Ouvi vozes no andar debaixo e me coloquei em pé no mesmo momento. Acordei Charlotte e Stephanie enquanto tentava entender o que diziam.
— Você acordou sozinha? – Charlotte perguntou e revirei os olhos.
— Tem alguém na casa. – respondi antes de pegar minha varinha.
Stephanie já estava na porta e corria em direção as escadas com a varinha em punho. Descemos praticamente correndo e encontramos tia Serena com um homem todo sujo na sala. Ele nos encarou e dei um passo para trás. Mesmo com toda a sujeira e os cabelos enormes e desgrenhados, eu o reconheceria.
— Serena? – Sirius perguntou olhando de nós para ela. – Como?
Serena veio para o nosso lado, se postando basicamente em nossa frente. Charlotte tinha baixado a varinha e consequentemente também baixei, mas Stephanie ainda estava com a vinha em punho.
— Dumbledore tirou Stephanie da casa dos Potter antes de tudo. Lilian e Thiago queriam que a filha ficasse a salvo. Ninguém além de nós sabia da existência dela. Eles queriam garantir que continuasse assim. E Marlene... Bom, ela só conseguiu me entregar Katherine antes de morrer por causa das queimaduras. Pedi proteção para Dumbledore e consegui fugir levando as três.
— E a terceira, a loira. Ela é sua filha, não é?
— É. – Serena respondeu. – Não me pergunte quem é o pai, Sirius. Não faça isso.
Esse era um segredo que ela e Charlotte guardavam a sete chaves. Nem mesmo contaram a Stephanie ou a mim e não nos importávamos com isso. Devíamos nossas vida a Serena.
— Essas são: Stephanie Potter. Charlotte Lancaster e Katherine Black. Mas para o mundo bruxo, ambas tem sobrenome Lancaster. Adotadas. Eu peguei o nome de minha mãe que morreu e adotei as duas por que sempre quis ter trigêmeas. Até mesmo brinco que me arrependo por que me dão muito trabalho. – Ela nos lançou um olhar – Não que isso não seja verdade.
Se tinha uma coisa que Stephanie e eu éramos boas, era incomodar mais do que qualquer pessoa na escola. Apesar de termos as melhores notas, tínhamos a pior índole. Da para explicar assim. Stephanie quase foi expulsa ano passado. E eu recebi mais castigos do que todos os alunos juntos.
— O que ele está fazendo aqui? – Stephanie perguntou, a varinha ainda em punho.
— Lupin... Ele escreveu uma carta avisando que tinha encontrado com Sirius. Que ele esteve em Hogwarts tentando matar Pedro.
— E você acreditou nisso? – Steph perguntou.
— Steph, por que Lupin mentiria? – Charlotte perguntou colocando a mão no pulso dela. – Se ele fosse mesmo um traidor, já teria contado da existência de vocês para Você-sabe-quem. Já conversamos sobre isso.
— Como Harry está? – Steph perguntou.
— Harry? Ele está bem. Me enviou uma carta semana passada. Você tem... Tem os olhos do seu pai. – Murmurou por último.
— Meninas, subam.
— Não. – Stephanie falou – Ele tem coisas para nos contar. E eu quero saber. Ele esteve em Azkaban por 13 anos. Se for mesmo inocente, quero saber a história. – Lançou um olhar para Serena – Eu mereço isso depois de tudo, depois desse tempo. Depois de viver nessa farsa.
— Stephanie. – Charlotte repreendeu.
— Ela tem razão. – falei – Nós duas merecemos a verdade. Ele passou a mão pelo cabelo enquanto nos encarava.
— De início decidimos que eu seria o fiel do segredo, só que era óbvio demais. De última hora optei por deixar isso com Pedro. Nunca desconfiariam dele. Nós nunca desconfiamos dele. Ele foi correndo contar a Voldemort.
— Matou aqueles trouxas? – perguntei.
— É claro que não. – respondeu – Fui atrás de Pedro. Ele matou os trouxas e depois cortou o próprio dedo, transformando-se em rato. Ele é um animago.
— Lupin contou que deixaram ele escapar. – Serena falou e Sirius assentiu.
— Ele se transformou e eu estava mais preocupado com Harry e seus amigos. E o Severo estava lá. – revirou os olhos – Harry me salvou do beijo dos Dementadores duas vezes naquela noite. Ele nos contou mais detalhes. Sentia um turbilhão de emoções que não sabia controlar e nem o que fazer.
É claro que acreditava na sua história, mas não iria correr para seus braços e abraça-lo. Era pedir demais.
— Agora subam para voltar a dormir. – Serena mandou – Temos que começar a comprar o material escolar de vocês.
—  Elas estudam em Beauxbatons?
— Estudavam. – Serena respondeu – Dumbledore preferiu que elas fossem estudar em Hogwarts esse ano.
— Por quê? – Sirius perguntou.
— Foi a pergunta que fiz, mas ele não me respondeu. Enfim, não posso deixar de fazer o que ele me pediu. E é o que as garotas queriam desde o começo.
Nos levantamos e me estiquei. Estava louca para voltar para minha cama.
— Katherine? – Sirius chamou e o encarei. – Queria conversar com você amanhã.
— Olha, não precisa vir com esse papo de pai ou algo do tipo. Estou bem. Vivi muito bem todos esses anos. Não se preocupe. E obrigada pelo dinheiro que mandou ano passado. – falei antes de seguir para a escada.
Cheguei na cama e cai adormecendo como se tivessem me dado uma pancada na cabeça. Se tinha uma coisa na vida que eu gostava, isso era dormir.
Os dias seguintes foram arrumando as coisas para irmos para Londres assim como nos acostumarmos a companhia de Sirius que resolveu ficar um tempo conosco. Ele se mostrou um cara legal, mas logo partiu, pois não queria ficar muito tempo por perto, afinal colocava a nossa vida e nossos segredos em risco.
— É claro que vai chamar atenção em Hogwarts. – Charlotte comentou enquanto arrumávamos os malões. – Mas a história sempre serviu aqui. Podemos usa-la lá também.
— Lá só vai ser mais complicado por que é o centro de tudo. Voldemort estudou lá. Nossos pais estudaram lá. Meu irmão está lá. – Steph lembrou – Mas ok. Vamos fazer isso juntas.
— Como sempre. – falei.
Colocamos uma mão em cima da outra e depois as jogamos para o ar. Nós éramos irmãs. Não de sangue, mas fomos criadas juntas desde o primeiro ano de vida. Tínhamos poucos meses de diferença, éramos inseparáveis. Nunca brigamos na vida. Quer dizer, não uma briga realmente feia. Talvez Charlotte já tenha nos dado alguns sermos assim como a tia Serena.
Serena era uma ótima mulher que tinha orgulho de chamar de mãe. Poderia chamar sempre, mas ela sempre nos mostrou as fotos de nossas mães verdadeiras. Sempre disse que aquelas eram nossas mães, mas ela estava nos criando e tínhamos que mentir, então era mais fácil chama-la de mãe sempre.
Ela nunca nos contou quem é o pai de Charlotte e nunca se envolveu com homem algum. Charlotte só nos disse que seu pai era o grande amor de infância dela. Mas a guerra acabou com ele. Acho que a guerra tinha acabado com todos. Mortos ou vivos, todos tinhas cicatrizes e dores que nunca seriam apagadas.
Éramos um trio diferente, chamávamos atenção onde passávamos, pois vivíamos juntas e não nos parecíamos em nada. Charlotte era a certinha do trio: inteligente e carinhosa, uma ótima amiga conselheira. Tinha os cabelos loiros lisos e olhos verdes, era idêntica a Serena.
Stephanie tinha os cabelos ruivos como fogo assim como seu temperamento explosivo. Ela sempre nos defendia com socos e chutes se fosse preciso. Tinha os olhos castanhos e adorava uma boa confusão. Era leal e atenciosa.
Já eu, era a cópia de Sirius, os cabelos negros e olhos azuis. Sempre propensa a farra e bebidas. Não levava muito as coisas a sério, mas sempre estive com as meninas nas horas boas e ruins. Poderia dizer que daria minha vida por qualquer uma.
Éramos diferentes e ao mesmo tempo totalmente iguais. Nem mesmo tínhamos o mesmo gosto por roupas, cores ou garotos. Apesar que Charlotte nunca se interessou por alguém. Stephanie já havia tido namorados, mas nenhum corajoso o bastante para enfrentar sua fúria. E eu sempre tive todos que queria.
Charlotte acordava cedo e já levantava. Stephanie sempre acordava cedo, mas ficava de preguiça na cama. Eu continuava dormindo. Acordar para quê? Eram férias! Opa, na verdade não era mais.
— Vamos! – Charlotte falou balançando meu braço – Vamos nos atrasar ainda mais.
Levantei rapidamente e vi que ela já estava pronta, vestia uma saia xadrez nas cores roxo e azul, camiseta azul, meia 7/8 preta, bota flat cano longo sem salto e casaco preto.
Fui para o banheiro passando por Stephanie que estava com seu mau humor habitual de quem é obrigada a levantar cedo, ela estava com um vestido preto com as mangas listradas de branco, meia calça preta e coturno.
Tomei um banho rápido e voltei para o quarto. Vesti uma legging preta, um cropped verde escuro de mangas compridas e calcei minha bota de montaria. Encontrei com todas na cozinha.
— Já arrumou tudo? – Serena perguntou.
— Sim. – respondi – Claro que já arrumei tudo. Charlotte ficaria piando no meu ouvido igual uma coruja se eu dormisse e deixasse as coisas para arrumar hoje.
— Ainda bem que você me ouviu. – Charlotte respondeu – Senão você ainda estaria sentada no malão tentando fecha-lo. – revirei os olhos.
— Meninas, eu já vou avisando que é bom vocês levarem roupa de frio. Lá é mais frio que aqui.
— Estamos levando. – Charlotte respondeu.
— Tomem o café e terminem de se arrumar. Vamos sair em 15 minutos, ouviu Katherine?
— Sim. – respondi.
Sorriu abertamente nos encarando. Nós três olhamos de umas para as outras e olhamos de volta para Serena.
— Vocês vão amar Hogwarts!