Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 15
Capítulo XIV


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores! Capítulo novinhos para vocês e estamos finalmente caminhando para tentar resolver o mistério que está rondando por aqui.

Boa leitura!



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CAPÍTULO XIV 

Alana já não fazia mais ideia do tempo em que estava dentro daquele carro esperando pelo retorno de Kambriel e nesse meio tempo, não pôde deixar de imaginar em todas as possibilidades que poderiam estar acontecendo dentro da loja; imaginou desde uma conversa calma e completamente amigável até uma briga feia entre os dois. Muitas coisas aconteciam conforme tentava pensar no que se desenrolava lá dentro, mas nenhum dos pensamentos que tomaram conta de sua mente era sobre ele estar voltando. 

O tempo sozinha acabou sendo até que favorável para ela de uma maneira estranha e inesperada, conseguiu pensar com mais clareza em todos os acontecimentos dos últimos dias e nas decisões que tomara até aquele momento. Estava se envolvendo em um tipo de assunto que não lhe dizia respeito algum e insistiu para fazer parte de tal loucura certa de que poderia ajudar, mesmo que o único tipo de ajuda que tinha a oferecer era apenas de maneira intelectual... Ou talvez nem isso. Alana tinha como oferta de ajuda seu conhecimento na cidade e a desculpa de ter sido atacada duas vezes por um demônio, o que sabia sobre o mundo religioso era apenas o que seu pai lhe ensinou ainda em vida e mesmo assim não era algo muito surpreendente. Até porque, se Kambriel fosse mesmo um arcanjo, a pessoa com um conhecimento mais amplo e mil vezes melhor era ele.  

No que mais eu poderia vir a ser útil para ele? Pensou sozinha, percebendo que sua pergunta tinha uma resposta.  

A verdade era que, ela não se sentia muito segura de ficar sozinha depois de tudo o que houve e agradeceu quando Thomas, seu chefe, ligou mais cedo naquele mesmo dia dando a ela mais uma semana de folga após saber sobre Vivian Glesser e o pastor Jeffrey. Mesmo que existisse nela uma grande parte que queria voltar a sua rotina comum, o medo do que poderia acontecer caso retornasse aos seus dias normais era o fator que a impedia de tomar tal decisão.  

Dissera a si mesma para acreditar nas palavras de Kambriel quanto a sua real natureza, fizera poucas perguntas — ainda que estas fossem muitas — e evitou tocar demais nesse assunto durante a curta conversa até a loja. Pensar que ele poderia estar de fato lhe dizendo a verdade a fez sentir-se mais segura; aprendeu quando crianças que anjos eram protetores dos humanos e, por ele ser um tipo de anjo ele poderia cuidar dela durante esse tempo juntos. Era uma decisão egoísta de sua parte? Sim. Ela sabia disso, queria que a cidade estivesse segura novamente, mas prezava por sua própria segurança também e, aparentemente tinha demônios interessados nela, o que mais poderia fazer se não pedir pela proteção dele?  

Presenciou o caso acontecer duas vezes e por muito pouco não fora atacada uma segunda vez também, se Kambriel não tivesse intervindo poderia nem estar viva para contar aquela história maluca. Estava reagindo de acordo com o que acontecia, como qualquer outra pessoa em seu lugar faria.  

Ele poderia estar mentindo, como também poderia estar dizendo a verdade e enquanto essa verdade não aparecesse de fato, acreditaria no que parecia ajudá-la; Kambriel era sim um arcanjo e estaria segura enquanto estivesse perto dele.  

Impaciente e sem qualquer tipo de resposta do que estaria acontecendo, Alana olha para o celular e se assustou quando viu que haviam um pouco mais se seis mensagens de Kelory e quatro chamadas perdidas; as quais ela decidiu deixar de lado por um tempo. Mandaria uma mensagem mais tarde para a amiga, dando a ela alguma notícia e a tranquilizando. Seus dedos batucaram o volante enquanto ela tentava decidir o que faria a seguir, poderia sair do carro e entrar, como também poderia continuar ali, esperando por ele.  

— Dane-se. — Murmurou para si mesma, tomando a decisão de sair do carro. Kambriel lhe dissera para esperar, pois essa amiga dele Eva tinha um tipo de intolerância para com os humanos, algo que ela não compreendeu muito bem. Olhou para a porta da entrada da loja, não conseguindo ter uma visão muito boa de onde estava, só conseguia ver uma bagunça de imagens que se misturavam formando uma imagem sem muito sentido de como era o interior daquela loja.  

Incerta se ela realmente deveria prosseguir, a moça caminhou em direção a porta da entrada dando passos curtos enquanto usava a curta caminhada para pensar melhor no que iria fazer. Parou de frente para a porta entreaberta da loja, sentindo um cheiro conhecido vindo de dentro. Enxofre.  

O odor estava fraco, não o sentia com a mesma intensidade que já o sentiu antes, mas isso fora o suficiente para fazê-la recuar e se afastar. A mão que antes estava pronta para empurrar a porta também recuou e Alana continuou parada ali na frente, se perguntando se Kambriel estava sentindo aquele cheiro enquanto estava ali dentro ou se isso era apenas um tipo de peça estranha que seu subconsciente estava lhe pregando. Qualquer que fosse a resposta, West decidiu não tê-la.  

Ao menos não enquanto estivesse sentindo aquele cheiro.  

Alana então retorna para seu carro, mas não entrou. Se apoiou no próprio veículo olhando para a pequena brecha deixada, a tentação e a curiosidade de avançar e entrar parecia ser predominante em seu corpo e, unindo a falta de noção do tempo de espera fazia com que a decisão se tornasse mais simples para ser tomada. Munida do que parecia já fazer parte de sua personalidade, Alana novamente decidiu deixar a hesitação quanto ao cheiro de enxofre lhe afetar e avançou mais uma vez, estava a poucos passos de chegar à porta quando a mesma foi empurrada, revelando a figura alta e bela de Kambriel e logo atrás dele uma mulher uns anos mais velha com uma aparência até que comum.  

A desconhecida imediatamente deixou seu olhar recair sobre a jovem parada do lado de fora da loja, Alana recuou meio passo quando percebeu o olhar analisador e firme dela sobre si e a encarou de volta também e conseguiu perceber que seu olhar parecia um tanto incomodado com sua presença. Eva, pensou. A intolerante com humanos. Seria ela um anjo também?  

— Alana essa é Eva, ela vai nos ajudar. — Kambriel apresentou a mulher com um gesto simples, alternando seu olhar entre elas. Ficando um pouco mais focado na mulher ao seu lado quando percebeu uma leve mudança em sua postura.  

Eva não parecia muito diferente dos humanos, para Alana era como olhar para mais uma pessoa comum que viviam em Grória. Suas roupas eram simples, nada muito extravagante ou fora do normal e o mesmo podia ser dito por sua aparência. Era apenas uma pessoa ali na sua frente, com dois olhos, uma boca, um nariz... Se fosse destacar algum detalhe em Eva, seria seu cabelo longo e incrivelmente grisalho, onde existia apenas uma única mecha escura dando cor ao mesmo. Isso chamou a sua atenção, a mulher não aparentava ser tão mais velha assim, não daria mais do que trinta e tantos anos a ela e, o cabelo completamente grisalho chamava muito a sua atenção. 

— É um prazer. — Ela dissera com um sorriso claramente forçado. O incômodo que pareceu dominar o corpo da mulher no segundo em que a moça foi apresentada foi algo que Alana conseguiu enxergar com muita clareza e nesse momento ela teve uma leve percepção que essa intolerância com os humanos não era uma brincadeira ou algo figurativo; era mesmo verdade e ficou claro na forma como Eva a encarava.  

Sem jeito, West desviou seu olhar dela durante um tempo e mesmo assim continuou a sentir o peso do olhar da mulher sobre si, ainda firme e intenso. A sensação que tinha com ela a lhe olhar era bem diferente do que sentia quando era Kambriel a ter seus olhos azuis fixos sobre si, mesmo que não fosse algo que gerasse algum tipo de desconforto, era sim uma sensação estranha.  

— Kambriel me disse que seu pai era o pastor daqui antes de falecer, que ele também viu uma dessas mortes acontecerem bem de perto e que você foi atacada... Praticamente duas vezes, certo? — Eva perguntou de maneira muito direta e Alana imediatamente volta seu olhar em sua direção, balançando a cabeça em sinal positivo. — Ótimo, vamos começar desse ponto.  

A West mais nova sentiu quando suas duas sobrancelhas se uniram durante breves segundos e voltaram ao normal, seu olhar nesse instante se alternou entre a mulher que falava e o rapaz alto calado ao seu lado. Ela se perguntou sobre o que foi dito na conversa que tiveram antes de sair, pois Eva parecia mais certa do que deveria fazer sobre o assunto dos ataques.  

— Ainda tem as coisas de seu pai? Ele era pastor então obviamente ele estava sempre escrevendo alguma coisa, vamos precisar ver tudo. — A mulher continua a falar da mesma maneira direta de antes. Percebera que a mulher parecia sempre querer agir assim, rápido.

A jovem vasculhou em sua mente tudo o que guardou nas caixas de seu pai quando começou a empacotar tudo o que pertencia ao homem após seu falecimento, lembrava-se de ter ficado quase dois dias apenas para guardar tudo nas caixas, roupas, objetos pessoais, seus livros... Muitos cadernos. Alana não sabia a quantidade exata, mas lembrava-se de ter feito duas caixas para os livros e cadernos de seu pai.  

— É, eu ainda tenho as coisas dele, mas por que precisa delas? — Perguntou, tentando olhar para a mulher sem sentir-se intimidada pela mesma. Estava um pouco incomodada com isso, se realmente existisse uma necessidade de eles verem as coisas de Jacob, isso significaria que Alana teria de mexer nas caixas; algo que ela vinha evitando fazer desde que as colocou em sua garagem.  

Mexer nas coisas de seu pai implicava diretamente com o seu emocional, pois sabia que isso faria com que muitas lembranças fossem trazidas de volta e, a jovem não estava muito certa se estava realmente pronta para revivê-las outra vez.  

— Eva acredita que há uma grande possibilidade que seu pai sabia muito mais do que aparentava. — É Kambriel quem responde a pergunta feita logo após soltar um suspiro baixo de seus lábios e isso é o suficiente para deixá-la cismada, pois isso era um detalhe que ela ainda desconhecia. Seu pai lhe dissera sobre a morte, omitiu muito sobre o assunto, apenas dissera que vira acontecer e nada além.  

Se houvesse uma possibilidade de ele saber mais do que dissera, seria uma descoberta para Alana West também.   

— Isso poderia explicar o motivo de ter demônios querendo te atacar, humanos terem qualquer tipo de conhecimento a mais sobre o mundo espiritual é algo que todos tentam evitar, além de chamar a atenção dos dois lados para si e não de uma maneira positiva. — A forma como a complementação da resposta dada por Kambriel é dita por Eva faz com que Alana pense sobre cada palavra dita, desde na forma como ela arqueou uma sobrancelha ao mencionar que os humanos não poderiam saber sobre o mundo espiritual ao tom de voz usado. — Por isso precisamos ver tudo o que ele tinha, seja livros, agendas, cadernos, o que servia pra ele escrever. É bem provável que ele registrou esse caso e isso seria uma pista e tanto. 

— Mas só se você concordar em olharmos as coisas de seu pai. — O rapaz diz, olhando-a com intensidade, como se pedisse por sua permissão. A moça assente com lentidão para as duas falas, mostrando que entendera o primeiro recado dado por Eva sobre os humanos estarem cientes sobre o mundo espiritual como ela dissera afinal, estava ciente sobre aonde se metera e de que tratava-se de algo grande, mas não negaria em dizer que as palavras de Eva a deixaram pensativa. E muito. 

E também assentiu para dar o aval que eles queriam para que pudessem mexer nas coisas de seu pai. Se houvesse uma possibilidade positiva que tudo o que seu pai tinha em seus vários cadernos, livros e estudos pudesse servir de ajuda para terminar de vez com que aquele caos, ela permitiria que eles procurassem.

Mesmo que isso resultasse em mexer em uma ferida que não havia sido curada por completo ainda. 

●●●

Alana West ainda não sabia quem era Eva realmente, um anjo ou apenas uma amiga humana de Kambriel, de qualquer forma, a presença da mulher em sua casa era também algo marcante apesar do cheiro estranhamente peculiar que vinha dela; obviamente tê-la ali não era o mesmo quando apenas Kambriel estivera em sua casa, algo bom e tão agradável. O que sentia com a mulher em sua casa era um sentimento estranho de um tipo de incômodo nunca antes sentido.

Ainda que não fizesse muito sentido para ela, Alana preferiu ignorar a sensação e se focar no que estavam prestes a fazer naquele momento.   

As caixas com todos os pertences de seu pai estavam empilhadas uma sobre a outra num canto esquecido de sua garagem, longe o suficiente de seu olhar constante e ao mesmo tempo próximo demais dela. Como estava claro o que eles queriam com as coisas de Jacob West, a morena se direcionou para as duas caixas marcadas com livros, cadernos e anotações, as letras grandes e escuras feitas para que ela conseguisse identificar o que daria para a caridade e o que pensaria em deixar guardado. Kambriel a ajudou com a primeira caixa, a tirou de cima da segunda e a levou para a mesa de madeira do outro lado, esperando por Alana para que as abrissem.   

Seu coração batia num ritmo diferente, estava sentindo-se ansiosa por estar prestes a mexer nas coisas do homem novamente depois de um tempo e mesmo que estivesse dizendo para si mesma que era por uma boa razão, parte de si mesma relutava em tocar ou simplesmente olhar qualquer um dos pertences.   

Suas mãos se apertaram na caixa antes de deixá-la sobre a mesa e quando finalmente a soltou, pôde sentir a presença de Eva ao seu lado, a mulher parecia evitar tentar tocá-la ao máximo e percebendo isso, deu a ela um pouco mais de espaço. Pegou a faca e cortou o lacre que mantinha a caixa fechada, repetiu a ação com a segunda caixa e nesse momento foi como se diversas lembranças estivessem sendo jogadas na sua mente.   

— São todas as coisas dele, certo? — A voz de Eva conseguiu trazê-la de volta e mentalmente Alana agradeceu por isso porque sabia que estava em um momento delicado. 

— Sim, separei todos os livros que ele tinha, cadernos, pastas, papéis... Estão tudo nas duas caixas. — Responde e ela vê quando a mulher assente e começa a mexer nas coisas sem um aviso, já Kambriel estava parado encarando para o conteúdo da caixa na sua frente sem nada fazer.   

A moça o olha com as sobrancelhas unidas, como se perguntasse a ele o que ele estava esperando para começar a procurar o que queria. O rapaz a olhou de volta e nada disse, apenas fez um gesto simples com a cabeça como se pedisse que ela mexesse em algo e Alana o fez. Enfiou uma mão na caixa e retirou de dentro dela uma pasta antiga de seu pai, a mesma estava muito desgastada por ter sido usada por tanto tempo, sua capa era marrom e a cor já estava desbotada, as bordas amassadas e alguns dos cantos com pequenos rasgos.   

Como se tivesse ganhado o aval que precisava para começar, Kambriel imitou a ação de West e pegou um caderno do homem, na capa a palavra estudos também estava já gasta, o que deixava claro que tratava-se de um de seus antigos cadernos. Curioso, o rapaz começou a folheá-lo sem pressa e Alana passou a fazer o mesmo, abriu a pasta devagar revelando seu conteúdo. Muitos papéis com escritos e rabiscos, a grande maioria não fazia nenhum sentido para ela.   

Mesmo que ela não estivesse prestando muita atenção no que continha nos papéis que estava tirando da pasta que pegou, ela estava mais atenta ao que Eva e Kambriel retiravam da caixa, enquanto dele havia um certo tipo de cuidado excessivo, dela havia pressa; como se quisesse terminar aquilo o mais rápido possível. O que Alana viu como algo positivo, pois já começara a sentir-se incomodada por estar mexendo nas coisas de seu pai.   

— Quem é ela? — Eva perguntou de repente, atraindo a atenção dos dois para si. Ela tinha em mãos uma moldura pequena com uma foto pouco antiga de Alana com seus dez anos abraçada com sua mãe. Ao olhar para a mulher com quem estava abraçada, sentiu como se estivesse vendo sua versão futura, seu pai costumava lembrá-la de sua semelhança com sua mãe e isso não era um exagero como sempre imaginou, Alana realmente se parecia com a mãe em muitos aspectos físicos, mas puxara boa parte de sua personalidade de seu pai. 

West se lembrava com perfeição daquela foto e de cada detalhe existente nela, pois fora ela quem a colocou na moldura anos atrás e também por ter uma igual guardada em seu quarto; também numa moldura. 

— É a minha mãe. — Deu com os ombros, era estranho comparar os dois sentimentos que tinha por seus pais. Por Jacob sentia uma saudade quase inexplicável, um aperto no peito sempre que acabava se recordando do homem e de tudo o que ele representava; como pai, amigo e pastor. Já com sua mãe, Lena West, o que sentia era bem diferente.  

Não se recordava muito da mulher, aquela era a última foto que tirou com ela antes de ela simplesmente desaparecer de sua vida; como seu pai lhe contou. Alana não tinha tantas lembranças com sua mãe e pouco se lembrava dela, o que tinha eram algumas fotos guardadas em outras caixas e mantidas longe de seu alcance por motivos óbvios e o que sabia da mulher era aquilo que seu pai lhe contou e nada mais. Ela não sabia lidar com o luto ou com perdas e o fazia à sua maneira, da melhor maneira que conseguia e para isso, guardava ou escondia tudo o que poderia fazê-la lembrar de seus pais e, podia dizer que isso se mostrou muito eficaz; apesar de saber que não era o correto em nenhum dos casos. 

— E aonde ela está? — Eva fez outra pergunta, voltando os olhos para a fotografia que tinha em mãos, o cenho franzido formando em sua testa rugas estranhas. Ela pareceu interessada na mulher da fotografia e West percebera isso. 

— Ela desapareceu já faz uns anos, por que? — Dessa vez foi Alana quem fizera a pergunta, desconfiada em como a mulher pareceu agir de uma maneira diferente após ver a foto de sua mãe. Sua fala também atraiu a atenção de Kambriel, mas ela não notou isso acontecer.  

— Por nada, — Responde com um tom estranho de decepção em sua voz, deixando-a desconfiada. — É só que, ela só me fez lembrar de uma pessoa de um passado distante demais. — Eva guardou a moldura com a fotografia de volta na caixa com a mesma rapidez em que a pegou e logo agarrou um livro de dentro da caixa. Este tinha a capa vermelha com um escrito em outra língua, o que pareceu deixá-la bem mais interessada do que na fotografia. 

Alana retornou a remexer na caixa com a desconfiança e o interesse em saber por qual motivo a foto de sua mãe pareceu mexer tanto com a mulher; perguntaria mais tarde para Kambriel? Talvez.

Tirou de lá mais alguns cadernos e folhas soltas rabiscadas com desenhos estranhos, as folhas que estavam soltas pela caixa ela começou a juntar com a finalidade de guardá-las em alguma pasta ou simplesmente grampeá-las para mantê-las unidas. Voltou sua atenção para o caderno que pegou e o folheou, lendo algumas frases soltas para saber mais ou menos sobre o conteúdo.  

Parou assim que percebeu que Eva estava bem mais próxima dela, remexendo na segunda caixa, dessa vez, porém Alana percebeu algo na mulher que tinha ignorado desde que deixaram a loja, porque estava concentrada demais em manter-se focada em não reagir com o seu luto esquecido que ignorou que conhecia o odor que vinha dela.   

Lentamente ela vira o rosto para o lado, encarando a mulher que nem lhe dava atenção, pois estava mais concentrada no que tirava da caixa. Era o mesmo cheiro de enxofre de antes, ainda que leve em comparação com as outras vezes que o sentiu.   

— Você cheira a enxofre... — A moça diz, fazendo com que Eva a olhasse também. Sua expressão se fechou no mesmo segundo, a mulher agora tinha um olhar sério sobre si, mas diferente de antes isso não a intimidou ou sequer causou uma reação de medo nela, Alana firmou o próprio corpo endireitando-se e a encarando de volta com a mesma intensidade.   

— Sim e daí? — Pergunta ironicamente, apesar de existir uma pequena fagulha de humor em seu tom de voz, sua face permanecia séria.   

Alana estava prestes a respondê-la quando viu Kambriel se colocar na sua frente com muita rapidez, o cheiro era como um tipo de aviso para ela. Na primeira vez em que sentiu aquele odoro em sua casa fora atacada por Vivian, quando o sentiu no hospital Vivian e Jeffrey morreram no dia seguinte... Alana sabia que aquele cheiro era um sinal de algo ruim.   

— Alana, espera! — Kambriel exclamou de maneira apressada, colocando-se entre as duas, mas de frente para West. Com ele bem na sua frente, seu campo de visão foi limitado, ela conseguia apenas vê-lo naquele momento, era estar diante de um grande e alto muro. — Eu sei que está sentindo esse cheiro e há uma explicação, mas preciso que fique calma. Sim?  

Os olhos azuis dele estavam fixos nos dela e, enquanto ele a encarava no aguardo por sua resposta, ela estava começando a sentir-se mais calma. Sendo dominada com rapidez por uma sensação agradável que bem sabia estar vindo dele.   

— Tudo bem. — Responde incerta, sua mente relembrando daquele cheiro e do que acontecia logo em seguida; um lembrete ruim.   

— Eva é um demônio. — Ao ouvir a fala de Kambriel, no mesmo segundo os olhos da jovem se arregalam, seu queixo caiu e as palavras lhe faltaram. Era óbvio que ela queria falar, sua boca se abria constantemente, mas nenhuma palavra, frase ou som saia de seus lábios. — Eu sei o que isso parece, mas Eva é um demônio caído.   

Ela fechou os olhos momentaneamente tentando pensar a respeito das palavras que acabara de ouvir e quando tornou a abri-los, sentiu como se tivesse levado um tapa no rosto, fora enganada por Kambriel e sem saber, permitiu a presença de um demônio em sua casa.  

— Um demônio caído?! — Ela consegue finalmente falar algo, percebendo que não estava reagindo como havia imaginado que o faria.  

— Isso significa que eu não vivo mais no inferno, não tenho um lado nessa história e nenhum tipo de ligação com anjos ou demônios. — Eva apareceu ao lado de Kambriel e sorriu do mesmo jeito forçado que fizera antes. Explicando com palavras simples o que era ser um caído; como uma maneira de tranquilizar a jovem. — Imagino o que deve estar pensando agora que sabe sobre o que eu sou, mas acredite, eu não tenho interesse algum em ferir um humano... Estou apenas ajudando um amigo. Não perderia meu tempo com você, sem ofensa.   

Sua resposta não pareceu deixá-la cem por cento confiante e nem mesmo ofendida, tivera duas experiências ruins com demônios e descobrir que a pessoa que iria ajudar com a situação de Grória era um deles... Isso mudou sua percepção de algumas coisas.   

— Agora eu entendi o motivo de não gostar dos humanos. — Murmurou mais baixo, mais como um tipo de comentário feito para si mesma; e ele pareceu escutá-lo, pois esboçou um riso rápido.  

Ainda tomada pela desconfiança ela concorda, balançando sua cabeça fazendo um som com ela mesmo que isso estivesse indo contra o seu instinto que mandá-la embora de sua casa no mesmo segundo. Podia dizer que demoraria ainda mais para conseguir confiar na mulher.   

— Não se preocupe, Kambriel acabaria comigo imediatamente se eu tentasse fazer qualquer coisa com você. — A mulher diz, em seus lábios há um sorriso discreto demais para ter sido percebido, mas West consegue perceber uma pequena fagulha de humor em sua fala e isso apenas faz com que a desconfiança quanto a ela cresça. — E mesmo assim, ele não deixaria que eu viesse até sua casa se achasse que sou uma ameaça para sua segurança. 

Justificou sua presença. 

— Vamos continuar. — O rapaz falou, olhando para as duas mulheres. Mentalmente a moça agradeceu pela intervenção, pois isso fez com que Eva parasse de olhá-la e honestamente, Alana não tinha tanta certeza se continuaria aguentando aquele estranho peso que sentia quando a mulher fixava os olhos sobre si.  

Ela imaginava que esse peso era apenas por saber que a mulher odiava os humanos e, sendo ela uma humana talvez se sentisse... Intimidada com Eva e mesmo que existisse algo que a deixasse entusiasmada para saber a razão desse ódio, achou que seria melhor focar em olhar as coisas de seu pai e deixar a ideia de lado. 


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Notas finais do capítulo

~Eva um demônio caído... E amiga de Kambriel, esse aí quebra uma regra a cada segundo.

~Será que eles vão achar alguma coisa importantes nas coisas do pai da Alana???

~E a Eva cheia de interesse na mãe sumida da Alana?????????????

Nos vemos em breve!



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