completo silêncio durante mais alguns minutos.

— Tudo bem... Pode olhar agora.

Pacifica abriu lentamente seus olhos. Milhares de pontos luminosos azuis brilhavam sobre a vasta extensão negra e inerte da água. Era como se tivessem galáxias sob seus pés.

— Dipper! Eu estou no céu!

— A melhor parte vem agora - Ele segurou na mão dela e a puxou,caminhando para frente.

A água respondia ao estímulo que quebrava sua tensão, ganhando uma coloração azul neon que se espalhava, pouco a pouco, ao seu redor dos dois. A mudança na cor da água frente à movimentação se somava aos vários pontos brilhantes que ali estavam, deixando de parecer um céu estrelado noturno simples para se tornar um show de tons azulados, como uma aurora boreal desgovernada. Os dois continuaram andando, indo cada vez mais fundo no lago, apreciando o rastro azul fluorescente que deixavam. Quando a água atingiu a altura da cintura eles pararam, ficando de frente um para o outro.

— O que é isso, Dipper? São as estrela do céu refletidas na água? Mas e esse azul...?

— Não é um reflexo do céu. É uma reação química chamada bioluminescência. Isso acontece a partir de fitoplânctons.

— É tão lindo...!

— Não tanto quanto você.

Pacifica olhou para Dipper, em turpor, surpreeendida com as palavras dele. O rapaz segurou as mãos da jovem, cabisbaixo, perdido nos pequenos pontinhos azul neon para fugir do olhar dela.

— Aquele dia no Fliperama... Eu não estava com a Wendy. Eu estava te esperando enquanto passava um tempo com os caras. Acabei ficando sozinho e ela apareceu lá. Jogamos um pouco juntos e... Bem... Naquela hora a Wendy me chamou para sair e eu fiquei sem reação, dando brecha para... Você sabe. Eu não sinto nada pela a Wendy. Não sabia como te explicar. Eu... Fiquei com medo Pacifica. Medo que não pudesse nunca consertar esse mal entendido. Mas acho que minha melhor chance seria te contando a verdade.

Pacifica permaneceu em silêncio, os olhos marejados.

— Esse efeito na água... Ele é raro e especial. Por isso eu quis te trazer aqui. Por que, assim como esse fenomeno, você também é especial. Você é a pessoa que eu gosto, Pacifica. Não, espera... - Ele respirou fundo - Você é a pessoa que eu amo. Desde 2012.

A jovem se aproximou dele, apoiando a testa no corpo do garoto. Ela deu um soco contido no ombro dele.

— Você acha que só com um lugar bonito e umas palavrinhas tudo vai ficar bem?

Dipper sentiu um peso, como se acabasse de levar um murro no estômago. Aquelas palavras dilaceraram seu peito e ele entendeu que não teria como voltar atrás. Pacifica se afastou um pouco, olhou para ele e sorriu, fazendo as lágrimas acumuladas rolarem por suas bochechas.

— Ainda falta você me beijar para tudo ficar bem - Ela corou.

Ele riu desconsertado e se aproximou lentamente. Afastou uma mecha loira, colocando-a atrás da orelha dela e liberando o caminho para apoiar sua mão sobre a bochecha de Pacifica, que estava umedecida pelas lágrimas. Delicadamente ele levantou o rosto da jovem em direção ao seu e se curvou, chegando cada vez mais perto enquanto os olhos de ambos se fechavam. Ele pausou a milímetros de distância, sentindo a respiração descoordenada dela.

— Você tem certeza... que assim tudo vai ficar bem? - Perguntou o rapaz, arfante.

— A-anda logo... - Ela deu um leve tapa de nervosismo no ombro dele, passando os braços em volta do corpo do rapaz logo em seguida, abraçando-o e aproximando-se o suficiente para perceber as pulsações aceleradas dele.

Os dois riram envergonhados e então ele tocou os lábios dela com os seus, em um terno beijo, leve como uma pluma. Ela lhe deu liberdade, abrindo lentamente a boca, permitindo que suas línguas se encontrassem em uma dança envolvente que ganhava mais ritmo e sincronia, tornando o momento mais intenso e inesquecível. Tornaram a diminuir a cadência até que separaram seus lábios. Pacifica afundou seu rosto nas vestes dele, tímida, evitando qualquer troca de olhares.

— Agora sim está tudo bem.


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