Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 28
Capítulo XXVII


Notas iniciais do capítulo

Olá amores! Cheguei bem mais cedo com mais um capítulo para vocês, um bem light depois de tanta tensão, mas que também abre caminho para o que está pra vir pela frente! Ele está cheio de momentos entre Alana e Kambriel!!

Boa leitura!



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CAPÍTULO XXVII 

Em certo momento Alana simplesmente perdera a noção do tempo e nem mesmo mostrava interesse no mesmo, de pé e completamente sozinha na enorme sacada do quarto espaçoso daquele hotel, seus pensamentos se encontravam quase tão perturbados quanto seu corpo. Sua mente parecia disposta a reviver o que acontecera a uma hora atrás, tornando a lembrança e as imagens tão vivas que, por um segundo ela havia pensado estar revivendo aquele terror outra vez. Seus pensamentos estavam distantes de sua atual realidade, o olhar focava na cidade agitada de Las Vegas, mas a moça não estava realmente prestando muita atenção na imagem e nem mesmo se mostrava ligada à sua mente; era como um zumbi. Estava ali, mas apenas fisicamente. 

West piscou uma vez e novas imagens vieram em sua mente, todas muito vivas e recentes demais para que fossem esquecidas assim tão facilmente. E, lembrar-se dela a fez agarrar a barra de ferro que fazia o limite da sacada ser seguro, suas mãos se fecharam sobre o cilindro de ferro com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos, ao passo que todo seu corpo se tornou rijo e completamente ereto. Conforme as lembranças se tornavam cada vez mais claras, sua mente a levava de volta para o momento em que fora puxada violentamente, seu corpo ainda sentia os tantos toques e as garras a segurá-la, era uma sensação estranha; como se tivesse sido marcada ou algo assim. Também conseguia sentir o toque de Kambriel que, infelizmente não se sobressaía sobre os dos tantos demônios que a puxaram. 

Se frustrou. Estremeceu quando se deu conta, quando realmente percebera que a ameaça feita por Zarael era e fora tão real que a amedrontara como nunca antes. Alana então teve a concepção de que, seu envolvimento era ainda maior do que pensava, que tudo o que seu pai fizera em vida estava tendo influência em si; e principalmente, sem que essa fosse sua intenção, descobrira que sua mãe também fora arrastada para o inferno. Restava apenas saber o motivo.  

Pensar em sua mãe pela primeira vez sem que fosse como uma lembrança de morte ou do que seu pai lhe contou sobre ela causou em West uma reação diferente da qual já estava acostumada, antes apenas sentia um tipo de tristeza porque simplesmente não se recordava da mulher como gostaria. Contudo esse sentimento mudou quando soubera através de Eligus que ela estava no inferno, viva? Morta? Ela não sabia, mas de alguma forma acabara lá. Seu pai sabia sobre isso e por isso fora até o inferno. Era por isso que tinha demônios atrás dela? Porque sua mãe estava no inferno e seu pai tentou tirá-la de lá? Perguntas e mais perguntas, bufou.  

Meio minuto se passara quando Alana teve todos seus pensamentos trazidos à tona de uma só vez e nesse mesmo instante se viu forçada a reorganizá-los o mais rápido possível. Separou em sua mente o momento em que começou a ser arrastada pelo demônio cujo nome não diria nem mesmo em pensamento, tinha medo de que isso poderia trazê-lo de volta — mesmo que fosse uma ideia tão absurda e covarde — e também não pensaria demais em sua aparência monstruosa, deixaria ou pelo menos tentaria fazer com que esses dois pensamentos se perdessem em sua mente até serem esquecidos de vez. Focou apenas no que houve depois, quando estava caindo, na verdade, quando estava sendo puxada para baixo pelos demônios. Na visão que teve de Kambriel e de sua aparência.  

No primeiro momento, Alana West imaginava que estava apenas sonhando — como havia sonhando com aquele momento tantas vezes — e demorou para que sua mente realmente percebesse e compreendesse que, tudo o que acontecia, desde ser levada e puxada era uma realidade da qual não havia se preparado para enfrentar. Mas não fora nada disso o que a fizera pensar que era um sonho, de certa forma acostumara-se com os pesadelos constantes onde era atormentada e arrastada para um abismo escuro por uma besta, mesmo que tal pensamento parecesse estranho, havia certa familiaridade no ocorrido, mas não no que viu. Não em como viu Kambriel.  

Alana nunca fora muito sábia em assuntos celestiais, o que sabia era o que seu pai lhe contara e ensinou antes, então ela desconhecia sobre a essência dos anjos e demônios; no que acontecia quando um humano via a real aparência de alguém que vinha do inferno e do que acontecia quando via como um anjo realmente era. A moça tentou ignorar isso enquanto era levada de volta para o hotel, tentou não pensar nisso enquanto fazia sua mala para voltar para Grória e também quando o olhou. Fora fácil. Mas tudo caiu por terra no momento em que viu Eva chegar, sem saber o que acontecera em seu tempo fora e sem ter ideia do que ela viu.  

Olhar para a mulher trouxe esses pensamentos de volta e quando Alana percebeu, estava outra vez pensando nas duas imagens. Na do demônio e que era ele quem ela sempre viu em seus pesadelos e principalmente em Kambriel e na sua aparência. Piscou algumas vezes sentindo seus olhos arderem apenas de lembrar-se da forte luz que vinha de seu corpo, era como olhar diretamente para sol e ter toda a sua luminosidade lançada diretamente para seus olhos... E então tinha suas asas.  

Para a moça ver as duas cicatrizes em suas costas fora o suficiente para que ela acreditasse cem por cento em tudo o que passara até o momento e ela mentiria se dissesse que não tentou imaginar como as asas de Kambriel eram. Pesquisara na internet algumas imagens para que suas ideias tivessem algum tipo de fundamento bobo e ela pensou que tivesse conseguido imaginá-las, mas estava enganada. O que viu nas costas dele superava a ideia de qualquer desenho ou ideia que tivera antes. Se a luz que vinha do corpo do arcanjo era algo que feria seus olhos, a visão de suas asas a baterem forte doía a mente. 

Eram tão belas e... Tão vivas. Alana não conseguia descrevê-las com palavras humanas, mas tinha uma percepção porca de como imaginá-las realmente. Extensões brancas e luminosas completavam a imagem tão perfeita dele, elas não brilhavam como seu corpo, mas havia sim um tipo de luz que emanava de suas asas. Diferente do que imaginou não eram brancas como muitos desenhos e histórias gostavam de retratar, as asas de Kambriel eram grandes e largas — era impossível chutar um tamanho para elas —, sua cor era um tipo de dourado diferente do que estava acostumada a ver, era algo que beirava a um tom rico e único, ouro puro, talvez? Eram duras, percebera isso quando ele a puxou de encontro para seu corpo e a protegeu com suas asas. Duras e ao mesmo tempo tão macias e suaves, era estranho descrevê-las, pois Alana não conseguia encontrar as palavras certas para elas.  

Mas tinha certeza, eram reais.  

Ela tocou seus dedos, quando o abraçou as tocara sem perceber e conseguira senti-las contra a ponta de seus dedos. Firmes, suaves... Eram como tocar inúmeras penas e ao mesmo tempo não. Ainda conseguia sentir a texturas delas em seus dedos e talvez fora esse pensamento que a manteve distraída dos demais pensamentos por tanto tempo. A ideia de tentar tanto imaginá-las e finalmente tê-las tocado era... Alana sentiu sua mente doer como nunca. Levou ambas as mãos para seu rosto sentindo-se muito cansada, tomada por uma fadiga estranha e que jamais julgou possível de ser sentida. 

Ela pensou em dormir e sabia que iria conseguir isso. Mas também sabia que, no momento em que fechasse os olhos iria ser levada de volta para seu pesadelo; o mesmo que se tornou real. E esse era seu medo, que ele tentasse levá-la outra vez e nem voltasse mais. Aquele pensamento, aquela simples possibilidade a fez estremecer e como acontecera antes, Alana estava apertando pela segunda vez a barra de ferro. Lentamente ela fechou os olhos, afastando todos, dessa vez, todos os pensamentos de sua mente e quando percebeu, estava tentando prestar atenção na discussão alta e incomum entre Kambriel e Eva do lado de dentro do quarto de hotel.  

Apesar de ela não saber que língua estranha era aquela, ela já conseguia decifrar um pouco a entonação de vozes para ter certeza de que o assunto que estava sendo discutido entre eles se tratava sobre o que acontecera mais cedo e Baltazar. Alana também conseguia já separar as vozes, mesmo que em sua mente parecessem iguais, existia uma diferença aqui e ali que tornava fácil a tarefa de identificar quem estava falando.  

No momento, era Eva. A mulher parecia gritar, raivosa demais com as palavras ditas em uma língua desconhecida enquanto claramente enfrentava Kambriel. Alana se viu tentada a entrar na conversa, mas o que iria dizer?  

— Sim, eu quase fui arrastada para o inferno e agora, o que vamos fazer? — Seria isso o que perguntaria e talvez apenas isso. Suspirou, percebendo que, se ela não estava participando daquela conversa era porque existia um motivo para isso. Algo que ela não precisava saber ou ter conhecimento. Isso era bom ou ruim?  

Alana distraiu-se de seus pensamentos quando seus olhos se voltaram para a imagem da cidade durante aquela estranha e nada calma noite, nem mesmo a temperatura alta de Las Vegas parecia chamar sua atenção para algum tipo de pensamento de reclamação. Em meio a tantas luzes, prédios, letreiros em neon bastou que ela piscasse para que sentisse uma mudança brusca no ar, tornando difícil de respirar. Não demorou para que ela conseguisse identificar de onde ela reconhecia aquela sensação; de seus pesadelos constantes.  

Em um ato automático ela fechou os olhos com força e os abriu, esperando acordar, mas nada aconteceu. Não estava sonhando, sabia disso então por qual motivo tentou?  

— Você é minha — Aquela voz, a mesma voz que ouviu antes de ser arrastada. Ela ressoou em sua mente, tão alta. Foi fácil tomar a decisão de se afastar, Alana recuou meio passo antes de sentir algo segurar sua mão e puxá-la para frente com violência e então puxá-la para baixo.

Então viu o que tanto temia ver, aquela besta que sempre estivera presente em seus pesadelos e que vinha lhe atormentando desde então. Os olhos vermelhos e furiosos estavam fixos nela, trazendo consigo aquele medo agoniante de sempre. Alana sentiu que estava caindo, na realidade estava sendo puxada em direção a ele. 

Seu corpo então saltou da cama naquele típico susto ao despertar muito de repente. Não gritou, nem resmungou, Alana apenas acordou, seu corpo sacudindo a cama mais simples fazendo com que ela rangesse um pouco.  

Estava sonhando, pensou assustada com sua própria mente. Em como tudo pareceu tão real para ela, desde o cenário de Las Vegas durante a noite, a forma como seus pensamentos pareceram tão fixos e firmes em sua mente. Um sonho não era assim, tão real como foi.  

Era noite, observou olhando para o quarto. A iluminação do mesmo vinha de uma janela pequena onde a luz da lua entrava de forma simples, deixando apenas a parede a sua frente receber aquela fraca luz natural. O quarto onde estava era diferente, menor do que o hotel cinco estrelas e um pouco quente também, mas diferente do outro, parecia bem mais aconchegante. Alana levou a mão para o rosto, sentindo-se menos sonolenta de como gostaria e então a figura imóvel parada de frente para a janela chamou a sua atenção.  

— Kambriel. — Ela disse o nome do arcanjo tão baixo que imaginou que ele não a tivesse escutado e quando estava prestes a chamá-lo pela segunda vez ele se mexeu.  

O rapaz virou-se em sua direção no mesmo segundo em que seu nome fora dito por ela, sua figura sob a luz da lua era algo que ela faria questão de guardar em sua mente com vigor. Ele parecia ainda mais bonito do que realmente era — se isso fosse mesmo possível —, seu rosto perfeito parecia agora como daqueles anjos de gesso que sempre viu em fotos e fontes e, se ela não soubesse sobre quem ele realmente era, desconfiaria de que estava olhando para um anjo. Arcanjo, pensou ao corrigir-se. Ele se aproximou antes mesmo que ela conseguisse se mover ou pensar em fazer algo, sentou-se na beirada da cama tendo seu rosto parcialmente escondido pela escuridão da noite, ainda era possível vê-lo, mas não como antes.   

— O que foi? — Ele perguntou com clara preocupação em sua voz, correndo os olhos azuis por seu rosto à procura de algum tipo de sinal que indicasse que ela não estava bem. — Foi um pesadelo? 

Sua resposta seria um sim. Porém, Alana não tinha muita certeza do que sonhara a pouco, tudo fora tão real que ela não sabia se aquilo tratava-se de apenas um sonho ou de uma lembrança. Ela então negou lentamente.  

— Não... Eu... Não sei... — Olhou ao redor confusa, reparando na mudança drástica de cenário, de quarto; se perdendo em seus tantos pensamentos. — Onde estamos?  

— Em um hotel barato de estrada, paramos no meio do caminho para que pudéssemos descansar um pouco. — Explicou com o cenho levemente franzido, mostrando tenso. 

— Descansar?  

— Sim, estamos voltando para Grória. — Disse, como se aquilo fosse uma constatação óbvia demais e realmente era. Mas não para Alana que, simplesmente não se recordava do que acontecera após ele tirá-la das mãos daqueles demônios. Ele notou isso, a confusão em seu olhar e em sua mente. — Depois do... Ocorrido, voltamos para o hotel, fizemos a mala e esperamos por Eva. Você acabou dormindo enquanto esperávamos, pensei que só acordaria no dia seguinte.  

Ela olhou de volta para Kambriel e piscou surpresa, ela sabia que tinham voltado para o hotel e feito suas malas, mas simplesmente não conseguia lembrar-se disso com tanta facilidade e clareza. Em sua mente, sua realidade era a que sonhara, estava na sacada do quarto de hotel, pensando em tudo o que acontecera, especialmente no momento em que fora puxada para baixo. Para ela, fora isso o que aconteceu.  

— É normal que tenha dormindo por tanto tempo, — O arcanjo diz, respondendo a uma pergunta que passou em sua mente como se tivesse conseguido ler seus pensamentos. Sim, era algo normal de todo ser humano, mas não para Alana. Ela nunca dormira tanto. — Seu corpo e sua mente estão cansados depois do que houve, ficaria preocupado se não acabasse dormindo. 

Alana sentiu quando sua testa se franziu de maneira pensativa, ela se perguntou sobre Eva e onde a mulher estaria, mas ficou óbvio sua resposta; ela não dormiria no mesmo ambiente que uma humana por motivos óbvios. Não demorou para que novas pergunta viessem em sua mente, mas todas foram deixadas de lado, ela ainda se sentia cansada demais para começar a atormentar Kambriel com todas as suas dúvidas e imaginou que era tarde da noite também. Mas algo a incomodou, o fato de ter encontrado acordado, ele não iria dormir? 

— Você precisa dormir — Ela o avisou num tom mais natural, novamente num tom baixo demais. Sua fala tirou dele um riso curto, ela sempre parecia estar a lembrá-lo sobre cuidar de seu corpo humano.  

— Eu vou ficar bem, Alana. — Respondeu ele como se quisesse tranquilizá-la. Alana sabia o motivo de ele estar acordado e isso pareceu ser um peso sobre seus ombros, ela não queria ser responsável pelo que poderia acontecer com o corpo humano dele. Entendia que sua natureza o forçava a ser protetor, ele mesmo dissera isso a ela na noite em que se beijaram, mas isso não anulava que Kambriel estava com um corpo humano e frágil, permitir que ele não dormisse apenas para que ele ficasse de olho nela era egoísmo de sua parte.  

— Eu sei que vai. — Ela concordou, contradizendo seus próprios pensamentos com aquela resposta. Realmente acreditava que sim e também se preocupava com ele, mas o medo que sentia escondido dentro de seu ser era... Quase sufocante. Lembrava-se de ter sentido esse mesmo medo no sonho/lembrança de dormir e nunca mais voltar. E isso influenciou e muito em sua resposta. — É só que não gosto de pensar que você ficará de tocaia durante toda a noite por minha causa.  

— Eu não me importo nem um pouco de fazer isso, sabe que a sua segurança é importante. E além disso, é parte de quem sou. — Respondeu muito calmamente, seus lábios se moveram, parecendo formar um sorriso leve, mas ela não tinha muita certeza disso. — Eu vou te deixar dormir, mais um pouco. Vamos continuar a viagem logo pela manhã temos um longo caminho pela frente.  

Disse ele, também em um tom de voz baixo.  

— Ficarei em alerta durante a noite, Lucius tentou uma vez e não duvido que ele tente fazer o que fez uma segunda vez.  

Kambriel estava prestes a se levantar e Alana percebendo isso, que teria mesmo de fechar os olhos e tentar dormir sentiu-se assustada outra vez; tomada pelo pavor que preencheu seu corpo horas atrás. Quando estava sendo arrastada.  

— Espera! — West agarrou a mão dele num ato automático e sem pensar direito. O arcanjo estava já de pé ao lado da cama e parou no mesmo segundo quando ela o segurou, apesar do ato assustado havia doçura em seu toque. — Você... — Ela começou a dizer, imaginando como seu pedido poderia acabar sendo interpretado por ele. — Você poderia ficar comigo até eu voltar a dormir?  

Alana imaginava que seu pedido poderia estar ultrapassando todo e qualquer limite que tenha sido estabelecido por eles mesmos durante a estranha amizade que formou-se entre eles, Kambriel poderia entender aquilo como algo malicioso ou provido de uma segunda intenção, mas isso não aconteceu. E nem mesmo aconteceria. Ela sabia disso. Demorou alguns segundos, mas ela viu quando os lábios do rapaz esticaram-se e esboçaram um sorriso muito simples e  compreensivo; ele entendera seu pedido perfeitamente. 

Kambriel voltou para perto dela, Alana lhe deu espaço e ele sentou-se ao seu lado. Os corpos próximos demais do outro, seus ombros estavam se tocando muito levemente. Com certa timidez, West se acomodou melhor ao lado dele e ficou em silêncio, olhando para suas próprias mãos enquanto ele parecia fazer o mesmo naquele momento. Internamente ela queria que o grande elefante no meio da sala não fosse a questão do demônio ter tentado levá-la ao inferno, até porque ela queria poder conversar com ele sobre o beijo. Mas esse era um luxo que não poderia exigir no momento; ao menos não enquanto estivessem tendo que lidar com aquele problema e por esse mesmo motivo preferiu calar-se.  

Olhou brevemente para as mãos dele, os dedos longos e firmes pareciam apertar a cocha que ela usava para cobrir-se como se ele estivesse tenso com alguma situação, mas ele nada disse durante um longo tempo.  

— Eva acha que seria mais seguro se você passasse alguns dias com ela, até que eu consiga resolver a situação em Grória. — A voz de Kambriel era baixa e mesmo assim conseguiu atrair a atenção de Alana, ela moveu o rosto e o olhou. A testa estava franzida.  

— Ficar com... Ela? — Questionou hesitante, seus olhos levemente sonolentos, mas em alerta com a fala dita pelo rapaz. — Acha que é uma boa ideia?  

— Você não?  

— Bem, ela não odeia humanos? — Perguntou outra vez com o lembrete breve, seus lábios estavam levemente torcidos num bico simples.  

— Bem, essa ideia foi totalmente dela, acho que esse ódio não está mais direcionado a você no momento. — O rapaz respondeu de maneira leve e positiva, o canto de sua boca pareceu se esticar num sorriso muito fraco. — Não será por muitos dias, só até que tudo o que há em Grória pare de vez e até resolvermos essa questão de você estar sendo perseguida por Lucius.  

Alana assentiu lentamente, a ideia de ficar com Eva lhe soava um tanto estranha, mas se era para sua segurança, então a aceitaria.  

— Depois que eu resolver esses ataques, se quiser é claro, posso ajudá-la sobre o assunto de seus pais e o que o inferno quer com você. — Voltou a dizer, seguindo com o mesmo tom baixo, West rapidamente desviou o rosto do dele, encarando a parede pouco iluminada com a luz do luar. Ficou tensa ao recordar-se daquilo e era bem provável que ele percebera isso. — Imagino que se um demônio como ele está tentando levá-la há um motivo e vamos descobrir o que é!  

— Kam... — Alana diz seu nome, suspirando alto ao fazê-lo. — Não precisa se preocupar sobre o que houve com meus pais, é assunto meu, não quero que se incomode com mais um problema.  

— Eu sei disso, — Diz, ela teve a leve impressão de que ele lhe deu um empurrão leve com o ombro, mas não tinha muita certeza disso. — Mas eu vi como ficou quando Baltazar tocou nesse assunto, isso de alguma forma a desestabilizou e... 

— E eu acabei estragando tudo. — Ela o interrompeu, completando a frase por ele.  

— Claro que não! — Negou rápido. — Baltazar usa até assuntos simples para desestabilizar alguém e foi isso o que aconteceu, ele fez isso conosco e eu deveria ter me preparado para algo daquele tipo.  

— Você disse que eu deveria ser hostil com ele, mas quando ele perguntou da minha mãe e logo em seguida colocou meu pai no assunto também eu... — Ela fez uma pausa demorada, a lembrança daquela conversa era fresca em sua mente e não trouxe uma sensação boa, pois recordou-se logo de cara de tudo o que aconteceu em seguida. — Eu senti que perdi o controle do que nem sabia que tinha.  

West demorou para ver quando a mão de Kambriel encontrou a sua e a segurou, seus dedos se entrelaçaram num tipo diferente de parceria. O toque, mesmo que algo simples e amigável a fez estremecer levemente, seu corpo rapidamente foi dominado por uma sensação agradável.  

— Como eu disse, não foi sua culpa. — Repetiu o que dissera antes, seu rosto estava mais próximo do de Alana e ela também não percebera isso logo de cara. — E saiba que eu vou ajudá-la com isso, vamos saber o que houve para que sua mãe esteja no inferno e vou cuidar para que você não seja levada outra vez. Eu prometo. 

A promessa veio seguida de um aperto forte entre suas mãos, a intensidade daquele toque trouxe para ela uma certeza reconfortante. Realmente tinha muitos motivos para não ter contado a ele sobre sua mãe e seu pai, mas admitia que iria fazer mais avanços se tivesse sua ajuda e agradecia por isso. Alana West assentiu levemente outra vez e virou o rosto para olhá-lo, esticou os lábios em um sorriso fraco e recebera uma resposta semelhante dele. Suas mãos ainda estavam unidas, mas agora o silêncio entre eles prevalecia, até momentos atrás Alana sentia o corpo sonolento, mas agora ela não via muita necessidade em fechar os olhos e dormir, na verdade ela queria poder olhar por mais tempo para Kambriel. Porque de repente, existia essa impossibilidade de parar de olhá-lo.  

— Você precisa dormir, Alana. — Ele sussurrou ao lembrá-la do real motivo para que ela tenha pedido que ele ficasse ali com ela.  

— É, eu sei. — Ela soltou uma risada curta demais pelo nariz e assentiu. Alana ainda queria conversar com ele, falar sobre o tão evitado beijo, ela não deixou de pensar que talvez, esse assunto não tenha uma continuidade e pensar em tal possibilidade causou uma estranheza em seu interior. — Eu vou.  

Como se quisesse provar a ele que estava dizendo a verdade, Alana arrumou-se melhor na cama dando ao arcanjo mais espaço também, de modo que ficassem ambos confortáveis. Ela puxou a coberta fina que parecia ter sido oferecida pelo hotel aonde estavam hospedados durante aquela noite e a puxou, jogando por cima das pernas dele também. West percebeu como estava sendo difícil a tarefa tão simples de deitar e dormir, havia pedido para que ele ficasse com ela ali porque sabia que iria se sentir mais relaxada e segura com ele ao seu lado, mas estava sendo quase impossível de simplesmente deitar e fechar os olhos.  

— Boa noite Kam. — Ela o olhou ao falar e travou. Na verdade, sentiu todo seu corpo travar quando notou que ele também tinha os olhos fixos nela; mal sabendo que o arcanjo acompanhou cada movimento que ela fizera. Alana sentiu o rosto queimar.  

Kambriel não respondeu logo de cara, sua primeira resposta foi levar a mão para a face da moça e tocar sua pele com a palma de sua mão quente, Alana estranhou a atitude, mas então começou a entender o que estava acontecendo ali. Ela não se moveu, apenas fechou os olhos e deixou ser invadida pela calmaria e paz que vinha do toque dele; o truque de anjo. Pensou com um leve riso exibido em seus lábios antes tensos. Alana suspirou alto e abriu os olhos, ele ainda tinha a mão sobre seu rosto e ela nem queria que a afastasse, se pudesse, continuaria daquele mesmo jeito durante o restante da noite.  

Incerta do que poderia acontecer, ela levou a própria mão para cobrir a dele em seu rosto e no momento em que ambas as mãos se encontraram, eles se entreolharam em um silêncio absoluto. Os olhos de Kambriel estavam agora tão fixos em seu rosto que a queimação que sentiu dominá-lo antes nem pareceu mais um incômodo para ela, esse não era o real problema e sim o coração que passou a bater rápido contra seu peito. Havia ali uma expectativa estranha, ambos parados se encarando como se esperassem que algo viesse a acontecer.  

— Kambriel... — Ela o chamou, mas parou logo em seguida, se dando conta de que não sabia o que iria dizer naquele momento porque em seu interior aconteceria uma verdadeira bagunça. As palavras escaparam de sua boca e ela se viu completamente sem palavras. Parecia algo clichê, mas era o único sentimento que conseguia descrever o que sentia naquele momento. Hesitou e então sentiu o corpo tremer. — Eu...  

Sua mente mostrou-se uma grande traidora, levou apenas um segundo para que centenas de cenas do que aconteceu horas atrás viessem à tona; todas muito vividas e claras. Um lembrete ruim e assustador. Percebendo seu medo, ele olhou-a preocupado e nem pensou duas vezes quando a puxou ao seu encontro.  

— Shhh... — Sussurrou ele, a arrumando melhor. Kambriel a deitou de frente para ele, deixou um braço abaixo de sua cabeça para que ela usasse como apoio e a outra a envolveu em um abraço firme.  

— Eu sei que tenho que dormir, mas — Ela gaguejou quando começou a falar, apenas a menção de dizer o que se passava em sua mente parecia assombrá-la. — Ainda tenho a sensação de que ele vai voltar a qualquer momento e vai me levar de vez.  

O abraço que ela recebia tornou-se mais firme, era como se ele estivesse a apertando, mas isso não era algo ruim.  

— Ele não vai. — Respondeu certo. Os lábios estavam próximos do topo de sua cabeça. — E mesmo que ele tente fazer isso novamente, jamais vou permitir que ele obtenha sucesso.  

Ela uniu os lábios com força e sentiu-se mais segura, estava relaxada o suficiente para ter uma boa noite de sono, mas o que parecia lhe atormentar era a incerteza do que aconteceria se Lucius retornasse. Ela não sabia o que esperar dele, teve apenas um vislumbre leve de sua fúria e seu corpo ainda sentia as garras em seu corpo, o puxão que ganhou quando ele começou a arrastá-la. E aquele medo real de quase, quase ter sido levada ao inferno enquanto via de perto Kambriel tentar e lutar para pegá-la.  

Alana pensou em sua mãe e no que provavelmente aconteceu para que ela estivesse no inferno, também fora arrastada por um demônio? Baltazar lhe dissera que teria o mesmo destino de sua mãe — seria lançada ao inferno — ou o mesmo de seu pai — seria morta —, qualquer que fosse seu destino, ambos lhe preocupavam. Pois ambos eram destinos assustadores.  

— Acha que foi isso o que aconteceu com ela? Algum demônio a arrastou também? — Sua pergunta era mais um pensamento para si e, ela não percebeu que a dissera em voz alta.  

— Vamos descobrir e, tirá-la de lá. — Assegurou, a certeza em sua voz foi o bastante para que ela depositasse toda a sua confiança nele. E West bem sabia que Kambriel cumpriria com sua palavra.  

Fez-se silêncio mais uma vez entre eles, Alana ainda tinha muito o que dizer, mas bem sabia que isso apenas traria para sua mente mais preocupações e, ela decidiu nada dizer. À medida que aquele abraço de Kambriel se prolongava, toda aquela sensação preocupante e temerosa parecia se afastar de si, ao ponto de ela sentir-se bem mais segura e confiante também.  

Fechou os olhos, aconchegando-se mais nele, sentindo o calor que emanava de seu corpo aquecê-la e aos poucos, ela foi perdendo a consciência até finalmente dormir.  

 

 


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Notas finais do capítulo

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