Be Mine escrita por EloiseFeh


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Olá!! Como foi o fim de ano de vocês? E como estão nesse começo de ano? Confesso que estou bem ansiosa, mas faz parte de um ciclo novo. Eu espero que estejam todos bem e sou imensamente grata pela paciência e pelos comentários de apoio ♥
Adoro vocês, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789097/chapter/22

Quando era criança, mesmo quando as coisas pareciam ser muito menos complicadas, Ben Solo muitas vezes se encontrava em um loop desgastante. Não dormia, comia ou pensava direito. Frequentemente tinha acessos de raiva que o faziam quebrar brinquedos e se isolar. Infelizmente, a crise o acompanhou durante toda a vida. Fazendo ser quase insuportável para o rapaz levantar da cama.

 

O único momento em que se sentia mais leve era quando estava no assento de sua motocicleta. Ali ele sentia que podia controlar tudo e varria a cidade, cada vez mais rápido, esperando que o vento e a velocidade levassem esses sentimentos de volta.

 

Mas dessa vez, nem a mais veloz das máquinas poderia tirar de cima de si a ansiedade que falar com Rey lhe trazia. Era quase ridículo que um rapaz daquele tamanho ficasse tão nervoso.

 

Ele fez o máximo possível para ser discreto. Mas a Harley não era necessariamente um modelo silencioso, principalmente nas mãos do rapaz. A luz amarelada de dentro do trailer estava translúcida por causa das cortinas. Ben olhou de relance e pôde ver a sombra da garota, passando de um lado para o outro. Uma música relativamente alta tocava, era de frequência agitada, com a bateria, a guitarra e o baixo em perfeita harmonia com a voz controlada do vocalista. Era reconfortante e um pouco dançante ao mesmo tempo, Ben pôde ver a sombra de Rey girar ao som e sua voz ficou mais alta à medida em que a garota acompanhava o tom perfeitamente enquanto Ben se aproximava. O rapaz poderia ficar por horas ali, mas provavelmente seria chamado de esquisito.

 

Suas batidas na porta foram firmes e tímidas, ele deu um passo para trás. Estava ficando mais frio, sua respiração aparecia na forma de uma leve fumaça branca na frente de seu rosto, e ele levou as mãos aos bolsos enquanto esperava.

 

— Ben? - disse a garota, deixando escapar um sorriso que não deixava de se alargar. - O que faz aqui?

 

O rapaz deu alguns passos para trás e ela o acompanhou, deixando a porta do trailer aberta, a luz amarela iluminando o beco levemente.

 

— Eu… - o rapaz abaixou a cabeça, apenas para levantá-la com um leve sorriso. - Já faz um tempo.

 

— Cortou seu cabelo - Rey apontou para o rapaz. - Tá mais arrumado.

 

— Tá esquisito, eu nunca devia ter feito isso - riu Ben, passando a mão no pescoço e conferindo novamente o corte.

 

— Eu gostei - Ela retribuiu o sorriso. - Destaca suas orelhas…

 

— Cala a boca - respondeu Ben, em tom de brincadeira.

 

Os dois riram. Perto dela, o rapaz quase se sentia como uma adolescente normal.

 

— Acho até estranho você aparecer aqui - disse ela, direta. - Na escola. Não foi às aulas, passava tão rápido nos corredores que eu nunca tive tempo de te parar. Eu diria que estava me evitando, mas você veio aqui...

 

— Não, eu…

 

— Não minta para mim, Ben Solo - pediu Rey, em um tom sério e um pouco suplicante. Ela estreitou os olhos e esperou uma resposta. - Por favor...

 

— Depois daquele dia, eu não sabia como encarar você - confessou o rapaz, esfregando as mãos uma na outra para espantar o frio repentino que sentia.

 

Rey soltou uma risada curta.

 

— Não foi nada de mais, Ben - respondeu a moça. - Eu disse que você poderia me procurar se precisasse e você procurou.

 

— Eu parecia uma criança chorona…

 

— Parecia alguém que precisava de ajuda - ela o cortou. - E ainda parece.

 

O rapaz abaixou o olhar, não era exatamente o assunto que gostaria de tocar. Qualquer coisa que remetesse à lembrança mais vaga de Ren merecia ser jogado no fundo de sua mente, numa gaveta esquecida que ele nunca gostaria de abrir.

 

— Foi seu aniversário ontem - afirmou Ben. Não tinha porque perguntar, ele já sabia a resposta.

 

— Como… - Rey pareceu constrangida ao perguntar.

 

— Rose postou. - o rapaz tirou o celular do bolso e navegou um pouco até encontrar a foto. Não foi preciso muito esforço, ele havia salvo o registro do sorriso mais brilhante que já vira.

 

— Olha, eu nem queria, foi o Poe, o Finn, as meninas - justificou-se Rey, sem saber muito bem o motivo. - Eu…

 

A moça não o encarava por muito tempo, como se temesse algum sinal de chateação no rosto do rapaz. Não tinha por que agir assim e forçou-se a manter o olhar firme no dele. Era ridículo, mas se tivessem lhe dado a escolha, Ben Solo seria a primeira pessoa que teria chamado.

 

— Seus amigos não gostam de mim e nem falam comigo, então não precisa ficar assim - riu o rapaz. - Eu também não viria, então…

 

— Não viria? - questionou Rey, intrigada. - Nem se eu tivesse chamado?

 

— Não gosto de ficar em um ambiente onde sinto que não sou bem-vindo.

 

— É o meu trailer, você será sempre bem-vindo aqui - respondeu ela. -  minha opinião é a única que importa.

 

— Isso é verdade… - disse Ben, em um murmúrio.

 

Era interessante como Rey era a única pessoa cuja opinião pesava mais para ele. Se sentia que a tinha ofendido, ele não dormia, passava horas remoendo aquilo. Se ela sorria para ele em aprovação, ele sentia uma necessidade imensa de repassar isso em sua mente pelos próximos dias. Céus, ele estava apaixonado. E sua mente já nem se importava em admitir isso, pelo menos para si mesmo. Para a garota, porém, ele já não achava tão simples, embora não tivesse muito a perder.

 

— Você parecia feliz - continuou o rapaz ao olhar para a foto em seu celular, dando um leve sorriso.

 

— Foi a melhor noite da minha vida, eu… - Ela começou, mas parou de repente e seus olhos brilharam, ela abriu um sorriso largo. - Espera aqui!

 

Rey não esperou uma resposta antes de entrar novamente no trailer, o rapaz a esperou por poucos minutos até ela surgir outra vez  e parar na sua frente segurando uma peça de roupa. Um vestido curto e rodado, Rey o segurava como uma criança que havia acabado de ganhar o melhor presente de natal. Ela estava transbordando de alegria.

 

— Os meninos me deram e… Olha só isso, Ben! - Rey colocou a peça sobre si e girou sobre o próprio eixo. - Eu não acredito que eles fizeram isso, eu só… Esse é o melhor presente que já ganhei!

 

Ben riu, animado com a empolgação que a garota demonstrava com uma simples peça de roupa. Ele era acostumado a basicamente renovar o guarda-roupa todo ano, nunca soube o que era realmente sentir frio e tinha tudo que queria ao alcance das mãos. Ganhava uma mesada generosa e podia focar nos estudos antes de realmente trabalhar, raramente tinha que economizar por muito tempo para comprar algo que queria.

 

A sensação que Rey tinha agora era algo novo, nunca experimentado por ele. Era felicidade e uma gratidão imensa por algo tão simples para ele. Algo que ele nunca tinha dado tanto valor. Ben tinha que admitir: cada detalhe no comportamento de Rey lhe ensinava algo novo, ao mesmo tempo que permitia o rapaz conhecê-la melhor. E eram esses detalhes que o encantavam.

 

— O que você tá olhando? - perguntou ela num tom desentendido, mas plenamente consciente do sorriso bobo no rosto do rapaz.

 

Ben se recompôs, seu rosto assumindo um tom mais avaermelhando conforme se dava conta de que devia estar parecendo um idiota olhando para Rey daquele jeito. Logo ajeitou a sua postura e, para a decepção de Rey, o leve sorriso sumiu e deu lugar a uma expressão neutra e um pouco desconcertada.

 

— Só olhando o seu vestido - respondeu o rapaz, olhando-a de cima a baixo de um jeito que fez Rey corar. - É lindo, quase me faz acreditar que Poe Dameron tem bom gosto.

 

Rey soltou um riso abafado.

 

— Foi a Rose que escolheu - respondeu ela, olhando novamente para o vestido.

 

— Agora faz sentido - assentiu o rapaz.- De qualquer forma, espero que combine.

 

— Com o quê? - perguntou  Rey, levantando os olhos para o rapaz.

 

Ben segurava uma pequena caixa em mãos, preta, parecia ser feita de veludo. O revestimento macio brilhava sob a luz do beco. Rey encarou a caixinha por alguns momentos, seus rosto em confusão, as sobrancelhas franzidas e de repente ela havia ficado estranhamente séria. Ben ficou nervoso, mordeu a pele de sua boca e forçou-se a dar um leve sorriso. O rapaz continuava com a caixa erguida, o seu braço ditando a distancia entre os dois.

 

— Feliz aniversário, Rey - disse o rapaz, com suavidade na voz.

 

Rey pegou a caixa, pequena diante das mãos de Ben, e a segurou. Ben pareceu prender a respiração nos poucos segundos antes da garota abrir seu presente.

 

Um presente simples, porém os olhos da garota não deixaram de brilhar. Um colar banhado em ouro descansava na pequena caixa, onde no meio dela jazia um pingente delicado em forma de borboleta, preso à corrente pelas pontas das asas. O pingente continha alguns detalhes em um tom azul quase brilhante. Rey encarou por alguns segundos e voltou o olhar para Ben, sem acreditar.

 

Ela não sabia muito bem o que esperar. Havia adorado, mas algo nela não permitiu que ela demonstrasse isso da mesma maneira de quando havia ganhado o vestido. Sua expressão ainda era confusa, apesar de serena.

 

— Se puder fingir que gostou, vai fazer o silêncio ficar um pouco melhor - disse Ben, ironicamente.

 

Rey se permitiu sorrir.

 

— Eu amei - respondeu a moça, em um sorriso suave. - Ben, eu… Você não…

 

Ben riu.

 

— De nada - respondeu ele. - Vamos ver como fica em você.

 

Antes que Rey pudesse ao menos pensar em concordar, Ben já havia pegado a caixa de suas mãos. O rapaz tirou a corrente delicadamente, era até estranho vê-lo tratar algo tão pequeno de forma tão serena com aquelas mãos, Rey pensou. A corrente era um pouco mais curta do que achava e, enquanto pensava em todos os aspectos daquele presente, tomou um susto quando sentiu o toque leve das mãos de Ben Solo em sua pele. O rapaz se afastou levemente com o pequeno pulo que ela deu.

 

— Eu posso? - perguntou ele, delicadamente.

 

Rey torceu para que ele não tivesse visto o rubor em suas bochechas. Com uma certa timidez, ela assentiu, sentindo o ar quente da respiração pesada do rapaz perto de seu rosto conforme ele se aproximava. Se ela estava nervosa, podia ter quase certeza de que Ben Solo estava mais.

 

Ela evitava encará-lo, enquanto as mãos de Ben procuravam ajustar o colar com delicadeza em seu pescoço. O pingente de borboleta ficou na altura de sua clavícula. Ela soltou a respiração pesadamente e olhou um pouco para cima, com a visão de Ben erguendo o queixo e a boca entreaberta em concentração, procurando o pequeno fecho do colar.

 

— Eu acho que… - Rey se apressou para ajudá-lo, levando as mãos para a própria nuca.

 

— Achei - interrompeu ele, fechando o colar com um clique.

 

Ben olhou para baixo, para o rosto de Rey que o olhava em concentração, um brilho diferente iluminava as íris esverdeadas. Suas mãos ainda se encontravam em sua nuca, e ela gentilmente continuou com as próprias mãos lá. O toque delicado dela deslizando sobre os nós dos dedos dele. O coração de Ben falhou uma batida conforme gentilmente retirava as mãos dali, apenas para segurar o rosto de Rey entre suas mãos.

 

Podiam sentir a respiração um do outro tão pesadamente, tão próximos. Ambos fecharam os olhos, como se aquele momento fosse um sonho. Não foi preciso muito para que seus lábios roçassem delicadamente um no outro, em expectativa, ainda incertos sobre quem daria o primeiro passo.  Rey podia sentir suas bochechas queimarem. O coração de Ben parecia que iria explodir dentro de seu peito. Não tinham mais ciência do que estava acontecendo ao seu redor, apenas a presença um do outro os aquecia.

 

Ben a segurou mais firmemente, buscando selar a pequena distância que ainda restava. Seus lábios encontraram os dela com uma eletricidade que ambos sentiram ao mesmo tempo. Ben buscou mover seus lábios, em busca de prolongar o momento, e seu rosto não escondeu a decepção quando Rey deu um pequeno passo para trás, parecendo assustada com a atitude. Ele parou, dando um passo cuidadoso para trás. O gesto, o rosto dela, a expressão, tudo estava quebrando seu coração em mil pedaços enquanto o rapaz se perguntava se havia feito algo de errado.

 

— Rey… - começou ele.

 

— Eu… - Rey começou, abaixando a cabeça e desviando o olhar. Ben ouviu sua voz trêmula.

 

Ele deu um passo à frente, ela se distanciou.

 

— Eu… tenho trabalho amanhã - respondeu ela rapidamente, encarando-o de uma maneira quase indiferente, mas Ben percebeu o leve brilho de lágrimas em seus olhos  - Eu… eu…

 

A garota não conseguia encontrar palavras para se expressar. Tudo parecia um bolo preso em sua garganta. Tinha tantas coisas que Rey queria dizer e explicar, mas algo no fundo de sua mente não permitia uma aproximação maior. Não era o momento. E Rey questionou se algum dia esse momento chegaria.

 

— Eu sei - Ben apenas concordou, a expressão de repente se fechando, a voz ficando mais dura, ou mais triste. Era um meio termo perturbador. Ele comprimiu os lábios antes de se despedir - Boa noite, Rey.

 

O jovem Solo gostaria de saber se Rey havia tentado chamá-lo, embora tivesse quase certeza disso. Ele ouviu um murmúrio interrompido quando ao se virar e começar a caminhar, mas logo pôde ouvir a porta do trailer bater atrás de si. Ainda a alguns metros de sua moto, ele deu um soco forte na parede. Apenas para se libertar da própria frustração, talvez até da vergonha ou tristeza, que sentia naquele momento.

 

Sua mão doeu, mas era o de menos. A sensação sufocante em seu peito doía ainda mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Só queria desejar pra vocês uma boa noite e que a volta da rotina possa ser suave e boa :D Me contem aí o que acharam, sabem que eu amo ler vocês! ♥
E antes que eu me esqueça, a Rey dessa fanfic com certeza escuta o álbum The New Abnormal do The Strokes
Até a próxima ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Be Mine" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.