É só uma coisa implícita escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 33
Capítulo 33 – David Husselhoff




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Capítulo 33 – David Husselhoff

Adam entrou na atmosfera do planeta na maior velocidade na qual tinha voado até então, logo conseguindo avistar a batalha que ainda acontecia no palácio. Ao longe, na cidade, ele conseguia ver algumas pessoas tentando descobrir o que estava acontecendo, outras se afastavam com receio. Homens desconhecidos com roupas pretas e douradas lutando contra os soldados soberanos, enquanto Aster não estava à vista. Pousou e correu para dentro, vendo alguns artefatos decorativos do hall de entrada caídos no chão. Funcionários do palácio corriam de um lado para o outro, cada um tentando fortificar a proteção em seu respectivo setor de responsabilidade. No centro do hall, Ayesha, trajada com vestes de combate ao invés de seu vestido e coroa de líder, discutia quase aos gritos com Aster, que agora estava um pouco maior e mais velha que da última vez que a tinha visto.

— Eu me cansei de esperar!

— Suas propostas de acordos sempre foram absurdas! O problema com os Guardiões aconteceu aqui antes de acontecer com você! Não temos nada a ver com o que quer que tenha acontecido nesse tal planeta Terra. Sua ousadia e arrogância com nosso povo, criança... São heresias suficientes para condená-la à pena de morte.

— Não sou uma criança! – Aster brandiu sua lança, fazendo um peso imenso surgir no ar, e levando alguns funcionários do palácio a caírem de joelhos e a olharem com terror.

Adam não foi afetado, apesar de sentir o efeito. Ayesha curvou os joelhos, mas como a rainha que era, manteve o olhar firme e lutou para resistir. Finalmente chegando até à menina, Adam foi rápido em agarrá-la pelo pescoço e prendê-la no chão, controlando sua força para não ferir a oponente desnecessariamente. Em volta o ar ficou leve, soberanos amedrontados correram ainda mais rápido pelos cômodos em volta, Ayesha recuperou a compostura e se ergueu.

— O que você quer aqui?!

— Exigir direitos que já vem sendo negados há muito tempo – a garota respondeu, sua voz também estava diferente da última vez – Me deem a zehoberi e isso acaba. Façam o que quiserem com a criança.

— Adam... – Ayesha começou, terminando a pergunta com o olhar.

O jovem segurou Aster com mais firmeza, e encarou sua criadora.

— Ela não tá mais aqui, não é? A deixaram fugir... Que nem Thanos, que fracassou até depois de tê-la matado.

— Não seja tola. Não é possível voltar dos mortos.

Adam encarou Aster, sabendo exatamente sobre o que ela estava falando, e lembrando-se que sua investigação pessoal sobre a joia da alma não estava concluída.

— Ela veio de outra era do tempo – Aster respondeu – Mas ainda é a mesma pessoa.

— Talvez isso explique a amnésia de quando ela chegou.

— Com ou sem amnésia, ela estava na guerra, e eu quero acabar com ela.

— Você será acomodada em uma de nossas celas, e discutiremos isso depois que esse incidente for finalizado.

Aster riu, e olhou com deboche para a sacerdotisa, conseguindo alcançar sua lança num momento de distração de Adam, e fazendo um movimento com o objeto, atirando Ayesha para a parede. Adam se viu obrigado a soltar a garota e voar para amortecer o impacto da líder dos soberanos, não tendo dificuldades em envolve-la evitar a colisão, colocando a mulher no chão com cuidado em seguida, mas não a tempo de impedir que Aster se levantasse e sumisse pela porta de entrada. Adam a perseguiu, mas a jovem parecia estar tomada por uma determinação monstruosa de fugir, e ele a perdeu de vista entre os que ainda lutavam. Alguns soldados da Ordem Negra estavam no chão, alguns soldados soberanos também.

— Me diga que ela estava apenas nos provocando. Onde estão as prisioneiras, Alia e o piloto?

Adam se virou para encarar a sacerdotisa.

— Quando recebemos a informação do que está acontecendo aqui, Gamora estava terminando o serviço, tínhamos acabado de pegar a bateria – ele disse, tirando o objeto do bolso e o entregando a Ayesha – Então Gamora reconheceu um membro da Ordem Negra se aproximando de onde estávamos. Ela entrou em combate com ele e Alia ficou com a criança. O piloto ficou pra trás pra trazê-las de volta, e eu vim por minha conta ver o que estava acontecendo.

— E agora...? Alia e o piloto não são combatentes, não podem conter aquela mulher se ela quiser fugir, Adam!

— Eu sei. Mas não acho que ela vá. Ela sabe cumprir com seus compromissos. Acho que agora devíamos ir atrás de Aster. Ela deve saber onde nós estávamos. E se não encontrar Gamora lá, provavelmente irá até Xandar, procurar os outros Guardiões.

— Acabe com isso o quanto antes. Eu e você iremos até lá, e se necessário até Xandar, acompanhados por uma frota não tripulada. Já esperamos muito mais que o suficiente.

— Tem certeza que é uma boa ideia...?

— Eles destruíram nossas frotas antes porque tiveram ajuda, e depois porque usaram nossas baterias. Dessa vez chegaremos sem aviso.

— Mas... Sempre foi assim pelo que me contaram.

— Se Aster chegar até eles antes de nós, a usaremos como distração.

******

— Eu não quero ir.

— E se eu for com você?

Meredith ficou um instante em silêncio, parecendo pensar, e assentiu. Peter a pegou no colo e se posicionou no scanner da Tropa Nova. Em pouco tempo Dey lhe disse que tinha os resultados, e pediu que Peter o seguisse até a mesma mesa de análise da primeira vez que saíram dali como heróis. Ele deixou Meredith com os outros Guardiões e se juntou a Dey.

— Olha... Eu não entendi muita coisa da história maluca que vocês nos contaram. Mas definitivamente tem algo estranho. Essa criança não consta nos registros. Ela pode ter passado todo esse tempo numa área com bloqueios anti-rastreamento.

— Então não conseguimos nada sobre ela?

Dey sorriu.

— Só duas coisas, mas tenho certeza que uma delas é a mais importante de todas as que você esperava saber. O DNA dela é compatível com o de Gamora, e com o seu. Ela descende de zehoberis, celestiais e terráqueos. E tem quatro anos de idade, que começam a contar cerca de sete meses e alguns dias depois da data em que Thanos foi destruído. Tente falar com ela mais vezes, quanto mais dados tivermos mais fácil será fazer um registro. Nos encontre mais tarde, Nova Prime estará de volta e poderemos mostrar alguns planetas, pra saber se ela identifica algum.

Peter apenas acenou com a cabeça, incapaz de falar. Compreendendo seu choque, Dey deu um tapinha em seu ombro.

— Ela está bem de saúde?

— Sim – Dey respondeu – Não notamos nenhuma alteração.

Peter sorriu. É claro que sua Gamora nunca deixaria a filha passar qualquer necessidade que afetasse sua saúde. Ela morreria se preciso para manter qualquer um que amava bem. Como de fato fez naquele dia terrível. Lembrar disso apagou o sorriso de Peter, mas não se sentiu menos feliz pelo que acabara de descobrir. A felicidade e a dor se misturaram dentro dele de tal forma que causaram dor nos músculos tensos em suas costas. Quando tudo isso se resolvesse, ele precisava de um dia de folga, ou até um mês, se isso fosse possível para um Guardião. Ele riu, sabendo que não era.

— Eu nem sei o que te dizer, mas vai ficar tudo bem. Eu sei que você vai ser um pai incrível, embora esteja confuso agora. Eu posso garantir que é algo maravilhoso. E ela confia em você, já é um grande passo. Conte pra ela da melhor maneira que puder. Não sabemos o que ela passou, mas ela tem o direito de saber que está em família. E assim também será mais fácil que ela fale alguma coisa.

— Obrigado, Dey.

— Vocês salvaram a minha família e toda a galáxia, três vezes. Farei o que puder pela de vocês – ele sorriu, antes de se despedir e sair.

Peter observou o amigo ir embora e se virou para olhar Meredith de mãos dadas com Drax passeando do lado de fora da base.

— Eu tenho uma filha. Ela é minha – sussurrou para si mesmo.

Uma parte dele queria chorar, mas deixou que a outra provocasse um sorriso em seu rosto. Ele queria contar a Meredith. Ele já sabia que ela era dele mesmo antes de chegarem a Xandar.

Olhou novamente para o jardim. Mantis e Nebulosa não estavam à vista. Rocket e Groot estavam conversando. Drax ria de alguma coisa enquanto olhava para Meredith e ela ria de volta, ainda de mãos dadas com o guerreiro. Vendo isso foi impossível continuar segurando as lágrimas, e secou o rosto com as mãos ao se virar na direção do elevador para a cobertura. Precisava respirar, precisava pensar um pouco sozinho e absorver tudo isso sem assustar Meredith. Enviou uma mensagem para Nebulosa no comunicador enquanto o elevador começava a subir, e felizmente pode estar sozinho durante o trajeto.

******

— Outra vez sem avisar... É você mesmo que vive dizendo que não funcionamos assim.

— Enviei uma mensagem.

— Dizendo apenas pra continuarmos o passeio no jardim. E logo é uma expressão vaga pra definir um intervalo de tempo.

Ele ouviu os passos de Nebulosa se aproximando de onde ele estava observando Xandar da cobertura do edifício da Tropa Nova. A cidade começava a acordar e sair pelas ruas, estando ainda nas primeiras horas do amanhecer. Tinham chegado ao planeta por volta das quatro da manhã.

— Eu não queria assustá-la.

Nebulosa desistiu de falar ao perceber o tom de choro na voz dele, e deduziu imediatamente que estava falando de Meredith.

— O que o scanner revelou?! – Perguntou com uma urgência que não tinha percebido que tinha até então, era um possível rastro de vida de sua irmã afinal.

Peter só a olhou profundamente. Depois balançou a cabeça em afirmação. Nebulosa arregalou os olhos, em seguida os deixando vagar pela mesma paisagem distante que Peter encarava quando ela chegou. Respirou fundo.

— Ela é...

— Minha – ele completou – E dela.

Nebulosa ficou muda outra vez, e Peter permaneceu em silêncio enquanto a deixava processar a situação, como ele tinha feito nos últimos minutos.

— Eu achei que ela estivesse morta... – o terráqueo sussurrou muito tempo depois – E podíamos ter perdido as duas. Pra sempre. Se tivéssemos ido embora poucos minutos antes...

— Mas não fizemos isso – Nebulosa respondeu calmamente.

— Como eu vou dizer isso a ela? Como vou dizer que nunca estive lá porque nem sabia que ela existia...? Eu nem sei o que Gamora pode ter dito a ela sobre isso. E ela só tem quatro anos.

— Você sempre tem alguma ideia pra tudo. E encontrará uma pra isso também. Só diga a verdade. Não é algo que podemos mudar. E não é sua culpa que tenha sido assim.

— É uma sensação tão estranha...

— Um estranho ruim?

— Não! Nunca. Exatamente o contrário.

Nebulosa quase abriu a boca para encorajá-lo com alguma frase sarcástica, mas novamente se conteve quando ele começou a chorar novamente, e dessa vez não parou.

— Gamora está viva – ele murmurou entre as lágrimas – Ela é minha – repetiu.

Ela se sentiu desconfortável por não conseguir ser tão natural nisso quanto Gamora, mas se certificando que estavam sozinhos, abraçou o amigo da melhor forma que pode, não impedindo quando instintivamente Peter abaixou a cabeça para seu ombro, ainda chorando com uma das mãos cobrindo os olhos. Nebulosa tentou esfregar suas costas e ele estremeceu, parecendo se acalmar um pouco.

— Se contar a alguém sobre isso eu vou matar você e alimentar alguma fera espacial com seus restos.

Ela ficou satisfeita quando Peter emitiu uma risada breve e leve, mas verdadeira, e estremeceu outra vez quando começou a se acalmar. Nebulosa finalmente conseguiu vislumbrar um pouco do que Gamora costumava lhe contar sobre como ele era sentimental e sensível. E de como isso o fazia parecer adorável e um líder ainda mais forte.

— Acho que finalmente sei o que ela viu em você.

Peter respirou fundo e finalmente se afastou para encará-la.

— E você vai me dizer o que é? – Ele sorriu, voltando ao seu humor carismático.

— Talvez outra hora. Agora se recomponha e fique apresentável. Sua filha tem que conhecer o pai em boas condições, e não se assustar e fugir.

 O sorriso do terráqueo aumentou e ele secou os olhos.

— Ela ficaria feliz em saber sobre sua tia também. E o restante da família.

Nebulosa ficou em silêncio e se afastou para a direção de onde tinham vindo, mas Peter não perdeu o pequeno sorriso em seu rosto.

— E acho que não preciso repetir que...

— Você vai me matar. Eu sei... Tenho experiência nisso.

Nebulosa não conseguiu esconder o riso dessa vez. E os dois seguiram em silêncio no elevador para o térreo, mas sorrindo.

******

— Você já pensou sobre isso?

— Sim, é só o que estou pensando desde que voltamos do centro comercial, e cada vez dói mais.

— Estamos falando da mesma coisa?

— Gamora morreu grávida – ele falou com dor – Os últimos dias ou semanas que passamos com ela... Ela estava grávida e nem sabíamos.

Nebulosa acenou lentamente com a cabeça.

— Acho que ela também não. Nos poucos momentos que estive com ela antes daquilo acontecer, ela não falou nada a respeito.

A felicidade imensa que Peter sentia por ser pai da criança que haviam resgatado era um contraste enorme em saber que ele não vira Gamora grávida, que perdera de compartilhar infinitos momentos de felicidade com ela, que não estava lá quando sua filha nasceu, e que passou quatro anos sem sequer saber de sua existência. Não conseguia parar de se perguntar o porque, onde Gamora estivera todo esse tempo, se alguém a ajudara no parto, se ela sofreu, como e onde ela tinha criado Meredith, e principalmente onde ela estava agora.

— Peter – ouviram Mantis chamar e entrar na sala de estar da nave – Nova Prime acabou de nos contatar. Ela está na base, quer mostrar alguns sistemas e planetas a Meredith. Eu a ajudei a tomar banho e trocar de roupa. Groot está brincando com ela agora.

— Nova Prime nos deu algum prazo de tempo? Há algo que eu preciso fazer antes de irmos, acho que vai ajudar nisso também.

Mantis sorriu.

— Você finalmente vai dizer a ela?

— Sim. Ela precisa saber. Ela vai se sentir segura se souber o que nós somos pra ela. E depois... É só encontrarmos Gamora... – ele falou, mas não com a felicidade que qualquer um esperaria ouvir, uma vez que agora encontrar Gamora podia significar muitas coisas, e não necessariamente boas, incluindo levar Meredith embora.

— Vai dar certo – Nebulosa o encarou com determinação – Eu posso convencê-la a nos dar uma chance. Vamos encaixar a peça que temos agora. Vá e conte a verdade a sua filha.

— Vai fazer isso agora? Não esquece isso então – Rocket apareceu, lhe entregando um embrulho de presente.

— Obrigado, Rock – Peter sorriu.

O guaxinim ia ficar tão bravo quando visse o que era aquilo, mas talvez Meredith o convencesse do contrário, Peter não fizera por maldade, simplesmente se emocionou ao ver e achou que seria um bom presente de boas vindas.

— Estamos todos orgulhosos de você – Drax apareceu, repousando a mão no ombro do amigo e lhe dando um olhar encorajador.

— Obrigado, gente.

******

Groot se virou para ver Peter ao ouvi-lo entrando na cozinha. Meredith continuou rindo de alguma coisa que eles estavam conversando. A menina estava uma graça, não que já não estivesse antes. Ela trajava uma calça jeans preta, definitivamente era filha de Gamora, e isso fez Peter sorrir. Seus pezinhos estavam cobertos com meias azul celeste e um tênis vermelho e azul, fazendo Peter se lembrar do Homem Aranha e se perguntar como o jovem estaria, fazendo uma nota mental para a próxima vez que conversassem com os Vingadores. A camiseta de Meredith destoava 100% do gosto para roupas de sua mãe, sendo de um tecido rosa choque, e adornada com o logotipo branco da Barbie no centro do peito, além de uma estampa rosa claro delicada da boneca mais famosa do planeta Terra. Peter ficara impressionado por encontrarem tal coisa aqui. Completando o visual, a pequena vestia uma jaqueta bordô e preta, que parecia uma boa mistura das cores favoritas dele e de Gamora. Seus cabelos estavam soltos, caindo em ondas em seus ombros, penteados para o lado direito, as mechas cor de rosa em destaque, exatamente como sua mãe.

— Você ficou linda, Meredith.

— Obrigada! – Ela sorriu.

— Eu sou Groot.

— Sim, Groot. Eu quero que você me empreste ela um pouquinho.

Groot assentiu e ajudou a menina a descer da mesa.

— Eu tenho algo pra te contar. Algo bom, eu acho... Você quer ir comigo no convés? Ver a vista da janela?

— Quero! – A pequena pulou com empolgação.

— Eu sou Groot – o jovem sorriu.

Peter sorriu de volta e começou a andar com Meredith na direção do convés.

— O que ele quis dizer?

— Você vai entender depois. Se puder ter um pouquinho de paciência...

— Mamãe me pede isso desde sempre.

— Por que? – Peter perguntou com interesse.

—  Ela sempre disse que um dia íamos nos mudar, mas nunca falou pra onde ou quando.

— De onde?

— Se eu contar, eles vão vir atrás de nós.

— Eles quem, docinho?

Ela ficou em silêncio.

— Vamos conversar agora. Depois que eu contar o que tenho pra dizer, você decide se quer me contar também, ok?

Meredith concordou com um aceno de cabeça. Peter seguiu preocupado pelo restante do caminho, agora sabendo que realmente Gamora estava em perigo, e que sua filha não se perdera por acaso.

Peter sentou-se na cadeira de Gamora com Meredith no colo ao chegarem ao convés. Os dois olharam as belas nuvens no céu azul do lado de fora.

— Você gosta de olhar o céu?

— Sim – a menina respondeu – Prefiro quando tem estrelas, mas gosto mais do dia que da noite.

— Eu também.

— O que você quer me contar? Mamãe sabe de um monte de histórias.

O sorriso de Peter aumentou, ele provavelmente conhecia todas essas histórias.

— Quando eu conheci a amiga de quem te falamos, nos metemos na maior confusão e fomos todos parar na cadeia. Foi lá que conhecemos Drax.

Meredith arregalou os olhos, reconhecendo imediatamente uma das histórias que Gamora lhe contava para dormir.

— Quando saímos fomos a um lugar perigoso resolver umas coisas, e enquanto esperávamos a pessoa que queríamos encontrar, eu e ela ficamos na varanda conversando. Apesar de viver viajando no espaço desde criança e pilotar naves desde os dez anos, poucas vezes eu achei as estrelas tão lindas como naquela noite. Nos aproximamos muito nesse momento, eu falei pra ela sobre Footlose, um grande filme da Terra, e quase consegui dançar com ela. Acabou com ela colocando uma faca no meu pescoço, mas ainda ficamos amigos nessa hora.

Meredith deslizou os dedos pelo pescoço de Peter, procurando cicatrizes.

— Eu não tenho cicatrizes disso, ela só me ameaçou porque estava muito assustada e ainda não confiava em mim, ela não me machucou. A culpa foi minha por ir rápido demais.

— Ela fez isso com você de novo depois?

— Não. Apesar de todas as vezes que ela ameaçou me matar por coisas bobas – ele riu baixinho – Ela era minha melhor amiga. Só houve uma mulher que eu amei tanto além da minha mãe, e foi ela.

— Disse isso pra ela?

— Muitas vezes.

— Não dá pra enviar mensagens pra onde ela foi?

Peter a olhou pensando no que dizer, um dia atrás sua resposta seria bem diferente de qualquer uma que ele poderia dar agora.

— Até que dá, querida. Mas as respostas não chegam. Eu tenho algo mais feliz pra falar com você agora. Mas antes... Quer que eu trance seu cabelo de novo? – Perguntou ao afastar uma mecha que caía sobre os olhos da criança.

Ela assentiu e Peter a sentou de costas para ele, começando a arrumar os fios e trançá-los, um pouco diferente da última vez. Fez duas tranças raiz laterais e as juntou em uma só, algo que o lembrava de como Gamora havia arrumado o cabelo no dia em que derrotaram Ronan, e da última vez que tinha trançado o cabelo dela, exatamente como estava fazendo agora, enquanto ela sentava nessa mesma cadeira.

— Um dia... Eu fiz essa mesma trança no cabelo da sua mãe, enquanto ela estava sentada nessa mesma cadeira – falou ao terminar o penteado.

A menina se virou para ele com uma expressão de surpresa, espanto e confusão.

— Eu já vou te explicar.

Peter pegou o embrulho que tinha escondido no chão ao lado da cadeira e o entregou a Meredith, que apertou o pacote tentando adivinhar do que se tratava.

— Meu aniversário não é hoje.

— Eu sei... Eu não tive um pai que desse presentes assim pra mim, então eu quis fazer isso por você. Eu quero te agradar de todas as formas que eu puder.

— Mas ele te deu o zune.

— Quando eu era criança não nos dávamos muito bem, só quando eu cresci nós nos entendemos. Então descobri que ele tinha comprado o zune pra mim há muito tempo, mas só depois ele me deu.

— O Senhor das Estrelas da mamãe tinha um David Hashe...

— David Hasselhhof.

— Do barco mágico...

— Um carro falante, querida – Peter a corrigiu, sentindo seu coração explodir de emoção a cada história que descobria que Gamora contara a Meredith – Pra ajudar ele a combater o crime... Eu o admirava quando eu era criança. Queria que ele fosse meu pai.

— Que nem na história da mamãe.

Peter sorriu.

— Por que você não abre seu presente e descobre o que é?

Após um segundo de reflexão, Meredith rasgou o papel colorido e puxou um pequeno guaxinim de pelúcia de dentro. O animal usava um macacão azul, um capricho de Peter para deixá-lo parecido com Rocket. A pequena o apertou enquanto sorria e o abraçava.

— Adorei ele!

Peter riu.

— Ainda bem que eu acertei.

— Parece o Rock.

— Bem... É o que ele é, embora nunca vá admitir. Você vai dar um nome a ele?

Meredith olhou para a pelúcia por um tempo analisando suas opções, e sorriu.

— Baby Rock. Que nem Groot pequenininho.

Peter não conseguiu conter sua gargalhada nesse momento. Rocket ia querer matá-lo, e já podia ouvir o guaxinim balbuciando que sua filha era mais parecida com ele do que pensavam.

— Sua mãe te contou a história inteira?

— Sim. O David de verdade era falso.

Peter pensou por um instante para entender a lógica da jovem cabeça da filha, e percebeu que ela estava se referindo a Ego.

— Mas apareceu o certo depois.

— É, foi...

Peter ficou em silêncio por um instante, fazendo uma última reflexão de como deveria contar isso a ela.

— Onde quer que sua mãe esteja, eu juro que nós vamos encontrá-la, e dar um jeito nos caras maus. E nunca mais vocês vão ter que sentir medo. Quando tudo isso se resolver nós vamos dar um passeio todos juntos. Vamos tomar sorvete e brincar em algum parque.

Os olhos dela brilharam, confirmando seu temor de que Meredith não estava familiarizada com essas coisas.

— Por que não disse que eram amigos e que ela já veio aqui?

— Ela já morou aqui, docinho. Você dormiu no quarto dela ontem. Meu e dela... Antes ela dormia no quarto de Nebulosa.

— E por que tá prometendo isso? E por que tirou aquela foto com ela?

Peter respirou fundo e encarou os olhinhos castanhos cada vez mais confusos.

— Porque eu amo você e sua mãe mais do que tudo. Por que eu... Sou o seu David Hasselhoff, Meredith.

Ela arregalou os olhos por um instante e ficou bastante tempo em silêncio, como se tentasse descobrir se tinha entendido corretamente. As histórias de sua mãe correram por sua cabeça, a noite em que a vira chorando sozinha e sussurrando Meu Senhor das Estrelas de uma das maneiras mais doces e tristes que ela ouviu, a resposta de Gamora quando Meredith a questionou sobre seu pai, as músicas que ela cantava. Sempre achara os detalhes faltando de tudo isso suspeito, embora agora nada fizesse ainda muito sentido em sua cabeça.

— Você entendeu o que eu quis dizer?

Ela continuou em silêncio, e Peter se perguntou se a tinha assustado ou dado um nó em seus pensamentos suficiente para deixá-la em transe.

— Papai...? – A pequena sussurrou baixo.

Peter sentiu mil emoções em sua voz, e a única coisa que ele soube fazer nesse momento além de se impedir de chorar foi acenar positivamente com a cabeça e sorrir para ela. Ficou preocupado de ter feito isso da maneira errada, mas só até Meredith se erguer e jogar os braços ao redor dele. Peter fechou os olhos e a apertou carinhosamente.

— Você também é minha. E eu vou proteger você com a minha vida se preciso.

— Sua amiga é a mamãe? – A pequena perguntou, e Peter notou que ela também chorava baixinho.

— Eu achei que a tivesse perdido pra sempre. Eu nunca imaginei que eu teria você. Nunca mais essa nave foi a mesma sem ela, e eu também não. Vamos encontrar a mamãe, e trazê-la de volta pra casa.

Sentiu a filha estremecer e assentir com a cabeça antes de enterrar o rosto em seu ombro e abraçá-lo mais forte.

— Como Kevin Bacon?

Ele riu, de alegria, tristeza e gratidão ao mesmo tempo.

— Como Kevin Bacon.


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Notas finais do capítulo

AVISO!!! Pessoal, o cap 34 já tá escrito! *------* Só falta revisar e passar pra inglês. Posto simultaneamente ou não dô conta depois. Tô numa correria com um evento no domingo, mas ao longo dessa semana deve ficar pronto, e o encontro Starmora será no cap 35. Continuem acompanhando!



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