Lightsabers Out escrita por Lady Liv


Capítulo 10
The Other Point of View (Part I)


Notas iniciais do capítulo

ouvindo: ariana grande - pov



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Estranho sentimento.

O medo.

Silencioso. Avassalador.

Medo deslizava por seu coração como uma cobra, encontrando caminho para afeta-la quando ela menos espera.

Se instalou sem aviso e de repente apenas está lá, bombeando gelo em suas veias, paralisando seu corpo, a fazendo a mentir; o medo simplesmente existe. Rey já estava acostumada ele.

O que ela não estava acostumada era com a gentileza. As pessoas sempre queriam algo em troca, sempre. Família era falsidade. Altruísmo era idiotice.

Aqui instruo que todos os meus bens, sejam em líquidos ou não, eu deixo em toda a sua totalidade para Rey Niima.

E Anakin Skywalker era um filho da mãe.

 

ANTES

 

— Filho da mãe! É isso que você é!

— Que boca suja.

— Você gosta da minha boca suja.

— Se a Mara te escutar vai achar que temos um caso de novo.

— Ugh! Não foi o que eu quis dizer! – Rey reclamou, sentindo as bochechas queimando. Anakin apenas riu. — O que você tem hein, tá me irritando muito hoje!

— Se te faz sentir melhor, eu sei o que quis dizer então isso que importa.

— A opinião dos outros não?

— É claro que não!

— Não me admira que pense assim. Você é velho.

— Hey! Mais respeito com os idosos.

— Não foi falta de respeito, foi um fato. Sabe que não minto.

— Infelizmente.

Se levantando, ela colocou todas as peças apanhadas do chão de volta ao tabuleiro. — É, tá, última partida! E se você surtar mais uma vez, eu vou transformar os seus comprimidos em remédio líquido, ‘tá me ouvindo?

— Não ousaria.

— Fique observando.

Arrumando as peças que ele soltou de propósito, eles começaram de novo. Aos poucos, o tabuleiro de GO foi se enchendo mais uma vez e o símbolo do infinito que Rey imaginou começou a ganhar forma. Quando posicionou sua última peça branca, no entanto, Anakin pareceu ter um espasmo, arremessando novamente as peças que segurava.

Ani!— Rey arfou, ao mesmo tempo que ele esbravejava:

Aaaargh! Como consegue fazer isso?

— Remédio líquido. Eu avisei.

— Não, não, volte aqui. Vai me explicar como ganhou de novo!

— Por que não pergunta pro seu amiguinho Palpatine?

— Como se ele fosse responder!

— E por que acha que eu iria? – ela se afastou, escondendo o sorriso que se formava em seus lábios. A verdade era que se divertia muito fingindo ter uma estratégia naquele jogo bobo.

E Rey Niima estava trabalhando para Anakin Skywalker há quase 7 meses agora. Era estranho como parecia ser mais tempo em sua cabeça, a honestidade instantânea desde a primeira vez que se conheceram quando Luke os apresentou. Ela ainda fazia estágio na época, sem esperanças de ser admitida no hospital da cidade. Anakin foi a sua primeira faísca de luz, seu primeiro emprego de verdade. Provavelmente a melhor coisa que aconteceu com ela-

 

Aonde você pensa que está indo garota?! Acha que vai conseguir chegar em algum lugar sem os seus documentos?! Hein?!

Eu dou o meu jeito!

 

Certo, a segunda melhor coisa. A primeira sendo quando deixou Jakku.

O fato era que logo ela percebeu que ele precisava de um amigo. Maz e Chewie estavam sempre ocupados com os afazeres da casa e sr. Palpatine não era companhia o suficiente, tampouco agradável. A família era grande, mas Anakin precisava mesmo de um amigo.

Havia Luke, cujo ela podia suportar bem; seus projetos sociais o enchiam a cabeça as vezes, mas ninguém podia negar que o número de pré-adolescentes nas ruas diminuiu e só por isso ela era grata. Mara Jade, cujo ela suportava... bem menos na verdade; vivia enchendo Rey de perguntas e sua desconfiança só piorou depois que Anakin a defendeu. Kaydel, a filha do primeiro casamento de Luke; ela chegou a lhe ensinar algumas tranças na última visita então Rey gostava de pensar nela como amiga.

Havia também Leia, que não era ruim, porém a intimidava um pouco. Poe, o neto prodígio e charmoso, que lhe parecia decente o suficiente só por ser amigo de Finn. Ela sabia da existência de Bazine e Ben, outros netos de Anakin, só que eles eram distantes.

Todos eram distantes.

Eram carentes de Anakin Skywalker, mas não de Ani. Queriam sua atenção, mas não a sua presença.

Então ele precisava de um amigo. Rey podia cumprir esse papel, e em troca, ele lhe dava um modo de vida. Era um bom negócio. Ela precisava de um amigo também.

(E dizia a si mesma que estava sendo profissional.)

Adentrando a cozinha aquela manhã, chamou por Maz Kanata. A senhora surgiu da área de serviço, carregando um grande balde de água. Rey a ajudou.

— Faltou água de novo?

— Chewie está concertando o cano, opa, obrigada, menina.

— Olha, acho que tem alguma coisa incomodando o Anakin.

— É a falta d’água? Espero que seja, se não, eu não me importo.

— Maz!

— O que? Prioridades. – a senhora riu. — Por que está preocupada? Ele está sempre incomodando com alguma coisa. Poe nunca mais veio aqui por causa disso.

— Ele não vem porque ele não quer, era só não trazer a Zorii.

— Aquele seu namorado policial já te deixou a par de tudo, não é?

— Finn não é meu namorado, quer parar com isso? Agora escuta, isso é importante, tá? Anakin está bagunçando demais pro meu gosto. Acho que tem alguma coisa acontecendo.

— Ele está de cara feia?

— Ah, ele sabe disfarçar.

— São rugas, criança. Velhos tem essa cara.

Maaaaaz!

Ela deu de ombros, despreocupada. — Seja o que for, você vai descobrir logo.

— Eu vou?

— Ele confia bastante em você.

Rey rolou os olhos, ignorando o carinho que insistia em crescer no seu peito. Certamente ela havia deixado Jakku para trás com a mente feita, só que o medo continuava enraizado mesmo depois de todo aquele tempo, a antecipação de falar algo que a comprometa a deixando cada vez mais introvertida.

Não na presença de Anakin, obviamente. Ele implicava até que ela abrisse a boca, gostava de conversar com ela (assim como qualquer outro idoso), porém nunca sobre ela. Surpreendentemente, nunca sobre ele também. Havia um respeito mútuo e não dito.

Porém hoje havia algo o incomodando.

E mais tarde naquele mesmo dia, quando ela o ouve suspirar pela centésima vez, ela cria coragem e-

— O que foi?

Sentado na mesa de seu escritório, ele nem hesita em virar o papel que segurava. Era como se estivesse esperando por sua pergunta. Rey consegue apenas identificar grandes números.

— O que é isso?

— A conta mais recente da Amilyn.

— Holdo? Como você conseguiu?

— Tenho um amigo que trabalha no Banco 3PO, quando ele disse que viu minha nora fazendo um deposito generoso ou era a Mara e mais umas de suas loucuras ou... as minhas suspeitas estavam certas.

Rey piscou. — Espera, você não acha que-

— -ela está me roubando de algum jeito? Sim, acho.

— Mas... a Holdo?

— Sim.

— Mas não faz sentido.

— É dinheiro, querida. Mesmo que não faça sentido, é a verdade. – Anakin disse, e seu tom era gentil. — Preciso achar uma forma de provar isso legalmente. Tirá-la da empresa.

— Precisa de um advogado.

— Ou um detetive.

Rey suspirou pensativa. Kaydel sem dúvidas ficaria decepcionada quando descobrisse, ela falou orgulhosa da mãe tantas vezes; uma advogada consagrada, CEO da Editora Império, influencer nas redes sociais... ela tinha tudo. E ainda assim, queria mais.

— Sabe, Ben tentou me avisar disso. – Anakin voltou a dizer, seu olhar distante sobre um porta retrato em sua mesa. A foto de seu neto aos 14 anos, encolhido em um abraço durante tempos menos turbulentos. — Eu devia ter escutado em vez de levar como implicância.

— Devia ligar pra ele, Ani.

— Péssima ideia.

— Ótima ideia! Talvez se expor ela, ele considere como pedido de desculpas.

Ele soltou uma risada, a fitando.

— Você iria gostar dele.

— É?

— E ele de você.

Rey apenas rola os olhos, balançando a cabeça.

Naquela noite, ele segue seu conselho e liga para o neto pela primeira vez em anos.

Ben Solo começa a fazer ligações também, o que deixa todo mundo na mansão um pouco surpreso. Anakin relaxa bastante quando eles conversam. Rey está feliz por eles.

As semanas passam rápido e logo o outono chega.

Rose a convida para ir ao cinema, só que é tudo um pretexto para uma investigação maluca de envenenamento na pipoca. Finn finge não ter sabido de nada. Poe o chama de mentiroso, o piloto está vestindo uma camisa camuflada de botões que lhe cai muito bem e está animado para ajudar. São risadas e aventura até o caso ficar sério e eles precisarem de testemunhas.

Nisso, Rey escapa silenciosamente pelo elevador. Eles dariam conta sem ela.

— Hmmm, Poe estava lá?

— Maz, já conversamos sobre isso.

— Oh. Certo. Não pode me culpar, quer dizer, vocês dois são jovens e amigos e-

— Eu sei, Maz.

— Zorii é um pesadelo.

— Eu sei, Maz.

No começo da primeira semana de outubro, eles se sentam na varanda da mansão e admiram a natureza e o contraste que as folhas amareladas do bosque fazem com a grama verde e sintética do jardim.

Sr. Palpatine também está lá e Anakin faz alguns comentários para ele que nunca são respondidos. É uma cena um tanto triste de observar, então Rey se concentra em tirar algumas fotos da paisagem.

Após um tempo, ele desiste do velho amigo e volta a conversar com ela.

— Então, novembro está chegando, hm?

— Pois é.

— Sabe, essas festas que eles insistem em fazer sempre dão errado! São uma bagunça!

— Pode acabar com esse costume quando quiser, Ani.

— É, mas...

— Mas...?

— Mas... eu... sinto falta deles. Faz sentido? Odeio as festas e mal posso esperar pela próxima! – Anakin ri, melancólico. Rey tem a impressão de que ele vai chorar, e antes que ela possa controlar, já está dizendo:

— Eu entendo, é como o que sinto pelos meus... pais.

— Oh?

— Eles me abandonaram em Jakku, dá pra acreditar? Mesmo assim... faria qualquer coisa para conhece-los. Estranho, né. Não consigo não procurar por eles.

— O amor é estranho.

— Muito estranho.

É claro o motivo dele estar falando sobre isso, Anakin está em dúvida. Ben Solo nunca veio para as reuniões familiares, não desde que largou tudo para seguir a carreira musical, sempre ocupado com a banda, sempre ocupado sendo Kylo Ren.

— Você acha que eu deveria chama-lo esse ano?

— Não parece que gostam muito dele.

Eu gosto dele. – Anakin fez uma carranca e Rey sorriu.

— Então chame-o para ver você, não os outros.

Ben aceita passar um fim de semana em Coruscant.

Apenas um.

O estresse começa a alcança-lo na quinta-feira, quando Leia Skywalker surge de repente nos portões da mansão. Havia alguma coisa acontecendo, ela nunca viria se não fosse importante. Talvez Holdo fosse o assunto? Talvez ela tenha descoberto sobre as transferências não autorizadas? Elas eram muito amigas, talvez tenha vindo defende-la? Oh, Anakin não iria gostar disso, ele estava querendo poupar Leia até que tivesse provas o suficiente.

— O que você acha que é? – Rey não se aguenta e vai até a cozinha perguntar a Maz.

— O que eu sei que é! Parece que o Ben jogou na cara dela que vem visitar e ela acha que ele fez a cabeça do Anakin, humpth! Como se fosse possível!

— Mais pro Anakin ter feito a cabeça dele. Qual o problema afinal?

Maz devolve a colher ao prato de sopa, limpando os lábios sujos de Palpatine e lhe mandando um olhar.

— O que você sabe sobre o Ben?

Rey franziu o cenho, hesitante. — Sei que... ele é famoso.

— Kylo Ren é famoso, não o Ben.

— Tem diferença?

— Na verdade tem sim.

— Oh, ahm... Anakin ama ele.

Maz concordou, continuando a encará-la. Ok, isso definitivamente era um teste.

— Parece que ninguém gosta muito dele, né? Poe nunca o mencionou e... ahm... teve essa vez que o Finn foi lá em casa, os Cavaleiros de Ren estavam tocando na TV e ele mudou de canal.

— Isso é muito observador.

— Não é como se eles estivessem escondendo, eu só nunca perguntei.

— Medo da reação das pessoas?

Constantemente.

— Eu só acho uma bobagem que o odeiem porque ele escolheu Música em vez de Direito.

— Oh não, esse não foi o motivo. Ele errou quando escolheu o Snoke como produtor.

— Snoke? Tipo... aquele Snoke?

— Exatamente aquele Snoke.

— Aaaah.

Aaaah mesmo! Rey não precisava estar ligada ao mundo dos famosos para entender. Alistair Snoke era o produtor mais reconhecido do país e vivia a base de escândalos, de alguma maneira sobrevivendo como um parasita da música.

— O escritório da Leia já o processou várias vezes no passado, oh sim, ele é um inimigo antigo. E foi uma humilhação para ela quando o Ben buscou alguém assim. Snoke está lançando uma biografia agora. Ela tem medo que o Ben só esteja vindo pra conseguir o apoio do Anakin nisso.

Rey sentiu os ombros pesarem ao pensar na felicidade de Anakin quando recebeu ligações do neto, a possibilidade de ser tudo um teatro iria partir seu coração. Primeiro Holdo, agora Ben?

A mão de Maz caiu sobre a sua, os olhos dela fixos nos seus.

— Ele é um bom garoto, Rey. Não deixe ninguém por opiniões na sua cabeça. Pense. Você nunca cometeu um erro?

 

Preciso sair daqui. Ir pra outro país, qualquer coisa. Longe, por favor.

Pelo preço certo...

 

— É claro que eu cometi erros! Esqueceu quão jovem e imatura eu sou? – Rey brinca, afastando as mãos da senhora e se levantando. — Eu vou checar no Anakin, não confio nele e a Leia sozinhos!

— É, é bom ficar por perto... só por garantia.

A enfermeira passou o resto do dia se preparando para uma emergência, mantendo-se próxima ao escritório e ouvindo suas vozes abafadas. A saúde de Anakin era o que importava, não o passado do neto, não o passado dela, não o passado de ninguém. Ele era a sua prioridade.

E então acabou. Leia foi embora antes do sol se pôr, cumprimentando apenas Chewie pelo caminho. Ela tinha uma expressão de derrota e Rey quase sorriu.

— Hey, hey, nada mal pra um vovô.

— Rey! Ainda está aqui? Entre.

Ela o fez, colocando um copo d’água sobre sua mesa. — Só vim trazer isso. Imagino que precisou de muita saliva pra vencer a Leia.

— É, não me sinto muito um vencedor... obrigado, enfermeira.

— De nada, paciente.

— Todas as famílias são assim ou é só comigo?

— Assim como?

Ele inspirou profundamente, soltando a respiração de modo cansado. Rey riu, fingindo pensar.

— Estive com mais famílias do que gostaria de lembrar! Quando eu encontrar uma com juízo, vai ser o primeiro a saber!

Eles sorriram na brincadeira.

(Ela teve a impressão que ele lhe olhou por mais tempo que o necessário.)

Na sexta-feira, ela se senta nos degraus em frente à casa com um dos livros de Anakin em mãos. Mesmo com o sol estampado no céu, o clima era agradável e perfeito para uma leitura.

Estava na página 7 quando sua atenção foi roubada em forma de um camaro chevrolet ano 1969 e o que quer que seu dono estivesse fazendo não devia ser bom.

Estacionando, o motorista saiu do carro tirando a jaqueta e abrindo o capô, balançando a roupa no ar para espantar a fumaça. Oh, ele não ia conseguir resolver aquilo, não mesmo.

— OI! – vendo-o gritar em sua direção, Rey piscou apreensiva. — Garota! Estou procurando a Leia, ela está?

— Leia? Ela... ela foi embora ontem.

— O que?!

— Embora. Ontem.

— É, eu ouvi quando você falou, meu amor. Sabe pra onde?

— Alderaan.

— Ah, que droga! – ele xingou, chutando o chão. — E o Chewie? Maz? Por que ela ainda não veio gritando meu nome?

— Ah, err, eles também não estão...

Deixando o livro para trás, ela se aproximou hesitante, direcionando os olhos para o carro. Instintos mecânicos brilhando em sua mente, implorando para serem usados.

— O que aconteceu?

— Ah, não é nada, ele vive dando problema, acho que é o carburador.

— Fazendo esse tanto de fumaça? Acho que não hein, meu palpite é o freio.

— Freio?

— Ele desgasta, sabia? Assim como todas as outras peças, há quanto tempo você não troca?

— Espera aí... você sabe do que está falando.

Rey rolou os olhos e cruzou os braços, permitindo um leve sorriso.

— O que faz aqui? – ele perguntou, curioso.

— Sou enfermeira do Anakin.

— Enfermeira? O que aconteceu com a Chelli?

Rey deu de ombros. — Sou a nova enfermeira.

— Ah... bom, boa sorte.

— Obrigada?

— Sou o Han. – ele limpou a mão na calça antes de estendê-la, Rey o cumprimentou, respondendo seu nome. — Fui casado, quer dizer, sou casado com a Leia... ainda. Eu acho. Depende do humor dela.

— Ah é! Han Solo! Ouvi muitas histórias sobre o senhor.

— Maz. – Han deduziu, suspirando.

— Sim, Chewie também.

— Não me diga! Você entende o que ele fala?

— O inglês dele não é tão ruim quanto as pessoas pensam. – os dois sorriram, a surpresa nos olhos dele fazendo algo no peito de Rey inflar, orgulhosa de si mesma. — Então é tudo verdade?

— Sim, é tudo verdade... menos é claro aquela vez com a corrida aérea de Kessel.

— A corrida que você terminou em catorze minutos?

— Eu sabia! Foi em menos de doze! Ele nunca conta essa história direito!

Rey riu, por um momento tentando imaginar o homem a sua frente mais jovem, se aventurando sozinho em um avião sem nenhuma experiência. Loucura.

Ele fechou o capô do carro após dar uma breve olhada.

— Bom, isso vai ter que dar pra viagem de volta! Err... foi um prazer, Rey.

— É, foi um prazer conhece-lo também!

— Vem cá, você sabe pra onde eles foram?

— Aeroporto, eles... acho que foram buscar o Ben. – Rey respondeu, se tocando pela primeira vez o que aquilo significava. — Que é o seu filho!

Han assentiu, algo distante em sua expressão. — Costumava ser.

 

AGORA

 

— A ilha em Mustafar, e todo o patrimônio que há nela, o castelo e os investimentos relacionados com o turismo, eu deixo em toda a sua totalidade para Rey Niima. O controle exclusivo da Editora Império eu deixo em toda a sua totalidade para Rey Niima. Os direitos e todo o catálogo da mesma forma eu deixo em toda a sua totalidade para Rey Niima.

Ela sentiu o próprio coração batendo em seus ouvidos, abafando a confusão que se instalava ao seu redor. O que era aquilo? O que Yoda estava dizendo? Todos aqueles itens, todas aquelas contas que ela nem sabia da existência estavam em seu nome, por que? Por que?

Porque Anakin quis assim. Não era brincadeira. Ele havia deixado para ela. Tudo para ela.

E de repente tudo faz sentido; a firmeza que ele demonstrou com a família aquela noite, os olhares pensativos que ele tinha em sua presença, o tom gentil que ele usava quando ela pincelava seu passado para ele. Ele tinha planejado isso.

 

Uma última partida Rey, é aqui que eu encerro a farra deles.

 

Filho da mãe, POR QUE EU???

Isso não podia ser verdade. Não podia ser real. Não para ela. Não depois de-

E de repente tudo é um borrão, ou talvez fossem apenas seus olhos lacrimejando em vergonha e culpa, mas ela ainda consegue perceber algumas coisas como a confusão de Leia e a vingança de Bazine, o desespero de Holdo e a indignação de Luke, Zorii que... ela nem sabe mais se está consciente.

— Oh, claro, ahm... da mesma forma, a casa da rua Order nº 66 e tudo que há nela, eu deixo para Rey Niima.

Ela pisca, arfando em choque. A casa também?!

Caramba, ela iria desmaiar. Ela sentia que iria, pelo menos. Mara Jade praticamente corre em sua direção então talvez ela fosse. Seu estômago está começando a se embrulhar. Rose aparece na sua frente. Espere, Rose! Sua incrível e inteligente amiga Rose! Ela sabe, não é? Ela sabe que Rey não tinha nada a ver com isso! Ela tem que saber! Oh, ela não parece saber...

E nem os outros porque eles estão a acusando com tanta intensidade que-

Por que eles acham que ela está mentindo?!

Ela é incapaz-

Ela não pode-

 

Você comeu os meus biscoitos, Rey?

Não, ela murmura, suando frio ao perceber sua bermuda ainda cheia de farelos.

E o feijão? Foi você?

Eu...

Você está mentindo Rey?

O que? Não, eu... eu só estava... só tinha restos e...

O homem a agarra pela nuca, a arrastando para o banheiro. Você vai vomitar tudo! Agora! Pra aprender não mentir pra mim! Vomita!

Não! Não! Por favor, eu estava com fome!

E vai ficar com ainda mais fome se não vomitar agora! Eu vou bater em você até você sangrar, garota! Vomita!

 

Luke lhe pergunta algo em tom acusador, o desgosto em seu rosto a despertando de um vórtice de memórias ruins e a lembrando da noite em que ele descobriu seu envolvimento com-

Ben.

Ele está lá.

Ele vem em sua direção e ele é tudo que ela vê.

Ele é tudo que ela ouve.

 

ANTES

 

Há um som ecoando pela casa.

Rey está sozinha na cozinha quando percebe, tendo acabado de chegar e já com o notebook aberto, o e-mail da nutricionista de Anakin trazia um cardápio novo baseado em exames recentes. Precisava anotar tudo para Maz, ela era péssima com tecnologia.

Mas o som é leve e agradável para os ouvidos. Rey para o que está fazendo para escutar.

E sai caminhando pelos corredores em busca da melodia.

O encontra no segundo andar em uma sala grande, o quarto principal que vivia trancado e que se tivesse mais espelhos e menos janelas, com certeza pareceria um estúdio de balé. Ele está de costas, seus ombros largos se flexionando com o movimento suave que fazia.

Ele toca sozinho.

Não era nada igual as músicas dos Cavaleiros de Ren, era tênue e nostálgico e fazia os pelos dela se arrepiarem. Rey nunca ouviu um violino ser tocado ao vivo, a sensação é maravilhosa. Ela sente como se pudesse flutuar com o som imitido, era como... como...

Como sentir uma poesia.

E então para.

Ela abre os olhos, inconsciente que de que tinha os fechado, e simplesmente paralisa.

Quantas vezes havia observado o porta retrato que Anakin tinha dele no escritório? De quando ele era só um garoto alto demais e com orelhas enormes, de quando ele ainda se chamava Ben. Ela o achou fofo e um pouco desengonçado, porém não encontrou motivos para saber de sua aparência atual. Os Cavaleiros de Ren sempre usavam máscaras nos clipes que passavam na TV, como poderia se surpreender mais do que isso? Ao que parece, dessa forma.

Porque ele era lindo. Esvaídas se foram a magreza e infortúnio da adolescência, ele cresceu nas expressões fortes e carregava lábios carnudos, nariz destacável e olhos chocolate.

E ele estava olhando para ela.

— Música bonita. – é a única coisa que Rey consegue dizer, lutando contra a própria vergonha. Ele devia pensar que ela era uma esquisita por observá-lo tocar sem sua permissão.

Mas ele apenas pisca, e sua voz é profunda quando ele responde: — É Across the Stars.

Há um momento.

E Rey sorri, relaxando um pouco. Ele não parece zangado. Bom sinal, certo? Ela... ela realmente devia dizer alguma coisa.

— Eu... eu sou a Rey, sou a enfermeira do seu avô.

— Ah, sim.

— Oi.

— A garota de quem tanto ouvi falar.

— E você é o garoto de quem eu tanto ouvi falar.

Subitamente, algo em sua expressão muda, e ele lhe dá as costas. O quarto parece esfriar quando ele diz, seu tom de voz completamente diferente: — Dameron, eu presumo.

Rey franze o cenho.

— Err, o que-

— Eu não sabia que os empregados podiam entrar no meu estúdio assim, achei que fui bem claro com a Maz sobre isso. Escuta, me traz um café forte. Tenho que me manter acordado.

A enfermeira solta uma respiração, incrédula.

Após perceber que ela não tinha se movido, ele a encarou. Era como se houvesse se tornado uma pessoa completamente diferente, as sobrancelhas erguidas em uma pergunta não-dita, provavelmente algo como o que ainda está fazendo aqui?

Humpth! Ela havia sido pisada por muito menos.

— Faça você o mesmo o café. Não trabalho pra você.

Ele piscou.

Rey lhe deu as costas.

Ela tinha mais o que fazer do que se irritar por causa de um garoto, além disso, ele era o neto de Anakin. Deixaria passar a forma que ele havia falado pelo bem de seu paciente.

Mas havia sido estranho mesmo. Por que ele a tratou daquela forma?

— Shiii... esse é o cardápio novo? Anakin prefere comer areia do que isso aí. – Maz murmurou, olhando a tela do notebook por cima de seus ombros. Rey fingiu pensar.

— Hmm, posso arranjar a areia.

Ela lhe acerta com um pano de prato e Rey solta uma risada.

— Você ouviu a música tocando hoje mais cedo? Era o Ben!

— Ahn? É, eu o conheci.

— O que?! – Maz pergunta, a olhando ansiosa. — Quer dizer, eee...?

Rey franze o cenho.

— E o que?

— O que você achou?

— Dele ou de conhece-lo? Porque eu poderia viver bem sem os dois.

— Rey!

Ela sorri. Boa tentativa, Maz.

Ben está no escritório quando Rey vem medicar Anakin na hora do almoço. Os dois sendo obrigados a trocar algumas palavras quando Anakin os apresenta formalmente.

— É com a Rey que eu jogo GO agora. Ela sempre me vence.

— Ela não pode vencer sempre.

Anakin solta uma risadinha, a cutucando. — Parece que você tem um rival a sua altura! O que me diz? Adoraria ver a batalha entre vocês dois.

Ben é mais rápido em rejeitar o convite, afirmando estar ocupado e terminando uma antiga partitura. Ele soa forçadamente educado e seus olhos acompanham cada movimento que ela faz, causando um estranho formigamento em seu corpo. O que ele olhava tanto? Rey se perguntou. Não um olhar esquisito, como o de um stalker, mas quase julgador. Talvez duvidasse que ela soubesse o que estava fazendo.

Por fim, ela levanta o cloche da bandeja que Maz havia trazido. A expressão horrorizada de Anakin é recompensa o suficiente por todo aquele desconforto.

— Quer me matar de fome?!

— Não tive nada a ver com isso.

— Será que não?

— Foi o que a nutricionista recomendou-

— Ela pode recomendar isso pra uma criança de dois anos! Não pra mim! Não posso comer isso!

— Se tivesse feito uma dieta antes, não precisaria estar fazendo uma agora. – Ben diz, e por um momento, Rey relaxou, retrucando:

— Na verdade, precisaria. Idosos não tem um metabolismo como o nosso, ainda mais ele-

— Como é?

— -adquiriu diabetes nessa idade, por favor! Pressão alta não era o suficiente? Agora está aí, correndo o risco de perder um braço ou uma perna e me fazendo ter cabelos brancos! Não tem pra onde fugir, vai ser folhas e exercícios pelo resto da vida. É uma ordem.

Anakin lutou, mas não conseguiu impedir o próprio sorriso. Ben, no entanto, não compartilhava de seu divertimento, e a encarou com tanta intensidade que foi impossível para ela não completar:

— ...senhor.

Han Solo volta a aparecer no fim tarde. Chewie corre para recebe-lo e eles riem alto. Rey se aproxima curiosa em saber se o carro dele continuava dando problemas.

Em vez de responde-la, ele pergunta ao amigo:

— Chewie, por que nunca a levou no galpão? Ela iria adorar lá.

— Na verdade eu já visitei o seu galpão, Han! É um lugar impressionante, – Rey elogiou, interrompendo a indignação de Chewie. — Meus melhores amigos já trabalharam pro senhor.

— Oh?

— Finn e Rose, eles estão-

— Finn e Rose?! ‘Tá brincando? Que mundo pequeno! Sabe, aqueles dois são um orgulho particular meu. – Han contou, os olhos quase brilhando. — Começaram lá no galpão sem saber bufunfas e agora estão aí no Departamento de Polícia. Quem diria, não é Chewie?

Rey sente o coração amolecer com suas palavras. — Ooown! Devia dizer isso pra eles, Han.

O sorriso dele desaparece, voltando com uma carranca.

— NEM PENSAR! Eles sempre me deram um trabalho inacreditável!

Ela ri.

(e pensa ter visto Ben numa das janelas do segundo andar, mas sua sombra desaparece assim que ela percebe.)

No domingo, ela vem de manhã apenas para checar se está tudo certo com Anakin. Geralmente era um dia que ele lhe dava folga completa, só que depois de Maz ter encontrado alguns comprimidos jogados dentro de um vaso, Rey decidiu vir pessoalmente. Ela foi contratada para cuidar dele e era isso que ia fazer.

Ben não parece entender muito a sua ética, no entanto. Ele está sempre à espreita, a observando, e faz questão de estar presente quando ela chega perto de Anakin.

Rey se pergunta se a tensão no ar é sentida apenas por ela.

É o que a faz ligar para Finn.

— Você acabou de dizer Ben Solo? Tipo, o filho do Han, este Ben Solo?

— Exatamente esse.

— Ai meu Deus! Nós o conhecemos como Kylo Ren! Quer dizer, eu conheço! Tive o desprazer de conhecer. Enfim, já deve ter notado que ele e o Han não podiam ser mais diferentes!

— Finn? – Rey indagou, sem entender. — Acho que só te vi falando assim sobre a Zorii, o negócio é sério mesmo?

— Pensa no seguinte, Zorii é uma santa comparada a ele! Ele é um monstro!

— Uau, isso...

Há um momento de silêncio do outro lado da linha e Rey suspira, pensativa. Certo, Ben era mal encarado, mas monstro já era um pouquinho demais, até mesmo para alguém no círculo de Snoke.

De qualquer forma, ela contou:

— Acho que ele não gostou muito de mim.

— Oh-oh.

— Mas tudo bem, não é? É só eu me manter na minha e tudo certo.

— Sim. Provavelmente. Sim! Qualquer problema, pode vir até mim e-

— Finn.

— Eu sei, é que minha ansiedade ‘tá uma loucura hoje. Rose inventou de ir atrás desse falsário sozinha e eu ‘tô tentando rastrear o celular dela!  – Finn explica e é o suficiente para Rey se retrair, se despedindo rápido. A última coisa que ela queria era deixa-lo preocupado por nada. Rose era mais importante.

Acima dela, sr. Palpatine pareceu imitá-la, também respirando cansado. Ele estava há horas sentado naquela cadeira de balanço, tomando sol e com os olhos fixos no movimento zero do jardim. Imaginou se ele sentia falta de BB-8 correndo pela grama. Rey sabia que ela sentia.

— Você parece acabado. – ela comentou, entediada. — Não, é sério. Não literalmente, quer dizer, literalmente também, mas... emocionalmente acabado, quero dizer. Eu também tenho muita bagagem aqui dentro, sabe – apontando para a própria cabeça, ela rola os olhos. — É fácil ficar calado, né? Talvez um dia eu tenha coragem de contar a verdade pra eles, sei que iam entender. Finn e Rose, digo. Não o Anakin, claro que não! Ele já anda muito ocupado com a Holdo e... e com o neto. Ele não precisava dos meus problemas também. Quem sabe... e você não está me ouvindo né? Não se preocupe, culpa minha. – Rey admitiu, fazendo uma careta.

Se levantando, deu uma leve e amigável batida em seu ombro antes de entrar na casa.

— Niima!

Rey parou no meio do corredor, reconhecendo a voz de Ben Solo antes mesmo dele aparecer. Ele se aproximou rápido, mas não a impediu de se distrair com a aparência dele que... não era nada mal de se olhar. De fato, quase esqueceu o provável motivo dele estar a buscando.

Oh, isso era ruim. Ele com certeza de ter notado que ela estava o ignorando.

Em sua defesa, eles não haviam se dado bem mesmo, então qual o problema em evita-lo? Julgando pela cara dele, vários.

— Me procurando? – perguntou, fingindo inocência.

Por favor.— Ben resmungou, lendo-a como um livro aberto. — Acredito que saiba porque foi contratada.

Colocando as mãos para trás (e inconscientemente imitando a pose em que ele estava, droga!), ela respondeu profissionalmente: — Sim, o sr. Skywalker precisava de ajuda médica.

— Não, foi contratada porque a antiga enfermeira perdeu a vaga. Você sabe por que ela perdeu a vaga?

— Ainda não chegou ao meu conhecimento.

— Ela roubou.

É como um balde de água fria. Ela nunca conseguiria esconder seu desconforto agora. Sinto muito Anakin, mas seu neto é um babaca. Talvez todo mundo tinha razão em odiá-lo, afinal.

Respirando fundo, ela pensou por um momento. Ela já tinha lidado com babacas antes. Não tinha motivos para ser diferente com ele, certo? Fique calma, Rey.

— Isso é uma acusação?

— É uma constatação.

— Pra mim?

— Pra ela... a não ser que se sinta ameaçada por isso. – ele cruzou os braços, sem dúvida tentando intimidá-la. Há! Fofo, muito fofo.

Vendo-a em silêncio, ele continuou:

— Só queria deixar isso claro... caso esteja pensando em alguma coisa.

— Tipo o que?

— Eu não sei, – ele fingiu pensar, cínico. — Tipo o que?

Ao contrário dela, Ben não pensava nada antes de falar. Lembrava Rey dos adolescentes que ela encontrava nos centros de adoção, corroídos de raiva e sempre com uma resposta na ponta da língua. Problemáticos, assim como o garoto diante dela. Em realidade, desesperados por amor. Era isso, então? Ele estava com ciúmes de Anakin? Até que fazia sentido.

Ou ele estava apenas mostrando as facas. Rey ainda não havia entendido.

— Escuta, garoto-

— Não, você escuta.

— Perdão?

— Sabe quantas pessoas tentam se aproximar de Anakin Skywalker? Sabe quantas conseguem? Até mesmo dentro da família ele é... frio. Fechado. Inalcançável.

— Que nem você?

— É, que nem eu. – Ben admite, sem expressar incomodo. — E aí temos as enfermeiras que se acham espertas, que dão atenção a ele, que cooperam com os joguinhos que ele faz, aquelas que são... incapazes de mentir, não é? – ele ironiza, fazendo Rey bufar, incrédula com o que estava ouvindo.

— Sabia que sua tia foi mais rápida? Ela inventou que eu estava-

— -seduzindo o meu avô, é, eu sei. Eu ouvi a história, – ele diz, e lhe olha de cima a baixo. — me fez rir bastante. – e Rey não sabe se fica irritada pela ação, ou pelo fato do rosto dele estar tão estoico. — Não acho que esse seja o caso, mas... espere, eu quase deixei passar! Mara não é minha tia, não mencione ela assim pra mim.

— Oh, não se preocupe, não planejo ficar de conversinha com você.

— Ótimo.

— Perfeito! Porque eu estou aqui para cuidar do seu avô, foi ele quem me contratou! Não você. Não tenho culpa se fica irritado até quando alguém respira!

— Eu não estou-

— Está sim! – Rey rosna, dando um passo à frente, tão perto que foi possível ver a surpresa que ele sentiu, esboçada com um pequeno tremor abaixo de seu olho direito. — Qual é o seu problema, hein?! O que eu te fiz pra ficar me julgando desse jeito?

Ele apertou o maxilar com força, e pareceu estar numa luta interna quando finalmente forçou as palavras para fora. — Eu não confio em você.

E sendo estranhamente sincero.

Rey arqueou as sobrancelhas, quase surpresa.

— Pff! Eu também não confio em você! Bem vindo a vida real!

— Sim, vida real! Esse é o meu ponto!

— Seu ponto, o que-

— Você é jovem, linda e inteligente, por qual razão gastaria seu tempo aqui?! – ele retruca, fazendo ela piscar confusa. — Está escondendo alguma coisa, Niima. Eu quero saber o que é.

Há um momento.

E Rey sente o chão em seus pés começar a amolecer. Subitamente, a compreensão lhe acertando como uma enxurrada. Os olhos nunca mentiam.

(e os dele eram bem fáceis de ler.)

Não, isso não era ciúmes de neto, ele não queria afastá-la como um garoto mimado.

Também não era ele sendo um babaca, ele não ia perder seu tempo precioso com ela apenas por não ter ido com a sua cara.

O jeito que ele estava lhe olhando, tão parecido com o de Leia, quase julgador de fato-

Curioso. Não julgador, curioso.

Oh, isso era pior! Muito pior! Todo esse tempo, toda aquela acusação, ele estava a observando porque queria... entendê-la.

Certamente fez perguntas sobre ela; de onde veio, como chegou ali, se tinha família... Ele queria entender suas motivações e tudo que viesse junto.

— Para com isso.

— Parar com o que?

Para de me olhar assim!

Ele mexeu os lábios, um movimento confuso que Rey facilmente reconheceu e ignorou.

— Eu só... estou olhando pra você. – Ben diz, e algo na sua voz é tão suave quanto a música que ele tocou no dia anterior. Rey sente um arrepio só de lembrar. Foi antes dele agir feito um idiota, antes dela odiá-lo, antes de... o que quer que fosse aquele peso no ar.

Rey pensou tanto nele como garoto, que havia se esquecido de que aquele era um homem. Não um moleque, mas um homem grande e poderoso, cheio de recursos, assim como os assistentes sociais que a entregaram nas mãos de gente perigosa sem mais nem menos. Americano. Era possível ver em seus olhos, seus malditos olhos chocolate!, que ele sempre conseguia tudo o que queria.

E se ele descobrisse... se ele sequer se incomodasse um pouco com ela...

Sentiu o coração acelerar de novo, dessa vez por uma razão totalmente diferente.

 

O que vai fazer quando começarem a te cercar?

Temiri, já ouviu falar em caminho mais fácil?

 

— Eu não sou ladra.

Caminho mais fácil então. Faça-se de desentendida. Desvie o assunto.

(mas não minta, Rey! Que droga!)

— Eu não sou ladra, tá! – ela repetiu, as palavras com um gosto amargo em sua boca, literalmente amargo, então ela se apressa: — Não pense que eu vou aceitar esse seu comportamento.

Forçando suas pernas a lutarem contra a paralisia, ela passou por ele sem esperar sua resposta, esforçando-se para não deixa-lo perceber seu desespero. Aproveitou que estava de costas e cuspiu na própria mão quando um pequeno refluxo encontrou caminho em sua boca. Foram mais alguns passos até ela encontrar o banheiro mais próximo, lavando a mão e enxaguando a boca com água corrente.

Seu reflexo no espelho já falava por si só. Nada de vômitos hoje, Rey. Você conseguiu.

(Ainda assim, não havia sentimento algum de vitória. Ela perdeu.)

Han Solo está do lado de fora quando ela finalmente sai da mansão, já recomposta. Há uma expressão vacilante no rosto dele que ela nunca tinha visto antes, mas ela finge não o ver, caminhando diretamente para sua moto. Não estava com cabeça para mais nada.

— E aí, Rey. – ele acena mesmo assim, mascarando sua preocupação com alegria.

Rey tenta sorrir, fazendo o mesmo. — E aí.

— Você está bem, garota?

— Mais ou menos... hey, você só pode estar louco por estar desperdiçando seu domingo aqui.

— Olha quem fala! Não é tão loucura quanto trabalhar pro Skywalker, – Han apontou para a mansão com uma carranca.

— Eu ainda não me arrependi.

— Me diz, ele é legal com você?

— Na maioria dos dias.

— E hoje não?

— Hoje... hoje não muito. Idosos geralmente são difíceis de lidar.

— Skywalker é difícil de lidar.

Seu filho também, ao que parece! Ela pensa, suspirando.

— Não se preocupa não, Han. Eu gosto do que faço... quem hoje em dia trabalha com o que gosta?

Han assentiu. — Bom, se algum dia ele te tratar mal, pode vir até mim. Posso arranjar algo pra você.

— Está me oferecendo um emprego?

— Sei reconhecer um talento quando vejo um, garota.

Rey sorriu, sentindo algo aflorar em seu coração. Talvez o dia não estivesse perdido, afinal. Han estava lhe oferecendo um emprego! Ele não tinha ideia do quanto aquilo significava para ela.

Ele nunca soube.

Rey Niima não se lembrava qual havia sido a última coisa que havia dito a Han Solo.

(Ben Solo também não.)

 

AGORA

 

É como se estivesse vendo tudo através de uma tela, como se estivesse acontecendo com outra pessoa. É um choque diferente, ela percebe, o medo está diferente.

Ben simplesmente a joga por cima dos ombros e ela permite.

Maz, Chewie, Finn, todos perguntando o que está acontecendo e ela não responde.

A porta do carro se abre e ela cai sobre o banco, abraçando as próprias pernas em posição fetal. Pelo o que parece horas, sua mente está longe, no seu passado, no testamento, no porquê... está nos segredos e tantos segredos e sem motivo e-

Por que, Ani? Por que não me disse? Por que fez isso?

De repente, seu braço queima com um estranho belisco. Rey exclama assustada, e o rosto de Ben é um reflexo do seu. Ele devia estar chamando seu nome há algum tempo.

— Rey, você tem que respirar, tá? Não entra em pânico agora.

Não entra em pânico agora.

As palavras dele são cheias de preocupação, mas ela as sente como flechadas. As flechas que costumavam congelá-la agora estavam a queimando viva com o conhecimento de sua terrível ação. As lágrimas preenchem os olhos dela em fúria, como ele ousava?!

— Para esse carro. – sua ordem soa como um grunhido, cada segundo na presença dele a enlouquecendo. — Para! Para agora, PARA ESSE CARRO! Eu preciso- eu preciso-

Assim que o carro encosta, ela praticamente se joga para fora. Estavam bem longe da mansão, em uma estrada deserta com um chão feito de gelatina-

Ou era apenas ela se tremendo. Ela realmente não estava se sentindo bem.

Ele se põe ao seu lado no exato momento que os joelhos dela ralam no asfalto. O estresse acumulado de toda aquela merda finalmente alcançando seu corpo e a fazendo vomitar.

— Isso, põe pra fora. Vai ficar tudo bem.

— Não, não vai.

— Rey...

Ela balança a cabeça, enojada. Ben puxa uma flanela de dentro do carro e limpa sua boca.

— É só água? Rey, você por acaso não comeu hoje? Rey?

Ela ignora sua pergunta, focando-se na raiva que sentia.

— Você sabia.

— Rey...

— Do testamento, você sabia?! Fala! Fala pra mim!

Ele hesita por um momento, mas assente. — Eu... eu desconfiei.

Eu odeio você, ela queria dizer.

Provavelmente não uma boa ideia. Ela não tinha mais o que vomitar.


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Notas finais do capítulo

(Aaah, Christopher Plummer! Ele tá um charme de bonito em A Noviça Rebelde e fez o Harlan em Knives Out com uma profundidade que eu nunca vi nesses filmes who done it, me fez realmente me importar com a morte dele no filme! Incrível ator! Será lembrado!)

“Liv, impressão minha ou você propositalmente fez o Kylo um músico só pra ele estar tocando Across the Stars quando a Rey conhece ele?”
YEP! Foi exatamente o que eu fiz... e o fiz agir que nem um babaca em seguida porque as aparências enganam e mal entendidos acontecem. É Enemies to Lovers que você queriam? Hehe, só é um longo caminho chegar na parte do Lovers quando a Rey é tão difícil de escrever! Ela parece um pouco OC pra vocês? Acho que todas são um pouquinho quando o universo é moderno, mas eu tentei deixar bem claro a razão dela ser tão fechada.
(olha a minha hipocrisia me preocupando com as características da Rey quando estou ASSASSINANDO as características do resto da família socorro KKKK só fui notar agora)

Eu também fiz uma pequena edição Roux e coloquei no começo do capítulo 1, se vocês quiserem ir lá dar uma olhada...

Ah! Antes que eu esqueça, só queria avisar que estou estudando pra um concurso agora, então é provável que a parte II demore um pouco. Mas não se preocupem, não vai ser tipo dois meses... no máximo 1... menos de 1... provavelmente.
~saindo correndo~



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