Tempos de Caos escrita por Bianca NNL


Capítulo 2
Capítulo 2 — Poros




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A garota apenas suspirou e levantou o visor por onde via o desenrolar daquela cena, deixando o aparelho preso no topo dos seus cabelos negros. O rosto do homem não saía da mente de Nora, a sensação de familiaridade era forte e estranha. Ao olhar por cima do seu ombro, ela compreendeu.

— Meus olhos — sussurrou aproximando a mão aos olhos cinzas refletidos no espelho.

Melancolia e frieza que ela reconhecia nela, ele também tinha. Outra coisa que lhe chamou atenção foi a energia que ele exalava, algo totalmente novo para ela, Nora não conseguia explicar muito bem, só sabia que queria senti-lo de novo para tentar absorver algo.

— Não vem para Poros hoje, Nora? — a voz voltou a falar lhe tirando do transe.

Ela não respondeu. O frio da noite já tinha começado a incomodar, então se levantou e seguiu para dentro do seu luxuoso apartamento. Ela empurrou uma pilha de roupas que se amontoavam em frente a entrada da sala. De todos os lugares que já havia morado, aquele era de longe o seu preferido. Grande e repleto de coisas brilhantes.

No meio de tudo havia um sofá gigante e dourado, parecendo o sol que permanece no centro gravitacional de um sistema solar, aquele era o melhor lugar para se ligar em Poros. Ela se deitou ali, respirou fundo e colocou o visor, desta vez, concentrando em Poros. Sua retina foi verificada, e logo depois, já estava frente a frente com a voz que lhe incomodara mais cedo.

— Temos que conversar sobre como você está levando as coisas. Nora, você já é consciente o suficiente para continuar assim — seu assistente começou o sermão, com a boca contorcida em desgosto.

— Você já foi mais divertido, Eros — Nora sorriu com um ar de deboche.

Eros era uma criação de Nora, então ela lhe moldou ao seu gosto. Alto, forte e com o sorriso mais belo que ela poderia imaginar, mas havia lhe dado uma inteligência artificial independente, projetada pelo seu melhor engenheiro. Tão perfeito, que quase pensava que era humano.

— O que deseja fazer hoje, senhorita? — falou desgostoso.

— Apenas dar uma volta...

Mal terminou de falar, um painel se abriu na frente de Nora, e várias roupas começaram a passar diante dos seus olhos. Ela optou por se vestir como uma bela e fofa garota loira, um tanto mais alta e magra que ela, para evitar ser reconhecida. Ela detestava a atenção que recebia ao notarem que estava logada.

— Bonita? — Nora deu um giro quando trocou de roupa, fazendo o vestidinho rosa subir um pouco.

— Como não ficar tendo os melhores modelos em suas mãos? — Eros deu de ombros.

— Agora é a sua vez — Nora abriu outro painel.

Para Eros, ela escolheu um homem de longo cabelo castanho, bem amarrado num rabo de cavalo, e um pouco mais baixo que o modelo real do assistente, para os dois ficarem com alturas semelhantes. Nora segurou o braço dele e saíram, sorridentes, da sala de login.

Do lado de fora a luz do dia ofuscava os olhos sensíveis da garota, e num literal fechar de olhos, um óculos de sol se materializou no rosto dela. Quando a visão se acostumou outra coisa a cegou, a alegria dos sorrisos espalhados por todos os rostos por ali. Por isso Nora detestava aquele lugar.

Quase tudo em volta era branco e trazia uma arquitetura minimalista. Os prédios eram simples e brilhantes, transmitindo um aspecto limpo ao lugar. Claro que, algumas pessoas acabavam por destoar o ambiente, com o uso de roupas de cores vibrantes demais. Totalmente oposto à Nova Pênia.

— Não sei como você pode odiar esse lugar — Eros balançava a cabeça. Para ele, aquele lugar era o paraíso — Tudo é perfeito e calmo, do jeito que você desejou e construiu.

— Esse é o problema! — Nora bateu o pé — É calmo demais, perfeito demais, falso demais. É tão exagerado, e mesmo assim os humanos ainda se digladiam por esse lugar, para viver aqui, chega ser engraçado — soltou um risinho.

— Mas isso que lhe alimenta — Eros lembrou.

— Por isso não desligo essa realidade.

Continuaram caminhando e divagando sobre a cidade. Porém, Nora não conseguia tirar seus pensamentos do homem, e Eros logo percebeu a desatenção dela. Os grandes olhos da criadora estavam mais distantes e frios do que o de costume, e aquilo incomodava ele. Era fácil perceber que ela estava planejando algo, e quando ela entrava naquele modo a garota ficava mais perigosa do que nunca.

— Eu sei o que você está pensando — Nora apertou o braço dele contra seus pequenos seios — E não vale a pena se preocupar comigo, ficarei bem.

— Nora, não faça nada de que vá se arrepender depois — Eros pediu.

— Você já me viu arrependida alguma vez? Sei muito bem onde me meto.

Ela abraçou os ombros de Eros e lhe deu um selinho, o assistente logo ficou nervoso e a afastou, aquilo o incomodava. Pensou que se tivesse um coração, ele estaria acelerado naquele momento, só que sua existência se limitava ao ambiente virtual de Poros, unicamente programado para manter a ordem lá. Ele desejava mais.

— Eu estava pensando… — Eros começou, tomando a atenção de Nora.

— No quê?

— Se algum dia eu poderia conhecer o mundo real? Ter um corpo para transitar por Nova Pênia? — Eros disparou, tentando não perder a pouca coragem que reuniu.

Aquilo pareceu um desafio para a garota, deixando-a empolgada com a ideia.

— Nunca fiz nada parecido com um androide, mas sempre tem uma primeira vez para tudo, certo? — Nora riu e soltou o braço do assistente.

Nora começou a correr, fazendo as pessoas ao redor rirem dela. Eros ficou olhando, parecia bem animada. Ele sabia que aquela instabilidade dela beirava a loucura, mas ele se fascinava pelo jeito da garota fazer as coisas, sem nunca se importar com as consequências. E quando a percebeu mais distante, foi atrás, tentando alcançá-la.

Porém, mesmo que ele conseguisse, a cabeça dela continuava em outro lugar. Ela se indagava como faria para encontrar aquele homem novamente.


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Notas finais do capítulo

Oi, alguém lendo aqui? Bem, só passando para avisar que o próximo capitulo sai na quarta, então fiquem ligados e digam se gostaram.



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