Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 11
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Olá amores, capítulo prontinho para vocês!

Boa leitura!



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CAPÍTULO X 

Seus olhos se mantinham fixos na figura masculina à sua frente, porém ela não estava realmente prestando atenção nele e ou no que acontecia ao seu redor. Seus tantos pensamentos mostraram-se concentrados apenas em reviver as poucas horas que se passaram a pouco como um tipo de looping do qual não teria um fim tão cedo como ela esperava. Alana estava tomada por um silêncio incomum desde o ocorrido e mesmo que tivesse muito o que falar a respeito sobre o que houve e o que viu dentro daquele quarto hospitalar, as palavras pareciam faltar naquele momento, dando espaço apenas para que o silêncio a dominasse.  

De forma pouco discreta ela encara o rosto do rapaz a procura de alguma resposta para suas tantas perguntas formuladas mentalmente, evita olhá-lo nos olhos porque tinha medo de que ele poderia tentar puxar algum tipo de assunto e, no momento, ela procurava evitar trocar qualquer palavra com ele; ao menos por hora, pois queria reorganizar seus pensamentos antes de falar qualquer coisa com ele. Sua mente estava mais agitada que o normal, ela percebera isso e sentir um grande estresse crescer dentro de si e se perguntou se Kambriel estava assim também.  

Ao olhá-lo conseguiu ver em seu rosto perfeito uma preocupação incomum, fazendo com que sua face parecesse torcida em alguns pontos; a testa estava franzida e as sobrancelhas unidas como se ele estivesse pensando, os lábios unidos formando uma linha reta e firme e os olhos azuis... Perdidos num ponto qualquer. Era possível perceber sua mente trabalhar e West novamente se questiona, perguntando-se o que estava se passando em seus pensamentos. Viu-se tentada a perguntar a ele, mas conteve-se, por não sentir completamente pronta para falar.  

A moça sentiu um alívio estranho quando constou que ele não estava lhe olhando, como bem sabia que fazia momentos atrás, ao menos não sentia o peso de seus olhos enquanto pensava melhor no que acontecera e ela viu isso como um bom sinal, assim poderia associar melhor tudo.  

De repente ela o viu se agitar, ansioso assim como ela estava. As duas mãos que estavam relaxadas sobre seus joelhos se fecharam num tipo de punho firme e, logo ambas as pernas balançavam num ritmo estranho e sem sentido. West não sabia se todo aquele nervosismo que ele sentia era devido ao ocorrido ou se era pela longa esperava; talvez fosse pelas duas coisas. Ela não tinha como saber.  

Seu corpo então se endireitou no banco e ela passou a mão pelo próprio rosto, sentindo-se internamente ansiosa e impaciente, havia muito para associar, não apenas o que viu, mas também o que ouviu sair da boca de Kambriel e, a espera não estava ajudando em nada. A lembrança fresca da fala do rapaz a faz encará-lo com mais intensidade que antes, procurando nele qualquer vestígio de que a mesma pessoa que dissera a única palavra numa língua desconhecida ainda estivesse ali. Não. Estava apenas encarando o mesmo rapaz de antes, de aparência gentil e expressão neutra.  

Sem que ela percebesse, o rosto do outro se voltou em sua direção e logo ambos estavam encarando-se novamente, os olhos azuis dele rapidamente encontrando com o par de olhos curiosos e intrigados da jovem sentada no outro banco. Não houve conversa, apesar de estar óbvio que essa aconteceria muito em breve. Deixaram apenas que o silêncio crescesse entre eles, Alana a olhá-lo como se estivesse cuspindo todas as perguntas que sua mente formulou em poucos instantes enquanto ele apenas respondia as que lhe fosse conveniente.  

Foi necessário que ela respirasse fundo para que se acalmasse e conseguiu uma resposta positiva de seu corpo, ao menos por hora.  

— Alana... — Surpreendendo-a ele começou a falar, chamando por seu nome num tom baixo e calmo demais para alguém que passara por uma experiência semelhante à dela. Contudo antes mesmo que ele conseguisse finalizar sua frase ou sequer deixá-la pensar no que seria dito, ela levanta uma mão e nega com a cabeça, interrompendo-o antes mesmo que ele conseguisse dizer mais alguma coisa. 

— Agora não, por favor. — Ela pede da maneira mais gentil que conseguiu, esforçando-se para não transparecer a frustração que sentia. A frase que soltou fez com que sua mente trouxesse de volta todas as imagens que ela batalhava para se esquecer, deixando-a novamente agitada.  

Em resposta, Kambriel cena de forma positiva com sua cabeça, compreendendo e respeitando sua decisão em não dizer nada sobre o assunto por enquanto, ele retornou em seu silêncio de antes, porém agora manteve os olhos fixos em sua direção. Encarando-a com mais leveza dessa vez. Alana esperava sentir a mesma paz de antes, aquela que sentia sempre que estava próxima dele, mas não sentiu nada no tempo que estavam ali e isso a fez pensar seriamente sobre o que causava tal sensação. Seria possível que deixara de sentir a paz que vinha dele por causa do que viu acontecer?  

Ou simplesmente imaginava tudo aquilo? 

Após o que para ela pareceram ser horas, três enfermeiras, dois médicos e exatos seis policiais apareceram no hall da recepção, os murmurinhos eram baixos demais para que houvesse uma compreensão maior do que estava sendo dito no momento, mas o assunto era óbvio demais e isso causou em West um arrepio desconfortável do que viria a seguir. Mais alguns funcionários do hospital passaram por eles e como era esperado, evitaram falar alto sobre o assunto, temendo que tanto Alana quanto Kambriel pudesse levantar alguma pergunta sobre.  

— ... Foram os dois... — Foi tudo o que ela conseguiu ouvir das tantas conversas que aconteciam ao seu redor e não foi preciso especificar ou citar nomes, ela já sabia sobre quem estavam falando. A mente da moça pareceu ficar turva durante alguns segundos para que ela não conseguisse associar a frase curta e incompleta que escutou, até porque pôde sentir a dor na voz do policial que a soltara.  

Pensar em Vívian e em Jeffrey fez com que um grande aperto em seu peito fosse sentido, uma culpa recaiu sobre seus ombros e ela sabia que, se não estivesse sentada possivelmente teria desabado no chão no mesmo instante. Em uma atitude imediata, ela fecha os olhos, mentalmente procurando por algo que lhe dissesse e afirmasse com toda certeza de que, o que aconteceu antes não fora sua culpa e sim apenas uma má sorte. Uma coincidência ruim de encontrar o pastor Jeffrey sem vida no quarto e logo em seguida, quando estava prestes a contar o que viu para Kambriel, deparar-se com a uma cena semelhante ao que passou com Vívian; dessa vez a vítima sendo o rapaz ao invés de ser ela. 

Nada.  

— Alana e... — A voz grave e firme de Bill cortou todo e qualquer pensamento com o qual sua mente estava se ocupando no momento, fazendo-a erguer o rosto na direção do homem e se perguntar quando foi que ele se aproximou deles. Estava tão focada em não sentir-se culpada pelo que houve que sequer percebera a aproximação dele.  

— Kambriel. — Ela ouviu quando o rapaz dissera seu nome para o policial, o mesmo assentiu, mostrando que guardara seu nome em sua mente. 

— Podemos conversar? Prometo que não tomarei o tempo de vocês mais do que já estou fazendo. — O homem mais velho pergunta e West enfim percebe que o tom de voz usado era exatamente o mesmo tom que ele usou quando viera até sua casa contar sobre a morte de seu pai, foi como se algo se acionasse em sua mente. Ela já sabia o que seria dito, até porque viu com os próprios olhos e precisava se preparar para ouvir as palavras de forma oficial.  

Sem nada dizer, os dois saíram de seus lugares e seguiram o policial pelo corredor até um quarto que não estava sendo usado por nenhum paciente, longe o suficiente dos ouvidos atentos e curiosos de quem estava por perto. Infelizmente o que houve momentos atrás atraiu a atenção de muitas pessoas, não apenas daqueles que trabalhavam no hospital, mas de quem estava visitando os que estavam internados e alguns de fora também, fazendo com que uma pequena multidão de pessoas se aglomerassem do lado de fora, exigindo saber o que havia acontecido. Mesmo que muitos já tivessem uma vaga ideia do que seria dito.  

Bill os levou ao quarto e fechou a porta para que tivessem mais privacidade em sua conversa, para Alana era como reviver as mesmas cenas de quando recebera a notícia oficial de seu pai, apenas o cenário era diferente. Assim que os dois entraram, o homem cruzou os braços, seu rosto ganhou uma expressão pesada o suspiro que saiu por entre seus lábios o denunciou imediatamente, ele alternou seu olhar entre a filha do pastor e logo em seguida para o rapaz que desconhecia, olhando-o por mais tempo.  

— Acredito que isso já esteja bem óbvio para os dois, mas a senhora Glesser e o pastor Jeffrey estão mortos. — Conta com grande pesar em sua voz. Grória não era uma cidade tão grande, porém não era tão pequena assim, todos se conheciam, conviviam entre si e, receber notícias como aquela, de que mais duas mortes aconteceu, era como descobrir que um parente próximo tivesse morrido. Algo doloroso demais. — Os médicos tentaram descobrir o que causou as duas mortes, mas logo perceberam que era como as que estão acontecendo por aqui, inconclusiva e sem qualquer tipo de explicação.  

Alana West fecha os olhos após a fala de Bill e respira profundamente, ela já esperava por aquela notícia, mas ouvi-la ser dita pelo policial sentiu uma grande confusão de sensações e sentimentos, uma mistura bagunçada da qual ela não conseguiria sequer descrever. Curiosa, ela vira os olhos para Kambriel e se assusta com sua reação, o outro parece completamente perdido e tomado por um choque incomum, ele mantém os olhos fixos no homem mais velho à sua frente e esboça um tipo de reação que pareceu até mesmo preocupar o policial.  

Era como sentir a presença de uma grande tristeza dentro daquele quarto, este pareceu até ficar menor do que realmente era. As paredes deram-lhe uma sensação de pura claustrofobia e se não fosse pela janela aberta, permitindo que um pouco de ar do lado de fora entrasse, essa sensação com toda certeza a deixaria mais tensa.  

— Devem saber que parte desse processo seria pegar o depoimento de vocês dois, mas visto o que temos aqui não será mais necessário — Bill continua sua fala, estava novamente alternando seu olhar entre os dois jovens ali até que parou em Alana. — Isso vale para o seu também, Alana. Não precisa mais vir depor.  

A moça apenas concorda, imaginando uma situação contrária onde ele iria exigir os dois depoimentos, se Bill já desacreditava nas palavras de Alana sobre o primeiro ataque que ela presenciou, o que diria se ouvisse a mesma história quando esta seria contada por duas pessoas? Também não acreditaria ou mudaria seu pensamento a respeito? Ela não sabia e também não queria pensar nisso.  

— Faremos todo o processo restante para cuidar deles e... — O homem interrompeu sua própria fala e Alana tinha conhecimento do motivo, tudo aquilo era desgastante não apenas para a cidade, mas também para a polícia que, não sabia exatamente como lidar com toda aquela situação. — Vocês dois ficarão bem? Posso levá-los embora se quiserem. 

A filha do pastor pensou em sua pergunta, estavam bem? Quer dizer, ela poderia apenas responder por si mesma e não por Kambriel. Estava bem? Questiona para si mesma em sua mente, fazendo uma análise breve de si mesma, não tinha uma resposta certa e ela não sabia quando a teria.  

— Vamos ficar bem, Bill. — Ela quebra o silêncio breve formado entre eles, olhando para o homem de forma tranquila para deixá-lo menos preocupado quanto aos dois, sabia que estava mentindo para ele e também para si mesma, mas no momento, não queria dar ao homem mais responsabilidade do que ele já tinha. — E não precisa, eu estou de carro e dou a Kambriel uma carona.  

A morena olha na direção do rapaz esperando algum tipo de reação diferente e nada acontece, ele parece continuar a tentar lidar com a notícia das duas mortes e isso não passar despercebido por ela que, nota que mais algumas perguntas vieram à sua mente ao vê-lo naquele estado. Algumas delas a moça nem sabia se ele iria respondê-las.  

— Tudo bem, liguem se precisarem de alguma coisa. — Bill diz de maneira mais gentil, seu tom firme de antes desaparecendo por completo naquele momento.  

— Ligaremos.  

●●●

Alana West estava ao volante o levando para algum lugar, ele não sabia exatamente para onde seria e parecia nem mesmo se preocupar com isso. Nesse momento ele se esqueceu de todas as necessidades que seu corpo humano tinha e de que, precisava supri-las de alguma maneira, esqueceu-se temporariamente da presença da moça ao seu lado — mesmo que isso parecesse algo completamente impossível para ele — e concentrou-se em apenas no que acontecera e no que que fizera antes.  

Kambriel prosseguia com seu silêncio desde que haviam deixado o hospital, seu rosto continuava com a mesma expressão de quando recebera a notícia das duas mortes e, ele se questionava internamente sobre o quanto tal acontecimento o tinha afetado. Seu lado humano transfigurado e seu lado celestial, pareciam ter entrado num tipo de batalha interna, entre o que seria lógico para ser feito a seguir e entre como ele deveria reagir diante de tudo o que houve em poucas horas. Se, acabasse deixando-se levar por seu lado guerreiro, não mediria esforços para descer até o inferno e caçar de uma vez quem estava causando aquele caos, porém lembrou-se de que, mesmo que quisesse tomar tal atitude, não poderia. 

Porque não queria ser ele o motivo de uma guerra espiritual ter sido iniciada sobre a terra. 

Pensou brevemente sobre as últimas horas, desde o momento em que um demônio invadiu a igreja até aquele mesmo segundo em que estava dentro de um carro com a humana na direção, havia muito dentro de sua cabeça, o confundindo e causando em seu corpo, um cansaço estranho do qual nunca sentiu antes. Seus olhos se mantinham fixos na rua, pelo retrovisor conseguia ter a visão do hospital se afastando aos poucos até finalmente sumir de seu campo de visão quando ela fez uma curva longa.  

Era metade do dia, o clima continuava nublado como mais cedo e a temperatura parecia ter caído um pouco mais e a roupa que tinha no corpo não parecia aquecê-lo totalmente. O céu estava num tom cinza escuro, as poucas nuvens que se mostravam estavam carregadas de uma possível chuva, deixando que aquele dia ganhasse um ar mais pesado e também tristonho.  

Ao seu lado ele conseguia sentir a mente da humana trabalhar de forma agitada, bem sabia que ela tinha muitas perguntas para fazer e espantou-se por ela ainda não o ter encurralado em algum canto e começar a bombardeá-lo com suas várias perguntas. Era uma questão de tempo até que Alana enfim decidisse fazê-las e já se preparava para esse momento, pois sabia muito bem que muitas de suas questões seriam referentes ao que presenciou no quarto da senhora Glesser. 

De repente ele percebeu que o carro parou e ao olhar o motivo, viu a luz vermelha no semáforo alertar que fora uma parada obrigatória. Nesse mesmo instante ele sentiu quando o rosto da moça se virou em sua direção, seria esse o momento que ela escolheu para interrogá-lo?  

— Kambriel, está tudo bem? — Contrariando todos os pensamentos que teve ao imaginá-la abrindo a boca, a pergunta feita por ele o surpreendeu de uma maneira notável, sua voz saiu num tom triste, apesar de ela parecer relutar em demonstrar isso e também um pouco falha; o que era completamente compreensível para o momento. Ela estava abalada, isso era algo que ele conseguia sentir, mas porque questionar se ele estava bem quando era ele quem deveria fazer tal pergunta? 

O arcanjo demorou para responder, pela primeira vez viu uma situação da qual o desestabilizou de alguma maneira, isso o assustou, pois ele não sabia dizer se era seu eu celestial a estar daquela maneira ou se era seu eu humano.  

— Eu não sei. — Foi tudo o que conseguiu responder a ela, suas palavras saindo de seus lábios com um pesar imenso do qual ele tentou e falhou em não demonstrar. Perder vidas era uma dor que os humanos e seres como ele compartilhavam, mas para ele e seu corpo, essa mesma dor parecia recair sobre si mais intensamente. — Eu não sabia que era assim... 

Sua fala veio de forma vaga e ele sequer precisou olhar na direção da moça para saber que ela tinha franzido seu cenho.  

— Como assim? Do que está falando? — A voz dela saiu mais baixa que antes e também um pouco mais falha.  

Kambriel relutava em dar a ela mais respostas, havia dito muito mais do que realmente deveria e também mostrou a ela uma das coisas que os humanos jamais deveriam ver, contudo sentia e uma voz dentro de sua mente pareciam lhe dizer que, esconder o inevitável de Alana West, não seria uma boa solução; não quando ela viu o que tinha visto no quarto hospitalar.  

— Essas mortes — Diz, abaixando o rosto para as próprias mãos repousadas sobre suas pernas como se elas carregassem o peso do sangue das duas vidas que perdera. — Eu sabia o que estava acontecendo, mas não imaginava como isso acontecia.  

O carro voltou a se mover e ao mesmo tempo ele parou de sentir o peso do olhar da humana sobre si, apesar de perceber que vez e outra ela virava o rosto para o seu lado. Com o veículo novamente em movimento, o cenário do lado de fora do carro passava numa velocidade alta para seu olho humano, ele não sabia para onde estava sendo levado e talvez nem quisesse mesmo saber o destino.  

— Eu também não sabia como acontecia. — Ela admite num tom de voz baixo também. — Na verdade, sempre que via as notícias sobre essas mortes eu evitava pensar demais nelas, parecia cruel tentar imaginar como essas pessoas morreram e agora... 

Houve concordância do outro lado, o sentimento que tinha naquele momento era muito semelhante ao da moça; algo perturbador para o seu eu interno e também doloroso demais para ser ignorado facilmente. 

— Você sabe que eu vou perguntar sobre tudo aquilo, não sabe? — A nova pergunta soa num tom tímido, como se ela hesitasse em fazê-la para ele. — Eu sei que não quer falar disso no momento, mas não tem como ignorar tudo. 

O rapaz solta uma risada triste muito rápida pelo nariz, sentindo os lábios se esticarem numa ação involuntária e sem sua autorização. Ele então acena com o rosto, mostrando a ela que já esperava por isso. Mesmo com a ação de seus lábios levemente esticados, ele ainda sentia-se tomado pela dor imensa da perda de duas vidas humanas. 

— Eu sei que tem muitas perguntas e que, depois do que houve no hospital essas perguntas só aumentaram, mas precisa entender que, quando digo que não tenho permissão para falar sobre esse assunto é porque você hu... — Ele interrompe a palavra antes de finalizá-la, sabendo que não poderia chamá-la de humana. — Que você não compreenderia a magnitude do que realmente acontece por aqui. 

Sua fala a faz frear o carro bruscamente, ao ponto de seu corpo ser lançado para frente e voltar para trás num baque forte. Se ele não estivesse usando o cinto, provavelmente um acidente teria acontecido ali mesmo.  

— Você só pode estar de sacanagem com a minha cara! — Seu tom muda muito de repente o que o assusta, sabia como os humanos eram sempre imprevisíveis quando tratava-se de suas emoções, mas a atitude dela o surpreendeu e muito.  

— O quê?... Eu não estou de sacanagem com você nem nada disso... — Kambriel começa a falar confuso, nem mesmo saberia o que significaria essa expressão e também não demonstrou interesse em descobrir, mas rapidamente é interrompido por ela, isso já parecia ser um costume que os humanos tinham também. Sempre interromper alguém quando o outro falava.  

Alana soltou o ar pela boca de maneira pesada, abaixando o rosto, suas mãos apertaram o volante com força ao ponto de ele perceber seus dedos ficarem levemente avermelhados devido à força usada.  

— Depois do que eu vi e ouvi você ainda vai tentar agir como se não conseguisse compreender nada do que aconteceu?! — Ela se exaltou, ergueu o rosto encarando-o com tanta raiva que sua respiração estava acelerada, seu peito subia e descia muito rápido, algo difícil de acompanhar. — Eu não acredito nisso! 

O surpreendendo com suas atitudes humanas, a filha do pastor Jacob saiu do carro muito rapidamente, batendo a porta ao sair com força, fazendo a mesma emitir um som estranho e desconhecido. Tentando acompanhá-la, Kambriel tentou se soltar do cinto e o conseguiu com muita luta, pois aquilo era uma novidade para ele ainda e também saiu de dentro do carro, a seguindo e parando no mesmo instante quando ela ergueu a mão em sua direção e o interrompeu. A mesma ação que ela fizera dentro do hospital.  

— Você realmente acredita que eu vou simplesmente fingir que tudo o que aconteceu no hospital não é nada demais?! Que o fato de Vívian ter ficado de pé e o agarrado pelo pescoço e depois ter tentado me atacar também não foi nada demais?! — Alana estava nervosa, um tanto frustrada também, mas a raiva era quem mais a dominava naquele momento e o arcanjo compreendia o motivo para ela estar daquele jeito. — E o que disse para ela antes de...  

A morena não termina sua fala, fecha os olhos e respira fundo, voltando ao seu estado normal de antes, algo mais calmo e mais controlado também. Kambriel nada diz no início, permite que ela fale o que bem quiser e reaja à sua maneira diante de tudo o que houve. Ele gostaria de poder contar tudo a ela, porque tinha em mente que se fizesse isso muito as coisas ficariam mais fáceis para ambos os lados, contudo ele também sabia das consequências caso revelasse a ela mais do que era permitido.

Perguntas seriam feitas e mais outras surgiriam assim que dissesse a verdade a Alana.

Ele então ergue o rosto para cima, seus olhos encaram o céu durante um longo tempo, existiam dois caminhos à sua frente e apenas um deles parecia ser o mais sensato para ser escolhido e quando ele estava prestes a falar, sua visão escureceu de uma só vez e o arcanjo perdeu a consciência.  


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Notas finais do capítulo

Nos vemos em breve!



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