Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 45
A culpa sempre é do Kevin


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Kevin Narrando

Alice sugeriu que Rafael fosse embora comigo do restaurante e ela fosse com Arthur e o resto, porque depois ela queria conversar com ele. Olhei pra ela duvidando um pouco daquilo, mas não podia dizer que não gostei. Assim que cheguei achei que ele iria dar tchau e sair, mas ele ficou no carro.

— Hoje... – ele começou a falar e eu vi que estava nervoso e inseguro.

— Desculpa. Eu te tratei como meu namorado. Mas devo dizer que se você deixar eu vou continuar agindo como se você fosse mesmo meu namorado, porque você disse que ainda é e pra mim é apenas isso que importa.

— Mas eu comecei com isso. – nos olhamos. – Eu quero te dizer o motivo. – ele respirou fundo. – Você estava demorando a chegar. Achei que não iria e pensei que poderia se afastar de mim. Não quero que se afaste.

— Tá bom, não vou.

— Perdão se eu pareço confuso e se eu te faço pensar que te quero longe e ao mesmo tempo eu fico agindo como antes... – o olhei.

— Não tem problema. A minha raiva já passou. – suspirei. – Não devia ter me exaltado com você. Preciso te entender, por mais difícil que seja pra mim. Só não diz mais que odeia algo que eu sou.

— Não vou dizer. – ele passou as mãos nos braços. – Você tem um moletom aqui?

— Tenho. – me virei para pega-lo e quando girei meu corpo de volta fiquei bem perto dele, nos olhamos e vi que seus olhos estavam em minha boca. – Toma. – o entreguei e voltei para o meu lugar.

— Obrigado. Não era pra eu sentir tanto frio. - desliguei o ar e ele me olhou. - Não precisa. Vou entrar daqui a pouco.

— Vou te perder para a sua sensação térmica estranha? – ele me olhou e sorriu.

— Sua mãe voltou pra capital? – concordei. – Ela tinha mais trabalho? – concordei novamente. – Achei que não, não era sobre o vírus as entrevistas que ela estava dando?

— Sim, mas ela está fazendo participação em um programa.

— Ah, sim, entendi. – nos olhamos. – E você e o seu pai, como estão?

— Ele tá fingindo que tá melhorando... E eu estou fingindo que acredito. Por que essas perguntas?

— Quero saber do meu namorado, não posso? – sorri.

— Esse seu sorriso foi com deboche.

— É que é um namoro diferente, não acha? – ele suspirou e eu me odiei por ter dito aquilo. - Você não me contou iria pintar o seu cabelo.

— Não iria. - ele sorriu. - Minha prima não pode me ver que quer mexer no meu cabelo, deixei ela platinar mais. Só isso que você notou?

— Nem vou comentar. Sua pele queimada de sol dos seus rolês com os seus amigos héteros? 

— Você não pode falar deles como se fosse uma coisa ruim. Você odeia héteros?

— Não... Sempre acabo transando com eles. - dei de ombros e ele riu. - Mas agora falando sério, eles são abomináveis. Suporto os que sou obrigado a suportar. Eu não seria amigo deles, não tenho nada em comum com eles.

— E se eu conseguir me entender, se a gente passar por isso e continuarmos namorando... Se um dia eu te levar lá e te apresentar a eles?

— Como seu amigo? O que tem? Vai ser normal, vou querer vomitar mil vezes com os papos, mas vou sobreviver... - ele me cortou.

— Como namorado Kevin. - fiquei olhando pra ele sem nem saber o que responder. - Vou procurar uma psicóloga. – senti seu medo.

— Alice me contou. – nos olhamos.

— Claro que ela te contaria.

— Ela tá gostando de você agora que tudo mudou.

— Ela parece se preocupar com o que eu estou passando. – ele me olhou.

— Acha que eu não me preocupo? – sorri.

— Se você se preocupa não demonstra muito.

— Eu me preocupo sim. Só é difícil pra mim... Tenho que aceitar que eu amo um cara que tem um pensamento tão retrógrado. Deus não tá nem aí se você é gay ou não Rafael.

— Então se não me amasse teria desistido né?

— Sem sombra de dúvida. – vi que ele ficou muito chateado, mas eu tinha que ser sincero.

— Vou entrar. Dirige com cuidado. – respirei fundo e deixei ele ir.

Ao chegar em casa liguei para Arthur, o fato de Rafael sentir frio no verão me assustou um pouco. Talvez seja a mistura do ar condicionado com nervosismo, mas eu queria pedir que ele se certificasse que ele estava bem.

— E então ele pediu a minha blusa, fiquei preocupado. – expliquei a ele.

“Ele só quer ficar sentindo seu cheiro, ele tá bem.”

— Pensei que fosse, mas ele realmente estava com frio.

“Ah... Hoje mais cedo ele deu febre, chamei a Maísa pra ir lá porque achei que podia ser inflamação da perna dele, talvez ele não deixou cicatrizar direito, sei lá. Mas ela disse que não era isso. Ele tá bem. Ela falou que pode ser um vírus, pediu pra ele ficar de olho e se não abaixar ir consultar. Mas eu acho que é insolação, você viu como ele tá bronzeado? Em casa ele vivia com os amigos jogando futebol no sol.”

— Você só me conta isso tudo agora?

“Aconteceu há algumas horas. E também a gente foi para o restaurante e você demorou a chegar, estava todo mundo... Queria que eu contasse como? E agora eu estou conversando com a Alice, tchau Kevin.”

— ESPERA! – gritei antes que ele desligasse. – Ele tá tomando remédio?

"Era pra ele ter comprado, você acha mesmo que ele tem juízo o suficiente pra ter ido? Relaxa, eu vou olhar isso hoje ainda quando eu chegar. Posso desligar?"

— Estou indo pra lá. Você é um inútil Arthur.

"Essa é a primeira vez que eu escuto."— desliguei a ligação com raiva.

Passei na farmácia e depois fui pra lá. Cheguei e ele já estava dormindo, com o moletom e duas cobertas. Coloquei a mão em sua testa e vi que ele estava queimando em febre. Se a gente tivesse se encostado ao menos um pouco eu teria percebido. Tinha que acorda-lo para ele tomar os remédios, mas acho que ele não reagiria bem a isso.

Liguei pra minha mãe pra saber o que eu podia fazer, mas ela não atendeu. Então fiz o que podia ser feito, pesquisei na internet. O primeiro passo era tirar o excesso de roupa. O grande mistério seria como eu faria isso sem acorda-lo. Não seria fácil, tirei as cobertas vagarosamente e ao colocar a mão na blusa ele se mexeu. Tentei mais três vezes, mas acabei desistindo. Era melhor ir para o segundo passo, que era ficar perto de um ventilador ou local arejado. Abri a janela e liguei o ventilador.

Agora eu tinha que colocar uma toalha molhada em água fria na testa e nos pulsos. Desci e preparei a pequena bacia e voltei para o quarto pegando uma toalha de rosto e fazendo aquilo com muito cuidado para que ele continuasse dormindo. Fiquei bastante tempo nisso. Mesmo com a porta fechada ouvi Arthur chegando. Pensei em ir atrás dele pra ele acordar Rafael pra tomar o remédio, mas imagino que se ele estava conversando com Alice era melhor deixa-lo sozinho.

Continuando no meu método de tratamento natural o caminho agora era tomar um banho com água morna, não muito quente nem muito fria, o que não seria possível então eu passei para o próximo. Manter repouso, beber água fria e tomar suco de laranja, tangerina ou de limão porque fortalece o sistema imune.

Fui pra cozinha fazer o suco e preparei uma sopa rápida, quer dizer... Nem tão rápida assim. Minha mãe me ligou de volta para saber o que eu queria e então a deixei na chamada de vídeo me ensinando o que fazer. Descongelei o peito de frango, temperei, piquei e o coloquei pra fazer. Depois ela mandou que eu picasse legumes. Respirei fundo pensando em desistir daquilo.

“Kevin, você não tem paciência nenhuma pra cozinha e sabe disso.”— ela comentou me olhando.

— Se você tivesse me ensinado a fazer alguma coisa talvez eu iria ter. – reclamei.

“Anda... Tá muito tarde, eu estou cansada e tenho que dormir.”

Até eu achar o negócio que descascava cenoura demorou anos. Coloquei tudo pra cozinhar e desliguei a agradecendo. Meia hora depois ficou pronto e eu levei o suco e a sopa lá pra cima e fui até o quarto do Arthur o acordando para ele dar a comida a ele.

— Ele não tá com fome. – ele reclamou virando para o outro lado.

— Já tem horas que ele comeu Arthur e ele tem que tomar remédio, vai irritar o estômago dele se ele não comer nada. Já tá pronto lá, vai, por favor.

— Por que você mesmo não dá? – ele se virou pra mim e me olhou.

— Ele não iria querer. Não quero forçar nada, nem deixa-lo desconfortável.

— E eu me fodo né? – ele se sentou sonolento. – Não sou babá dele, se quer cuidar dele, da próxima vez cuida direito. – ele se levantou e foi mesmo irritado.

— Não se esquece de dar o remédio pra ele depois. – falei antes de ele sair.

— Vai para o inferno. - pelo visto a conversa realmente não foi nada boa.

Fiquei esperando e quando ele voltou ele disse que estava tudo certo e ele tomou o remédio depois de comer pelo menos um pouco e tomar o suco.  

— Vou dormir aqui. – falei o mandando arredar. Ele ficou me olhando.

— Eu trabalho amanhã, se eu não dormir direito por sua causa eu vou te chutar daqui.

— Também te amo, boa noite. – me deitei e procurei uma posição confortável. – Esse travesseiro poderia ser mais macio.

— Juro que vou te matar.

— Essa agressividade não combina com o Arthur que eu conheço. O que aconteceu hein?

— A Alice... – ele respirou fundo. – Não posso dizer agora, preciso dormir. Boa noite Kevin. – o deixei dormir, era melhor.

No outro dia acordei cedo por causa do despertador do meu irmão, mas resolvi levantar. Fui até o quarto de Rafael e coloquei a mão em sua testa ficando aliviado ao ver que a febre havia passado. Fui tomar café com Arthur e ele ficou me encarando.

— Você tá me devendo uma. – ele disse e deu um sorriso de aversão, mostrando um pouco de desgosto, como se estivesse julgando o ato de eu tê-lo acordado.

— Ele é seu melhor amigo Arthur. – olhei em seus olhos.

— Mas ele não iria morrer até de manhã e você mesmo podia acorda-lo. – dei um olhar repreensivo para ele calar a boca ao ver Rafael descer.

— Acordou cedo. – Arthur disse o olhando.

— Vou dormir de novo. Só quero saber que horas tenho que tomar o outro remédio. – ele perguntou me olhando. Sua voz era desanimada e abatida.

— Por que tá perguntando pra mim?

— Sei que foi você que cuidou de mim.

— Estou ocupado demais pra cuidar de você. – falei sabendo que ele não queria que fosse eu. – Foi o seu amigo aí. – me levantei. – Melhoras. – fui embora, era difícil agir assim com ele e o melhor a se fazer nesses momentos era me afastar.

Arthur Narrando

Rafael ficou me olhando quando Kevin saiu. Era tão complicada a situação dos dois, não dava nem pra imaginar o que eles estavam passando.

— Tá. – ele respirou fundo. – Você pode me dizer a hora?

— Ele se preocupa com você. – falei o que ele queria ouvir. – Ele comprou remédio, passou a noite toda acordado cuidado de você, me acordou para te dar comida... Ele cozinhou Rafael. Kevin não frita nem um ovo. E agora tá mentindo porque você não se sente bem com a aproximação dele. – suspirei. - Só acho que vocês deviam conversar e enfrentar isso junto. Um ama o outro Fael. – ele baixou os olhos.

— E você e Alice? – ele mudou o foco pra mim.

— Ela sacrificou nosso namoro pelo meu sofrimento. Não entendeu que eu sofreria mais ainda. E ontem a noite ela tentou me explicar os motivos dela mais uma vez. Não sei... Geralmente sou esperançoso, mas talvez seja mesmo o fim.

— Não consigo ver vocês dois separados.

— Nós fomos feitos um pro outro e eu nunca vou deixar de acreditar nisso. – o olhei.

— Ele é quase tão intenso quanto você. – seu sorriso me fez dar uma risada baixa.

— Duvidava tanto do sentimento dele por você e hoje ele me prova cada vez mais que te ama. Talvez... – pensei antes de dizer aquilo. – Se ele encontrou alguém depois de amar tanto Murilo aconteça o mesmo comigo.

— Você sabe que não. Porque você tá resistente a isso. E quando a gente não quer as chances são mínimas.

— Devia odiar o Kevin. – fixei meus olhos em um ponto qualquer. – Se ele não a machucasse tanto, se... Aquele dia naquele ano ele não tivesse a molhado com tanta estupidez... Talvez eu não tivesse corrido para seca-la e então naquele instante não tivesse a olhado com outros olhos.

— A culpa sempre é do Kevin. – ele riu.

— Vai deitar. – me levantei. – Seu remédio é as nove, mas você tem que comer antes. Neném. – ele resmungou alguma coisa que eu nem ouvi, pois subi correndo ou iria me atrasar.

— Seu pai ligou. – Ravi disse no meio da manhã, me fazendo o olhar imediatamente.

— O que ele queria? – franzi a testa.

— Disse que ama o filho, quer protege-lo e me pediu desculpas por te “tirar de mim”.  – fechei os olhos e respirei bem, mas bem fundo mesmo.

— Ele quis te afrontar. – conclui.

— Ainda não entendi por que você tá fazendo isso Arthur. O Kevin eu até entendo, por mais que ele mude, ele foi criado pelo Caleb. Agora você?!

— Não acho seguro deixa-lo com tanto poder com os hotéis.

— Agora você se preocupa com os ativos da sua família? – ele se encostou à cadeira.

— Sim. Você não acha que ele já roubou demais não?

— O que o Caleb faz não é da minha conta Arthur.

— Mesmo assim você sabe. – ele ficou me olhando bastante insatisfeito. – Tenho razão, não tenho?

— Se eu soubesse não falaria. – desviei o olhar. – Se cuida. Tá ficando igual a ele.

— Todo mundo quer ver Caleb se dando mal tanto quanto eu, mas ninguém faz nada. Por que eu tento fazer sou errado?

— Derrubar Caleb é uma missão suicida. Você não consegue. Devia estar preocupado com a sua vida e o seu futuro no lugar disso.

— Consigo sim. – ele me olhou desacreditado. – Se eu deixa-lo pensar que sou o filho inocente que ele quer enganar, eu consigo.

— Quem é você Arthur?

— Não vai correndo dizer a minha mãe o quanto está preocupado. Foi ela que trouxe esse psicopata doente para nossas vidas.

— Jamais faria isso. Sei que vocês dois não estão se dando bem. Mas eu estou sim preocupado... Você tá se distanciando de você mesmo.

— Fazer as coisas do meu jeito nunca deu certo. Agora vou tentar de um jeito diferente.

— Você não é assim Arthur. – não respondi, mas ele parecia irredutível. – Você ama o que você faz, sempre foi bom desde quando começou comigo... Vai largar tudo em uma empreitada insana de tentar fazer seu pai pagar pelos erros dele?

— Vai ser bom para o Rafael ficar em meu lugar.

— Eu iria contrata-lo de qualquer jeito Arthur, só que não era para ficar em seu lugar e você sabe disso. Você sabia que ele já tinha uma vaga aqui e fez isso.

— Me deixa explicar... É por que você colocaria alguém mais competente e experiente e no caso se eu quisesse voltar teria que mudar tudo e sendo o Rafael fica mais fácil.

— Ah, então você quer voltar?

— Você me aceitaria?

— É... Eu iria ter que pensar. – ficamos nos olhando. – Ainda tem chance de você não fazer isso.

— Já tá decidido. E não liga para as merdas que ele faz ou fala. É o meu pai e os jogos dele.

— Ele nunca me atingiu, não vai ser agora.

Quando cheguei em casa os meus pais estavam reunidos com meus avós e meu tio Gu e Tamy... Além de Yuri e Sophia. Notei que meu irmão quase chorava.

— Você fez dezesseis anos outro dia Sophia. Isso é idade pra ter filho? – ouvi a mãe dela perguntar.

— E que juízo você tem Yuri? Já pode começar a procurar um emprego. Aproveita que os seus irmãos estão indo trabalhar com seu pai e vai junto. – minha mãe ordenou e eu continuei olhando pra eles.

— Vocês estão juntos? Vão se casar né? – meu pai perguntou e eu ri.

— Ah ele é dono da moral. É claro que ele tinha que fazer essa pergunta. – expliquei minha risada.

— Arthur você não faz parte dessa conversa. – meu vô disse sério.

— É meu sobrinho, lógico que faço parte.

— Sobe. – ele ordenou e eu fui sem pestanejar. Quando ele mandava fazer alguma coisa ninguém era louco de desobedecer. Acho que a figura de autoridade era quase tão grande quanto a de Vinicius, por isso um batia de frente com o outro. Por falar nele, era um milagre ele não estar aqui, afinal os três irmãos sempre estava junto em qualquer assunto que envolvesse qualquer um deles ou dos filhos deles. A última vez que o vi ele estava muito mal, acho que a internação de Murilo mexeu muito com ele, com eles na verdade. E pensar que meu pai é a origem disso tudo me faz ter mais força para tentar mudar as coisas.


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Notas finais do capítulo

Até amanhã ♥



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